OBJETIVO: Investigar aspectos psicoculturais que envolvem as práticas alimentares e a imagem corporal no processo de adoecimento crônico por síndrome metabólica. MÉTODOS: Estudo clínico-qualitativo realizado por meio de entrevistas semidirigidas de questões abertas, submetidas à técnica de análise de conteúdo e interpretação dos dados com base no referencial teórico psicodinâmico. Foram entrevistados nove indivíduos em tratamento ambulatorial para síndrome metabólica em hospital universitário em Campinas (SP). RESULTADOS: Os resultados foram organizados empiricamente em três categorias: "Quem é gordo é horrível"; "O peso é muito e a gordura estorva demais"; "Como muito pouco. Ninguém acredita". Os sujeitos do estudo revelaram rejeição à obesidade, reforçada pela cultura de enaltecimento da magreza. A insatisfação com a imagem corporal leva os pacientes a um desvio de foco do problema, o que interfere no desenvolvimento do autocuidado e no manejo do tratamento dos distúrbios que caracterizam a síndrome metabólica. Tanto a dissociação entre as práticas alimentares e o excesso de peso quanto a utilização dos alimentos para preencher lacunas de ordem emocional expressam dificuldades de enfrentamento dos conflitos, o que colabora com o desvio de foco acima referido. CONCLUSÃO: O cuidado nutricional e as propostas dietéticas para portadores de síndrome metabólica devem estabelecer escuta acurada das demandas emocionais, que se manifestam por meio da insatisfação com a imagem corporal, das dificuldades para estabelecer mudanças nas práticas alimentares e/ou dos episódios de compulsão alimentar.
OBJECTIVE: This study aimed to investigate the psychological and cultural issues regarding dietary habits and body image during the onset of metabolic syndrome. METHODS: A clinical, qualitative study was conducted with a sample of nine outpatients being treated for metabolic syndrome at a university teaching hospital in Campinas, São Paulo, Brazil. Data were collected using semistructured interviews with open questions and then submitted to content analysis. Interpretation of data was based on a psychodynamic theoretical framework. RESULTS: The results were organized empirically into three categories: "Fat people look terrible"; "I am too heavy and my weight bothers me"; and "I eat so little; nobody believes it". The participants in this study revealed their rejection of obesity, reinforced by a culture that exalts thinness. Dissatisfaction with their body image resulted in the patients deflecting the focus of the problem, thereby affecting the development of self-care and management of the treatment for the metabolic disorders that characterize metabolic syndrome. Dissociation between dietary habits and excess weight, as well as the use of food to fill emotional gaps, reflect difficulties in facing conflicts and contribute towards deflecting the focus of the problem. CONCLUSION: Nutritional care and diets proposed for patients with metabolic syndrome should take into consideration emotional demands resulting from dissatisfaction with body image, difficulties in implementing changes in dietary habits and episodes of compulsive overeating.