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文章基本信息

  • 标题:Corporate governance and value creation in acquisitions/ Governanca corporativa e criacao de valor em aquisicoes.
  • 作者:da Silva, Edison Simoni ; Kayo, Eduardo Kazuo ; Nardi, Roberto Yocisuke Soejima
  • 期刊名称:Revista de Gestao USP
  • 印刷版ISSN:1809-2276
  • 出版年度:2016
  • 期号:July
  • 出版社:Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade - FEA-USP
  • 摘要:Introducao

    As literaturas de financas e de estrategia apresentam uma serie de motivos para fusoes e aquisicoes de empresas, que levariam a ganhos denominados genericamente de "sinergia". Os mercados de capitais eficientes na forma semiforte perceberiam tais ganhos, o que elevaria o valor das empresas.

    Nao obstante, estudos empiricos indicam que os resultados, medidos pelo retorno anormal, para as adquirentes costumam ser, em media, nulos. Tais medias, todavia, sao acompanhadas de variancia nao nula. Enquanto algumas adquirentes apresentam resultados positivos, outras apresentam desempenho negativo em suas aquisicoes. Tais resultados levam, naturalmente, a um questionamento: o que pode explicar aquisicoes que destroem valor para seus acionistas?

    A literatura de financas apresenta duas explicates para aquisicoes destruidoras de valor: pagamento em excesso por hubris, ou excesso de confianca; e problemas de agencia nas adquirentes. O presente trabalho se concentra nos problemas de agencia.

    Conforme a teoria da agencia, em economias marcadas pela dispersao da propriedade, gestores com nenhum ou baixo percentual da propriedade podem fazer aquisicoes com vistas em gerar beneficios para si, mesmo que isso destrua a riqueza dos acionistas.

    Todavia, a propriedade dispersa nao e a estrutura tipica das empresas negociadas em bolsa no Brasil. Pelo contrario, mais comum e a concentracao da propriedade. Em tal contexto, em que muitas empresas tem um controlador definido, seria aplicavel a explicacao baseada em problemas de agencia para aquisicoes destruidoras de valor? Bebchuk, Kraakman e Triantis (2000) demonstram que, na presenca de beneficios privados do controle e do uso de mecanismos para separar direitos sobre fluxo de caixa de direitos sobre votos, os controladores sentem-se incentivados a aquisicoes ineficientes. Essas sao caracteristicas presentes no Brasil, como apresentado no referencial teorico.

Corporate governance and value creation in acquisitions/ Governanca corporativa e criacao de valor em aquisicoes.


da Silva, Edison Simoni ; Kayo, Eduardo Kazuo ; Nardi, Roberto Yocisuke Soejima 等


Corporate governance and value creation in acquisitions/ Governanca corporativa e criacao de valor em aquisicoes.

Introducao

As literaturas de financas e de estrategia apresentam uma serie de motivos para fusoes e aquisicoes de empresas, que levariam a ganhos denominados genericamente de "sinergia". Os mercados de capitais eficientes na forma semiforte perceberiam tais ganhos, o que elevaria o valor das empresas.

Nao obstante, estudos empiricos indicam que os resultados, medidos pelo retorno anormal, para as adquirentes costumam ser, em media, nulos. Tais medias, todavia, sao acompanhadas de variancia nao nula. Enquanto algumas adquirentes apresentam resultados positivos, outras apresentam desempenho negativo em suas aquisicoes. Tais resultados levam, naturalmente, a um questionamento: o que pode explicar aquisicoes que destroem valor para seus acionistas?

A literatura de financas apresenta duas explicates para aquisicoes destruidoras de valor: pagamento em excesso por hubris, ou excesso de confianca; e problemas de agencia nas adquirentes. O presente trabalho se concentra nos problemas de agencia.

Conforme a teoria da agencia, em economias marcadas pela dispersao da propriedade, gestores com nenhum ou baixo percentual da propriedade podem fazer aquisicoes com vistas em gerar beneficios para si, mesmo que isso destrua a riqueza dos acionistas.

Todavia, a propriedade dispersa nao e a estrutura tipica das empresas negociadas em bolsa no Brasil. Pelo contrario, mais comum e a concentracao da propriedade. Em tal contexto, em que muitas empresas tem um controlador definido, seria aplicavel a explicacao baseada em problemas de agencia para aquisicoes destruidoras de valor? Bebchuk, Kraakman e Triantis (2000) demonstram que, na presenca de beneficios privados do controle e do uso de mecanismos para separar direitos sobre fluxo de caixa de direitos sobre votos, os controladores sentem-se incentivados a aquisicoes ineficientes. Essas sao caracteristicas presentes no Brasil, como apresentado no referencial teorico.

Com foco na teoria da agencia, pode-se questionar se boas praticas de governanca corporativa colaboram para evitar aquisicoes destruidoras de valor. Se tal hipotese for verdadeira, entao se pode esperar que empresas com qualidade superior de governanca apresentem resultados superiores em aquisicoes. Este trabalho tem por objetivo investigar se empresas com praticas superiores de governanca apresentam, em media, desempenho superior em aquisicoes de outras empresas. Para tanto, sao analisados dados de 2006 a 2010 relativos a aquisicoes feitas por empresas negociadas em Bolsa no Brasil.

Revisao da literatura

Bons motivos para aquisicoes: sinergias

As literaturas de financas e estrategia apresentam uma serie de bons motivos para fusoes e aquisicoes, como pode ser observado em artigos como os de Jensen (1986), Seth (1990a, 1990b), Berkovitch e Narayanan (1993) e Capron e Pistre (2002), entre outros. Dentre os motivos normalmente apresentados, podem ser citados: ganho de poder de mercado ou monopolio; economias de escala e de escopo; ganhos decorrentes da melhoria da organizacao da producao em integrates verticais; ganhos decorrentes do uso de recursos complementares; ganhos de eficiencia decorrentes de troca de gestao, incluindo a reducao dos problemas de agencia nas empresas-alvo; superacao de barreiras a entrada em mercados; maior velocidade de entrada em novos mercados; ganhos fiscais, incluindo os decorrentes do aumento da capacidade de endividamento em razao da transacao.

Dado o escopo deste trabalho, e interessante notar que as aquisicoes podem colaborar para reduzir problemas de agencia, e nao ser executadas em funcao deles. A ideia e que o mercado de controle corporativo atuaria como um mecanismo externo de correcao de problemas de agencia nas firmas e limitaria a atuacao oportunista dos administradores (Manne, 1965; Jensen & Meckling, 1976; Fama & Jensen, 1983; Jensen, 1986). A ameaca de tomada de controle das empresas faria os gestores se associarem aos interesses dos acionistas.

Os possiveis ganhos resultantes de fusoes e aquisicoes normalmente sao chamados de sinergias. Tais sinergias elevariam o valor das empresas reunidas a um nivel superior a soma de seus valores individuais. Em um mercado de capitais eficiente na forma semiforte, tais ganhos seriam reconhecidos pelos investidores no anuncio das transacoes e levariam a um aumento do valor das empresas envolvidas.

Os resultados das aquisicoes para os acionistas das adquirentes

Normalmente, os resultados das aquisicoes sao mensurados pelo metodo do estudo de eventos. Em termos simples, o metodo consiste na feitura de estimativas dos retornos anormais das acoes das empresas em funcao do evento, isto e, retornos acima ou abaixo do que se poderia esperar se o evento nao tivesse ocorrido; e de testes sobre a significancia estatistica de tais retornos anormais.

Se for verdade que as fusoes e aquisicoes sao feitas em busca de sinergias, e se o mercado for eficiente na forma semiforte, entao se deve esperar que o retorno anormal medio, em estudos de eventos sobre aquisicoes, seja positivo.

Com efeito, os estudos empiricos costumam apresentar retornos anormais combinados (para as duas empresas envolvidas na operacao) positivos e dao indicios de que ha sinergia em tais transacoes. Todavia, os ganhos parecem ser incorporados totalmente pelos acionistas das empresas-alvo. Enquanto os acionistas dessas costumam obter retornos anormais positivos, o retorno anormal para as empresas adquirentes normalmente nao costuma ser, em media, estatisticamente diferente de zero e pode, por vezes, ser negativo (Andrade, Mitchell & Stafford, 2001; Copeland, Weston & Shastri, 2003:778 e 806-807; Bruner, 2004:36-47). No Brasil, Brito, Battistela e Fama (2005), Camargos e Barbosa (2007), Patrocinio, Kayo e Kimura (2007) e Kayo, Patrocinio e Martin (2009) apresentam, tambem, evidencias de retornos, em media, nulos ou negativos para os acionistas das adquirentes. Por outro lado, Simoes, Macedo-Soares, KlotzleePinto (2012) apresentam evidencias de retorno anormal medio positivo para as adquirentes na data de anuncio das transacoes.

A analise das medias dos resultados de transacoes de fusoes e aquisicoes de forma agregada pode esconder uma grande variancia (Capron & Pistre, 2002; Kayo, Patrocinio & Martin, 2009). Ha transacoes que criam valor e outras que destroem valor. Naturalmente, como ja comentado na introducao, a questao que surge e: o que leva as empresas a fazer aquisicoes que destroem valor? Tal questionamento nao e recente (Lubatkin, 1983).

A literatura de financas procura responder a tal questionamento e apresenta dois outros motivos para as aquisicoes: hubris, ou excesso de confianca, explorada por Roll (1986) e que esta fora do escopo do presente trabalho; e problemas de agencia nas adquirentes.

Problemas de agencia e as decisoes de aquisicao

Conflitos de agencia entre proprietarios e gestores

Embora o mercado de controle corporativo seja indicado como um dos mecanismos que visam a reduzir os problemas de agencia, em empresas com propriedade dispersa os gestores tem incentivos e poder para fazer investimentos ineficientes.

Gestores poderiam buscar, por meio da expansao da empresa, ainda que acima do nivel otimo, beneficios como o aumento de poder pelo maior volume de recursos sob seu controle, de sua remuneracao, normalmente atrelada ao porte das empresas, e das oportunidades depromocao de seus funcionarios (Jensen, 1986). Tambem podem buscar, por meio de aquisicoes de empresas de outros setores de atividade, diversificar seu "risco de emprego" (Amihud & Lev, 1981). As aquisicoes podem ainda ser usadas para a obtencao de ativos que se encaixem na especialidade do executivo e elevem seu poder de barganha junto aos acionistas (Shleifer & Vishny, 1989).

Dados os beneficios que os executivos podem extrair das aquisicoes, e a partir da premissa de que esses buscam maximizar seu proprio nivel de utilidade e, portanto, nao sao agentes perfeitos (Jensen & Meckling, 1976), tais transacoes podem ser feitas mesmo na ausencia de sinergias e a um preco superior ao valor intrinseco da empresa-alvo (Shleifer & Vishny, 1988; Morck, Shleifer & Vishny, 1990). Os acionistas da empresa-alvo podem perceber o valor da aquisicao para os executivos da potencial adquirente e, com poder de barganha elevado, requerer premios superiores, o que agrava o problema (Berkovitch & Narayanan, 1993).

Como se pode ver, o mercado de controle corporativo parece ter duas faces. Conforme Jensen (1986:328), "as tomadas de controle sao tanto evidencia de conflitos de interesse entre acionistas e executivos quanto uma solucao para o problema".

Conflitos de agencia entre controladores e minoritarios

A subsecao anterior mostrou que, em empresas com propriedade dispersa, os executivos podem decidir por aquisicoes em busca de beneficios para si, em detrimento dos demais acionistas. Mas em mercados em que as empresas costumam contar com acionistas controladores, a indicacao de problemas de agencia para explicar, ao menos em parte, desempenhos negativos das adquirentes em aquisicoes tambem seria aplicavel?

Acionistas com participacao elevada no capital das empresas podem colaborar para reduzir os problemas de agencia da relacao acionistas-gestores, pois tem interesse na maximizacao dos lucros e nos baixos incentivos ao desvio de recursos da empresa, bem como condicoes de fazer seus interesses serem respeitados (Shleifer & Vishny, 1997; La Porta, Lopez-de-Silanes & Shleifer, 1999).

Embora a concentracao da propriedade acarrete vantagens, tambem implica custos. O mais obvio, segundo Shleifer e Vishny (1997), e a ineficiencia na diversificacao das carteiras dos investidores, que passam a carregar risco em excesso. Um problema mais fundamental, de acordo com os autores, e que os controladores podem buscar, por meio da empresa, atingir seus interesses, que podem conflitar com os dos demais acionistas.

O problema na relacao controlador-minoritarios e particularmente grave quando os acionistas que detem o controle tem mais poder de voto do que direitos de propriedade (Shleifer & Vishny, 1997). Isso pode ser obtido por meio de mecanismos como estruturas piramidais, participacoes cruzadas e emissao de acoes com distintos direitos de voto, tipicamente usados pelos controladores (La Porta et al., 1999; Bebchuk et al., 2000). Nesses casos, e possivel obter o controle da empresa com reduzida participacao no capital. Bebchuk et al. (2000) demonstram que, na ausencia de restricoes legais, os controladores podem, por meio de tais mecanismos, reduzir sua participacao nos direitos sobre os fluxos de caixa a niveis muito proximos de zero e manter o controle da empresa. Em tais casos, os autores dizem que a empresa tem "controle minoritario".

Em empresas com "controle minoritario", os controladores tem o poder e os incentivos para expropriar os acionistas minoritarios; e nao sofrem a disciplina do mercado de controle corporativo, presente nas empresas com propriedade pulverizada (Shleifer & Vishny, 1997; Bebchuk et al., 2000). A apropriacao de beneficios privados do controle pode ser ainda facilitada pela participacao direta dos controladores na administracao das empresas, algo comum (La Porta et al., 1999).

Os acionistas controladores podem se beneficiar ao explorar transacoes com outras empresas sob seu controle e aproveitar oportunidades da empresa, bem como gozar de beneficios privados normalmente associados aos gestores de empresas com propriedade pulverizada (Shleifer & Vishny, 1997; La Porta, Lopez-de-Silanes, Shleifer & Vishny, 2000; Nenova, 2003; Dyck & Zingales, 2004; Djankov, La Porta, Lopez-de-Silanes & Shleifer, 2008).

Bebchuk et al., 2000 estudam os efeitos do "controle minoritario" em tres decisoes empresariais: a escolha entre projetos de investimento alternativos, as decisoes de expansao e dereducao de porte das firmas e a decisao de transferencia de controle. Os autores demonstram que o incentivo dos controladores para a tomada de decisoes ineficientes cresce a medida que se reduz sua participacao no capital, mantido o controle. No caso das decisoes de expansao, em que se inserem as de aquisicao, os autores demonstram que quanto menor for o interesse economico dos controladores na empresa, maior o incentivo a tomada de decisoes de investimento com valor presente liquido negativo. Os beneficios privados a serem extraidos dos novos ativos podem compensar sobejamente a reducao de riqueza do controlador decorrente da reducao do valor da firma. A perda e suportada integralmente pelos acionistas minoritarios.

O incentivo a investimentos com valor presente liquido negativo nao depende apenas do nivel de interesse economico dos controladores na firma adquirente, mas tambem do quanto podem extrair em beneficios privados, do controle sobre os novos ativos. Legislates que protejam mais os direitos dos minoritarios e reduzem as oportunidades de apropriacao dos beneficios privados pelos controladores minorar tal tendencia (La Porta et al., 1999; Bebchuk et al., 2000).

A necessidade de levantar recursos no mercado pode fazer com que algumas empresas com controle minoritario busquem manter boa reputacao tambem, o que reduz a tendencia a investimentos ineficientes (Bebchuk et al., 2000). Tais empresas podem, voluntariamente, comprometer-se com niveis de qualidade mais elevados de governanca. Isso pode ser feito pela adesao a ambientes legais com protecao mais forte dos minoritarios por meio de dupla listagem (Coffee JR, 1999, 2002; La Porta et al., 1999; Stulz, 1999). Raciocinio analogo pode se aplicar a adesao, no mesmo pais, a segmentos de listagem com niveis diferenciados de governanca corporativa, como os da BM&FBovespa.

E importante notar que, no Brasil, a legislacao permite que as empresas separem os direitos de voto dos direitos sobre os fluxos de caixa por meio da emissao de acoes sem direito a voto, pratica que, alias, e comum (Leal & Carvalhal-da-Silva, 2005; Nenova, 2003). Pesquisas com dados de varios paises sobre os premios associados ao bloco de controle feitas por Nenova (2003) e por Dyck & Zingales (2004) colocam o Brasil em destaque, com elevado nivel de premio, o que seria explicado, conforme os autores, pela presenca de elevados niveis de beneficios privados do controle. Analises feitas por Klapper e Love (2004) e por Durnev e Kim (2005) indicam que as praticas de governanca das firmas tem um papel especialmente relevante na reducao dos conflitos de agencia em ambientes com menor protecao legal dos investidores.

Hipotese de pesquisa

Tendo em vista o arcabouco teorico apresentado nesta secao, a pratica comum de separacao dos direitos de voto dos direitos sobre fluxo de caixa no Brasil e os elevados niveis de beneficios privados do controle que parecem estar presentes no pais, formula-se a seguinte hipotese: empresas com qualidade superior de governanca corporativa devem apresentar, em media, ceteris paribus, retornos anormais mais elevados, em anuncios de aquisicao, do que as demais empresas.

Governanca corporativa e definida neste trabalho como os meios pelos quais os fornecedores de recursos das empresas asseguram retorno sobre seu investimento (Shleifer & Vishny, 1997) e se protegem da expropriacao pelos internos (insiders) (La Porta et al., 2000). Na definicao de La Porta et al. (2000), insiders sao os acionistas controladores e a administracao da empresa, em empresas com controle definido e com propriedade pulverizada, respectivamente.

Pesquisas empiricas anteriores

Alguns poucos estudos empiricos sobre a relacao entre as praticas de governanca das firmas e o retorno para as adquirentes foram feitos com dados de empresas em que a estrutura de controle e de propriedade e mais concentrada. Os resultados de tais estudos sao apresentados a seguir.

Evidencias de uma relacao negativa entre o retorno anormal das adquirentes e a separacao entre controle e propriedade foram obtidas por Hanson e Song (1996) e Masulis, Wang e Xie (2009), que analisaram as participates detidas pela administracao da adquirente em empresas emissoras de acoes com diferentes direitos de voto, localizadas nos Estados Unidos; (1) e por Bigelli e Mengoli (2004) e Caprio, Croci e Giudice (2011), com dados da Italia e de 12 paises da Europa Continental, respectivamente, que analisaram as participates detidas pelo acionista com maior direito de votos. Por outro lado, Ben-Amar e Andre (2006), com dados do Canada, nao encontraram relacao estatisticamente significante em analise das participates detidas pelo maior acionista interno (presidente do conselho ou presidente executivo). De acordo com os autores, talvez o resultado seja decorrente do alto nivel de protecao dos minoritarios existente no Canada.

Bigelli e Mengoli (2004), Ben-Amar e Andre (2006) e Caprio et al. (2011) tambem apresentam evidencias de uma relacao positiva entre concentracao da propriedade e o retorno anormal das adquirentes. No caso dos dois primeiros estudos, tambem se testou (e foi obtida evidencia favoravel) uma relacao quadratica, com concavidade voltada para baixo. Isso sugere que em niveis mais altos de concentracao, em que o controle nao seria contestavel, o efeito de entrincheiramento se sobreporia ao de alinhamento (Bigelli & Mengoli, 2004: 400). (2)

Ainda sobre estrutura de controle e propriedade, Ben-Amar e Andre (2006) encontraram uma relacao positiva entre a presenca de acionistas externos com participacao relevante nos direitos de voto e o retorno anormal das adquirentes e deram indicios de um papel relevante de tais acionistas no monitoramento da administracao. Nao obstante, Caprio et al. (2011) tambem testaram tal hipotese e nao encontraram resultados significantes.

Nos poucos estudos feitos com dados de ambientes com estrutura de controle e propriedade mais concentrada, em geral o foco recaiu sobre a analise da relacao entre retornos anormais das adquirentes e estrutura de controle e propriedade das adquirentes. Uma excecao e o trabalho de Ben-Amar e Andre (2006), que encontrou uma relacao positiva entre o retorno anormal das adquirentes e a independencia do conselho de administracao; e negativa entre o retorno anormal das adquirentes e o tamanho do conselho, talvez por problemas de coordenacao e comunicacao em conselhos maiores, conforme os autores.

Por fim, Ben-Amar e Andre (2006) tambem testaram a relacao entre o retorno anormal das adquirentes e a manutencao de programas de ADR (american depositary receipts) niveis II ou III. Nao encontraram relacao estatisticamente significante entre as variaveis. Novamente, segundo os autores, tal resultado pode ser decorrente de as empresas canadenses operarem em um mercado com alto nivel de protecao aos acionistas minoritarios. Todavia, Aybar e Ficici (2009) estudaram aquisicoes internacionais feitas por firmas localizadas principalmente na Asia e na America Latina e encontram relacoes estatisticamente nulas ou ate mesmo, em alguma de suas analises, negativas entre tal variavel e o retorno anormal das adquirentes, ao contrario do que esperavam.

Procedimentos metodologicos

Metodo

O presente trabalho tem por objetivo investigar a relacao entre qualidade da governanca corporativa e o retorno anormal das adquirentes no Brasil. Tal objetivo e atingido por meio de um estudo de eventos, seguido de uma analise de regressao linear multipla.

O desempenho das adquirentes e estimado pela feitura de um estudo de eventos, procedimento comum em estudos sobre aquisicoes (Copeland, Weston & Shastri, 2003, p.778). Conforme MacKinlay (1997:13), "um estudo de evento mensura o impacto de um evento especifico sobre o valor de uma firma". Uma premissa fundamental da metodologia e a de eficiencia semiforte do mercado de capitais (Mackinlay, 1997; Mcwilliams & Siegel, 1997). Conforme Mcwilliams e Siegel (1997), a metodologia tambem se apoia nas seguintes premissas: o evento representa informacao nova, nao antecipada pelos investidores; nao ha outros eventos economicamente relevantes que ocorrem simultaneamente, ou pelo menos e possivel isolar o efeito do evento analisado. Mais detalhes sobre o metodo podem ser encontrados nas obras de Mackinlay (1997) e Mcwilliams e Siegel (1997), entre outros.

Uma vez estimados os retornos anormais, a analise da relacao entre o desempenho das adquirentes e o nivel de qualidade da governanca corporativa e feita por regressao linear multipla, procedimento-padrao nos estudos que objetivam identificar fatores que expliquem a variancia do desempenho das adquirentes. A analise e controlada por outros fatores normalmente citados na literatura como determinantes do desempenho em aquisicoes.

Modelo e definicao teorica e operacional das variaveis

O modelo usado na pesquisa e apresentado na equacao abaixo:

[CAR.sub.i] = [alpha] + [[beta].sub.i] x [NM.sub.i] + [[beta].sub.2] x [N2.sub.i] + [[beta].sub.3] x [ADR23.sub.i] + [n.summation over (s=1)] [[gamma].sub.s] x [VC.sub.si] + [[epsilon].sub.i] (1)

Na equacao acima, [CAR.sub.i] e o retorno anormal acumulado do evento "i"; [alpha] e o intercepto da equacao de regressao; [[beta].sub.1], [[beta].sub.2] e [[beta].sub.3] sao os coeficientes de regressao associados as variaveis representativas da qualidade de governanca corporativa das empresas, NM, N2 e ADR23, que se espera sejam positivos; [[gamma].sub.s] e o coeficiente de regressao da variavel de controle "s"; e [epsilon] e o termo de erro. As definicoes operacionais das variaveis sao apresentadas na tabela 1.

Foi usada uma janela de evento curta (tres dias) para evitar problemas com a sobreposicao de eventos. Janelas mais longas tambem reduzem o poder dos testes estatisticos (Mackinlay, 1997; Mcwilliams & Siegel, 1997). Janelas de tres dias sao comuns em estudos sobre os efeitos das fusoes e aquisicoes (Andrade et al., 2001). Simoes et al. (2012) analisam o comportamento das acoes das empresas em anuncios de aquisicoes na Argentina, no Brasil e no Chile, entre 1995 e 2008, e concluem que, no caso brasileiro, a informacao e completamente incorporada aos precos na data do anuncio.

A qualidade da governanca das empresas e medida pela adesao ao Nivel 2 e ao Novo Mercado da BM&FBovespa e pela dupla listagem nos EUA, por meio da emissao de ADR niveis II ou III. As empresas que efetuam dupla listagem nos EUA por meio de ADR II ou III devem seguir regras de governanca aplicaveis as empresas listadas em bolsa naquele pais (Silveira, Leal, Carvalhal-da-Silva & Barros, 2010), que tem niveis mais elevados de protecao aos acionistas (La Porta et al., 1998). Os segmentos diferenciados de listagem da BM&FBovespa impoem regras adicionais de governanca as empresas, como a concessao de direitos adicionais a legislacao para as acoes sem direito a voto (no caso do Nivel 2), a manutencao de pelo menos 20% de membros independentes no conselho de administracao e a adesao a camara de arbitragem para a resolucao de conflitos. No caso do Novo Mercado, as empresas tambem nao podem emitir acoes sem direito a voto. Silveira, Leal, Carvalhal-da-Silva e Barros, 2009; Silveira et al., 2010 apresentam evidencias de que a emissao de ADR II ou III e a adesao ao Nivel 2 ou ao Novo Mercado estao associadas a uma melhoria na qualidade da governanca das empresas, medida por um indice mais amplo, desenvolvido por Leal e Carvalhal-da-Silva (2005).

A variavel investimento procura controlar a importancia, em termos de porte, da aquisicao (Roll, 1986). O pagamento que envolve acoes pode sinalizar informacoes negativas sobre as empresas em um contexto de assimetria informacional (Andrade et al., 2001). A divida liquida reduz a folga financeira das empresas e pode ser considerada um mecanismo de governanca (Jensen, 1986). A variavel MB mede a intangibilidade das adquirentes, variavel que se mostra, em alguns estudos, associada a criacao de valor nas adquirentes (Kayo, Patrocinio & Martin, 2009). Empresas de maior porte podem ter mais problemas de agencia e de excesso de confianca (Moeller, Schilingemann & Stulz, 2004). A variavel pos-crise visa captar qualquer mudanca na reacao do mercado de capitais a anuncios de aquisicao apos a crise de 2008. Caracteristicas dos setores, como a concorrencia no mercado de produtos, podem colaborar para disciplinar os gestores/controladores; para uma discussao, veja Shleifer e Vishny (1997) e Dyck e Zingales (2004). Tambem foi criada uma variavel para classificar as transacoes como "relacionadas" ou "de diversificacao". Todavia, apos a aplicacao dos varios filtros, nenhuma transacao da amostra final foi classificada como de diversificacao.

Procedimentos de coleta de dados e amostra

Os anuncios de aquisicoes foram coletados na base de Investment Banking da Thomson Reuters. Foram usados registros de 2006 a 2010 de adquirentes localizadas no Brasil. A consulta foi efetuada em marco de 2011. Alem da data de anuncio, a base forneceu o valor do investimento, o percentual do capital da alvo alcancado pela adquirente apos a operacao e a forma de pagamento.

Os dados contabeis, de cotacoes, liquidez em bolsa, valor de mercado e classificacao setorial das empresas foram coletados na economatica.

O sitio www.adr.com foi consultado para a coleta de dados sobre as empresas emissoras de ADR. Os relatorios das empresas tambem foram consultados, nos sitios da BM&FBovespa ou da Comissao de Valores Mobiliarios (CVM), para a coleta de dados sobre inicio da emissao de ADR e data de adesao ao Nivel 2 e ao Novo Mercado, entre outros dados.

Para evitar a contaminacao da variavel dependente por eventos sobrepostos, efetuou-se um cruzamento da base da Thomson Reuters com uma base de fatos relevantes fornecida pela CVM. Tambem foram consultadas as datas de divulgacao de demonstracoes financeiras pelas empresas. Tais datas foram pesquisadas, na ordem, nos calendarios de eventos corporativos, no campo de registro da data de apresentacao das demonstracoes financeiras no sitio da CVM e na versao digital do jornal Valor Economico (nesse ultimo caso, se a data registrada na CVM fosse de reapresentacao da demonstracao financeira).

A tabela 2 apresenta os procedimentos adotados para a formacao da amostra.

A tabela 3 apresenta a distribuicao setorial, conforme classificacao nivel 1 do The North American Industry Classification System (NAICS), e temporal da amostra.

Limitacoes

Este trabalho usa tres variaveis para mensurar a qualidade de governanca das empresas. Tais variaveis sao, todavia, apenas aproximacoes limitadas para o constructo que pretendem mensurar. Por sua natureza (dummies), nao permitem diferenciacoes mais sutis na qualidade de governanca das empresas.

Embora se tenha buscado usar variaveis de controle na analise, nao se pode assegurar que nao existam variaveis omitidas no termo de erro que enviesem os resultados obtidos.

Por fim, outra limitacao do estudo e o reduzido tamanho da amostra.

Apresentacao e analise dos resultados

Analises preliminares

A tabela 4 apresenta as estatisticas descritivas para o retorno anormal, bem como resultados de testes t de Student. Embora, em razao do exposto na secao "Modelo e definicao teorica e operacional das variaveis", o foco das analises seja uma janela mais curta (tres dias), tambem sao apresentados os dados para uma janela mais longa, de cinco dias: CAR (-2,+2). Como pode ser observado, o retorno anormal apresentou sinal positivo em todas as datas, mas com significancia estatistica apenas no dia do anuncio. O retorno anormal acumulado, seja na janela de tres dias, seja na de cinco dias, tambem apresentou sinal positivo e significante a 5%, com elevada variancia.

A tabela 5 apresenta as estatisticas descritivas para as variaveis explicativas.

A tabela 6 apresenta a matriz de correlacao entre as variaveis. Verifica-se correlacao positiva e significante entre NM e CAR, de acordo com a hipotese formulada. Por outro lado, a correlacao entre CAR e N2 e nula do ponto de vista estatistico; e, contrariamente ao esperado, a correlacao entre CAR e ADR23 e negativa e significante. A tabela 6 tambem apresenta algumas correlates altas entre as variaveis independentes, o que pode trazer problemas a analise de regressao multipla, por elevar o erro das estimativas dos coeficientes de regressao.

Analise de regressao multipla

Resultados da analise por minimos quadrados ordinarios (MQO)

A tabela 7 apresenta os resultados da analise de regressao multipla.

O teste de heteroscedasticidade de Breusch-Pagan nao indica evidencias desse tipo de problema ([chi]= 1,130; p = 0,288). Foi efetuado o teste de Shapiro-Wilk e nao se pode rejeitar a hipotese de normalidade dos residuos (z = 0,685; p = 0,247). O fator de inflacao de variancia mais alto foi de 7,93, abaixo do nivel critico de 10; a media dos fatores de inflacao de variancia foi de 3,890.

Os resultados apresentados na tabela 7 indicam uma relacao positiva entre a adesao ao Novo Mercado da BM&FBovespa e o CAR(-1,+1), o que confirma os resultados obtidos na analise de correlacao. O coeficiente de regressao e significante tanto estatistica quanto economicamente. Todavia, a adesao ao Nivel 2 e a manutencao de programas de ADR II ou III nao apresentam relacao estatisticamente significante com o CAR(-1,+1).

Analises adicionais dos dados mostraram que, com excecao de um caso, quando a adquirente nao faz parte do Novo Mercado, a empresa e emissora de acoes sem direito a voto. Novas analises de regressao, que substituem as variaveis de governanca por uma dummy que indica se a empresa e emissora ou nao de acoes sem direito a voto ou por uma variavel continua que indica o porcentual de acoes outstanding (total menos as que estao em tesouraria) sem direito a voto, levam ao mesmo resultado apresentado na tabela 7. Quer dizer, a emissao de acoes sem direito a voto apresenta relacao negativa com o retorno anormal acumulado.

Os resultados obtidos sao consistentes com o referencial teorico apresentado, o que indica que empresas que usam mecanismos para separar direitos de voto e direitos de fluxo de caixa tem, ceteris paribus, incentivos a aquisicoes destruidoras de valor.

Entre as variaveis de controle, investimento apresentou sinal positivo e significante. Isso indica que quanto maior o valor do investimento, tanto mais alto sera o retorno para os adquirentes, mantidos os demais fatores constantes. Tal resultado e consistente com aqueles obtidos por Mulherin e Boone (2000), que argumentam que as aquisicoes sao feitas principalmente em busca de sinergia. Ja a divida liquida apresentou sinal negativo, contrario ao esperado, de acordo com a hipotese de que o endividamento tem um efeito disciplinador sobre os gestores (Jensen, 1986). E importante informar que a variavel de endividamento tem a significancia estatistica reduzida em algumas das analises de robustez apresentadas na subsecao "Sobre a robustez dos resultados".

Sobre a robustez dos resultados

Apesar de nao haver indicios de heteroscedasticidade, a regressao tambem foi estimada, gerou erros consistentes de White e os principais resultados nao se alteraram qualitativamente.

Os principais resultados obtidos sao consistentes em face da exclusao de observacoes extremas e influentes, medidas pelos residuos estudentizados e pela distancia de Cook, respectivamente. Em analises complementares, a equacao de regressao foi estimada, excluiram-se os casos com residuos estudentizados acima de 3 (em valor absoluto) e distancia de Cook acima de 1. Os resultados foram mantidos, qualitativamente.

Tambem foram feitas analises adicionais, com a exclusao das observacoes em que havia sobreposicao de eventos de aquisicao nas janelas de evento analisadas; e dos casos em que os eventos foram registrados de forma independente pela Thomson, mas faziam parte de uma mesma transacao e foram tratados como um evento na analise da subsecao "Resultados da analise por minimos quadrados ordinarios (MQO)". Os principais resultados foram mantidos.

Com vistas a evitar que outros eventos, que nao as aquisicoes, influenciassem os resultados obtidos, a analise da subsecao "Resultados da analise por minimos quadrados ordinarios (MQO)" exclui os casos em que havia fatos relevantes ou divulgacao de demonstrates financeiras na data do anuncio, dois dias antes ou dois dias depois. A expansao de tal janela para um periodo de 11 dias (dia do anuncio, cinco antes e cinco depois) nao altera qualitativamente os principais resultados obtidos.

Por fim, o uso de uma janela de evento um pouco maior, de cinco dias (dia do anuncio, dois antes e dois depois), enfraquece as relacoes estatisticas obtidas, como esperado (veja a subsecao "Modelo e definicao teorica e operacional das variaveis"). Mas ainda leva a uma relacao positiva entre CAR e NM, significante a 10% em um teste unicaudal.

Consideracoes finais

Este trabalho tinha por objetivo investigar a relacao entre qualidade da governanca corporativa e o retorno anormal das adquirentes no Brasil. A hipotese formulada, baseada no arcabouco teorico apresentado na secao "Revisao da literatura", e a de uma relacao positiva entre tais variaveis.

Para investigar a relacao supracitada, o desempenho das adquirentes foi estimado pelo metodo do estudo de eventos, enquanto a qualidade da governanca foi aproximada pela adesao ao Novo Mercado e ao Nivel 2 de governanca da BM&FBovespa e pela manutencao de programas de ADR niveis II e III.

A analise de regressao linear multipla feita, que teve como variavel dependente o retorno anormal das adquirentes em torno do anuncio das aquisicoes, gerou evidencias favoraveis a uma relacao positiva com a adesao ao Novo Mercado, mas nao as demais variaveis de governanca. As empresas que participam do Novo Mercado sao justamente as que nao emitem acoes sem direito a voto, limitam a capacidade dos controladores de separar os direitos de voto dos direitos sobre fluxo de caixa. Tais resultados sao consistentes com o referencial teorico apresentado, que indica que em empresas com separacao entre os direitos de voto e os de fluxo de caixa, e na presenca de beneficios privados do controle, caso brasileiro, os controladores tem incentivos a investimentos ineficientes.

Novas pesquisas podem investigar a relacao entre o retorno anormal em anuncios de fusoes e aquisicoes e variaveis que mensuram de forma mais direta a separacao entre direitos de voto e direitos sobre fluxo de caixa. Para tanto, sera necessario reunir dados da estrutura de propriedade das empresas e considerar nao somente as participacoes diretas, mas tambem as indiretas.

http://dx.doi.org/10.1016/j.rege.2016.06.004

Conflitos de interesse

Os autores declaram nao haver conflitos de interesse.

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Edison Simoni da Silva (a), *, Eduardo Kazuo Kayo (b) e Roberto Yocisuke Soejima Nardi (b)

(a) Fundacao Escola de Comercio Alvares Penteado (Fecap), Sao Paulo, SP, Brasil

(b) Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade da Universidade de Sao Paulo (FEA/USP), Departamento de Administracao, Sao Paulo, SP, Brasil

Recebido em 29 de maio de 2013; aceito em 27 de janeiro de 2016 Disponivel na internet em 24 de junho de 2016

* Autor para correspondencia.

E-mail: [email protected] (E.S. Silva).

(1) Embora os Estados Unidos sejam normalmente associados a estruturas de controle e propriedade mais pulverizadas (LaPortaet al., 1999), nas amostras dos estudos citados, em media, a administracao apresenta elevados niveis de direito de voto e de excesso de direito de voto: 48,6% dos votos e 36% dapropriedade em Hanson e Song (1996); e 67,4% dos votos e 40,8% da propriedade em Masulis et al. (2009).

(2) Os autores se baseiam nos resultados obtidos pioneiramente por Morck, Shleifer e Vishny (1988), que encontraram uma relacao nao monotonica entre o valor das empresas e o percentual de acoes detido pelos conselheiros ao estudar empresas listadas em bolsa nos Estados Unidos.
Tabela 1
Definicao operacional das variaveis

Variavel         Definiccao

CAR(-1,+ 1)      Retorno anormal acumulado para uma janela
                 de tres dias (data do anuncio, dia
                 anterior e dia posterior). Foi usado o
                 metodo de retorno ajustado ao mercado.
                 Assim, o retorno anormal em cada dia foi
                 calculado pela diferencca entre o retorno
                 observado da accao mais liquida da
                 adquirente e o retorno observado da
                 carteira de mercado, aproximada pelo
                 Indice Brasil (IBrX). Entao, para cada
                 evento, acumula-se, por soma, o retorno
                 anormal estimado para cada dia. O uso do
                 Indice Bovespa (Ibovespa) no lugar do IBrX
                 nao altera os resultados obtidos. A data
                 do anuncio usada foi a informada pela
                 Thomson Reuters.

NM               1 (um), se a adquirente estivesse listada,
                 na epoca do evento, no Novo Mercado da
                 BM&FBovespa e 0 (zero), caso nao
                 estivesse.

N2               1 (um), caso a adquirente estivesse
                 listada, na epoca do evento, no Nivel 2 da
                 BM&FBovespa e 0 (zero), caso nao
                 estivesse.

ADR23            1 (um), caso a adquirente fosse emissora
                 de ADR niveis II ou III na epoca do evento
                 e 0 (zero), caso nao fosse.

Investimento     Valor pago pela empresa-alvo/ativo total
                 da adquirente no fim do ano anterior ao
                 evento.

Caixa            1 (um), se o pagamento foi efetuado em
                 dinheiro e 0 (zero), se nao efetuado em
                 dinheiro.

Divida liquida   Divida financeira liquida (curto e longo
                 prazo)/valor de mercado do capital proprio
                 da empresa no fim do ano anterior ao
                 evento.

MB               Valor de mercado/valor contabil dos
                 ativos. O valor de mercado dos ativos =
                 ativo total--patrimonio liquido + valor de
                 mercado do capital proprio.

Porte            LN da receita liquida (em R$ mil) da
                 adquirente no ano anterior ao evento.

pos-crise        1 (um), caso o evento tenha ocorrido apos
                 15/09/2008, data em que foi noticiado que
                 o banco Lehman Brothers declararia
                 falencia, 0 (zero), caso tenha ocorrido
                 antes daquela data. O uso de dummies para
                 os anos de aquisiccao no lugar de
                 pos-crise nao altera os resultados.

SET              Dummies para o setor da adquirente,
                 conforme classificacao NAICS (The Norh
                 American Industry Classification Sytem).

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 2
Formacao da amostra de aquisicoes no Brasil, com dados de 2006 a 2010

Filtros                                        Eventos    Eventos
                                               excluidos  remanescentes

Registros de 2006 a 2010                                    1.239

Somente os registros com status                412        827
  "Completed" (i.e., que tinham efetivamente
  sido feitos). Criterio usado em outras
  pesquisas (Moeller, Schlingemann & Stulz,
  2004; Ben-Amar & Andre, 2006; Caprio,
  Croci & Giudice, 2011)
Apenas as listadas em bolsa na epoca do        89         738
  evento
Sem "administracao de empresas e               81         657
  empreendimentos" e sem "servicos
  financeiros e seguros", por terem
  caracteristicas muito distintas das demais
  empresas
Apenas casos em que houve aquisicao de         161        496
  controle: adquirente tinha menos de 50% do
  capital da alvo antes da transacao e mais
  de 50% apos a transacao. Criterio tambem
  adotado em outros trabalhos, como no de
  Caprio et al.(2011) (a)
Apenas os eventos com valor investido          177        319
  disponivel
Apenas casos com liquidez, medida pela         227         92
  economatica, igual ou superior a 5% do
  valor da acao mais liquida no mercado no
  ano da transacao. A liquidez e importante
  para que os precos se aproximem dos
  valores intrinsecos
Apenas casos com todos os demais dados         1           91
  necessarios disponiveis
Apenas casos em que a adquirente tinha         1           90
  patrimonio liquido maior do que R$ 0 no
  ano anterior
Eliminacao de duplicidades na base             2           88
Casos apos juncao de aquisicoes feitas         4           84
  pela mesma adquirente najanela analisada.
  Em um dos casos, as aquisicoes foram
  anunciadas na mesma data. Tambem houve um
  caso em que a adquirente anunciou uma
  aquisicao em uma data e tres no dia
  seguinte. Foi usada a data da primeira
  aquisicao no calculo do retorno anormal
  acumulado
Casos apos agrupamentos de eventos             4           80
  divulgados de forma independente pela
  Thomson, mas feitos na mesma data e que
  faziam parte de uma mesma operacao,
  conforme sinopse da Thomson e conteudo dos
  fatos relevantes
Casos apos outras eliminates (erro no          2           78
  registro da adquirente, que tinha capital
  fechado; e um caso de reestruturacao
  societaria da adquirente)
Casos apos eliminacao de eventos com           6           72
  outros fatos relevantes publicados no dia
  do anuncio da aquisicao, dois dias antes
  ou dois depois
Casos apos a eliminacao de eventos que         10          62
  tinham demonstrates financeiras divulgadas
  no dia do anuncio da aquisicao, dois dias
  antes ou dois depois

(a) A Thomson registra o porcentual do capital total adquirido e
detido apos a transacao. Mas, no Brasil, a aquisicao do controle
pode ser feita sem a aquisicao da maioria do capital total, pois
as empresas podem emitir acoes sem direito a voto. Nenhum caso
desse tipo que atendesse aos demais filtros ficou fora da
amostra. Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 3
Distribuicao setorial e temporal da amostra

Painel A

Setor                                    Eventos     %

Comercio varejista                       4           6,5
Construcao                               3           4,8
Empresa de eletricidade, gas e agua      7           11,3
Imobiliaria e locadora de outros bens    1           1,6
Industria manufatureira                  27          43,5
Informacao                               5           8,1
Mineracao                                13          21
Transporte e armazenamento               2           3,2
Total                                    62          100,0

Painel B

Ano                                      Eventos     %

2006                                     9           14,5
2007                                     25          40,3
2008                                     7           11,3
2009                                     10          16,1
2010                                     11          17,7
Total                                    62          100,0

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 4
Estatisticas descritivas e testes t para o retorno anormal

Data          Media(%)     Desvio-padrao (%)   T      p-valor

-2            0,24         2,32                0,80   (0,425)
-1            0,15         2,02                0,59   (0,557)
0             1,17         3,84                2,40   (0,019) *
1             0,51         3,21                1,25   (0,215)
2             0,01         2,28                0,03   (0,977)
CAR (-1,+1)   1,83         6,33                2,28   (0,026) *
CAR (-2,+2)   2,08         6,95                2,36   (0,022) *

* p<0,05.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 5
Estatisticas descritivas para as variaveis explicativas

Variavel           Media ou proporcao     Desvio-padrao

NM                 0,355
N2                 0,065
ADR23              0,758
Investimento       0,282                  1,183
Caixa              0,807
Divida liquida     0,259                  0,267
MB                 1,689                  0,773
Porte              9,310                  1,508
pos-crise          0,371

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 6
Matriz de correlates

Variavel   1                2         3         4         5

1          CAR(1,+1)        1,00
2          NM               0,37      1,00
                            (0,00)
                            ***
3          N2               0,08      -0,19     1,00
                            (0,56)    (0,13)
4          ADR23            -0,41     -0,37     0,00      1,00
                            (0,00)    (0,00)    (0,97)
                            ***       ***
5          Investimento     0,52      0,18      0,05      -0,27
                            (0,00)    (0,17)    (0,68)    (0,03)
                            ***                           **
6          Caixa            -0,20     -0,15     -0,20     0,20
                            (0,11)    (0,25)    (0,11)    (0,12)

7          Divida           -0,30     -0,02     -0,19     0,11
           Liquida          (0,02)    (0,89)    (0,14)    (0,42)
                            **
8          MB               0,38      0,15      0,25      -0,24
                            (0,00)    (0,26)    (0,05)    (0,06)
                            ***                 *         *
9          Porte            -0,27     -0,43     -0,32     0,37
                            (0,04)    (0,00)    (0,01)    (0,00)
                            **        ***       **        ***
10         Pos-             -0,03     0,13      -0,20     -0,35
           -crise           (0,85)    (0,32)    (0,12)    (0,01)
                                                          ***

Variavel   1                6         7         8         9

1          CAR(1,+1)
2          NM

3          N2

4          ADR23

5          Investimento     1,00

6          Caixa            -0,40     1,00
                            (0,00)
                            ***
7          Divida           -0,09     -0,16     1,00
           Liquida          (0,48)    (0,22)

8          MB               0,75      -0,16     -0,46     1,00
                            (0,00)    (0,21)    (0,00)

9          Porte            -0,33     0,32      0,01      -0,39
                            (0,01)    (0,01)    (0,93)    (0,00)
                            ***       **                  ***
10         Pos-             -0,07     -0,13     0,40      -0,29
           -crise           (0,61)    (0,31)    (0,00)    (0,02)
                                                ***       **

Variavel   1                10

1          CAR(1,+1)
2          NM

3          N2

4          ADR23

5          Investimento

6          Caixa

7          Divida
           Liquida

8          MB

9          Porte            1,00

10         Pos-             0,10      1,00
           -crise           (0,43)

Nota: coeficientes na primeira linha, valores de probabilidade
(p-valor) na segunda.

* p<0,10.

** p<0,05.

*** p<0,01. Testes bicaudais.

Fonte: Elaborada pelos autores

Tabela 7
Resultados da regressao por MQO para a variavel Dependente CAR(-1,+1)

Variaveis explicativas           Coeficiente (p-valor)

Intercepto ([alpha])             -0,100
                                 (0,442)
NM                               0,043 *
                                 (0,013)
N2                               0,034
                                 (0,401)
ADR23                            -0,014
                                 (0,499)
Investimento                     0,039 **
                                 (0,001)
Caixa                            0,017
                                 (0,427)
Divida liquida                   -0,086 *
                                 (0,012)
MB                               -0,023
                                 (0,275)
Porte                            0,018
                                 (0,108)
Pos-crise                        -0,002
                                 (0,908)
Dummies de setor                 Sim
Observacoes                      62
F                                4,310
F (p-valor)                      (0,000)
[r.sup.2] ajustado               0,464

Nota: coeficientes de regressao na primeira linha, valores de
probabilidade (p--valor) na segunda, entre parenteses.

* p<0,05.

** p < 0,01. Testes bicaudais.

Fonte: Elaborada pelos autores.
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