摘要:O resto é o resquício de uma operação que, mais do que uma forma de pensar, de filosofar ou de ideologizar um conceito, aparece como a causa desse ato. E, se pensar é uma tarefa que ganha terreno com o advento da ciência, a partir do homem moderno, então vale a assertiva de que não há pensamento sem resto. O “... penso, logo sou ...” envolve uma dimensão do eu, à medida que reclama sua presença no modo em que se enuncia pelo sujeito. Exige, portanto, a presença do “Iste ego sum”. Dito de outra forma, não há pensamento, ou melhor, não há possibilidade de existência humana que não seja a partir dessa noção inquietante que, ao tempo em que se mostra fugidia, nunca está ausente, posto que, como causa, mostra-se como o outro lado do desejo que se desliza numa cadeia vital que situa o sujeito numa dimensão de busca. Sobretudo, é o movimento de busca que responde aos anseios que o homem contemporâneo persegue, quando tenta, a todo custo, identificar um sentido para sua existência. Portanto, se cada época entroniza um conceito de que as subseqüentes eras não conseguem desvencilhar-se, o resto é isso que pode muito bem ser identificado como causa de um malestar e, seja qual for o caminho que seguirmos, não será fácil negar sua presença, ainda que seja de impossível apreensão. Essa é uma construção lógica, tendo em conta que qualquer pensamento que ensaiemos, durante nossa existência, será falido no intuito de formalizar a resposta acabada sobre aquilo que nos perguntamos. Isso nos remete diretamente ao primeiro grande tema de nossa construção, quando a indagação pela era do vazio se mostra diretamente afetada pela existência do resto. Afirmar que vivemos uma era do vazio implica sobretudo em saber a causa desse sintoma diagnosticado. E a premissa geradora de nosso construto é aquela que, insistentemente, aparece no mundo moderno e que submete o sujeito à presença constante do mundo imagético como tentação quimérica frente às razões que constrói para sua existência.