Este artigo apresenta parte dos resultados de uma investigação voltada para a análise dos limites e possibilidades que os processos intersubjetivos e inconscientes presentes nos serviços de saúde estabelecem para o exercício da solidariedade, para a cooperação e para a produção do cuidado com a vida. Elegeu-se como estudo de caso um hospital público de emergência, situado no Município do Rio de Janeiro, Brasil. A Psicossociologia francesa, de inspiração clínica psicanalítica, a teoria psicanalítica sobre os processos intersubjetivos e grupais e a Psicodinâmica do Trabalho são os referenciais centrais que orientaram o desenho da investigação e a análise do material empírico. As representações psíquicas e os processos inconscientes relativos à população e suas demandas, produzidos pelos trabalhadores de saúde do hospital estudado, foram analisados, discutindo-se suas conseqüências sobre a produção do cuidado. Algumas imagens se destacaram, como a "carência", utilizada como uma categoria encobridora da diversidade da demanda, num processo inconsciente de múltiplas reduções: da negação do sofrimento social à negação da condição de humanidade dos pacientes.
This article presents some results from a study aimed at analyzing the limits and possibilities defined by inter-subjective and unconscious processes of solidarity, cooperation, and life care production in health services. A public hospital with an emergency department in the city of Rio de Janeiro, Brazil, was selected as a case study. The French school of psychosociology, oriented by the psychoanalytical clinical approach, the psychoanalytical theory on inter-subjective and group processes, and work psychodynamics provided the basis for the study's methodological strategies and analysis of the results. The study analyzed health professionals' psychological representations and unconscious processes related to emergency department users and their demands, and their consequences for the health care provided to this clientele. Some particularly important images such as "need" were used as a category that conceals the diversity of demand, in an unconscious process with multiple reductions: from denial of social suffering to denial of the patients' human condition.