O que motiva os membros familiares a se envolverem na troca de recursos? Amor, benevolência e altruísmo, por um lado, e interesse na reciprocidade, por outro, são as duas principais respostas que têm sido dadas pela literatura a essa pergunta. Este trabalho trata das transferências intergeracionais privadas que ocorrem entre pais e filhos residentes fora do domicílio parental de pequenos agricultores na área rural de Altamira, no Estado do Pará. Utilizamos dados primários coletados em 2005 por uma equipe da Universidade de Indiana e aplicamos a técnica Grade of Membership de modo a delinear perfis de transferências privadas. Os resultados sugerem três perfis distintos: o de baixo envolvimento nas transferências intergeracionais, o de alto envolvimento nas trocas através de visitas e ajuda com trabalho e o de alto envolvimento nas trocas com visitas e dinheiro. Não há evidências de preferências por ordem de parturição, embora tenhamos encontrado uma especialização sexual das trocas: homens enviam dinheiro, ao passo que mulheres proveem trabalho e visitas. As transferências monetárias ascendentes são particularmente importantes entre filhos com alta escolaridade e residentes em áreas urbanas, o que indica arranjos informais de repagamento a investimentos parentais feitos no passado. Tais evidências empíricas corroboram as teorias de reciprocidade e investimento parental e sugerem que as teorias altruístas tradicionais devem ser repensadas em contextos de restrição imposta pelos desafios ambientais e institucionais que envolvem as famílias de pequenos agricultores rurais em países em desenvolvimento.
What motivates family members to share resources? Past research argues for, on the one hand, love and altruism, and on the other, the expectation of reciprocity. Drawing on this literature, this paper examines intergenerational transfers between small farmers and their non-coresident children in the rural area around the city of Altamira, Pará, Brazil. We apply GoM (Grade of Membership) models to create profiles of private transfers, using data collected in 2005 by a team from Indiana University. The results show three profiles: low intergenerational transfers, high levels of transfers of visits and help, and high levels of transfers of visits and money. There is no clear difference in profile by birth order, but we do find sex differences in profile. Men are more likely to send money while women provide time transfers (work and visits). Upward transfers are most common from children with high levels of education or living in urban areas, suggesting a repayment of prior investments made by parents. Thus, our empirical evidence supports theories arguing that transfers are motivated by intertemporal contracts between parents and children, and that altruistic theories of family transfers should be rethought among rural agricultural populations in contexts characterized by many environmental and institutional challenges.