摘要:A atual política escolar indígena, norteada pelo modelo da educação diferenciada, garante o ensino da cultura indígena na escola, sobretudo o ensino da língua nativa. Contudo, este modelo tem reduzido algumas vezes, a alfabetização na língua indígena como sendo o equivalente ao ensino da cultura indígena. Embora não siga o modelo de educação diferenciada, já que seus membros não estão filiados à escola indígena do Território Indígena (T.I.) Vanuíre (pertencente ao município de Arco-Íris no estado de São Paulo), o Grupo de Cultura Kaingang tem respondido a esses desafios através do agir dos Veinkupri Hã ou espíritos dos mortos bons (guerreiros guardiões da cultura Kaingang). Para investigar como esse ensino tem sido retomado pelos membros do Grupo de Cultura Kaingang do T.I. Vanuíre, assim como o que ele elege manter e o que elege mudar da tradição, utilizou-se o método psicanalítico agregando-lhe procedimentos etnográficos (escuta participante). O ensino pautado pelos Veinkupri Hã contempla a totalidade do corpo e, por isso, não prioriza a esfera cognitiva ou representacional em voga na Educação. Antes, visa o preparo e fortalecimento do corpo da criança para que ela consiga agir conforme os espíritos dos mortos bons, buscando a consolidação de uma alma indígena atuante. A criança aprende a respeitar e a se comunicar com os Veinkupri Hã por meio da expressão em si mesma de um espírito guerreiro. Embora tradicionalmente os Kaingang evitassem os mortos, o Grupo de Cultura Kaingang mantém a comunicação com eles para combater as subjugações históricas e contemporâneas que os destinam a não ser quem são. Deste modo, evidencia-se a impossibilidade de desvincular o ensino cultural do ensino espiritual indígena. O Grupo de Cultura Kaingang provoca a sociedade brasileira a repensar suas políticas públicas versadas à Educação. Na busca por uma educação intercultural não há como deixar de fora o âmbito espiritual dos povos indígenas.