Organization life cycles: longevity and mortality of micro and small Industries in Contagem--Minas Gerais, Brazil/Ciclo de vida das organizacoes: sinais de longevidade e mortalidade de micro e pequenas industrias na regiao de Contagem--MG/ Ciclo de vida de las organizaciones: senales de longevidad y mortalidad de Micro y pequenas industrias en la Region de Contagem--Minas Gerais, Brasil.
Silva, Wendel Alex Castro ; de Jesus, Daiana Kelle Aragao ; Melo, Alfredo Alves de Oliveira 等
1. INTRODUCAO
Segundo Albuquerque, Hastreiter e Lima (2004), todas as
organizacoes passam por uma serie de etapas e processos de
desenvolvimento ao longo da sua existencia, tambem conhecida como Ciclo
de Vida Organizacional (CVO). Em termos gerais, nessa abordagem
salienta-se uma preocupacao com a maneira pela qual as empresas conduzem
suas atividades ao longo do tempo e o modo como surgem padroes
conceituais na literatura. Estudos empiricos tem revelado que as
empresas sao submetidas a um processo continuo de adaptacao ao ambiente,
que pode ser representado por fases de desenvolvimento. Para cada uma
dessas fases sao recomendadas estrategias diferenciadas, o que tem
tornado as analises de ciclo de vida bastante uteis, haja vista que tais
etapas devem ser superadas ate a empresa se transformar numa instituicao
efetivamente consolidada (LEZANA, 1996).
Na literatura economica sao varias as aplicacoes e generalizacoes
da analise de ciclo de vida. Em geral, adotam-se algumas dessas
variacoes: ciclo de vida do produto, do cliente, da organizacao, das
centrais de negocios, da tecnologia e do potencial de lucro, entre
outros. E comum tambem assumir a existencia de variaveis contingenciais,
tais como mudanca de cenarios, gestao, leis e tudo que possa influenciar
o processo de crescimento e adaptacao organizacional. E importante
ressaltar que, do ponto de vista epistemologico, os estudos nessa area
nao sao conclusivos e necessitam ser transportados para a investigacao
empirica. Ainda e dada pouca atencao na literatura academica a questoes
tais como a longevidade, suas causas, e/ou a expectativa de vida
empresarial.
Assim, sob os aspectos dimensionais relacionados as caracteristicas
das proprias organizacoes, nota-se que instituicoes consideradas
longevas, como o exercito, as instituicoes religiosas e as
universidades, alem de se diferenciarem das demais empresas da sociedade
moderna em conteudo e forma, diferenciam-se principalmente nas
expectativas do ciclo de vida. Nessas circunstancias, Geus (2005)
verificou que as empresas de qualquer tamanho em diferentes partes do
mundo tem um ciclo de vida inferior a vinte anos.
No Brasil, por exemplo, e precoce o nivel de mortalidade das
empresas, em relacao a outros paises, uma vez que grande parte delas nao
consegue superar a primeira etapa do desenvolvimento. Cerca de 80% das
empresas que sao registradas morrem antes de um ano e apenas 5% vao alem
de cinco anos: esses dados sao preocupantes, ja que representam um
desgaste do capital e, em razao da frustracao, do emocional. Os dados
mostram tambem que cerca de 90% dos fracassos foram ocasionados pela
gestao (DALSASSO, 2008).
A alta taxa de mortalidade das pequenas empresas, principalmente
nos primeiros anos de vida, indica que as empresas ainda nao evoluiram
no sentido de desenvolver todo um potencial efetivo. Por outro lado,
algumas empresas ao redor do mundo tem sido apresentadas na literatura
como empresas visionarias, por terem desenvolvido a capacidade de
evoluir com longevidade e sucesso, apesar das constantes mudancas
(COLLINS; PORRAS, 1995). A necessidade de sobreviver e de perpetuar um
modelo de negocio em um ambiente globalizado obriga os gestores das
empresas a enfrentar significativos desafios, cuja superacao e
determinante para a sobrevivencia do empreendimento.
Dalsasso (2008) enfatiza que atualmente existem muitos recursos que
propiciam o fortalecimento da empresa e, consequentemente, sua
longevidade. Alem dos recursos convencionais, sao recursos importantes
para identificar o estado de saude da empresa ou empreendimento: a
Analise Empresarial, a Analise do Ciclo de Vida Empresarial, o
Diagnostico das Doencas Estrategicas, e muitos outros. Mesmo assim,
conforme dados do SEBRAE (2008), o tempo medio de permanencia das micro
e pequenas empresas no mercado e bastante curto, o que torna importantes
as tarefas que os administradores exercem na organizacao, especialmente
a de compreender o CVO, a fim de definir estrategias de curto e longo
prazo, e a de interagir com o ambiente interno e externo.
Desse modo, tendo como base alguns estudos analiticos ja realizados
que focam a questao do CVO, consolidaram-se alguns dos principais
estagios das empresas a partir da tipologia de Adizes (1990): (1)
existencia, (2) sobrevivencia, (3) sucesso, (4) renovacao e (5)
declinio. Portanto, pergunta-se: em qual estagio do ciclo de vida
encontram-se algumas micro e pequenas empresas na regiao de Contagem-MG?
Desse modo, este artigo tem como objetivo, alem de identificar o estagio
do ciclo de vida dessas empresas, desdobrarse nos seguintes objetivos
especificos: (1) identificar alguns estudos e suas contribuicoes,
buscando um amadurecimento do tema; (2) identificar caracteristicas de
longevidade empresarial das micro e pequenas empresas selecionadas, por
meio de variaveis teoricas e analise empirica de dados com uso da
tecnica estatistica de Ranking Medio (RM).
2. REVISAO BIBLIOGRAFICA
2.1. Estudos sobre o ciclo de vida organizacional
Desde meados do seculo XX vem se introduzindo no pensamento
administrativo teorias organizacionais que passaram a dar suporte as
interacoes da empresa com o seu ambiente. A partir dessa concepcao, o
mundo academico tem despertado para questoes relativas ao surgimento,
desenvolvimento e declinio das organizacoes (ARRUDA et al., 2007). Um
ponto de destaque sao os modelos de Ciclo de Vida, que partem da
necessidade de observar a forma pela qual as organizacoes se desenvolvem
ao longo do tempo.
A partir dos estudos encontrados na literatura, foi possivel
perceber que o tema vem sendo tratado de varias maneiras, o que
significa que nao ha um consenso geral quanto aos seus resultados
empiricos (MAUAD; MARTINELLI, 2005; JUNQUEIRA et al., 2008).
Desse modo, inicialmente Greiner (1972) verificou que a evolucao de
uma organizacao depende de seu processo historico. Nesse caso, um
administrador teria melhor condicao de prever problemas futuros se
conhecesse o historico organizacional, concomitantemente com a percepcao
de cada fase do CVO. Miller e Friesen (1980) mostraram, a partir do
processo de adaptacao organizacional para uma amostra de 26 empresas,
que a existencia de interdependencia entre as variaveis do passado se
fortalece no futuro e traz implicacoes consideraveis quando nao ha
oposicao a direcao.
Apos estudarem o departamento de higiene mental do Estado de Nova
Iorque, Quinn e Cameron (1983) identificaram que a mudanca de criterio
de efetividade tinha relacao com os estagios de desenvolvimento dessa
organizacao. A importancia atribuida a esse constructo se refere ao modo
pelo qual uma organizacao se relaciona com o ambiente. Sendo assim, seus
resultados forneceram indicios sobre padroes de previsibilidade para
identificacao de estagios do CVO.
Mais adiante, Miller e Friesen (1984) identificaram importantes
variacoes de categorias ao longo das tradicionais fases do CVO em 36
corporacoes com mais de 20 anos: (a) aumento das diferencas estruturais
e delegacao de rotinas; (b) manutencao da estrategia de centralizacao;
(c) aumento da complexidade do processo decisorio seguido pelo aumento
do processamento de informacoes; e (d) flutuacao na inovacao e assuncao
de risco, com alto nivel nas fases de nascimento, crescimento e
renascimento, e baixo nivel nas fases de maturidade e declinio. Nao
houve tambem sequencia determinante para o ciclo de vida organizacional,
ou seja, as fases de crescimento podem ser sucedidas de declinio.
Apos observarem 12 industrias que se encontravam no estagio de
crescimento, maturidade e declinio do CVO, Baker e Cullen (1993)
verificaram que a relacao positiva entre a variedade industrial
(tamanho, idade, crescimento ou declinio) e o desempenho pode
modificar-se de acordo com cada estagio do ciclo de vida da industria.
Em razao disso, sugere-se incorporar o CVO na analise da dinamica de
competicao das organizacoes em geral. Koberg, Uhlenbruck e Sarason
(1996) examinaram 326 empresas americanas do setor de alta tecnologia e
verificaram que o CVO e um mecanismo moderador do processo de inovacao,
correlacionando com as variaveis positiva e negativamente, de acordo com
o estagio de desenvolvimento de cada empresa.
Com base na abordagem contingencial, Auzair e Langfield-Smith
(2004) buscaram identificar a influencia das variaveis organizacionais
no planejamento e desenho dos sistemas de controle gerencial, por meio
de um survey aplicado a 1000 controllers de empresas prestadoras de
servicos que operavam na Australia. Esses autores puderam evidenciar que
o grau de burocracia era inversamente proporcional ao nivel de
especializacao, e que nas empresas em estagio de crescimento os gestores
tendem a adotar menos burocracia e controle do que na fase de
maturidade.
Ainda sob os aspectos contingenciais, Smith, Mitchel e Summer
(1985), ao realizarem uma pesquisa com 38 executivos de 27 industrias
eletronicas, verificaram uma mudanca de prioridades no processo
decisorio ao longo do ciclo de vida em ordem de grau de importancia,
mostrando que essa variavel estaria relacionada as fases do CVO. Baker e
Cullen (1993), por meio de uma coleta aleatoria de 200 escolas e
universidades entre 1969 e 1978, verificaram que estas reagiam
fortemente as motivacoes de forcas associadas a fatores
configuracionais, como: porte, idade, crescimento e declinio. Alem
desses, tambem tiveram enfoque contingencial para a analise do CVO os
trabalhos de Lumpkin e Dess (2001).
Mais recentemente, Hwang (2007) verificou, por meio de levantamento
bibliografico, que diferentes aliancas entre empresas sao realizadas de
acordo com o estagio do CVO e se modificam ao longo do processo de
aprendizado organizacional. Alem disso, existem diferentes motivacoes,
tais como objetivos, recursos e oportunidades, para as mudancas
organizacionais em cada fase de seu ciclo.
Apesar dos diferentes enfoques, esses estudos foram uteis por
possibilitar maior entendimento de caracteristicas consideradas
genericas dos estagios do CVO (MOORES; YUEN, 2001; LEZANA, 1996;
JUNQUEIRA et al., 2008). Assim, as principais categorias que explicariam
o processo evolutivo das empresas seriam os estagios da existencia, a
sobrevivencia, o sucesso e o declinio. O estagio da existencia e marcado
pelo inicio do desenvolvimento da organizacao. Geralmente, as estruturas
sao simples e centralizadas em um ou poucos individuos, a tecnocracia
ainda e incipiente e ha poucos controles formais e sistemas de
informacao inadequados (MOORES; YUEN, 2001). O estagio de sobrevivencia
e caracterizado pela busca por crescimento (ADIZES, 1979). Geralmente,
busca-se desenvolver algum tipo de formalizacao da estrutura, as metas
sao apresentadas rotineiramente com foco no resultado e no crescimento
necessario a competitividade e as decisoes tendem a ser analiticas e
tomadas a partir de discussoes gerenciais (CHURCHIL; LEWIS, 1983;
MILLER; FRIESEN, 1984). A fase de sucesso e caracterizada pela
formalizacao e pelo controle burocratico (QUINN; CAMERON, 1983), pela
diminuicao do grau de inovacao e pela estabilizacao alcancada por meio
de descentralizacao, criacao de estruturas politicas, melhoria da
eficiencia e lucratividade das operacoes (MILLER; FRIESEN, 1984). Na
fase de renovacao a organizacao apresenta a necessidade de enxugamento
da estrutura; quando se utilizam estruturas matriciais com foco na
descentralizacao, a necessidade dos clientes e colocada em primeiro
plano e a decisao volta a privilegiar os estilos inovacao e risco
(MILLER; FRIESEN, 1984). Finalmente, o declinio, que pode acionar o
desaparecimento ou as estrategias de saida da empresa do mercado. No
caso dos produtos, sua procura diminui, em razao da gradual substituicao
por uma inovacao, o que faz as vendas cairem (CUNDIFF; STILL; GOVONI,
1979; BOONE; KURTZ, 1998). Os lucros sofrem uma rapida queda em direcao
ao ponto minimo, podendo haver prejuizo em razao da permanencia de
precos em niveis baixos (COBRA, 1992). Em casos nos quais a inabilidade
para satisfazer exigencias externas leva a situacao de declinio (MILLER;
FRIESEN, 1984), as relacoes politicas e de poder ficam mais acentuadas e
os membros mais preocupados com as metas pessoais (MINTZBERG, 1984;
JUNQUEIRA et al., 2008). Mas nao necessariamente a ultima fase e
condicionada a morte; em termos setoriais, a construcao do ciclo de vida
sera realizada a partir de seu dinamismo ou desenvolvimento, nao cabendo
considerar seu desaparecimento (MAUAD; MARTINELLI, 2005).
Adicionalmente, outras concepcoes sugeridas do ciclo de vida das
organizacoes abordam diferentes padroes para o desenvolvimento
organizacional. Como observam Miller e Frieser (1984), nao existe uma
sequencia que seja irreversivel, unica e definitiva. Assim, os
diferentes modelos de CVO encontrados na literatura se diferenciam em
abrangencia conceitual e no numero das fases (GUPTA; CHIN, 1994; MILLER;
FRIESER, 1984). E possivel visualizar alguns pontos em comum entre eles,
tais como planejamento, numero de periodo, crescimento, estabilidade e
morte ou declinio.
Em relacao ao numero de estagios e a abrangencia conceitual,
Machado-Da-Silva, Vieira e Dellagnelo (1998) identificaram tres fases:
empreendimento, formalizacao e flexibilizacao. Dentre os modelos
compostos de quatro fases, destacam-se os de Mintzberg (1984), que
contempla: formacao, desenvolvimento, maturidade e declinio; de Kaufmann
(1990), dividido em: nascimento, crescimento, maturacao e renovacao; e
de Glasl e Lievegoed (1993), que considerara as fases: pioneira,
crescimento, maturacao e renovacao. Quanto aos modelos de cinco fases,
destacam-se os de Greiner (1972): criatividade, centralizacao,
delegacao, coordenacao e equipe; de Chuchil e Lewis (1983): existencia,
sobrevivencia, sucesso, decolagem e maturidade; e o de Miller e Friesen
(1984): nascimento, crescimento, maturidade, renovacao e declinio.
Necyk, Souza e Frezatti (2008) argumentam que este ultimo seria
delineado de acordo com o grau de complexidade das atividades ao longo
de cada estagio, seguindo para tanto a metafora dos organizamos vivos.
Ja neste trabalho utiliza-se o modelo proposto por Adizes (1990),
que apresenta uma construcao teorica de CVO com dez fases que definem a
evolucao das organizacoes: introdutoria (namoro; infancia),
sobrevivencia (toca-toca; adolescencia), sucesso (plenitude;
estabilidade) e declinio (aristocracia, burocracia, burocracia
incipiente, morte). Dentre os estudos empiricos empreendidos por meio
dessa abordagem esta o de Oro et al. (2007), que pesquisaram 32
industrias familiares da cidade de Sao Miguel do Oeste-SC e verificaram
que nove empresas estavam na segunda fase do processo de desenvolvimento
(Infancia), 19 estavam na terceira fase (Toca-Toca) e 4 estavam na
quarta fase do processo (Adolescencia). Alem desse aspecto, pode-se
evidenciar a existencia de uma relacao entre a evolucao das industrias
familiares e os controles de gestao utilizados.
2.2. Longevidade empresarial
Duas das principais indagacoes presentes na literatura dizem
respeito a possibilidade, ou nao, de medir a longevidade organizacional
e de definir algumas caracteristicas comuns entre as organizacoes
consideradas longevas. Segundo Venturoli (2004), longevidade significa a
qualidade daquele que tem muita idade, ou uma expectativa de duracao da
vida, geralmente influenciada pelos fatores do ambiente.
Para Fleck (2005), existe uma relacao entre a longevidade e o alto
desempenho organizacional. Convem salientar que empresas consideradas
longevas geralmente ja passaram por contratempos em alguma fase de sua
vida, mas apresentam uma incrivel capacidade de recuperacao, atribuida
ao desempenho extraordinario de longo prazo.
Collins e Porras (1995) enfatizam que a perspectiva de desempenho
nao e a unica forca impulsionadora dominante ou o principal objetivo das
empresas longevas. Estas apresentam um conjunto de objetivos, dentre os
quais a rentabilidade, que nao e necessariamente o principal deles. De
fato, muitas empresas longevas buscam ideias mais amplas e
significativas. Nesses termos, a propria longevidade seria
essencialmente lucrativa (DALSASSO, 2008).
Geus (1999) observou, por meio de um estudo em 30 organizacoes
consideradas longevas, a existencia de alguns tracos comuns entre elas,
dos quais os principais estao listados a seguir: (a) o conservadorismo
nas financas, (b) a sensibilidade ao mundo ao seu redor, (c) a coesao e
identidade corporativa, (d) e o corpo gerencial tolerante. Ferreira
(2001) verificou que o estilo de gestao e um fator importante para
distinguir as empresas longevas das nao longevas. Goldszmidt, Brito e
Vasconcelos (2007) constataram em sua pesquisa que a habilidade de
gestao respondia por uma parcela consideravel (46%) do sucesso ou
fracasso organizacional. Burgelman e Grove (2007) defendem que as
dinamicas estrategicas estao na base da longevidade das organizacoes.
Por outro lado, Rego et al. (2003) consideram como causas de declinio
das organizacoes a falta de adaptacao ao seu meio, a avaliacao
distorcida de cenarios futuros, a baixa diversificacao e a deficiencia
gerencial.
Ao analisarem a dinamica de criacao e fechamento das firmas
existentes no Brasil com registro formal no Ministerio do Trabalho e
Emprego (MTE), Najberg, Puga e Oliveira (2000) verificaram que, entre os
anos de 1995 e 1997, o indice de mortalidade das firmas foi menor do que
o indice de natalidade. Em seus resultados, eles haviam correlacionado
as variaveis porte, idade e longevidade.
Com uma posicao diferente, Bethlem (1998) concluiu, apos analisar
algumas organizacoes americanas, que nao existe relacao entre tamanho e
longevidade. Esse autor verificou que, das cem companhias que dominavam
a industria americana segundo a Forbes e a Fortune de 1917, a maioria
delas nao se encontrava no grupo das maiores em 1967 e as maiores desse
ano nem mesmo existiam em 1917. Das dez maiores de 1967, apenas a Ford
tinha a mesma classificacao em 1971. Cerca de 40% das empresas da
revista Fortune500 de 1983 desapareceram, assim como 60% daquelas da
publicacao de 1970. Dentre as doze companhias incluidas no Dow Jones Industrial Index de 1900, a GE e a unica sobrevivente (CAULKIN, 1997).
Em um estudo realizado pelo SEBRAE (1998) foi identificada a taxa
de mortalidade das organizacoes com ate tres anos, assim como os fatores
condicionantes da mortalidade. Dentre os principais indicativos de
longevidade, o porte da empresa parece uma variavel importante, opiniao
coincidente com a de Najberg et al. (2000); a experiencia anterior ou o
conhecimento do ramo de atividade por parte do empresario e um fator de
sucesso, o que realca as evidencias de Greiner (1972); a dedicacao do
empresario em regime integral no primeiro ano de vida e um fator de
longevidade, opiniao tambem de Adizes (1990); e, finalmente, o
conhecimento de tecnicas gerenciais e fator relevante para o sucesso das
organizacoes.
E importante observar que varios outros estudos procuraram
relacionar o tema longevidade aos elementos de gestao, aqui listados:
aprendizado e melhoria constantes (COLLINS; PORRAS, 1995; COLLINS,
2002), conhecimento de mercado (BRASIL; DIEGUES; BLANC, 1995; GEUS,
1999; FLECK, 2005); senso de identidade (BRASIL; DIEGUES; BLANC, 1995;
GEUS, 1999; COLLINS, 2002; FLECK, 2005), lideranca (COLLINS, 2002;
SEBRAE, 2008; ARRUDA et al., 2007) e inovacao (SEBRAE, 2008; ARRUDA et
al., 2007).
Finalmente, Collins e Porras (1995) observaram que os valores
centrais de uma empresa longeva sao compostos de uma base solida e nao
estao sujeitos a tendencias e modas passageiras. Contudo, ao mesmo tempo
em que mantem suas ideologias centrais bem determinadas, as empresas
longevas demonstram ter uma vontade enorme de evoluir, fato que lhes
permite mudar e se adaptar sem comprometer suas ideias. Esses autores
ainda argumentam que a busca pela superacao e a meta final de uma
empresa longeva.
2.3. Ciclo de vida das organizacoes na tipologia de Adizes
A enfase na investigacao e na elaboracao deste estudo e dada ao
modelo de Ciclo de Vida Organizacional apresentado por Adizes. As etapas
que o compoem, ja utilizadas em pesquisa anteriores (ADIZES, 1990;
GOUILLART; KELLY, 1995; COLLINS; LAZIER, 1996; BATEMAN; SNELL, 1998;
BORINELLI, 1998; JONES, 2000; FERREIRA, 2001; ORO et al., 2007), sao
denominadas de "Estagios de Crescimento", que envolvem as
seguintes fases, apresentadas no Quadro 1:
Quadro 1: Caracteristicas das organizacoes em cada uma das fases da
etapa de crescimento
Fase de CVO Diagnostico Caracteristicas
Namoro Amadurecimento da * A organizacao ainda e um
ideia do "caso" prestes a se
empreendimento. tornar real.
Infancia Fase de grande * Pouca ou nenhuma diretriz;
vulnerabilidade, com * Administracao centralizadora
risco de com poucas reunioes;
mortalidade. * Assumem-se vrios compromissos
e h dificuldade para
satisfazer as necessidades dos
clientes;
* Grande Necessidade de Capital
Operacional.
Toca-Toca A organizacao se * Maior consistencia de caixa,
volta para o estabilidade de fornecedores e
mercado, conhecimento do processo
aproveitando as produtivo;
oportunidades. * Muito entusiasmo do
fundador, devido as vendas
estarem aumentando;
* Nao h planejamento de vendas;
* Os novos funcionrios ainda
nao compartilham dos valores,
principios e politicas: falta
de controle na
institucionalizacao.
Adolescencia A organizacao est * Delegacao de autoridade;
buscando sua * Necessidade de contratar uma
independencia longe administracao profissional;
do fundador. * Elaboracao de regras;
* Surgimento de hierarquia;
* Existencia de conflitos pode
gerar divorcio entre os
socios.
Plenitude A organizacao atinge * Sistemas e estrutura
o equilibrio entre o organizacionais funcionais
autocontrole e a definidos;
flexibilidade. * Visao e criatividade
institucionalizadas;
* Orientacao para os resultados;
* Planejamento;
* Supera expectativas de
desempenho e mantem
crescimento das vendas;
* Gera novas organizacoes
Crianca.
Estabilidade E o primeiro estgio * Perda de flexibilidade;
do envelhecimento. O * Assumem-se menos riscos;
fim do comeco. * Menos estimulos para manter a
sua visao original;
* Expectativas menores de
crescimento;
* Concentra-se nas realizacoes
do passado;
* Maior interesse nas relacoes
interpessoais.
* Investimento em sistemas de
Aristocracia Estgio em que os controle, mais do que em
problemas comecam a * H grande formalidade;
aparecer. * Diminuicao da sua fatia do
mercado.
Burocracia Nesta fase os inovacao;
Incipiente aspectos culturais e * Muitas brigas e conflito: a
eticos dos paranoia paralisa a
dirigentes favorecem organizacao;
o aparecimento de * Ninguem quer mostrar o jogo;
conflitos. * O importante passam a ser
guerras territoriais internas;
* O cliente externo torna-se um
aborrecimento;
* Os melhores e mais competentes
membros, por serem os mais
temidos, sao desligados ou
pedem demissao.
Burocracia e Pouca funcionalidade * Sistemas numerosos, complexos
Morte e descontrole. As e pouca funcionalidade;
organizacoes * Nao h compromissos com
burocrticas podem clientes a serem honrados;c
prolongado estado de viva a organizacao;
coma. * A extincao ou morte pode levar
anos.
Fonte: os Autores.
Note-se que cada estagio do ciclo de vida pressupoe dificuldades
enfrentadas pelas organizacoes. Os problemas podem surgir tanto nos
momentos de transicao para cada fase quanto no seu desenvolvimento.
Essas fases se assemelham aos organismos vivos e, como eles, estao
sujeitas a mudanca e aos fenomenos de crescimento, envelhecimento e
morte (JONES, 2000).
3. METODOLOGIA
Este estudo pode ser classificado como teoricoempirico, porque tem
como principal objetivo identificar em qual estagio do ciclo de vida
estao algumas micro e pequenas industrias da regiao de Contagem-MG, bem
como caracterizar as empresas longevas por meio dos estagios do ciclo de
vida organizacional. Michel (2005) ressalta que a pesquisa empirica
tende a ser quantitativa, ja que o seu grande valor e trazer a teoria
para a realidade.
Inicialmente, para a definicao do tema e dos objetivos do trabalho,
realizou-se uma pesquisa de revisao bibliografica. Em seguida,
utilizou-se da tecnica de coleta de dados por meio de questionario
estruturado e composto de questoes fechadas em escala de Likert de cinco
pontos, elaborado a partir de questoes teoricas que tiveram como base o
modelo conceitual de CVO sugerido por Adizes (1990). Cabe ressaltar que
o questionario foi devidamente adaptado as variaveis do Quadro 1. Para
Michel (2005), a escala de Likert apresenta itens em forma de afirmacoes
a respeito de uma categoria de analise sobre a qual se pede aos
entrevistados que externem sua posicao. Quanto a analise das respostas
dos questionarios, utilizou-se o metodo de Ranking Medio (RM), que,
segundo Oliveira (2005), mensura o grau de concordancia dos sujeitos
respondentes. Os resultados com media menor que 3 significam percepcao
discordante da caracteristica do estagio; aqueles com media igual a 3
significam sem opiniao ou indiferente; e aqueles com media maior que 3
disseram respeito aos concordantes com as caracteristicas. Para a
obtencao dos valores, considera-se inicialmente a media ponderada MP =
soma (frequencias das respostas x escalas assinaladas) e, em seguida,
calcula-se o Ranking Medio, expresso por RM = MP/[SIGMA] frequencias das
respostas.
A amostra considerada corresponde as micro e pequenas industrias
selecionadas da carteira de correntista de pessoas juridicas da agencia
Eldorado do Banco X na regiao de Contagem, representadas por seus
responsaveis ou proprietarios. Por se tratar de uma amostra nao
probabilistica e intencional, optou-se por eliminar dessa populacao
aquelas empresas que nao se enquadram no porte e no segmento objeto
deste estudo, para que o resultado da pesquisa nao ficasse prejudicado.
Com isso, a populacao ficou limitada a oitenta e sete empresas que se
enquadravam como micro e pequenas empresas industriais atualmente
ativas. A escolha do segmento industrial seguiu algumas referencias de
pesquisas ja realizadas (MILLER; FRIESEN, 1980; SMITH; MICHEL; SUMMER,
1985; MILES; SNOW; SHARFMAN, 1993; KOBERG; UHLENBRUCK; SARASON, 1996;
LUMPKIN; DESS, 2001). As estruturas das empresas industriais, sua
influencia na dinamica configuracional e a variedade industrial sao
caracteristicas determinantes em seu ciclo de vida, embora tais
caracteristicas possam apresentar-se em outros segmentos. Alem disso,
deve-se considerar que este segmento e tradicionalmente de longa
duracao, o que torna possivel identificar suas diferentes fases de
desenvolvimento. Do total de oitenta e sete empresas, obteve-se sucesso
em apenas dezessete, as unicas cujos executivos responsaveis ou
proprietarios, que frequentam aquela agencia, aceitaram participar da
pesquisa. Por fim, procurou-se alinhar a pesquisa de campo ao estudo
teorico para subsidiar os resultados encontrados e as consideracoes
finais.
4. APRESENTACAO E DISCUSSAO DOS RESULTADOS
Inicialmente, sao apresentados o ramo de atividade e a idade media
das industrias participantes. Foram consideradas na analise as
industrias relacionadas no Quadro 2:
Quadro 2: Ramo de atividade das empresas entrevistadas
Ramo de atividade da empresa No %
Confeccao 4 24
Fabrica de artefatos hidraulicos 3 18
Fabrica de calcados 2 12
Fabrica de moveis 2 12
Fabrica de alimentos 2 12
Grafica/Comunicacao Visual 2 12
Estamparia Metalurgica 2 12
Total 17 100
Fonte: os Autores.
As empresas estavam distribuidas em sete tipos de segmentos
diferentes, selecionados aleatoriamente e por ocasiao do acesso aos
socios responsaveis e de sua concordancia. Os segmentos que tiveram
maior representacao foram os de confeccao e de artefatos hidraulicos,
com 24% e 18% respectivamente. Apesar do numero reduzido de empresas e
da nao representatividade estatistica, esta amostra apresentou uma boa
variedade setorial. Na Figura 1, logo abaixo, e possivel observar a
idade media das empresas entrevistadas:
Das 17 micro e pequenas empresas industriais, havia tres com ate 2
anos de vida e cinco com idade entre 2 e 5 anos. Mas a grande maioria, 9
empresas no total, apresentou idade superior a 5 anos de vida.
Certamente e possivel delinear alguns indicios de longevidade das
pequenas e medias empresas industriais naquela regiao, muito embora
novas empresas com menos de um ano de vida encontrem certa dificuldade
em abrir contas bancarias e/ou obter credito em instituicoes
financeiras. Por outro lado, deve-se registrar que o numero reduzido de
empresas acessiveis foi o fator de limitacao da pesquisa.
Conforme observa o SEBRAE (2008), anualmente, no Brasil, 71% das
micro e pequenas empresas fecham as portas antes de completar cinco anos
de vida. Apesar desse quadro, Silva et al. (2005) nao conseguiram
associar o porte da receita bruta a variavel idade das empresas
(longevidade), embora as empresas mais novas apresentassem faturamento
menor e entre as mais velhas houvesse empresas com os mais variados
niveis de receita. Pode-se, contudo, associar numero de funcionarios a
faturamento.
Em geral, a definicao do tamanho da empresa e de grande relevancia.
De acordo com as metodologias existentes, empresas comerciais e de
servicos que possuem receita bruta anual de ate R$120.000,00 e um quadro
de funcionarios de ate nove pessoas sao consideradas microempresas. Pela
lei Complementar no. 123/2006, microempresa industrial e aquela que tem
uma receita bruta anual de ate R$240.000,00 e possui ate dezenove
pessoas ocupadas (SEBRAE, 2004).
Com esses parametros, observa-se nas empresas entrevistadas com ate
dois anos de vida que suas receitas nao ultrapassavam os R$240.000,00,
caracterizando-se, portanto, como microempresas. Alem disso,
identificou-se que a gerencia dessas empresas era composta apenas do
proprietario/socio. E pouco provavel, apesar de ser especulativo neste
momento, encontrar empresas dessa idade que tenham crescimento acelerado
ou que apresentem comportamento diferente dos modelos de CVO. Assim, e
pertinente afirmar que empresas com ate 2 anos de vida sao
microempresas. Logo a seguir, na Figura 2, apresentam-se as etapas que
compoem os estagios de vida organizacional, segundo o criterio do RM
para empresas com ate dois anos de vida:
Os resultados do Ranking Medio na percepcao das empresas com ate
dois anos de vida alcancaram 4,44 pontos no segundo estagio do ciclo de
vida, a Infancia. E visivelmente a resposta mais contundente, o que
confirma algumas de suas principais caracteristicas, de acordo com
Adizes (1990): busca pelas vendas, pouca ou nenhuma diretriz, normas,
regras, procedimentos e orcamentos; administracao ainda centralizada no
proprietario/socio; geralmente nao se fazem reunioes de trabalho porque
se assumem varios compromissos; trabalha com toda a capacidade de
producao, embora as vezes nao satisfaca as necessidade de todos os
clientes; verificou-se tambem uma grande necessidade de capital
operacional (NCG) e bastante empenho do socio fundador nesse aspecto.
A mortalidade infantil--algo que poderia ocorrer ja nesta fase--foi
pouco expressiva, uma vez que as empresas apresentaram um RM de 1,33
pontos, o que significa que, na opiniao dos dirigentes, essa situacao
nao se verificava no momento da pesquisa. Para Adizes (1990), caso a
organizacao Crianca atravesse esta fase sem cair na mortalidade, podera
pensar em avancar para a terceira fase do CVO.
As empresas entrevistadas com ate dois anos de vida obtiveram ainda
um RM de 4,00 pontos na fase transicao para o estagio Toca-Toca. Alem do
entusiasmo e dedicacao ao gerenciamento, as empresas comecaram a ter
perspectivas (sinais) de retorno financeiro em razao do aumento das
vendas. Observou-se tambem que elas apresentaram uma pequena
concordancia quanto ao quinto estagio, a Plenitude, uma vez que se
verificou um ranking de 3,22 pontos. No entanto, tal resultado deve ser
encarado com prudencia por ser pequena a expansao sobre o valor de
concordancia do RM. Por outro lado, e possivel que algumas
caracteristicas presentes no quinto estagio venham a ser trabalhadas ja
nesta fase de vida.
Adizes (1990) relata que nesta etapa as empresas tem mais chances
de conseguir o equilibrio entre a flexibilidade e a controlabilidade.
Mas, apesar de ser este o estagio CVO mais almejado pelas organizacoes,
nao necessariamente e o ultimo. Nesse sentido, o desafio e fazer com que
a organizacao mantenha essas caracteristicas. Isso significa que ela
tera de ser flexivel o suficiente para adaptar-se as mudancas sem perder
o controle das suas atividades (LEZANA, 1996).
A seguir, na Figura 3, sao informados os estagios de vida das
empresas de 2 a 3 anos.
Uma terceira divisao em subperiodos permitiu uma analise descritiva
mais detalhada. Assim, das empresas industriais com idade de 2 a 3 anos,
verificou-se que uma perfazia em media uma receita bruta anual de ate
R$120.000,00, enquanto duas perfaziam entre R$120.000,00 e R$240.000,00.
O quadro medio de funcionarios na primeira empresa variava de 6 a 10
pessoas, enquanto nas duas restantes era de 11 a 19 funcionarios.
Classificamse, portanto, como microempresas industriais. A gerencia
delas, por sua vez, era composta apenas do socio proprietario.
Na analise a seguir mostram-se os resultados do Ranking medio
dessas empresas, observados na Figura 3. Alcancaram-se 4,21, 3,33 e 3,75
pontos respectivamente no segundo, terceiro e quarto estagios do ciclo
de vida, todos considerados periodos de transicao. Essa posicao
predominante mostra a fase de mudanca pela qual passam essas empresas.
Alem de persistirem na mudanca, pode-se verificar ainda que os
proprietarios/socios demonstram muito entusiasmo e dedicacao ao
gerenciamento, e a maioria concorda estar comecando a ter retorno
financeiro do investimento. E importante ressaltar que as questoes foram
aplicadas indistintamente e desagrupadas (60 caracteristicas exploradas
a partir das variaveis do Quadro 1), e que foi possivel sobrepor alguns
resultados em razao do predominio de algumas respostas. Em principio,
parece contraditorio encontrar varias fases de CVO em um unico grupo;
todavia, as variaveis nao foram violadas, mas foi possivel uma resposta
como "retorno financeiro" em qualquer idade.
Assim, observou-se que as empresas com idade de 2 a 3 anos
apresentam relativa concordancia, com RM 3,55 pontos no terceiro
estagio, Toca-Toca. Isso significa dizer que elas ja estariam se
posicionando nessa nova fase do CVO. Neste ponto, o fundador imagina ter
certo tempo disponivel para refletir sobre o negocio; em busca de novas
oportunidades, volta-se intensamente para o mercado (FERREIRA, 2001).
Outras caracteristicas observadas nesta fase sao: (1) a arrogancia do
socio fundador, principalmente se na fase de infancia o crescimento foi
acelerado, pois isso tende a aumentar muito a autoestima dos dirigentes;
(2) a relativa escassez de pessoal bem treinado, o que pode ocasionar
perda de controle do gestor, inconsistencia no trabalho, alem de aumento
da dificuldade de disseminar os valores organizacionais. Em relacao a
primeira, nossa metodologia apresentou um "vies", haja vista
ser pouco provavel alguem se considerar "arrogante" em
determinadas circunstancias. Mas, por outro lado, foi preponderante a
necessidade de formacao de uma equipe administrativa.
Como as empresas nao devem permanecer eternamente em estagio
especifico, para cada estagio ha pelo menos dois caminhos: na fase de
desenvolvimento, por exemplo, cujo estagio e a fase Toca-Toca, uma
empresa podera seguir para a proxima fase ou cair na "Cilada do
Fundador" em razao da delegacao de poderes, pois ate entao teria
sido predominante a ideia de que fundador e empresa sao sinonimos
(BORINELLI, 1998). Em relacao a essa questao, as empresas de 2 a 3 anos
apresentam um RM de 1,50 pontos, o que de certa forma mostra
discordancia das empresas em relacao a essa fase. Segundo ADIZES (1990),
o proprietario deve buscar a delegacao sem perder o controle, porem a
organizacao necessita de uma direcao mais profissional que o oriente
para a proxima fase.
Na Figura 3 verificou-se um RM de 3,70 pontos no quarto estagio,
Adolescencia, e 3,75 pontos de concordancia na transicao para a etapa
seguinte. Adizes (1990) relata que nesta fase as empresas estao buscando
sua independencia longe do fundador, o que ocasiona o surgimento de
hierarquias, regras e diretrizes. E possivel diagnosticar que se busca
por uma administracao mais profissional. Segundo Gouillart e Kelly
(1995), essa ideia e reforcada quando ja existe um consultor externo,
mentor pessoal do fundador, que acaba levando a sugestao de contratacao
de executivos com base solida para a direcao.
Em ultima analise, as empresas com idade de 2 a 3 anos
entrevistadas tambem apresentaram concordancia de 3,89 pontos no quinto
estagio, a Plenitude, conforme a Figura 3. Isso e possivel porque,
segundo Adizes (1990), as organizacoes Plenas possuem um crescimento
semelhante ao das organizacoes Toca-Toca. Por outro lado, deve-se
concluir desses resultados que estas empresas nao apresentaram um
estagio definido, variando entre o segundo e o quinto estagio, mas
atribuiram valores significantes a fase de transicao. E necessario
examinar mais detidamente essa situacao, tanto no que diz respeito a
percepcao dos proprietarios quanto no que se refere ao modelo de CVO
aqui empregado. Nao foi possivel por meio desta tecnica relacionar
questoes como tamanho, idade e gerencia a possibilidade de definicao de
estagio do CVO. Contudo, o momento de transicao tem figurado nas
empresas com grande relevancia. Destaca-se que o processo de transicao
nas diferentes fases do CVO representa uma constante busca por
crescimento, melhorias e insercao na competicao. Deve-se enfatizar a
estrategia que, nesse momento, seria mais generalista.
As duas empresas com idade entre 3 e 5 anos indicaram possuir uma
receita bruta media anual que variava de R$120.000,00 a R$240.000,00, e
um quadro de 6 a 10 dez funcionarios, o que as caracterizava como
microempresas industriais. Na Figura 4 apresentam-se os principais
resultados do estagio de vida dessas empresas:
Nos resultados do Ranking medio, estas empresas alcancaram 4,00
pontos no segundo estagio do ciclo de vida, na fase de transicao para a
proxima etapa. A transicao foi tambem considerada nas fases seguintes, o
que pode ser indicio de instabilidade no ambiente para essas empresas,
bem como para as de 2 a 3 anos de vida. Ao reconhecer o ambiente como
dinamico, uma empresa tenta assumir novas diretrizes ao longo do CVO. No
geral, foi possivel observar nas empresas sinais de crescimento,
principalmente nos retornos financeiros.
Com um RM de 3,67 pontos no terceiro estagio, o de transicao, e de
3,60 pontos no quarto estagio, o de Adolescencia, houve uma delegacao da
autoridade; todavia, a mudanca de direcao nao foi definitiva, haja vista
que a gerencia ainda e composta do socio fundador na maioria da empresas
entrevistadas, ou, caso nao seja, ha a participacao de uma administracao
profissional. Adizes (1990) relata que na Adolescencia a organizacao e
impulsionada pelas oportunidades, reagindo ao ambiente ao inves de
planejar o ambiente em que deseja agir.
As fases de deturpacao ocorrem por conflitos internos, que podem
resultar na saida dos cofundadores e, como consequencia, no
envelhecimento precoce da organizacao. Adizes (1990) ressalta que os
conflitos entre socios podem provocar divorcio e conflitos entre
administradores e empreendedores e resultam em um empreendedor nao
realizado. Caso esses conflitos sejam bem administrados ou resolvidos e
se houver sucesso na sistematizacao administrativa e no processo de
institucionalizacao da lideranca, a empresa passa para o quinto estagio
do seu ciclo de vida, a Plenitude. Na questao divorcio e empreendedor
nao realizado, as empresas apresentam um RM de 1,00 e 2,00 pontos
respectivamente, discordando assim da situacao.
Nesse aspecto, percebe-se que as empresas de 3 a 5 anos seguem uma
trajetoria em direcao a proxima etapa, uma vez que o RM obtido foi de
4,50 pontos de concordancia na fase de transicao para a etapa de
Plenitude e de 4,44 pontos nesta etapa. Verifica-se, no entanto, que
essas empresas industriais tambem nao apresentam um estagio definido,
variando do segundo ao quinto estagio, mas ha fortes indicios de
superacao daquelas fases consideradas patologicas, que geralmente afetam
as empresas no quarto estagio. Na Figura 5, a seguir, apresentam-se os
estagios de vida das empresas acima de 5 anos:
Finalmente, as empresas com idade acima de 5 anos entrevistadas
foram as de maior representatividade. Verificou-se que tres delas
estavam realizando uma receita media bruta anual de R$120.000,00 a
R$240.000,00; uma delas apresentou receitas que variavam de R$240.000,00
a R$1.200.000,00; e as restantes, cinco empresas, tiveram receitas entre
R$1.200.000,00 e R$2.400.000,00. Quanto ao quadro de funcionarios,
verificou-se que 44% das empresas eram compostas de 6 a 19 funcionarios,
e 56% possuiam de 20 a 99 funcionarios. E possivel inferir que quatro
empresas sao microempresas, enquanto as restantes podem ser consideradas
empresas industriais de pequeno porte. Identificou-se ainda que duas das
empresas entrevistadas sao gerenciadas apenas pelo proprietario/socio e
que sete sao gerenciadas por um administrador profissional, mas
fortemente influenciado pelo socio fundador.
Os resultados do RM alcancaram 4,11 pontos de concordancia no
quarto estagio, na fase transicao para a proxima etapa, e 4,37 pontos no
quinto estagio, a Plenitude. Isso sao indicios mais provaveis do inicio
do processo de estabilidade. Segundo Adizes (1990), a plenitude e o
estagio do ciclo de vida mais desejado por toda e qualquer organizacao,
e o ponto mais favoravel em todo o ciclo. As principais caracteristicas
desse estagio apontadas foram: visao e criatividade; menos problemas na
satisfacao das necessidades dos clientes; planejamento; a organizacao e
capaz de, simultaneamente, manter o crescimento das vendas e o aumento
da lucratividade; e possivel ja nesta fase gerar (pensar em)
organizacoes Crianca.
No que concerne as empresas pesquisadas com idade acima de 5 anos
de vida, apresentaram ao longo do CVO valores relevantes. Em principio,
parece existir concordancia ainda no segundo estagio, na fase de
transicao, que atingiu um RM de 3,89 pontos; no terceiro estagio,
Toca-Toca, 3,27 pontos; na fase de transicao para o quarto estagio, 3,78
pontos; e na Adolescencia, 3,67 pontos, muito embora esses valores nao
sejam mais significativos do que os valores do quinto estagio,
apresentados na Figura 5. Neste caso, Adizes (1990) concorda que as
empresas plenas apresentam caracteristicas positivas das outras fases de
crescimento do ciclo de vida das organizacoes, e isso pode ser observado
nesta pesquisa.
5. RESULTADOS E CONCLUSOES
Diante do exposto--a analise das caracteristicas e evolucao das
micro e pequenas empresas na regiao de Contagem-MG--e da proposta
inicial deste trabalho--verificar em qual estagio do ciclo de vida se
encontram essas micro e pequenas empresas -, evidencia-se que estas
exercem um papel fundamental na vida economica do local. Verificouse
tambem a existencia de diferentes fases do ciclo de vida das empresas
pesquisadas, alem das diferentes necessidades e/ou dificuldades em cada
estagio do Ciclo de Vida Organizacional.
A pesquisa permitiu visualizar que no ciclo de vida organizacional
apresentado por Adizes (1990) as empresas pesquisadas com ate dois anos
de vida encontram-se no segundo estagio, a Infancia, e as empresas com
idade de dois a cinco anos nao apresentam um estagio definido, variando
do segundo ao quinto estagio, a Plenitude. As empresas com mais de cinco
anos encontram-se no quinto estagio e apresentam caracteristicas
positivas dos estagios anteriores. Quanto a continuidade do sucesso
empresarial, Geus (2005) enfatiza que uma empresa deve existir para
durar, ainda que seu criador nao tenha disponibilidade para gerenciar ou
ate mesmo se seu produto ficou obsoleto. Vale relembrar que as empresas
longevas, segundo Collins e Porras (1995), passaram por contratempos e
erraram em algumas fases de suas vidas; no entanto, apresentam uma
capacidade de recuperacao, conseguindo vencer as adversidades.
Em geral, as empresas pesquisadas apresentam caracteristicas que
contribuiram para sua longevidade ate o momento da pesquisa, tais como
produtividade, qualidade, aliancas estrategicas, atendimento
diferenciado, criatividade, retorno financeiro e funcionarios
capacitados. Por outro lado, algumas caracteristicas que podem levar a
mortalidade ainda persistem: as empresas com ate cinco anos de vida
faltam capital de giro e planejamento, e as empresas acima de cinco anos
de vida faltam planejamento e sensibilidade ao mercado.
Com vistas em aumentar as chances de longevidade empresarial,
Collins e Porras (1995) sugerem um processo de reflexao constante sobre
os aspectos a serem desenvolvidos no presente. Assim, nao importa quanto
a empresa tenha conseguido ate o momento--na busca pela longevidade, e
intensa a necessidade de explorar, criar, melhorar e controlar,
especialmente quando as interacoes com o ambiente tendem a ser mais
profundas; disponibilizar gestores que criem condicoes de aprendizado,
motivando as pessoas inseridas na organizacao a crescer e criar novas
experiencias; passar de forma coesa e clara os valores defendidos pela
organizacao; ser sensivel ao ambiente, visualizando amplamente o
mercado, alem de preparar-se para as mudancas e, principalmente, manter
um controle conservador das financas, permitindo o dominio sobre o tempo
para aproveitar as oportunidades que surgem.
Nesse aspecto, as analises de CVO podem ser uma ferramenta de
especial utilidade para empreendedores, gestores e estrategistas,
fornecendo uma abordagem coerente e unificada do desenvolvimento
organizacional.
Para finalizar, em razao das limitacoes desta pesquisa e necessario
sugerir a comparacao entre diversos modelos de ciclo de vida
organizacional e a ampliacao deste estudo para a totalidade da populacao
de micro e pequenas empresas.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Wendel Alex Castro Silva
Doutor em Administracao de Empresas pela UFLA. Professor
Pesquisador da Faculdade Novos Horizontes--Belo Horizonte-MG, Brasil
E-mail:
[email protected]
Daiana Kelle Aragao de Jesus
Graduada em Administracao pela Faculdade Novos Horizontes--Belo
Horizonte-MG, Brasil
E-mail:
[email protected]
Alfredo Alves de Oliveira Melo
Doutor em Organizacoes pela Universite de Paris. Professor
Pesquisador da Faculdade Novos Horizontes--Belo Horizonte MG, Brasil
E-mail:
[email protected]
* Os autores agradecem a FAPEMIG pelo apoio ao projeto Longevidade
e Ciclo de Vida Organizacional das Empresas de Minas Gerais (AFQ 00853/09).
Recevido em: 6/3/2009
Aprovado em: 20/10/2009
Figura 1: ICADE das Empresas
ICADE das empresas
De 1 a 2 anos 18%
De 2 a 5 anos 29%
Acima de cinco anos 53%
Fonte: os Autores.
Note: Table made from pie chart.
Figura 2: Ciclo de Vida Organizacional: Empresas com ate 2 anos de vida
Ciclo de Vida Organizacional-Ate 2 anos
20
Infancia 4,44
Mortalidade Infanti 1,33
Transicao 4,00
30
Toca-toca 2,83
Cilada de Fundado 3,00
Transicao 2,81
40
Adolescencia 2,73
Divorcio 1,00
Emprendedor nao realizado 1,00
Transicao 1,00
50
Plenitude 3,22
60
Estabilidade 0,89
70
Aristocracia 2,10
20
Burocracia Incipiente 1,33
90
Burocracia e Morte 1,00
Fonte: os Autores.
Note: Table made from bar graph.
Figura 3: Ciclo de Vida Organizacional: Empresas com 2 a 3 anos de
vida
Ciclo de Vida Organizacional-De 2 a 3 anos
20
Infancia 3,24
Mortalidade Infanti 2,00
Transicao 4,21
30
Toca-toca 3,55
Cilada de Fundado 1,50
Transicao 3,33
40
Adolescencia 3,70
Divorcio 1,25
Emprendedor nao realizado 2,00
Transicao 3,75
50
Plenitude 3,89
60
Estabilidade 1,94
70
Aristocracia 1,68
20
Burocracia Incipiente 1,56
90
Burocracia e Morte 1,00
Fonte: os Autores.
Note: Table made from bar graph.
Figura 4: Ciclo de Vida Organizacional: Empresas com 3 a 5 anos de
vida
Ciclo de Vida Organizacional--De 3 a 5 anos
20
Infancia 2,78
Mortalidade Infanti 2,00
Transicao 4,00
30
Toca-toca 2,50
Cilada de Fundado 2,00
Transicao 3,67
40
Adolescencia 3,60
Divorcio 1,00
Emprendedor nao realizado 2,00
Transicao 4,50
50
Plenitude 4,44
60
Estabilidade 2,67
70
Aristocracia 3,00
20
Burocracia Incipiente 1,75
90
Burocracia e Morte 1,00
Fonte: os Autores.
Note: Table made from bar graph.
Figura 5: Ciclo de Vida Organizacional: Empresas com mais
de 5 anos de vida
Ciclo de Vida Organizacional-Acima de 5 anos
20
Infancia 2,96
Mortalidade Infanti 1,78
Transicao 3,89
30
Toca-toca 3,27
Cilada de Fundado 1,89
Transicao 3,78
40
Adolescencia 3,67
Divorcio 2,11
Emprendedor nao realizado 2,61
Transicao 4,11
50
Plenitude 4,37
60
Estabilidade 2,00
70
Aristocracia 2,67
20
Burocracia Incipiente 1,53
90
Burocracia e Morte 1,00
Fonte: os Autores.
Note: Table made from bar graph.