OBJETIVO: Descrever a ocorrência de poliomielite associada ao vírus vacinal no Brasil de 1995 a 2001 e determinar o risco observado para esse evento adverso. MÉTODOS: Este estudo retrospectivo utilizou os dados das fichas de investigação de notificações de paralisias flácidas agudas do Ministério da Saúde do Brasil. Foram considerados como casos os indivíduos com diagnóstico de paralisia flácida aguda com isolamento de vírus vacinal nas amostras de fezes ou seqüela compatível com poliomielite até 60 dias após o início da deficiência motora. Também foram incluídos os indivíduos em qualquer faixa etária que mantiveram contato com indivíduos vacinados entre 4 e 40 dias antes do início da doença e que desenvolveram deficiência motora entre 4 e 85 dias após esse contato. O risco foi calculado como a razão entre o número de casos e as respectivas doses aplicadas por ano, conforme o Programa Nacional de Imunização. RESULTADOS: Foram registrados 10 casos de pólio associada ao vírus vacinal no período. A média de idade foi de 4,7 meses. Quatro casos foram associados à primeira dose; quatro à segunda; e dois casos foram atribuídos a contato. Os sorotipos vacinais isolados foram o tipo 1 (dois casos); 2 (um caso); e 3 (três casos). Mais de um sorotipo foi isolado em quatro casos. Houve determinação dos sorotipos nos 10 casos. O risco observado para a poliomielite associada ao vírus vacinal durante o período foi de 1:5,11 milhões de primeiras doses e de 1:10,67 milhões para o total de doses. CONCLUSÃO: A presença de casos paralíticos provocados pela mesma política vacinal que objetiva a erradicação constitui-se no principal dilema técnico e ético da fase pós-eliminação da poliomielite.
OBJECTIVE: To describe the occurrence of vaccine-associated paralytic poliomyelitis (VAPP) in Brazil between 1995 and 2001 and to determine the level of risk for this adverse event. METHODS: This retrospective study utilized data from acute flaccid paralysis investigation and notification records from the Ministry of Health in Brazil. Cases were defined as individuals with a diagnosis of acute flaccid paralysis and a positive stool culture or sequelae compatible with poliomyelitis appearing up to 60 days after the beginning of motor impairment. Also included were individuals in any age range who had contact with vaccinated persons between the 4th and 40th day before the onset of the disease and who developed motor impairment between 4 and 85 days after this contact. Risk was calculated as the ratio between the number of cases and the respective number of doses given in a year, according to the National Immunization Program. RESULTS: Ten cases of VAPP were recorded in the period. The mean age of the cases was 4.7 months. Four cases were associated with the first dose, four with the second dose, and two cases were attributed to contact. In two cases type 1 virus was identified; in one case, type 2; and in three cases, type 3. More than one serotype was isolated in four cases. In all 10 cases the serotype was determined. The observed risk for VAPP during the period studied was 1:5.11 million when considering only the first dose and 1:10.67 million for all the doses. CONCLUSION: The main technical and ethical dilemma of the post-poliomyelitis elimination stage is the occurrence of paralytic cases that result from the vaccine policy itself, whose objective is the eradication of polio.