Este artigo tem o objetivo de apresentar parte dos resultados da pesquisa multicêntrica "Masculinidades e Práticas de Saúde", em que foram investigados, junto à população masculina de Florianópolis (SC), os significados sobre saúde/doença e práticas de cuidados com a saúde por ela desenvolvidas. Para tal, foram realizados sete grupos focais com homens usuários dos serviços de saúde, entrevistas com os profissionais que compõem a equipe técnica de saúde sexual e reprodutiva do Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), bem como 260 entrevistas com homens. Investigou também, junto à equipe de profissionais do serviço (médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, gestores em saúde), as discursividades de gênero em relação aos cuidados com a saúde e promoção do acesso de homens aos serviços. A proposta filosófico-metodológica de Judith Butler sobre gênero inteligível, performatividade e suas implicações na constituição de sujeitos em saúde foi o vetor de análise do material empírico da pesquisa, sem perder de vista o projeto biopolítico em que estes enunciados são possíveis de serem formulados, principalmente no que se refere ao SUS e a seus princípios de universalidade, integralidade e equidade. A categoria gênero é elemento de grande importância no padrão dos riscos de saúde nos homens e na forma como estes percebem, usam e cuidam de seus corpos, tanto como possibilidade de transformação de valores como na reiteração dos vigentes.
This paper aims to present partial results of the multicentered research "Masculinities and Health Practices". This research explored the meanings of health and illness among the male population in Florianopolis and the healthcare adopted by them. The research methodology was based on seven focal groups with male patients of the local health services, interviews with the professionals who take part of the sexual health and reproductive team of the Santa Catarina University Hospital, as well as 260 interviews with males. It also explored gender discursive practices of the medical team (doctors, nurses, psychologists, social assistants, and health professionals in general) regarding healthcare and the availability of the services for the male population. Judith Butler's philosophical and methodological proposals regarding intelligible gender, performances and its consequences for the constitution of the subjects was the theoretical vector of analyses of the empirical material. The paper also considers the biopolitical project that encapsulated these ideas, in particular the Unified Health System (SUS) and its principles of universality, integral care and equity. The concept of gender is a key element of the health risk pattern among the males and how they perceive, act and take care of their bodies, both as possibility of values transformations or reiteration of current values.