O problema da exposição ocupacional aos agrotóxicos adquire uma dimensão de forte impacto no que diz respeito à Saúde Pública, uma vez que o Brasil situa-se entre os maiores consumidores mundiais de agrotóxicos. O presente trabalho focaliza a interpretação que os profissionais do Programa Saúde da Família, atuantes no 5º e no 7º distritos do Município de Nova Friburgo, Rio de Janeiro, atribuem às queixas de nervoso no meio rural, de modo a verificar (1) se é estabelecido um elo entre as manifestações de nervoso e os sintomas de intoxicação, (2) de verificar a repercussão deste entendimento sobre as notificações de acidente de trabalho, (3) assim como de discutir a medicalização do nervoso (uso de calmantes) como possível fator de acomodação social, tal como ocorre nos grupos urbanos, e como possível desencadeador de uma dupla intoxicação nos trabalhadores expostos a agrotóxicos. Foram realizadas entrevistas, observações, anotações de campo e levantamento de pesquisas realizadas na área. Destaca-se no discurso dos profissionais a associação entre as queixas de nervos e a exposição a agrotóxicos, sendo discutidos os fatores a isso relacionados e esboçadas algumas recomendações para futuras investigações.
Occupational exposure to pesticides has a strong impact on Public Health in Brazil, since the country is one of the world's largest pesticide consumers. Harm to the rural population is reflected in high pesticide poisoning and case-fatality rates. The present paper focuses on the perspective of health professionals working in districts 5 and 7 of the Municipality of Nova Friburgo, Rio de Janeiro State, in the Family Health Program, concerning rural residents' complaints of "nervousness", verifying (1) whether health professionals perceive a link between "nervousness" and symptoms of pesticide poisoning, (2) the implications of their understanding on the reporting of work-related illnesses, and (3) medication for "nervousness" (use of tranquilizers) as a potential factor of social accommodation (as occurs elsewhere in urban groups) and as a potential cause of dual poisoning among workers exposed to pesticides. The methodology included interviews, participant observation, field notes, and consultation of previous studies in the area. The study highlights health professionals' discourse in relation to the association between "nervousness" and pesticides. The authors discuss factors related to this perception and make several suggestions for future research.