期刊名称:Linguística : Revista de Estudos Linguísticos da Universidade do Porto
印刷版ISSN:1646-6195
出版年度:2012
卷号:07
页码:65-88
出版社:Universidade do Porto
摘要:O Pretérito Perfeito Composto do Indicativo é um tempo gramatical que
apresenta, em português europeu, tipicamente uma leitura iterativa, o que o distingue das
restantes línguas em que existem construções semelhantes. Neste trabalho, pretende-se, por
um lado, identificar as condições em que surge esta leitura e, por outro lado, apresentar
uma proposta de descrição formal baseada em algumas das suas características temporais,
aspetuais e quantificacionais. De facto, a leitura iterativa está dependente do ponto de
perspetiva temporal e do tipo aspetual básico da predicação. Para além disso, há restrições
evidentes relativas ao tipo de quantificação que pode operar sobre o argumento direto
interno ou sobre expressões temporais que ocorrem no escopo da predicação relevante.
Assim, e no seguimento dos trabalhos de Van Geenhoven (2004) e Laca (2006), propomos
que o Pretérito Perfeito Composto do Indicativo em português europeu tem subjacente um
operador que toma uma eventualidade básica e a projeta numa eventualidade da mesma
natureza, mas de tipo grupal, constituída pela iteração da eventualidade básica. Esta proposta
afasta-se de outras propostas de explicação do Pretérito Perfeito Composto do Indicativo
em português europeu, na medida em que a eventualidade grupal criada por este tempo
gramatical não é uma mera pluralização de situações, mas uma entidade ontologicamente
superior, tal como, no domínio nominal, um nome coletivo denota uma entidade de estatuto
ontologicamente superior ao das entidades atómicas que o constituem. Na parte final deste
trabalho, abordaremos alguns tópicos relacionados com os contextos em que surge a leitura
não iterativa deste tempo gramatical, procurando apontar percursos de investigação futura.