O presente texto foi desenvolvido no acervo Miroel Silveira, abrigado na biblioteca da Escola de Comunicações e Artes (ECA), na Universidade de São Paulo (USP), que reúne cerca de seis mil títulos de obras teatrais brasileiras e seus respectivos processos censórios, dos anos 20 aos 70, aproximadamente. Pretendemos mostrar, em duas peças teatrais brasileiras da década de 50, O pecado em sete véus, de 1955, de Pereira Dias e Humberto Cunha, classificado como teatro de revista, e Perdoa-me por me traíres , de 1957, de Nelson Rodrigues, autor teatral famoso por seus textos polêmicos, a maneira pela qual a censura, em nome da preservação da moral e dos bons costumes, mediava as lógicas de produção (aqui entendidas como Estado, poder hegemônico) e as matrizes culturais (os textos teatrais propriamente ditos). Para tanto, estaremos nos apoiando nos conceitos propostos por Jesús Martin- Barbero, em sua obra Dos meios às mediações e na análise do discurso. Daremos especial atenção, em ambos textos teatrais, aos enunciados suprimidos, aos seus subentendidos e também levantaremos hipóteses sobre os motivos que levaram os censores a permitir certos trechos e a censurar outros.