Os autores fazem uma análise sobre a situação da operação cesárea no Brasil, que atingiu, na última década, níveis de incidência extremamente elevados, superiores aos de qualquer outro país. A partir dos dados disponíveis a nível nacional sobre a incidência de cesáreas ao longo dos anos, tenta-se caracterizar esta tendência e estabelecer suas diferenças sócio-econômicas e regionais, que mostram uma incidência mais alta para os indivíduos e regiões mais favorecidos economicamente. Consideram-se, também, os fatores que influenciam esta alta incidência, incluindo os fatores sócio-culturais, de organização da atenção obstétrica e fatores institucionais e legais. Enfatiza-se a esterilização cirúrgica que, sendo proibida no país, é realizada disfarçadamente através de uma indicação inadequada de cesárea. São analisadas, ainda, as conseqüências sobre a morbidade e mortalidade materna e perinatal, seus efeitos sobre a fecundidade da população e dos gastos extras para os cofres públicos decorrentes desta situação. Finalmente, propõem-se uma série de intervenções e mudanças que seriam necessárias a diversos níveis para reverter esta indesejável tendência de aumento da incidência de operações cesáreas.
The authors analyse the current cesarean section situation in Brazil. In the last decade it has reached extremely high levels of incidence, higher than any other country. Social-economic and regional differences are established through the available national data on the cesarean section incidence. There is a higher incidence on wealthier regions and women. The factors influencing this high incidence, including socio-cultural, obstetric care organization, legal and institutional ones are also considered. Special attention is given to the problem of female surgical sterilization which is forbidden in the country and is performed through inadequate indication of a cesarean section. Consequences for maternal and perinatal morbidity and mortality, the effects on population fertility and extra public expenses are considered. Interventions and attitude changes are proposed at several levels to reverse this increasing tendency of cesarean section incidence in the country.