Este trabalho examina a possível ocorrência das condutas do espectro do autismo em crianças portadoras de deficiência visual congênita e focaliza os comprometimentos da habilidade de atenção compartilhada, da capacidade simbólica e de estereotipias motoras, além de investigar o estilo diretivo de interação das mães ao tentar engajar os seus filhos em brincadeiras. Participaram do estudo oito díades mãe-criança distribuídas em dois grupos: quatro com deficiência visual congênita e quatro com desenvolvimento típico. Realizou-se uma entrevista sociodemográfica e de desenvolvimento da criança com as mães e uma sessão de vídeo da interação mãe-criança em laboratório. Os resultados mostraram que duas das crianças com deficiência visual congênita apresentaram uma freqüência maior de comprometimentos de habilidade de atenção compartilhada comparadas às crianças com desenvolvimento típico, e duas crianças com deficiência visual congênita apresentaram estereotipias motoras, porém com baixa freqüência. Apenas uma das mães das crianças com deficiência visual congênita apresentou maior freqüência de diretividade materna comparada à mãe da criança com desenvolvimento típico, contrariando a expectativa inicial. Observou-se a ocorrência de brinquedo simbólico no grupo das crianças com deficiência visual congênita. Esses resultados contrariam algumas das expectativas da literatura. Conclui-se que as crianças com deficiência visual congênita não estão necessariamente em risco para desenvolver condutas do espectro do autismo.
This study has examined the occurrence of autistic features in children with congenital blindness. Joint attention and symbolic play deficits, and stereotyped body movements were focused. Mother's interaction style was also investigated during playing episodes, while they were trying to engage their children . Eight child-mother dyads, 4 with congenital blindness and 4 sighted children were studied. A home-based interview about child's development and socio-demographic data has been performed, and a free-play session was conducted. Free-play sessions were used for coding both maternal and infant behaviors. The results, that are out of the literature expectations, have brought up only two blind children showed higher play deficits frequencies, and only one mother from the congenital blindness children group who had presented more maternal directive posture compared to the sighted children's mothers. It was also noted the presence of symbolic play in the congenital blindness group. These results suggest that children with congenital blindness may not be at risk, considering the autistic features development, as long as they are properly stimulated by their caregivers who are sensible to their cues and needs.