Determinants of capital structure: an analysis of IBOVESPA enterprises from 1995 to 2007/Determinantes da estrutura de capital: uma analise de dados em painel de empresas pertencentes ao IBOVESPA no periodo de 1995 a 2007/Factores determinantes de la estructura de capital: un analisis de los datos de panel de empresas pertenecientes al IBOVESPA en el periodo de 1995 a 2007.
Ceretta, Paulo Sergio ; Vieira, Kelmara Mendes ; da Fonseca, Juliara Lopes 等
1. INTRODUCAO
No mundo das financas corporativas, a estrutura de capital das
empresas determina a sobrevivencia das organizacoes (BIAGNI, 2003).
Utilizar ou nao capital de terceiros e uma decisao da alta administracao
que exige muitos conhecimentos sobre a estrutura da empresa, pois um
nivel alto de endividamento pode prejudicar a solvencia das
organizacoes. Por outro lado, um baixo nivel de endividamento pode
representar a perda de boas oportunidades de investimento e a reducao da
riqueza dos acionistas. Nesse sentido, surge o seguinte questionamento:
como as empresas definem sua estrutura de capital?
Definir uma estrutura otima de capital nao e algo ainda consolidado
pelas teorias existentes. Muitos autores buscam resposta a esse
questionamento, destacando-se entre eles Durand (1952), Modiglani e
Miller (1958), Myers (1984), Titman e Wessels (1988), Leal e Saito (2003) e Fama e Perobelli (2002). Um nivel otimo de endividamento, ou
seja, uma estrutura de capital que ira maximizar o valor de mercado da
empresa, e de dificil alcance, pois quando se consideram a nao
existencia de um mercado perfeito e a tributacao, para cada cenario e
estrutura escolhida tem-se um valor de mercado diferente. Empresas do
mesmo setor, ou de um mesmo pais, nao possuem a mesma estrutura, embora
alguns pontos comuns possam ser encontrados entre elas.
Em 1958, a partir dos estudos de Modigliani e Miller (MM), foi
criada a teoria classica sobre estrutura de capital e valor de empresa.
Nessa teoria os autores propuseram que a estrutura de capital e
irrelevante para a determinacao do valor da empresa, considerando-se
certas premissas
e restricoes. Embora essa proposicao ja tivesse sido apresentada por
Durand (1952), que descreveu uma estrutura que maximizaria o valor da
empresa, Modigliani e Miller foram os primeiros a expor formalmente o
meio pelo qual a indiferenca era assegurada em um contexto de equilibrio
parcial do mercado. Esses autores demonstraram que, em um mercado
perfeito, uma mudanca na estrutura de capital da empresa nao
representaria uma alteracao no valor da empresa para o acionista. Isso
porque o valor da empresa nao dependeria da estrutura adotada, mas sim
dos fluxos de caixa e dos riscos operacionais decorrentes de cada
estrutura. Dessa forma, o custo de capital da empresa seria o mesmo para
qualquer nivel de endividamento e, portanto, nao haveria uma estrutura
de capital otima.
Myers (1977), com o intuito de aperfeicoar o estudo realizado por
Modigliani e Miller, acrescentou a essa teoria os custos de agencia
derivados do endividamento e as vantagens fiscais provenientes do uso da
divida, formando a Static Tradeoff Theory. Ao utilizar capital de
terceiros, a empresa pode utilizar-se do beneficio fiscal de deducao de
juros do imposto devido, tornando o custo do capital de terceiros
inferior ao custo do capital proprio. Entretanto, esse fato so acontece
ate um determinado nivel. Isso porque, conforme aumenta o endividamento
da empresa, o risco para o credor tambem aumenta, tornando tanto o
capital proprio como o de terceiros mais oneroso.
Continuando os estudos sobre estrutura de capital, Myers (1984) e
Myers e Majluf (1984) propoem uma nova teoria segundo a qual as empresas
seguiriam uma ordem hierarquica para decidir a fonte de financiamento.
Essa teoria, denominada Pecking Order, sugere que a opcao por
financiamento prioriza as fontes internas (retencao de lucros) e,
secundariamente, a captacao externa (capital de terceiros e emissao de
novas acoes).
Desde entao muitos trabalhos ja foram realizados com o objetivo de
identificar os fatores que determinam a estrutura de capital das
organizacoes. Aspectos tanto do ambiente interno quanto macroeconomicos
sao abordados nesses estudos. Os primeiros referem-se a participacao do
capital de terceiros no ativo total da empresa, a imobilizacao de
recursos proprios e a medidas de tamanho tais como receita, ativo e
valor de mercado (GAUD et al., 2005; TITMAN; WESSELS, 1988; RAJAN;
ZINGALES, 1995). Destacam-se ainda medidas de falencia, rentabilidade e
distribuicao de riquezas (FAMA; FRENCH, 2000; VIEIRA, 2003; GOODACRE;
BEATTIE; THOMSON, 2004). Alguns estudos utilizam tambem medidas
referentes ao mercado de capitais, tais como oscilacao, risco e
volatilidade, para definir a estrutura de capital (MELLONE JR., 2003;
JONG; KABIR; NGUYEN, 2007). Recentemente, autores como Bastos, David e
Bergmann (2008), Wald (1999) e Terra (2007) adotaram, alem de algumas
variaveis supracitadas, variaveis macroeconomicas como, por exemplo, PIB e inflacao, para o estudo dos determinantes.
Nesse sentido, este trabalho investiga os fatores determinantes da
Estrutura de Capital das Empresas de Capital Aberto pertencentes ao
Indice da Bolsa de Valores de Sao Paulo (IBOVESPA) entre os anos de 1995
e 2007, por meio de uma analise de dados em painel.
2. DETERMINANTES DA ESTRUTURA DE CAPITAL
Titman e Wessels (1988) se destacam no contexto dos estudos sobre
estrutura de capital por sugerirem que empresas selecionam sua estrutura
de capital (ou grau de endividamento) de acordo com atributos proprios
que determinam os varios custosbeneficios associados a decisao de
financiamento. A comprovacao das teorias expostas, no entanto, seria
dificultada pelo fato de tais atributos serem expressos na forma de
conceitos abstratos e nao diretamente observados. De maneira geral, o
metodo convencional utilizado no teste das teorias consiste em estimar
regressoes tendo como variavel dependente o nivel de endividamento e
como variaveis independentes os varios atributos teoricos, alem de
proxies para os atributos nao observaveis diretamente.
Segundo Fama e Perobelli (2002), porem, varios sao os problemas
associados a esse metodo. Em primeiro lugar, pode nao existir uma unica
proxy para o atributo que se quer relacionar ao nivel de endividamento;
em segundo lugar, e dificil encontrar medidas para um atributo que nao
estejam relacionadas a outros atributos de interesse, razao pela qual
uma proxy escolhida pode estar medindo os efeitos de varios atributos;
em terceiro lugar, como as proxies sao representacoes aproximadas dos
atributos, o uso delas na regressao pode introduzir um vies denominado
"erro-na-variavel"; em quarto lugar, os erros de medidas das
proxies podem estar relacionados aos erros de medida da variavel
dependente (endividamento), criando uma correlacao espuria que talvez
nao ocorra quando a variavel dependente se relaciona ao atributo
verdadeiro. A verificacao de tais problemas fez com que varias
proposicoes teoricas desenvolvidas nao pudessem ser testadas
empiricamente de forma consistente.
No entanto, esses autores destacam que o trabalho de Titman e
Wessels (op. cit.) trouxe varias contribuicoes a literatura de estrutura
de capital, pois considera novos determinantes desta e examina a relacao
entre os atributos e os diferentes instrumentos de financiamento--curto
prazo, longo prazo, divida conversivel. Ressaltam ainda que o trabalho
de Titman e Wessels e pioneiro na utilizacao da Modelagem Estrutural
Linear, que visa mitigar os problemas do metodo convencional.
Em relacao aos determinantes, Rajan e Zingales (1995) sugerem
quatro fatores principais relacionados ao estudo da estrutura de
capital: (1) Tamanho: grandes empresas tendem a possuir um nivel de
endividamento maior; (2) Ativos Tangiveis: empresas que possuem altas
taxas de ativos fixos em relacao aos seus ativos totais apresentam maior
nivel de endividamento; (3) Lucratividade: empresas mais lucrativas
possuem um indice de endividamento menor; (4) Valor de mercado sobre
valor contabil: empresas com alto valor de mercado em relacao ao valor
contabil possuem menor nivel de endividamento.
De forma semelhante, Bastos, David e Bergmann (2008) elaboram um
quadro resumindo o comportamento esperado de algumas variaveis segundo
as principais teorias sobre estrutura de capital:
Com relacao ao tamanho, percebe-se atraves do quadro acima que as
teorias citadas relatam uma relacao variada, a nao ser a Teoria da
Agencia e a da Tradeoff, que convergem em quase todas as variaveis.
Logo, de acordo com essas teorias, quanto maior e a firma, maior e seu
acesso ao mercado de capitais e, consequentemente, ao financiamento de
terceiros. Para a teoria da assimetria e da Pecking Order, a relacao
entre tamanho e estrutura de capital e ambigua (BASTOS; DAVID; BERGMANN,
2008).
No que tange a rentabilidade, a maioria das teorias corrobora a
ideia de que a rentabilidade dos ativos e diretamente proporcional a
estrutura de capital, exceto a teoria da Pecking Order, para a qual essa
relacao e inversamente proporcional. Acerca disso, Strebulaev (2007)
menciona as previsoes contrarias sobre a relacao entre as variaveis
lucratividade e alavancagem: enquanto na Pecking Order espera-se uma
relacao negativa entre as duas variaveis, na Tradeoff espera-se uma
relacao positiva, ja que uma maior lucratividade diminui os custos
esperados de dificuldades financeiras e permite a firma aumentar os
beneficios fiscais, aumentando a alavancagem.
O risco do negocio e interpretado unanimemente por todas as teorias
como sendo uma variavel que contribui negativamente para a estrutura de
capital das organizacoes. Logo, o sinal negativo representa que as
empresas menos arriscadas, com menor probabilidade e menores custos de
falencia sao as que possuem maior acesso a recursos de terceiros.
De acordo com Grinblatt e Titman (2002), empresas que estao gerando
lucros substanciais antes de juros e impostos devem usar um montante
significativo de dividas para obter as vantagens da dedutibilidade dos
juros para fins de imposto de renda. De acordo com evidencias empiricas
obtidas por Kester (1986), porem, empresas mais rentaveis tendem a
manter um nivel de endividamento mais baixo, resultado confirmado por
Gaud et al. (2005).
Fama e Perobelli (2002) replicaram o estudo de Titman e Wessels
(1988) utilizando a tecnica de analise fatorial desenvolvida por esses
autores, para identificar os determinantes dos endividamentos de curto e
longo prazo das empresas. Foram encontradas relacoes negativas entre o
crescimento dos ativos, tamanho e lucratividade e o grau de
endividamento de curto prazo. Em relacao ao endividamento de longo
prazo, nao foram observados resultados significantes. Gomes e Leal
(2001) desenvolveram estudo relativo ao periodo de 1995 a 1997,
considerando os fatores: tamanho, tangibilidade, crescimento, risco e
setor industrial. Os autores encontraram relacao positiva entre
endividamento e os fatores tangibilidade e risco, bem como relacao
inversa entre endividamento e os fatores rentabilidade, crescimento e
tamanho. Observa-se que os resultados relativos a risco e tamanho
contrariam as teorias prevalecentes. Em relacao a classificacao
industrial, os resultados mostraram-se nao significantes.
Mellone Jr. (2003) tomou o beta das acoes como medida de risco para
187 empresas de capital aberto no ano de 2001 e concluiu que esse fator
nao e significativo para a escolha da estrutura de capital das empresas.
O estudo foi feito baseado na hipotese de que o controlador da empresa
diversifica o seu risco por meio do aumento do endividamento, o que
modifica sua estrutura de capital. Nakamura e Mota (2002) desenvolveram
pesquisa de campo com executivos financeiros de grandes empresas
brasileiras (94 respondentes), praticamente replicando o trabalho
desenvolvido por Pinegar e Wilbricht (1989), e verificaram que a amostra
selecionada tende a seguir a teoria da Pecking Order na tomada de
decisao da politica de endividamento.
No que tange as variaveis macroeconomicas, isto e, variaveis
externas que afetam a estrutura de capital, Bastos, David e Bergmann
(2008) ressaltam que o crescimento do PIB, a participacao na economia
das companhias de capital aberto e o tempo medio de abertura de um
negocio no Pais possuem relacao negativa, enquanto a inflacao possui
relacao positiva e a renda per capita e a carga fiscal apresentam um
comportamento indeterminado. Essas relacoes foram extraidas dos estudos
de La Porta et al. (1998), Demirguc-Kunt e Maksimovic (1998), Wald
(1999), Booth et al. (2001), Terra (2007) e Jong, Kabir e Nguyen (2007).
O estudo realizado por Terra (2007) buscou identificar e mensurar,
por meio da tecnica em painel, a influencia de fatores macroeconomicos
sobre o endividamento das empresas de uma amostra de sete paises
latino-americanos, inclusive o Brasil. Para o periodo de 1986 a 2000 os
resultados contrariam estudos anteriores, sugerindo que fatores
macroeconomicos especificos de cada pais nao sao determinantes do
endividamento. Na verdade, fatores especificos das empresas mostraram-se
mais significativos como indicadores da estrutura de capital das
empresas.
Em ambito internacional, Wald (1999), a partir de dados de empresas
da Franca, Alemanha, Japao, Reino Unido e Estados Unidos, verificou que
ha diferencas nos fatores institucionais que influenciam no
endividamento conforme o pais analisado. Essas diferencas estao na
correlacao entre divida de longo prazo e risco do negocio,
lucratividade, tamanho e crescimento. Apesar dessas diferencas, o autor
identificou similaridades nos fatores especificos das empresas
relacionados ao nivel de endividamento.
De forma semelhante, o trabalho de Booth et al. (2001) ressalta que
o estudo da estrutura de capital se aplica tanto aos paises
desenvolvidos quanto aos paises em desenvolvimento, e encontra
evidencias que sustentam que as decisoes sobre a estrutura de capital
sao afetadas pelas mesmas variaveis. Entretanto, conclui que o
conhecimento sobre o tipo de pais possui grande significancia
estatistica, pois ha diferencas sistematicas na forma pela qual os
indicadores do grau de endividamento sao influenciados pelo tipo de
pais, como a taxa de crescimento do PIB, taxas de inflacao e
desenvolvimento do mercado.
Bastos, David e Bergmann (2008) realizaram uma pesquisa com uma
amostra de 388 empresas, de diversos setores, pertencentes as cinco
maiores economias da America Latina (Mexico, Brasil, Argentina, Chile e
Peru), no periodo entre 2001 e 2006, e constataram, a partir de uma
analise em painel, que alguns fatores macroeconomicos sao significativos
na estrutura de capital, tais como: crescimento do PIB, relevancia do
mercado de capitais, carga fiscal e tempo de abertura de um novo
negocio.
Assinala-se que o desenvolvimento das teorias sobre estrutura de
capital ocorreu em ambientes economicos e institucionais bastante
diferentes do contexto brasileiro. Esses mercados apresentam
determinadas caracteristicas que nao se verificam em economias em
desenvolvimento como, por exemplo, o Brasil. Entre essas
caracteristicas, Assaf Neto (2003:414) destaca "as taxas de juros
homogeneas, o equilibrio entre agentes economicos superavitarios e
deficitarios, a ausencia de controles artificiais de mercado e a
inexistencia de niveis de inflacao relevantes".
Como o Brasil nao possui um mercado de capitais desenvolvido,
estudos realizados ate agora concluem que a maioria das empresas
brasileiras usa a retencao de lucros como principal fonte de
financiamento de seus ativos. Acerca disso, Leal e Saito (2003)
esclarecem que a escassez de financiamento de longo prazo atinge uma
ampla gama de empresas, levando as firmas a financiar suas atividades
geralmente por meio de lucros retidos, emissao de divida e emissao de
acoes, nesta ordem. Para os autores, as desvantagens de abrir o capital
devem superar as vantagens, uma vez que as emissoes estao mais raras,
tem custo elevado e tendem a ocorrer com mais frequencia em periodos de
euforia no mercado.
Segundo Brito, Corrar e Batistella (2007), outra caracteristica do
mercado brasileiro que dificulta a captacao de recursos via
financiamentos e o custo de capital de terceiros nao ser funcao apenas
do risco do tomador, mas tambem da natureza da fonte de financiamento.
Em razao disso, determinadas linhas de credito de longo prazo vinculadas
a investimentos especificos chegam a ter custo financeiro inferior a
linhas de curto prazo, cujo risco de credito para o credor normalmente e
maior.
Resultados de estudos sobre a estrutura de capital nas companhias
brasileiras sugerem que quanto maior for a lucratividade historica da
empresa, menor sera a utilizacao de recursos de terceiros. Eid Jr.
(1996), em um estudo sobre o comportamento das empresas em relacao ao
custo e a estrutura de capital, identificou, por meio de questionarios,
a existencia de um grande numero de empresas (40%) que segue uma
hierarquia de captacao predeterminada, ratificando a validade da teoria
da Pecking Order.
Schnorrenberger e Procianoy (2002) realizaram um estudo sobre a
influencia da estrutura de capital e do controle nas decisoes das
companhias brasileiras, e concluiram que existe um arranjo de controle
nas decisoes de capital, bem como Pecking Order voltada para a
manutencao do controle acionario, ja que a opcao pela diluicao desse
controle acontece principalmente a partir da reducao dos niveis de
recursos proprios disponiveis e do crescimento do endividamento e do
risco.
Um possivel comportamento a ser esperado de cada uma das dimensoes
propostas tanto para a teoria da Tradeoff quanto para a teoria da
Pecking Order pode ser visualizado no Quadro 2 a seguir.
Esse quadro foi idealizado com base nos estudos realizados por
Bastos, David e Bergmann (2008), Jong, Kabir e Nguyen (2007), Biagni
(2003), Fama e French (2000), DeAngelo e Masulis (1980) e Vieira (2003),
e sera utilizado como referencia na analise dos resultados.
3. METODOLOGIA
Para a formacao da amostra foram consideradas as empresas
registradas como sociedades anonimas de capital aberto, exceto aquelas
que sao classificadas como financeiras, com acoes negociadas na Bolsa de
Valores de Sao Paulo (BOVESPA) e que possuiam dados contabeis,
financeiros e de mercado no Economatica[R] no periodo de 1995 a 2007.
Tambem foram coletados os dados macroeconomicos do PIB da industria, da
taxa de juros de longo prazo, da taxa Selic, do dolar comercial (no
Banco Central do Brasil) e da taxa de inflacao trimestral medida pelo
Instituto de Pesquisa Economica e Aplicada (IPEA). Inicialmente,
selecionaram-se as 53 empresas pertencentes ao Indice BOVESPA em
dezembro de 2007. As acoes do indice foram escolhidas por possuirem
maior liquidez, sendo tanto do tipo "ON" quanto do tipo
"PN".
No total, foram analisadas 17 variaveis no periodo de 12 anos. Com
relacao as variaveis financeiras, contabeis e de mercado, uma e
dependente--a estrutura de capital--e as outras 9 sao independentes. O
Quadro 3 apresenta a descricao, mensuracao e fontes de cada uma das
variaveis utilizadas no estudo.
Todas as variaveis do Quadro 3 foram coletadas no banco de dados
Economatica[R]. Para fins de aplicacao da tecnica de analise em painel,
os dados foram coletados trimestralmente, o que resultou em um numero
maximo de 768 dados financeiros/contabeis e/ou de mercado por empresa.
No que tange as variaveis macroeconomicas, cabe salientar que
dentro de um mesmo ano os valores adotados no trimestre para uma empresa
foram os mesmos para todas as outras. Isso porque quase todos os dados
sao indices gerais, sem divisao por setor.
O Quadro 4 ilustra as variaveis macroeconomicas utilizadas no
estudo.
A fim de que o objetivo deste trabalho fosse alcancado, utilizou-se
a tecnica de analise de dados em painel, que, segundo Biagni (2003:75),
"e um dos metodos mais usuais no meio academico para se analisar os
efeitos que algumas variaveis exercem, ou que parecem exercer, sobre
outras". Marques (2000) esclarece que uma das vantagens da
estimacao com dados em painel e o tratamento da heterogeneidade dos
dados. Assim, os dados em painel sugerem a existencia de caracteristicas
diferenciadoras dos individuos, as quais podem ou nao ser constantes ao
longo do tempo, de tal forma que estudos temporais ou seccionais que nao
levem em conta tal heterogeneidade produzirao, quase sempre, resultados
fortemente enviesados.
Segundo Gujarati (2006), dados em painel, tambem chamados de dados
combinados, mesclam series temporais e cortes transversais em um unico
estudo, isto e, a mesma unidade de corte transversal e acompanhada ao
longo do tempo. Para o autor, a principal vantagem dessa tecnica e a
obtencao de dados mais informativos, com mais variabilidade, menor
colinearidade, mais graus de liberdade e mais eficiencia.
Para Marques (2000), a reducao da colinearidade dos dados e obtida
por meio da variabilidade dos dados, pois a diversificacao deles
contribui para a reducao da eventual colinearidade existente entre
variaveis, particularmente em modelos com defasamentos distribuidos.
Assim, a utilizacao de dados em painel ajusta a diversidade de
comportamentos individuais, com dinamicas de ajustamento, ainda que
potencialmente distintas, ou seja, permite tipificar as respostas de
diferentes individuos a determinados acontecimentos, em diferentes
momentos.
O modelo geral de dados em painel pode ser expresso conforme [1]:
yi,t = Ai,t + A i,tx1 + ... + Pmjxn + e,J
,
onde o subscrito i = 1,..., N indica a empresa, t = 1,..., T o
tempo e |3's os parametros da regressao. As variaveis sao dadas
por:
yit= variavel dependente para a empresa i no tempo t; x1 = variavel
independente 1 ou explicativa 1 para a empresa i no tempo t; xn =
variavel independente "n" ou explicativa "n" para a
empresa i no tempo t; eit = termo de erro para a empresa i no tempo t.
Existem basicamente tres formas de simplificar e ajustar o modelo
geral a fim de torna-lo mais funcional: o Modelo Pooled, o Fixed-Effects
Model (Modelos Fixos) e o Random Effects (Efeitos Aleatorios).
No primeiro modelo o intercepto e o mesmo para toda a amostra, ou
seja, assume-se que todos os elementos da amostra possuem comportamento
identico. O Modelo Pooled nao considera o efeito do tempo e nem o efeito
individual de cada empresa (BALTAGI, 2001 apud DAHER, 2004).
Ja o Modelo de Efeitos Fixos baseia-se na premissa de que os
coeficientes da regressao podem variar de individuo para individuo ou no
tempo, ainda que permanecam como variaveis fixas, ou seja, nao
aleatorias (MARQUES, 2000). Este tipo de modelo pode, adicionalmente,
ser dinamico quando uma variavel defasada e incluida no modelo, e
estatico, no caso contrario (BALTAGI, 2001 apud DAHER, 2004).
Por ultimo, tem-se ainda o Modelo de Efeitos Aleatorios, que segue
a premissa de que a influencia do comportamento do individuo ou o efeito
do tempo nao podem ser conhecidos. Dessa forma, admite-se a existencia
do erro nao correlacionado com os regressores. Marques (2000) afirma que
a pressuposicao que permeia o modelo e a de que o comportamento do
individuo e do tempo nao pode ser observado nem medido, e que em grandes
amostras esse desconhecimento pode ser representado por uma variavel
aleatoria normal, ou seja, o erro.
A escolha do modelo mais adequado para a amostra em estudo acontece
mediante comparacao realizada pelos seguintes testes: 1) Teste F, que
compara a regressao Pooled com o Modelo de Efeitos Fixos; (2)
Breusch-Pagan, que compara a regressao Pooled com o Modelo de Efeitos
Aleatorios; e (3) Teste de Hausman, que verifica qual modelo, Fixo ou
Aleatorio, e o mais adequado.
Entretanto, primeiramente e necessario verificar se as variaveis
possuem associacoes lineares significativas. Se isso ocorrer, pode-se
ter a frente o problema de multicolinearidade, que sera confirmado
atraves do calculo dos fatores de inflacionamento da variancia (VIF),
dado por VIF(j) = 1/(1--R(/')A2), onde Rj e o coeficiente de
correlacao multipla entre a variavel j e a outra variavel independente.
Se o modelo estiver livre da multicolinearidade, a escolha entre os
modelos podera ser realizada por meio dos testes supracitados.
4. ANALISE DOS RESULTADOS
Tendo em vista a ausencia de dados (missings) no Economatica[R] e
problemas de outliers, a amostraficou reorganizada para 45 empresas e 16
variaveis independentes, expostas nos Quadros 2 e 4. O criterio de
exclusao inicial de variaveis foi a exigencia de, no minimo, 65% dos
dados no periodo analisado. Para se trabalhar com o modelo dinamico de
efeitos aleatorios, todas as variaveis foram analisadas relativamente a
variacao porcentual e as suas defasagens de dois periodos foram
incluidas no modelo.
Na Tabela 1 e apresentado o sumario do modelo que se mostrou mais
adequado na explicacao da variavel dependente, conforme os criterios de
informacao BIC, HQC e AIC, que consideram como melhor modelo aquele que
apresentar o menor valor. Na segunda coluna tem-se as estimativas de
minimos quadrados de amostragem (Pooled OLS). Foram usadas 1379
observacoes e incluidas 45 unidades de secao-cruzada com tamanho da
serie temporal de no minimo 24 e no maximo 31 observacoes. Nas demais
colunas encontram-se os valores correspondentes ao erropadrao, teste t,
significancia e fatores de inflacionamento de variancia (VIF). Este
modelo explica 92% dos casos e apresenta 6 variaveis significativas a
1%.
Na ultima coluna da Tabela 1 sao apresentados os resultados do VIF.
Esse indicador apresenta valores de no minimo 1,0 e, se apresentar
valores superiores a 10,0, pode indicar um problema de
multicolinearidade. No caso de os valores do VIF serem todos inferiores
a 10, deve-se analisar o valor medio, que nao deve ser muito distante de
um.
Os valores do VIF sao todos menores de 10,00 e seu valor medio de
1,3545 e proximo de um. Portanto, o modelo estimado esta livre das
interferencias da multicolinearidade e, assim, e possivel realizar a
comparacao e escolha entre os modelos.
Para comparar as estimativas do Modelo Pooled com o Modelo de
Efeitos Fixos utiliza-se o Teste F. Um p-valor baixo contraria a
hipotese nula de que o Modelo Pooled e adequado, validando a hipotese
alternativa da existencia de Efeitos Fixos. Dessa forma, neste caso o
Modelo Pooled e preferido ao Modelo de Efeitos Fixos, tendo em vista o
resultado: F(44, 1328) = 0,4404 com p-valor 0,9995.
Para verificar se o Modelo Pooled e mais adequado do que o Modelo
de Efeitos Aleatorios, utiliza-se o teste de Breusch-Pagan. Como
resultado, obteve-se LM = 7,3066 com p-valor = prob (qui-quadrado (1)
> 7,3066) = 0,0069. Um pvalor baixo contraria a hipotese nula de que
o Modelo Pooled e adequado, validando a hipotese alternativa da
existencia de Efeitos Aleatorios. Neste caso, o Modelo de Efeitos
Aleatorios deve ser preferido, uma vez que o p-valor foi rejeitado.
Ao final, utilizou-se o teste de Hausman para a escolha entre o
Modelo Fixo e o Modelo Aleatorio. Um p-valor baixo contraria a hipotese
nula de que o Modelo de Efeitos Aleatorios e consistente, validando a
hipotese alternativa da existencia do Modelo de Efeitos Fixos. Tendo-se
um H = 1,6518 com p-valor = prob (qui-quadrado (6) > 1,6518) =
0,9488, confirma-se a preferencia pelo Modelo de Efeitos Aleatorios,
aceitando-se as estimativas por Generalized Least Squares (GLS) como
consistentes.
Dessa forma, com base nos testes aplicados, o modelo de efeitos
aleatorios mostrou-se o mais satisfatorio. Entretanto, em razao de a
amostra ser grande para a aplicacao da tecnica de analise de dados em
painel, os coeficientes e significancia obtidos para as estimativas de
Efeitos Aleatorios por GLS usando 1312 observacoes foram os mesmos
obtidos pela Pooled Regression, razao pela qual esses dados nao serao
apresentados novamente.
Com base nas informacoes contidas na Tabela 1, e possivel afirmar
com 99% de confianca que as variaveis que melhor explicam a estrutura de
capital da amostra analisada sao: variacao porcentual da razao entre
Ativo Imobilizado e Ativo Total; variacao porcentual da razao entre
Ativo Permanente e Ativo Total; variacao porcentual da defasagem do PIB
Industria; variacao porcentual da Taxa de Juros Selic; variacao
porcentual da defasagem da Taxa de Juros Selic; e variacao porcentual do
cambio do Dolar. O modelo pode ser visualizado em [2]:
AI AP
yt = 0,0137 + 0,4654--0,0382--0,1762PIBt1 + 0,3374Selic +
0,2334Selict1 + 0,2534Dolar
a AT AT t- t-1
Entretanto, para confirmar que o referido modelo representa a
amostra pesquisada procedeu-se a um teste de validacao do modelo. O
procedimento aplicado consistiu em dividir a amostra em duas
subamostras. Depois, foram obtidos os coeficientes para elas. E esperado
que, se o modelo for valido, os coeficientes de ambas sejam semelhantes
ao da amostra como um todo.
Na Tabela 2 sao apresentadas as estimativas do modelo de efeitos
aleatorios (GLS) para as duas subamostras. Na primeira subamostra foram
usadas 666 observacoes e incluidas 22 unidades de secaocruzada com
tamanho da serie temporal de no minimo 24 e no maximo 31 observacoes; na
segunda, foram utilizadas 713 observacoes e incluidas 23 unidades de
secao-cruzada com tamanho da serie temporal tambem de 31 observacoes.
Constata-se que, exceto para a variavel variacao porcentual da
defasagem do PIB Industria, o modelo da Tabela 1 pode ser considerado
valido. Embora o coeficiente estimado para essa variavel nao se tenha
mostrado significante estatisticamente, seu sinal esta de acordo com o
modelo estimado para a amostra como um todo e isso vem contribuir para a
validacao geral.
Apos a validacao do modelo, e necessario analisar os sinais e os
coeficientes encontrados para as variaveis observadas, de forma a
corroborar ou nao as teorias estudadas no artigo. Das 6 dimensoes
contabeis, financeiras e de mercado estudadas, apenas a variacao
porcentual das variaveis componentes da dimensao tangibilidade
mostrou-se significativa. Nessa dimensao, o sinal esperado pelas teorias
da Tradeoff e da Pecking Order em relacao a estrutura de capital e
positivo, ou seja, quanto maior o nivel de tangibilidade dos ativos,
maior deveria ser o endividamento da empresa.
As duas variaveis utilizadas para mensurar a dimensao tangibilidade
mostraram-se significativas, mas com sinais opostos, sendo o indice
razao entre ativo imobilizado e ativo total a variavel de maior
relevancia no estudo. Essa variavel mensura a parcela de imobilizacao
dos ativos, ou seja, quanto de bens de carater permanente de uso a
empresa possui em relacao ao total dos ativos. Na amostra estudada,
verificou-se que existe uma relacao positiva de 0,4654 entre a
imobilizacao e o endividamento, isto e, uma variacao ocorrida no indice
de imobilizacao causa uma oscilacao de 0,4654 na estrutura de capital, o
que indica uma forte relacao entre variaveis. Essa relacao positiva
confirma tanto a teoria da Tradeoff quanto a da Pecking Order, que
pressupoem que as empresas com maior volume de ativos fixos possuem
maior capacidade de endividamento, visto que podem apresentar tais
ativos como colaterais.
Por outro lado, o sinal negativo do indice razao entre ativo
permanente e ativo total e contrario ao esperado por ambas as teorias.
Isso pode ter ocorrido por causa de um aumento proporcionalmente maior
da conta depreciacao em relacao a conta ativo permanente. Dessa forma,
quando a desvalorizacao do ativo permanente e considerada, tende a haver uma relacao negativa de 0,0382 entre o indice razao entre ativo
permanente e ativo total e o nivel de endividamento da empresa. No
entanto, o peso do coeficiente dessa variavel e muito inferior ao peso
da variavel razao entre ativo imobilizado e ativo total, o que indica
que esta tem mais influencia na estrutura de capital do que aquela.
Em relacao a Taxa de Juros Selic, Biagni (2003) afirma que a
relacao negativa esperada e compreensivel, visto que as empresas tendem
a privilegiar o uso de dividas quando as taxas de juros sao mais
atraentes. Neste estudo, as variaveis macroeconomicas Taxa de Juros
Selic e Taxa de Juros Selic t-1 apresentaram sinal positivo. Esses
resultados vao de encontro a relacao esperada pelas teorias, onde uma
taxa menor representaria uma maior possibilidade de endividamento. Isso
pode ter ocorrido porque o aumento da Selic realizado pelo Banco Central
para controlar a inflacao ou para controlar o acesso ao credito coincide
com os momentos em que as empresas brasileiras da amostra estudada mais
necessitaram de credito interno para financiar seus investimentos, seja
pela fuga do investidor estrangeiro, seja pelo processo de expansao e
pela crescente busca por fontes de recursos financeiros. Dessa forma, a
relacao positiva encontrada de 0,3374 e 0,2334 para a Taxa de Juros
Selic e Taxa de Juros Selic t-1, respectivamente, possui relevancia e
faz sentido do ponto de vista economico.
Em relacao a variavel macroeconomica Dolar, medida pelo valor da
taxa de cambio dessa moeda em relacao ao Real no ultimo dia de cada
trimestre analisado, a relacao positiva esperada foi encontrada,
corroborando as teorias analisadas. Uma oscilacao no dolar representa
uma variacao de 0,2534 no nivel de endividamento das empresas estudadas.
Essa relacao positiva e de facil entendimento se for observado que,
quando o dolar se valoriza frente ao Real, ha um aumento de credito
estrangeiro no Pais, ou seja, ha um maior acesso a recursos de terceiros
vindos de outros paises, o que aumenta o nivel de endividamento. Alem
disso, algumas empresas assumem dividas em dolares, o que pode
representar, em um contexto de alta volatilidade, um aumento ou uma
diminuicao brusca da divida, sem que isso represente aumento ou
diminuicao dos recursos.
5. CONSIDERACOES FINAIS
Este estudo objetivou investigar os fatores determinantes da
Estrutura de Capital de 45 Empresas de Capital Aberto pertencentes ao
indice da Bolsa de Valores de Sao Paulo (IBOVESPA) entre os anos de 1995
e 2007, mediante uma analise de dados em painel.
No total, foram coletadas 9 variaveis explicativas de carater
contabil, financeiro e de mercado, com o intuito de explicar 6 dimensoes
que poderiam esclarecer a estrutura de capital das empresas. Alem disso,
foram coletadas 7 variaveis macroeconomicas para identificar se existe
influencia do ambiente externo na estrutura de capital.
Destaca-se que, de 33 variaveis originais, restaram apenas 16, que
foram as utilizadas na regressao, tendo em vista que as demais foram
excluidas em decorrencia de missings e outliers; pelo mesmo motivo, 6
empresas da amostra original tambem foram retiradas, restando as 45
analisadas no estudo. Na regressao por dados em painel pelo modelo
aleatorio, considerado o mais adequado para a amostra estudada, 6
variaveis mostraram-se significativas: variacao porcentual da razao
entre Ativo Imobilizado e Ativo Total; variacao porcentual da razao
entre Ativo Permanente e Ativo Total; variacao porcentual da defasagem
do PIB Industria; variacao porcentual da Taxa de Juros Selic; variacao
porcentual da defasagem da Taxa de Juros Selic; e variacao porcentual do
cambio do Dolar. As duas primeiras refletem a tangibilidade, unica
dimensao que foi significativa. As dimensoes non debt-tax shiled e
rentabilidade foram excluidas da analise por nao apresentarem variaveis
explicativas significativas, corrobrando os resultados obtidos por
Mellone Jr. (2003) e Nakamura et al. (2007).
A variavel PIB Industria, embora se tenha mostrado significativa no
modelo de efeitos aleatorios, nao o foi no procedimento de validacao,
razao pela qual tambem foi excluida do estudo.
A teoria da Tradeoff, que define a existencia de um nivel otimo de
capital, determina que os sinais de tangibilidade, tamanho e
rentabilidade sejam positivos e que a dimensao de falencia, ao
contrario, tenha relacao negativa com o endividamento. Ja a teoria da
Pecking Order pressupoe que as decisoes de investimento seguem uma
hierarquia de escolhas, com o capital proprio sendo preferido ao capital
de terceiros, e determina que falencia, rentabilidade e liquidez
apresentem relacao inversa ao endividamento, que a tangibilidade possua
relacao direta e que o tamanho ora apresente relacao positiva, ora
negativa. Neste estudo, os resultados nao corroboraram esses
pressupostos, visto que a maior parte das variaveis estudadas nao se
mostrou significativa para explicar a amostra estudada. Apenas a
dimensao tangibilidade mostrou-se significativa e apresentou tanto o
sinal esperado quanto o oposto.
Estes resultados vao de encontro aos de Fama e Perobelli (2002),
Kester (1986), Gaud et al. (2005) e Gomes e Leal (2001), que encontraram
em seus estudos relacao inversa entre as variaveis tamanho e
rentabilidade e o grau de endividamento. Nakamura et al. (2007) tambem
encontraram significancia estatistica para a dimensao liquidez.
No que se refere as variaveis macroeconomicas, este trabalho
corrobora o estudo de Biagni (2003), que encontrou significancia tanto
na taxa Selic quanto no cambio para explicar o nivel de endividamento
das empresas. Nesse sentido, essas duas variaveis se mostram importantes
para explicar a estrutura de capital das empresas pertencentes ao
IBOVESPA, indo contra os resultados obtidos por Terra (2007), nos quais
as variaveis especificas as empresas se mostraram mais relevantes do que
as macroeconomicas para explicar o endividamento.
Constata-se, ao final deste estudo, que os resultados obtidos nao
confirmam os pressupostos das teorias Tradeoff e Pecking Order, o que
sinaliza a necessidade de que mais estudos sobre estrutura de capital
sejam realizados para as empresas pertencentes ao IBOVESPA. Uma sugestao
para estudos futuros e a replicacao deste estudo, com a adicao de novas
variaveis, para verificar quais outros fatores influenciam na estrutura
de capital da amostra estudada.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Recebido em: 28/6/2009
Aprovado em: 14/8/2009
Paulo Sergio Ceretta
Graduado em Administracao pela Universidade Federal de Santa Maria.
Mestre em Engenharia de Producao pela Universidade Federal de Santa
Maria. Doutor em Engenharia de Producao pela Universidade Federal de
Santa Catarina
E-mail:
[email protected]
Kelmara Mendes Vieira
Doutora em Administracao pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Maria
E-mail:
[email protected]
Juliara Lopes da Fonseca
Mestranda do Programa de Pos-Graduacao em Administracao da
Universidade Federal de Santa Maria
E-mail:
[email protected]
Larissa de Lima Trindade
Mestranda do Programa de Pos- Graduacao em Administracao da
Universidade Federal de Santa Maria. Professora do Centro Universitario
Franciscano (UNIFRA)
E-mail:
[email protected]
Quadro 1: Relacao esperada entre algumas variaveis e as teorias sobre
estrutura de capital
Relacao esperada com a estrutura de
capital segundo a literatura
Variaveis
Tradeoff Assimetria
de informacao
Liquidez Indeterminada Negativa
Tangibilidade Positiva Positiva
Rentabilidade do ativo Positiva Positiva
Market to Book value Negativa Negativa
Oportunidades de Crescimento Negativa Negativa
Pagamento do IR Positiva Indeterminada
Tamanho Positiva Positiva/Negativa
Risco do negocio Negativa Negativa
Relacao esperada com a estrutura de
capital segundo a literatura
Variaveis
Pecking Order Teoria da Agencia
Liquidez Negativa Indeterminada
Tangibilidade Positiva Positiva
Rentabilidade do ativo Negativa Positiva
Market to Book value Positiva/Negativa Positiva/Negativa
Oportunidades de Crescimento Positiva/Negativa Positiva/Negativa
Pagamento do IR Indeterminada Indeterminada
Tamanho Positiva/Negativa Positiva
Risco do negocio Negativa Negativa
Fonte: BASTOS; DAVID; BERGMANN, 2008.
Quadro 2: Relacao esperada de sinais entre as dimensoes estudadas e as
teorias da Tradeoff e da Pecking Order
Dimensoes Relacao Esperada
Tradeoff Pecking Order
Tangibilidade Positiva Positiva
Tamanho Positiva Positiva/Negativa
Falencia Negativa Negativa
Rentabilidade Positiva Negativa
Liquidez Indeterminada Negativa
Non debt-tax shiled Positiva/Negativa Negativa
Ln PIB da industria Negativa Negativa
Ln da soma do valor de mercado Negativa Negativa
Participacao da empresa na
economia Negativa Negativa
IPCA Positiva Positiva
TJLP Negativa Negativa
Taxa de Juros Selic Negativa Negativa
Dolar Positiva Positiva
Fonte: os Autores.
Quadro 3: Indice, caracteristicas principais e fontes de referencia das
variaveis contabeis, financeiras e de mercado
Dimensao Indice/medida Caracteristica
Estrutura de Exigivel total/ Porcentual de ativo total
Capital (variavel ativo total financiado com recursos de
dependente) terceiros
Tangibilidade Ativo imobilizado/ Porcentual de imobilizacao
ativo total dos bens e direitos da empresa
Ativo permanente/ Porcentual de bens duraveis
ativo total na empresa em relacao ao total
de bens
Tamanho Ativo total Valor financeiro dos bens e
direitos totais da empresa
Falencia Liquidez Seca Capacidade de pagamento das
dividas de curto prazo com
direitos de curto prazo
excluidos os estoques
Divida financeira/ Porcentual de dividas
ativo total financeiras em relacao ao
ativo total
Rentabilidade Rentabilidade Valor financeiro do lucro
do Ativo liquido, dividido pelo valor
financeiro do ativo total
Retorno da Acao Diferenca entre o valor da
acao no primeiro e no ultimo
dia do trimestre
Liquidez Liquidez Corrente Ativo circulante menos
Passivo circulante
Non debt-tax Depreciacao e Valor financeiro da
shiled amortizacao depreciacao e amortizacao
acumuladas acumuladas retirado da DOAR
Dimensao Referencias
Estrutura de Modigliani e Miller (1963);
Capital (variavel Fama, Barros e Silveira (2001)
dependente)
Tangibilidade Bradley, Jarrel e Kim (1984);
Fama e Kayo (1997)
Tamanho Souza, Vieira e Silva (2004);
Brito, Corrar e Batistella
(2007)
Falencia Vieira (2003)
Rentabilidade Vieira (2003); Goodacre,
Beattie e Thomson (2004);
Nakamura et al. (2007)
Liquidez Nakamura et al. (2007)
Non debt-tax Vieira (2003); DeAngelo e
shiled Masulis (1980); Nakamura et
al. (2007)
Fonte: os Autores.
Quadro 4: Caracteristicas principais, relacao esperada com as teorias
e fontes de referencia das variaveis macroeconomicas
Variaveis Caracteristica Referencias
Ln PIB da industria Logaritmo do Produto Interno Bastos, David e
Bruto do setor industrial Bergmann (2008)
e Jong, Kabir e
Ln da soma do valor Logaritmo da soma do valor de Nguyen (2007)
de mercado mercado por trimestre de
todas as empresas
Participacao da LN da soma de valor de mercado
empresa na economia dividido pelo LN do PIB da
industria
IPCA Indice de Precos ao consumidor
acumulado trimestralmente
TJLP Taxa de juros de longo prazo
acumulada trimestralmente
Taxa de Juros Selic Taxa de juros acumulada
trimestralmente
Dolar Valor da taxa de cambio do Biagni (2003)
dolar negociado no ultimo
dia do trimestre
Fonte: os Autores.
Tabela 1: Coeficientes, erro-padrao, teste t, significancia e fatores
de inflacionamento de variancia da pooled regression
Coeficiente Erro-Padrao Teste t
Constante 0,0137 0,0041 3,3300
Ativo Imobilizado / Ativo Total 0,4654 0,0037 125,5000
Ativo Permanente / Ativo Total -0,0382 0,0066 -5,7660
[PIB Industria.sub.t-1] -0,1762 0,0740 -2,3810
Taxa de Juros Selic 0,3374 0,0580 5,8170
[Taxa de Juros Selic.sub.t-1] 0,2334 0,0614 3,8000
Dolar 0,2534 0,0361 7,0200
Significancia VIF
Constante 0,0009 1,0110
Ativo Imobilizado / Ativo Total 0,0000 1,0110
Ativo Permanente / Ativo Total 0,0000 1,8050
[PIB Industria.sub.t-1] 0,0174 1,3690
Taxa de Juros Selic 0,0000 1,8330
[Taxa de Juros Selic.sub.t-1] 0,0002 1,0980
Dolar 0,0000 1,0110
R-quadrado nao ajustado = 0,92180; R-quadrado ajustado = 0,92146;
Criterio de informacao de Akaike (AIC) 1807,02; Criterio Bayesiano de
Schwarz (BIC) = -1770,42; Criterio de Hannan-Quinn (HQC) = -1793,33
Fonte: os Autores.
Tabela 2: Coeficientes, erro-padrao e significancia do modelo de
efeitos aleatorios para as subamostras 1 e 2
Subamostra 1
Coeficiente Erro-Padrao
Constante 0,0158 ** 0,0069
Ativo Imobilizado / Ativo Total 0,4683 * 0,0043
Ativo Permanente / Ativo Total -0,0348 * 0,0078
[PIB Industria.sub.t-1] -0,2104 0,1239
Taxa de Juros Selic 0,2389 ** 0,0971
[Taxa de Juros Selic.sub.t-1] 0,2113 ** 0,1030
Dolar 0,2986 * 0,0602
Subamostra 2
Coeficiente Erro-Padrao
Constante 0,0115 * 0,0043
Ativo Imobilizado / Ativo Total 0,1084 * 0,0394
Ativo Permanente / Ativo Total -0,1073 ** 0,0446
[PIB Industria.sub.t-1] -0,1852 ** 0,0773
Taxa de Juros Selic 0,4371 * 0,0609
[Taxa de Juros Selic.sub.t-1] 0,2961 * 0,0641
Dolar 0,1563 * 0,0382
* Significativo a 1%; ** Significativo a 5%.
Fonte: os Autores.