O artigo apresenta um recorte da pesquisa realizada em 2006 sobre o trabalho dos profissionais de saúde mental responsáveis pelo acompanhamento a moradores dos serviços residenciais terapêuticos do município de Carmo, no Estado do Rio de Janeiro. Estas moradias constituem uma etapa do processo de desinstitucionalização de um hospital psiquiátrico estadual do tipo colônia agrícola, fundado na década de 1940, onde estavam internados cerca de 280 pacientes. A partir de 2003, com a extinção do hospital, coordenada pelo gestor estadual, e a municipalização dos recursos, uma pequena parcela dos internos retornou ao seio familiar, mas a maioria (153) foi alocada em moradias assistidas, espalhadas pelas áreas urbana e rural do município. Tomando a tarefa de reinserção social como parte do viés político da Reforma Psiquiátrica brasileira, o trabalho cotidiano da equipe multiprofissional é focalizado. Neste plano relacional do trabalho, utilizamos a abordagem ergológica como arcabouço conceitual para a análise dos processos de trabalho. Iremos nos deter na discussão do trabalho junto à sociedade civil, em que o investimento dos técnicos visa a mudança do estatuto social do louco. No cotidiano, a experiência dos técnicos envolvidos mais diretamente com os moradores, como os cuidadores, produz uma "técnica" de escuta e mobilização, que não admite cartilhas nem regras preestabelecidas ou imutáveis.
The article presents part of a research work carried out in 2006 on the work of mental health professionals who assist dwellers of residential care homes in the city of Carmo, State of Rio de Janeiro. These residences integrate the process of deinstitutionalization of a state Psychiatry Hospital, an agricultural colony, established in the 1940's, with about 280 inpatients. From 2003 on, when the hospital was closed by the state manager, and resources were municipalized, a small part of inpatients returned to their families, but the majority (153) were placed in care homes, scattered over country or urban district areas. Taking the task of social inclusiveness as the political bias of Brazilian Psychiatric Reform, the daily work of the multi-professional team is focused. In this relational work level, we chose the ergologic approach as a conceptual framework to analyze the work processes. It is a step in a process, still half way between state and municipal administration, where the proposal is sustained by the administrators' political will, and, in becoming hegemonic, must be discussed among professionals and the civil society. The landscape is not homogeneous, and the dynamics reveal the various understandings and interests. This article discusses how professionals work with civil society, being their goal the change of the mentally ill social status. The daily experience of the professionals who work closer to the residents, as the caretakers, produces a "technique" of listening and stimulation, which by no means admits unchangeable or pre-established rules.