Por que os meninos são mais indicados do que as meninas como alunos com necessidades educacionais especiais por seus professores (proporção de 2/3 contra 1/3)? Este estudo teve por objetivo comparar a descrição de professores de meninos e meninas identificados por eles como alunos com necessidades educacionais especiais. Os dados foram coletados a partir da coleção de 351 cadastros de alunos identificados como especiais. Esses cadastros fazem parte de um banco de dados iniciado em 2001 por um grupo de pesquisa e contém descrições espontâneas dos professores sobre as características das crianças que, segundo eles, justificavam a notificação. Tais descrições foram divididas em unidades de conteúdo e categorizadas. A freqüência em cada uma das categorias foi computada para os grupos, que foram divididos em função do gênero. Dos 351 cadastros, 66,1% referiam-se a crianças do sexo masculino, enquanto 33,9% eram de crianças do sexo feminino. A comparação da incidência das categorias nos dois grupos apontou como única diferença estatisticamente significativa: a indicação de meninos com base na categoria Problemas de Comportamento. Teorias explicativas existentes na literatura sobre viés de gênero na elegibilidade de meninos e meninas pelos seus respectivos professores são discutidas, bem como são apontadas as implicações científicas e a necessidade de mecanismos de monitoração deste tipo de viés que vem sendo sustentado pela área de Educação Especial e que contribuem para a construção de desigualdades sociais.
Why are more boys than girls regarded by their teachers as being students with special needs (2 out of 3 are boys)? This study aimed to compare teacher descriptions of boys and girls identified as students with special needs. Data were collected from the collection of 351 records of students identified by their teachers as special students. The records are part of a database initiated in 2001 by a research group. They contain spontaneous descriptions provided by teachers of student characteristics that could justify the notification. The descriptions were divided into content units and were categorized. The frequency for each category was computed for the groups, which were divided according to gender. Of the 351 records, 66.1% referred to male students, while 33.9% were girls. The comparison of the incidence of categories between groups showed that the only significant difference was the indication of boys based on the category of behavior problems. Based on the literature, the paper discusses theories explaining gender bias on the eligibility of boys and girls by their teachers, as well as the scientific implications and the need for mechanisms to monitor this type of bias. Special Education still supports this kind of bias that contributes to social inequality based on gender.