Este trabalho teve por objetivo conhecer o professor médico, no que diz respeito a seus valores e comportamentos profissionais, a partir da hipótese de que os mesmos são elementos presentes no chamado currículo oculto ao longo do curso médico. Pressupõe-se, sobretudo, que tais elementos apresentam estreita relação com a formação médica, compondo, ao final, uma cultura adquirida na escola, ao longo do processo de socialização do estudante. Este processo é tão importante para a identidade profissional, para sua pertinência à corporação, quanto a aquisição de habilidades e conteúdos cognitivos relativos ao exercício técnico da profissão. Com este objetivo, o trabalho analisou a história de vida profissional de alguns docentes em uma escola pública do Rio de Janeiro, privilegiando as categorias de autonomia, ideal de serviço, mentalidade clínica e relacionamento interpares da Sociologia das Profissões, além de apreender os relatos específicos sobre a trajetória do médico que se torna professor. Optou-se pela história oral obtida de entrevistas com docentes de diferentes especialidades, em um total de onze entrevistas. Concluiu-se que os professores estão nostálgicos de um passado em que sua profissão apresentava uma situação de prestígio inquestionável e um tanto perplexos frente às novas situações, principalmente de restrições à autonomia liberal. Sem um projeto político para a escola e para a corporação, estão menos motivados do que no passado, e isto pode se constituir como fator negativo na socialização e na formação de valores éticos entre seus alunos.
This study focuses on medical school professors and their professional values and behaviors, based on the hypothesis that the latter are present in the so-called hidden curriculum in medical education. The primary supposition is that such elements bear a close relationship to medical training, ultimately comprising a culture acquired in medical school over the course of the student's socialization process. This process is as important for professional identity (or belonging to the medical corporation) as the acquisition of skills and technical contents related to the actual exercise of the medical profession per se. The study thus analyzed the life histories of several professors from a public medical school in Rio de Janeiro, concentrating on the categories of autonomy, service ideal, clinical reasoning, and inter-peer relations as defined in the Sociology of Professions, in addition to recording specific reports on the careers of physicians who had become professors. We used oral histories obtained through eleven interviews with professors from different specialties. The article concludes that medical professors feel nostalgia for a past in which their profession bore unquestionable prestige, meanwhile expressing bewilderment at new situations, especially restrictions over their autonomy as liberal professionals. Lacking a policy proposal for either the teaching school or the medical corporation, they are less motivated than in the past, and this may constitute a negative factor in the socialization and formation of ethical values among their students.