O médico e antropólogo José Bastos de Ávila teve uma destacada atuação no campo da antropologia física no Brasil nas décadas de 1920 e 1930. Trabalhou no Museu Nacional e, a seguir, no Instituto de Pesquisas Educacionais, ambos no Rio de Janeiro. Neste texto, analisamos a trajetória das pesquisas em antropologia física de Ávila, que se concentraram em questões acerca da raça e mestiçagem, com particular destaque nas características antropométricas de crianças. A partir de pesquisas em escolas públicas, Ávila concluiu que os estudantes poderiam atingir melhores níveis de crescimento, se não fossem as péssimas condições sanitárias dos bairros cariocas. Ávila enfatizou que os principais problemas do país residiam nas más condições de saúde, higiene e educação da população, e não devido à dimensão racial. Ávila também participou de expedições científicas, envolveu-se em debates sobre o patrimônio arqueológico, conduziu pesquisas sobre indígenas e escreveu um romance premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1932. Argumentamos que a perspectiva de Ávila, marcada por uma crítica ao determinismo racial, fez parte de uma vertente que predominou na antropologia física praticada no Museu Nacional nas primeiras décadas do século XX, que, por sua vez, esteve associada a dinâmicas sociopolíticas mais amplas em curso no Brasil.
The physician and anthropologist José Bastos de Ávila was a major figure in the field of physical anthropology in Brazil in the 1920s and 1930s. He was affiliated with the Museu Nacional and latter with the Instituto de Pesquisas Educacionais, both in Rio de Janeiro. In this article we analyze his research in physical anthropology, which focused on questions of race and miscegenation with particular emphasis on anthropometric characteristics of children. Based on surveys carried out in public schools in Rio de Janeiro, Ávila concluded that the children could not achieve higher levels of growth due to the precarious sanitary conditions prevailing in the neighborhoods. Ávila emphasized that the main problems in Brazil were related to poor health, hygiene and education of the population, and not to racial issues. Ávila participated in scientific expeditions, debated on archaeological heritage, conducted research on indigenous peoples and wrote a novel that received an award by the Academia Brasileira de Letras in 1932. We argue that the perspective of Ávila, marked by a critique of racial determinism, was part of an intellectual current of physical anthropology that prevailed at the Museu Nacional in the early decades of 20th century, which in turn was associated with broader sociopolitical dynamics in Brazil.