摘要:O presente trabalho analisa representações docentes em matéria da revista Nova Escola intitulada “Vou me aposentar. E agora?”, publicada em novembro de 2004, a qual, conforme o próprio título evidencia, enfatizava aspectos relativos à aposentadoria de professores e professoras. O material é tratado como um objeto cultural voltado prioritariamente para o meio docente brasileiro, e conectado a práticas sociais específicas de nossa cultura, sendo, portanto, um espaço de lutas, no qual determinados discursos são representados, ou seja, trata-se de um lugar de exercício de poder. Deste modo, utilizo-me do pressuposto de que o significado de um dado objeto advém da forma como o mesmo é socialmente construído através da linguagem, da representação e, também, dos espaços onde ele circula. Assim, a análise se realiza a partir de um estranhamento no que concerne às “representações-verdade” expressas no decorrer da matéria, vendo-as como construções históricas e contingentes. Após uma breve apresentação do material em estudo, passa-se à análise do mesmo, enfocando três eixos: o impacto do trabalho na identidade do trabalhador; identidades docentes; pensamento moderno e sexismo linguístico. No que tange ao primeiro, é importante focar que na medida que, por exemplo, boa parte da existência de uma pessoa venha a ser caracterizada por sua atuação profissional como professor/a, esta pessoa ver-se-á e será vista pelos outros como um/a professor/a, o que significa ver-se e ser visto com uma dada cultura, ideias, interesses, determinadas práticas e formas de atuar. Desta forma, baseamo-nos na ideia de que o trabalho modifica a identidade do trabalhador, assim como seu “saber trabalhar”, sendo que as vivências dos/as professores/as enquanto aluno/as, dentro do futuro espaço de trabalho, também possibilitam conhecimentos, crenças e representações que terão relevância em suas práticas docentes. O segundo eixo é explorado para evidenciar que, possivelmente, determinadas marcas presentes nas identidades representadas nos textos escrito e imagético se relacionam com o pensamento moderno, tornando-se possível pensar que a revista colabora, através de determinadas representações docentes, para a conservação e/ou restauração de padrões e condutas sociais que pareciam superados. Quanto ao sexismo linguístico, ele é abordado a partir da constatação de que as mulheres são constantemente incluídas no masculino linguístico. Por fim, a matéria analisada é situada como um artefato da cultura, com enorme potencial para colonizar as mentes de um enorme contingente humano, em especial no campo docente, com representações-verdade despidas de qualquer forma de violência, ou seja, representações em que o poder é exercido pela prática da governamentalidade, onde nos tornamos agentes de nossa própria sujeição.