As diferenças socioeconômicas têm reflexos no perfil epidemiológico de câncer, no que diz respeito a incidência, mortalidade, sobrevida e qualidade de vida após o diagnóstico. Neste artigo examinam-se as disparidades da ocorrência de câncer na população brasileira e sintetizam-se evidências das investigações sobre determinantes sociais em câncer. Foram considerados os principais fatores que modulam a influência das condições socioeconômicas na ocorrência do câncer, como tabagismo, consumo de álcool, hábitos alimentares e obesidade, ocupação e acesso aos serviços de saúde. Modificações nas condições sociais dependem de mudanças estruturais na sociedade, a exemplo de melhorias do nível educacional; no entanto, investigações epidemiológicas bem conduzidas podem contribuir para o planejamento de intervenções visando a reduzir o impacto dos determinantes sociais em câncer. Esses estudos devem prover estratégias para promoção da qualidade das informações de incidência e mortalidade; realização periódica de inquéritos populacionais sobre prevalência de fatores de risco para câncer; desenvolver desenhos epidemiológicos mais eficientes para avaliar o efeito de fatores etiológicos em câncer e suas relações com o status social; análise de programas de rastreamento para tumores passíveis de detecção precoce; e avaliações do acesso da população ao diagnóstico e tratamento. Essas pesquisas devem contemplar populações em distintas regiões do mundo, em particular aquelas vivendo em regiões marginalizadas da dinâmica do atual sistema econômico global.
Socioeconomic differences have effects on epidemiological profile of cancer as regards incidence, mortality, survival and quality of life after diagnosis. In this study are examined the inequalities of cancer occurrence in the Brazilian population and summarized the evidences of epidemiological research on social determinants in cancer. The main factors that modulate the influence of socioeconomic conditions in cancer are considered, such as smoking, alcohol consumption, diet and obesity, occupation, and access to health services. Modifications of social conditions depend on broader changes in society, as improvements of educational level; however, well-conducted epidemiological investigations can instruct the planning of interventions aimed at reducing the impact of social determinants on cancer. These studies should focus on methods to improve the quality of information on incidence and mortality; regular population surveys on the prevalence of cancer risk factors; study designs to examine cancer etiological factors in its relations with social status; implementation and assessment of effectiveness of screening programs for early detection of tumors; and evaluation of access to diagnosis and treatment. These researches should include populations in different regions of the world, particularly those living in places that lack the benefits provided by the dynamics of the present global economic system.