Practices of corporate citizenship and market orientation: possibly related?/Praticas de cidadania corporativa e orientacao para o mercado: uma relacao possivel?/Practicasde ciudadania corporativa y orientacion para el mercado: ?Una relacion posible?
Pinto, Marcelo de Rezende ; da Silva, Michele Cristina Duarte
1. INTRODUCAO
Pode-se afirmar que, a partir das ultimas decadas do seculo XX, as
empresas passaram a atuar num ambiente de negocios que tem sofrido
profundas transformacoes. A necessidade de entrada em novos mercados, a
competicao crescente com diferenciadas empresas estrangeiras, a rapidez
dos avancos tecnologicos, a intensificacao da velocidade de lancamento
de novos produtos e servicos, as mudancas cada vez mais frequentes do
comportamento de compra dos consumidores tem compelido as empresas a
adotar inovadoras formas e praticas de gestao e de relacionamento com
seus clientes, funcionarios, fornecedores, colaboradores, bem como na
comunidade em que esta inserida (ASHLEY, 2002). Ou seja, segundo essa
autora, as empresas vem sendo obrigadas a investir em outros atributos
alem de preco e qualidade: confiabilidade, servicos de pos-venda,
produtos ambientalmente corretos, relacionamento etico da empresa com
seus stakeholders (1), preservacao do meio ambiente e envolvimento em
projetos sociais.
Ademais, como bem enfatizado por Grayson e Hodges (2002), nos
ultimos anos os gerentes vem enfrentando novos desafios gerados pela
maior disposicao e capacidade dos publicos com os quais a empresa
interage de exigir que suas expectativas sejam satisfeitas, obrigando
esses gerentes a tomar decisoes no sentido de conciliar interesses
muitas vezes conflitantes.
E justamente nesse contexto de expressiva complexidade que emerge o
conceito de cidadania corporativa, que pode ser entendido como a
preocupacao da empresa em considerar e conciliar os interesses dos
diversos publicos: funcionarios, clientes, fornecedores, acionistas,
comunidade na qual a organizacao esta inserida, entre outros. Assim, e
facilmente perceptivel o crescente interesse por parte de diversas
empresas pelo tema. Termos como filantropia, cidadania corporativa,
etica e responsabilidade social das empresas passaram a figurar no
repertorio de politicos, empresarios e na midia nacional. No mesmo
sentido, e notoria a proliferacao de premios, leis e acoes canalizadas
para a adocao de comportamentos social e ambientalmente responsaveis.
Na area academica tambem e possivel perceber um grande interesse
dos pesquisadores por questoes relacionadas a atuacao socialmente
responsavel das empresas. Diversos estudos, inclusive no Brasil, vem
sendo conduzidos com o escopo de entender melhor tanto o conceito de
cidadania corporativa quanto suas diversas relacoes com questoes que
fazem parte do cotidiano das empresas, como o relacionamento com
stakeholders, lucratividade, questoes comunitarias, acompanhamento
mercadologico, entre outras. No que tange a adocao de praticas de
responsabilidade social no contexto de marketing das empresas, alguns
estudos foram conduzidos, como os de Robin e Reidenbach (1987), Maignan
e Ferrell (2001a, 2001b), Maignan, Ferrell e Ferrell (2005), Henderson (2005), Pinto e Lara (2004), Magalhaes e Damacena (2006), Castro,
Siqueira e Kubrusly (2007), Goncalves et al. (2008). O interessante a
notar e que ainda e pouco investigada a relacao existente entre a adocao
de praticas de cidadania corporativa e uma orientacao para um dos
stakeholders da empresa--os clientes. Ou seja, a preocupacao volta-se
para o conceito de orientacao para o mercado, conceito que nasceu do
esforco de um grupo de pesquisadores interessados em redescobrir os
fundamentos do marketing a fim de criar e entregar valor aos clientes.
Dado esse contexto, surgiu o interesse de empreender uma pesquisa
empirica em empresas do ramo de varejo localizadas em Belo Horizonte, a
fim de investigar a seguinte questao: "Em que grau a adocao de
estrategias de orientacao para o mercado impacta as acoes de cidadania
corporativa?". A hipotese norteadora do trabalho e a de que quanto
maior a orientacao para o mercado, maior a adocao de praticas de
cidadania corporativa. Dessa forma, coloca-se como objetivo geral do
trabalho examinar se a orientacao para o mercado pode servir de
antecedente as acoes de cidadania corporativa.
Para atingir os objetivos propostos no trabalho, desenvolveu-se uma
pesquisa descritiva por meio da tecnica estatistica denominada
coeficiente de correlacao de Pearson, com uso de estrategias
quantitativas, a partir da aplicacao de questionarios a 172 dirigentes
de empresas varejistas de Belo Horizonte.
A conducao deste trabalho justifica-se por alguns motivos. Em
primeiro lugar, conforme lembrado por Ashley (2005), a producao
brasileira no tocante a tematica responsabilidade social e cidadania
corporativa ainda tende para uma perspectiva mais opinativa, nao
recorrendo ao conhecimento academico que oferece um referencial teorico
para a sustentacao de proposicoes conceituais. Em segundo lugar, nao ha
registro de pesquisas no Brasil que tivessem buscado investigar a
relacao, proposta neste estudo, entre praticas socialmente responsaveis
e orientacao para o mercado. Em terceiro lugar, e sempre salutar lembrar
que a construcao de perspectivas de estudo que comportem areas
diferentes do saber administrativo --tais como Marketing e Gestao
Social--merece destaque, uma vez que tais abordagens costumam
representar bons avancos para todas as areas envolvidas. Por fim, os
resultados da pesquisa podem servir de auxilio na discussao, por parte
do empresariado nacional, do tema da cidadania corporativa em tipos
diversos de empresas.
O artigo exibe, de inicio, um breve referencial teorico, que esta
dividido em tres secoes. A primeira contempla discussoes referentes ao
tema responsabilidade social, com enfase na origem e desenvolvimento do
conceito e em seus fundamentos teoricos. A segunda secao busca
apresentar algumas questoes relacionadas ao conceito de cidadania
corporativa e a sua operacionalizacao. A terceira secao apresenta o
conceito de orientacao para o mercado a partir da pesquisa de alguns
autores principais desse campo de estudo. Em seguida, sao apresentados
os procedimentos metodologicos adotados no estudo, incluindo o modelo da
pesquisa e os resultados obtidos com a utilizacao de metodos
estatisticos. Ao final, as conclusoes gerais, as limitacoes da pesquisa
e sugestoes para estudos futuros sao discutidas.
2. REVISAO TEORICA
2.1. A Responsabilidade Social Empresarial
Constata-se que o assunto Responsabilidade Social Empresarial e
bastante emergente e conta com uma literatura variada e ainda pouco
convergente. E uma tematica complexa, dinamica, multidisciplinar,
aparentemente em estagio embrionario (BORGER, 2001; MOHR; WEBB, 2001),
que envolve desde a geracao de lucros pelos empresarios, em uma visao
bastante simplificada, ate a implementacao de acoes sociais no plano de
negocios da empresa, num contexto mais amplo (TENORIO, 2004). No mesmo
sentido, Kreitlon (2004) afirma que os argumentos escolhidos para
justificar o conceito sao essencialmente contraditorios, combinando
pressupostos oriundos de correntes teoricas incompativeis entre si.
De acordo com Duarte e Dias (1986), para alguns o termo representa
a ideia de obrigacao legal; para outros, impoe as empresas padroes mais
altos de comportamento; ha os que o traduzem como pratica social, papel
social e funcao social, enquanto outros o veem associado ao
comportamento eticamente responsavel ou a filantropia. Por fim, ha os
que o entendem como ser responsavel ou socialmente consciente. Vale
ressaltar a observacao de Rampinelli e Guimaraes (2006) de que quase
todas essas interpretacoes se referem a acoes que nao contribuem para
uma transformacao radical ou para a emancipacao humana, pois apenas
reforcariam a manutencao do status quo social sem conflitos.
Uma das varias definicoes do termo seria a seguinte:
Responsabilidade social empresarial e a forma de gestao que se
define pela relacao etica e transparente da empresa com todos os
publicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas
empresariais compativeis com o desenvolvimento sustentavel da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para as geracoes futuras,
respeitando a diversidade e promovendo a reducao das desigualdades
sociais (INSTITUTO ETHOS, 2007).
Entretanto, para compreender os fundamentos teoricos da
responsabilidade social empresarial vale recorrer a revisao da
literatura feita por Kreitlon (2004). Para essa autora, sao tres as
tradicoes que justificam o conceito de responsabilidade social
empresarial: Business Ethic (abordagem normativa), Business &
Society (abordagem contratual) e Social Issues Management (abordagem
estrategica). O Quadro 1 sintetiza as principais caracteristicas de cada
uma das tres tradicoes.
E importante ressaltar, na visao dessa autora, que nenhuma dessas
abordagens constitui um campo de pesquisas independente, uma vez que ha
a utilizacao de elementos conceituais de mais de uma das correntes.
Contudo, boa parte dos estudos encontrados na literatura sobre a
tematica da responsabilidade apoia-se na abordagem estrategica, ou seja,
percebe o movimento como eminentemente utilitario e instrumental.
Vale destacar que, com o passar dos anos, a abordagem utilitaria e
instrumental do conceito vem ganhando forca, uma vez que a
responsabilidade social tem sido utilizada, no discurso ou na pratica,
como um mero mecanismo de geracao de vantagem competitiva, atendendo a
funcao central da empresa capitalista que e o ganho financeiro (XAVIER;
MARANHAO, 2008). Prova disso e a inclusao nos livros tanto de
Administracao Geral quanto de Marketing ou Estrategia de discussoes
atinentes ao papel social das empresas, quase sempre entendendo-se o
conceito de responsabilidade social como um diferencial competitivo.
2.2. Cidadania Corporativa
Alguns autores chamam a performance social dos negocios de
responsabilidade social corporativa. Outros referem-se a ela como etica
corporativa. Mais recentemente, tem sido chamada de cidadania
corporativa (CARROLL, 1998). Para Davenport (2000), nos anos de 1990 a
cidadania corporativa tornou-se um termo comumente utilizado por
profissionais porque ele e o mais indicado para conotar uma serie de
comportamentos que definem a performance social corporativa. O termo,
conforme Wartick e Cochran (1985), pode ser encarado como qualquer
interacao entre negocios e ambiente social.
Contudo, Maignan (1999) salienta o fato de que, embora alguns
autores considerem cidadania corporativa e performance social
corporativa como sinonimos, distincoes poderiam ser observadas. Enquanto
a performance social corporativa investigaria questoes morais,
gerenciais e sociologicas, a cidadania corporativa focalizaria
atividades mais restritas, desenvolvidas pela organizacao com o escopo
de atender a demandas sociais mais concretas.
Como constatado por Ashley, Coutinho e Tomei (2001), apesar da
vasta literatura existente sobre responsabilidade social e cidadania
corporativa, verifica-se que as conceituacoes dos dois termos tem sido
apresentadas de forma confusa e algumas vezes contraditoria. Alguns
autores chegam ate a utilizar os termos como sinonimos. De acordo tambem
com essas autoras, o conceito de cidadania corporativa foi incorporado a
literatura muito posteriormente ao conceito de responsabilidade social
empresarial, o que pode sugerir uma nova etiqueta a um conceito ja
existente.
A revisao da literatura fornece uma grande diversidade de pontos de
vista sobre o assunto. Melo Neto e Froes (1999) entendem que o exercicio
da cidadania corporativa e resultante das acoes internas e externas de
responsabilidade social desenvolvidas pela empresa. Mcintosh et al.
(2001) afirmam que o termo diz respeito ao relacionamento entre empresas
e sociedade. Esta ultima abrangeria tanto a comunidade local que cerca
uma empresa e cujos membros interagem com seus funcionarios, quanto a
comunidade mundial mais ampla. Ademais, para esses autores, a ideia de
cidadania corporativa inclui as preocupacoes basicas dos negocios de
desenvolver a competencia empresarial, assegurar o futuro, evitando
riscos e protegendo sua reputacao, e ainda realizar-se em um lugar onde
as pessoas se sintam bem.
Outra tentativa de definicao de cidadania corporativa e feita por
Schommer e Fischer (1999). Segundo as autoras, o termo pode ser
entendido como uma relacao de direitos e deveres entre empresas e seu
ambito de relacoes. Para elas, o conceito e multifacetado e aproxima os
interesses dos negocios e seus stakeholders aos interesses da sociedade
mais genericamente. Assim, tambem na visao das autoras, o termo se
refere a um conjunto de principios, acoes e atitudes voltadas para a
valorizacao da qualidade, para o respeito ao consumidor, ao meio
ambiente e a todos os agentes que se relacionam com a empresa:
funcionarios, fornecedores, governo, clientes, comunidade, socios e
outros.
Outro ponto de vista relevante, que sera o adotado neste estudo, e
ode Maignan e Ferrell (2001b). Eles sugerem que, a partir dos trabalhos
de Carroll (1979) e Clarkson (1995), cidadania corporativa pode ser
definida como a extensao que cada negocio assume nas dimensoes
economica, legal, etica e filantropica exigidas por seus stakeholders.
Mcintosh et al. (2001) destacam alguns pontos criticos relacionados
a cidadania corporativa: governanca corporativa, meio ambiente
(incluindo o desenvolvimento sustentavel), direitos humanos e o ambiente
de trabalho (contemplando questoes como trabalho infantil, iguais
oportunidades de emprego, preconceitos contra idade e raca, orientacao
sexual, entre outras), justo comercio, investimento etico, comercio de
armamentos, bem-estar e protecao dos animais e educacao.
Embora ciente das dificuldades de conciliar tantos pontos criticos,
Martinelli (1997) salienta que a adocao de praticas de cidadania
corporativa poderia proporcionar a empresa os seguintes ganhos: maior
valor agregado a sua imagem; melhoria do clima organizacional e da
satisfacao dos funcionarios; desenvolvimento de liderancas mais
conscientes e socialmente responsaveis; reconhecimento e orgulho dos
funcionarios por participar de projetos de apoio a comunidade.
Srour (2000) tambem enfatiza aspectos positivos da adocao de
praticas de cidadania corporativa. Na visao dele, investidores, fundos
mutuos ou fundos de pensao estao concentrando suas aplicacoes em
organizacoes que respeitam o meio ambiente e as condicoes humanas de
seus empregados. O autor acrescenta que e comum o exame das estatisticas
sobre acidentes de trabalho, greves, reclamacoes judiciais ligadas a
rupturas de contratos e o nivel de transparencia das relacoes desses
investidores com a sociedade civil. No mesmo sentido, Srour (2005)
aponta o intenso processo de escolarizacao e de acesso a informacao que
tem promovido uma reorganizacao da sociedade, provocando uma maior
pressao dos grupos organizados sobre as empresas tanto publicas como
privadas, para que elas atuem de forma responsavel.
Uma integracao das diferentes perspectivas conduz aos estudos de
Carroll (1991), que propoe uma convergencia entre os conceitos de
cidadania corporativa e de responsabilidade social empresarial,
apontando quatro faces para a cidadania corporativa: economica, legal,
etica e filantropica.
O Quadro 2 mostrado a seguir apresenta comentarios sobre os
significados das quatro dimensoes da responsabilidade social segundo
Carroll (1991), que podem ser utilizados para operacionalizar o
constructo cidadania corporativa nesta pesquisa.
E importante ressaltar que, segundo Carroll (1998), as quatro faces
ou dimensoes sao intimamente relacionadas, embora elas estejam
frequentemente em conflito umas com as outras. Ainda assim, cada uma
dessas dimensoes nao existe separadamente ou isolada das outras, e o
conjunto delas significa a adocao da cidadania corporativa.
Dado o exposto, pode-se salientar que questoes referentes a etica,
responsabilidade social e cidadania corporativa tem relacao com o
desempenho de marketing e representam um papel importante no processo de
planejamento estrategico de mercado (FERRELL et al, 2000; ROBIN;
REIDENBACH, 1987).
2.3. Orientacao para o mercado
Pode-se dizer que os ultimos anos tem testemunhado um grande
interesse pelo constructo de orientacao para o mercado. Assim, avancos
conceituais tem sido acompanhados pelo desenvolvimento de muitos
instrumentos de mensuracao (NARVER; SLATER, 1990; KOHLI; JAWORSKI;
KUMAR, 1993). Alem disso, um crescente numero de pesquisas empiricas tem
usado tais medidas e analisado as consequencias da orientacao para o
mercado em uma ampla variedade de questoes organizacionais, incluindo
sucesso de novos produtos, servicos aos clientes, comprometimento da
forca de vendas, relacionamento com o canal, participacao de mercado,
lucratividade, entre outras (NARVER; SLATER, 1990; JAWORSKI; KOHLI,
1993; SLATER; NARVER, 1994).
Para Kohli e Jaworski (1990), uma empresa orientada para o mercado
e aquela que implementa e age de acordo com o conceito de marketing. A
pesquisa realizada por esses autores procurou estruturar melhor o
constructo de orientacao para o mercado, apoiando-o em tres pilares
basicos: geracao da inteligencia de mercado, disseminacao da
inteligencia de mercado gerada e capacidade de resposta da empresa a
inteligencia gerada.
Com relacao a esses tres pilares, primeiramente, Kohli e Jaworski
(1990) identificaram que a orientacao para o mercado envolve um ou mais
departamentos voltados para a compreensao das necessidades e
preferencias dos consumidores, incluindo fatores exogenos (competicao,
regulamentacao governamental, turbulencia tecnologica, entre outras
forcas ambientais) que influenciam essas necessidades e preferencias dos
consumidores, tanto presentes como futuras.
Em segundo lugar, a empresa deve disseminar essa compreensao gerada
buscando a participacao de toda a empresa, para responder efetivamente
as necessidades de mercado. Nesse caso, seria necessario disseminar o
conhecimento sobre o mercado por todos os departamentos e individuos da
empresa responsaveis pela satisfacao do cliente.
Finalmente, os varios departamentos da empresa devem estar
mobilizados para responder aos anseios dos consumidores, agindo com base
na inteligencia gerada e disseminada. Assim, a aquisicao e disseminacao
das informacoes sobre o mercado justificam-se somente quando subsidiam o
processo de tomada de decisao e a implementacao das acoes.
O estudo de Deshpande, Farley e Webster Jr. (1993) teve como
objetivo principal investigar de forma exploratoria a relacao dos
constructos centrais relativos a cultura, orientacao para o mercado e
inovacao com a performance global da empresa. Assim, definem orientacao
para o mercado como um conjunto de crencas que colocam os interesses do
cliente em primeiro lugar, nao excluindo todos os demais publicos da
organizacao, a fim de desenvolver uma empresa lucrativa no longo prazo.
Vale ressaltar que o estudo desses autores parte da ideia de que a
orientacao para o mercado e uma forma de cultura empresarial--padrao de
valores compartilhados que ajudam a compreender o funcionamento
organizacional e fornecem aos individuos normas de comportamento na
organizacao.
Deshpande, Farley e Webster Jr. (1993) consideram a orientacao para
o mercado como um sinalizador para a empresa, isto e, o conceito
enfatiza que o cliente deve ser a razao principal do negocio, o maior
valor da empresa. Assim, o foco em atender o consumidor deve estar
presente em toda a companhia, e a organizacao deve conhecer o consumidor
e os publicos que a cercam para que suas atitudes sejam consistentes com
as expectativas do mercado-alvo.
Para Day (2001), uma boa definicao de uma empresa orientada para o
mercado seria a de que e aquela que tem "uma capacidade mais
elevada para compreender, atrair e manter clientes importantes"
(DAY, 2001:19). Assim, na visao do autor, as empresas orientadas para o
mercado sao aquelas que conhecem muito bem seus mercados, identificam
seus clientes valiosos e nao tem escrupulos em desencorajar aqueles
compradores que drenam lucros. Dessa forma, orientar-se para o mercado e
ter disciplina para fazer opcoes estrategicas saudaveis e implanta-las
de forma coerente e completa.
Para isso, num de seus primeiros estudos sobre o tema, Day (1994)
enfatiza que uma empresa orientada para o mercado deveria levar em
consideracao os papeis da cultura, da obtencao e utilizacao da
informacao e da coordenacao interfuncional. De acordo com esse autor,
cada empresa possui capacidades distintas que suportam sua posicao e
atuacao no mercado. Essas capacidades sao um conjunto de experiencias,
conhecimentos e habilidades acumulados, presentes na empresa ao longo de
seus processos e que lhe possibilitam coordenar atividades e fazer uso
de seus recursos.
Dessa forma, Day (1994) classifica essas capacidades em tres
categorias: 1) capacidades internas, que correspondem ao desenvolvimento
de habilidades referentes ao ambiente interno da empresa, como financas,
operacoes, recursos humanos, tecnologia e outras; 2) capacidades
externas, que dizem respeito ao desenvolvimento de habilidades
referentes ao ambiente de mercado, como relacionamento com consumidores,
desenvolvimento de canais, analise da competicao; 3) capacidades que
unem as internas e externas, que sao representadas por servicos ao
consumidor, preco, compras e outras.
De acordo com Narver e Slater (1990), a orientacao para o mercado
consiste em tres componentes comportamentais--orientacao para os
clientes, orientacao para os concorrentes e coordenacao
interfuncional--e dois criterios de decisao--foco no longo prazo e
lucratividade.
Para os autores, o primeiro componente comportamental--orientacao
para os clientes envolve a compreensao de mercados-alvo e a capacidade
de criar valor superior para esses mercados de forma continuada. Dessa
maneira, seria necessaria a criacao de uma serie de atividades para
adquirir e disseminar informacoes sobre os compradores e competidores. O
segundo componente comportamental e a orientacao para os concorrentes,
visto que a empresa precisa compreender as forcas e fraquezas de curto
prazo de seus concorrentes atuais e potenciais, alem de prever as
capacidades e estrategias de longo prazo desses concorrentes.
Finalmente, o ultimo componente e a coordenacao interfuncional, que pode
ser entendida como a utilizacao dos recursos da empresa para gerar valor
superior para os consumidores-alvo, responsabilidade que e de toda a
empresa e nao unicamente do departamento de marketing.
Vale ressaltar que escolheu-se, para fins de aplicacao neste
trabalho, respeitando-se os conceitos empregados no trabalho original, a
escala de Orientacao para o Mercado (MKTOR), de Narver e Slater (1990).
A escolha dessa escala se justifica por alguns motivos. Em primeiro
lugar, pelo fato de que, por ser uma das escalas mais utilizadas em
outros estudos no Brasil, ja esta devidamente validada no contexto
brasileiro. Em segundo lugar, o conceito de Orientacao para o Mercado
advogado por Narver e Slater (1990) leva em consideracao questoes de
cunho cultural, o que e coincidente com a relacao proposta neste
trabalho.
[FIGURE 1 OMITTED]
3. O MODELO DA PESQUISA
Para responder ao problema de pesquisa proposto, optou-se por
partir de um modelo conceitual que contivesse a relacao hipotetizada
entre os constructos Orientacao para o Mercado e Cidadania Corporativa,
conforme mostra a Figura 1.
4. PERCURSO METODOLOGICO
Para atingir os objetivos propostos no trabalho, desenvolveu-se uma
pesquisa descritiva e foram utilizadas estrategias quantitativas. Como
desenho mais apropriado para a presente pesquisa, optou-se pelo survey
interseccional (MALHOTRA, 2001), visto o escopo da pesquisa
constituir-se numa descricao de tempo unico e na determinacao de
relacoes entre variaveis.
A amostra utilizada pode ser caracterizada como nao probabilistica
(MALHOTRA, 2001). Ela foi obtida por julgamento e por acessibilidade a
partir de uma lista fornecida pela CDL-BH (Camara dos Dirigentes
Lojistas de Belo Horizonte), que continha cerca de 600 empresas de ramos
distintos de varejo localizadas em Belo Horizonte. Foram obtidos 172
(cento e setenta e dois) questionarios 'validos', excluindo-se
aqueles que apresentaram erros de preenchimento e respostas faltantes.
Esse numero foi considerado satisfatorio quando se esgotaram as
possibilidades de que novos respondentes corresponderiam a um perfil de
empresa adequado para a pesquisa, que era: ser do comercio varejista,
estar localizada na cidade de Belo Horizonte e ter entre 10 e 50
funcionarios. Dessa forma, pode-se afirmar que as unidades de analise do
estudo foram compostas das empresas do ramo de varejo localizadas em
Belo Horizonte. Ja as unidades de observacao foram os proprietarios,
diretores ou gerentes dessas empresas.
Utilizou-se o metodo de entrevistas para coletar os dados. A fim de
minimizar o tempo de coleta de dados, selecionou-se um grupo de cinco
entrevistadores, que foram devidamente treinados para fazer o trabalho.
Os entrevistadores receberam um treinamento no tocante as regras de
entrevista, como aparencia, postura e comportamento, e foram submetidos
a um curso de curta duracao, no qual discutiram-se minuciosamente os
objetivos da pesquisa, as teorias envolvidas no estudo e o conteudo de
cada questao contemplada no instrumento de coleta de dados.
O instrumento utilizado para a coleta de dados foi o questionario.
Esse instrumento foi composto de questoes dos seguintes tipos: (1)
caracterizacao da empresa (numero de empregados, tempo de atuacao no
mercado, responsavel pelas informacoes, integrante de grupo de lojas,
etc.); (2) escalas referentes aos constructos cidadania corporativa e
suas quatro dimensoes e orientacao para o mercado. Cabe ressaltar que
essas escalas foram devidamente adaptadas e validadas para serem
utilizadas no Brasil.
Para operacionalizar o constructo de cidadania corporativa
utilizou-se a escala com vinte e seis variaveis desenvolvida por Maignan
e Ferrell (2001a), baseada nos estudos de Carroll (1991), que propoe
quatro dimensoes da cidadania corporativa: economica, legal, etica e
filantropica. Na operacionalizacao do constructo de orientacao para o
mercado considerou-se a escala de Orientacao para o Mercado (Escala
MkTor de Narver e Slater, 1990), que se refere aos constructos
Orientacao para os Clientes, Orientacao para os Concorrentes e
Coordenacao mterfuncional. O questionario utilizado na pesquisa pode ser
visualizado no Apendice I.
Foram utilizadas escalas do tipo Likert de cinco pontos. Os
respondentes deveriam manifestar-se de acordo com o comportamento de sua
empresa, assinalando de (1) Discordo Totalmente a (5) Concordo
Totalmente. Os pontos intermediarios da escala deveriam ser utilizados
para situacoes intermediarias.
Uma medida global para cada um dos constructos de orientacao para o
mercado (OC, OO e CI) e de cidadania corporativa (CE, CL, CT e CF) foi
calculada a partir da media aritmetica simples das respostas dadas as
questoes que funcionaram como seus respectivos indicadores. Nesse
procedimento de agregacao de escalas (summated scales) as variaveis
latentes foram transformadas em variaveis observaveis (MALHOTRA, 2001;
CHURCHILL, 1999).
Com o intuito de avaliar a relacao entre as praticas de orientacao
para o mercado e cidadania corporativa, utilizou-se a analise de
correlacao de Pearson. Segundo Malhotra (2001), o coeficiente de
correlacao (r) e um indice que serve para determinar se existe uma
relacao linear entre duas variaveis, isto e, indica o grau em que a
variacao de uma variavel X esta relacionada com a variacao de outra
variavel Y.
5. APRESENTACAO E ANALISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA
A analise descritiva dos dados permite afirmar que a amostra foi
composta de empresas com pouca idade, visto que 38,9% delas tem ate 10
anos de idade, 24,3% tem de 11 a 20 anos, 12,5% tem de 21 a 30 anos e
24,3% tem mais de 30 anos de atuacao no mercado varejista. Com relacao
ao numero de funcionarios, 27,1% das empresas possuem ate 10
funcionarios, 42,3% das empresas contam com um numero de funcionarios
que vai de 11 a 20, 25% das empresas tem de 21 a 50 funcionarios e
somente 5,6% das empresas pesquisadas ultrapassam o numero de 50
funcionarios. Outro dado importante esta relacionado a participacao da
empresa em rede de franquias: 86,1 % disseram nao fazer parte de uma
rede de franquia. A maioria dos entrevistados (68,1%) disse ser ou
gerente ou diretor das empresas pesquisadas.
Para a analise da confiabilidade das escalas utilizou-se o alfa de
Cronbach. Como a escala MKTOR e composta, teoricamente, de tres
dimensoes e a escala de cidadania corporativa por quatro dimensoes, o
calculo da confiabilidade foi realizado separadamente para cada uma das
dimensoes e para a escala completa (MALHOTRA, 2001). Os valores do alfa
de Cronbach para as escalas utilizadas neste trabalho estao indicados na
Tabela 1.
Pode-se observar que os valores relativos aos constructos
referentes a orientacao para o mercado ficaram muito proximos dos
valores minimos estabelecidos por Malhotra (2001), que considera um
valor menor de 0,60 como de confiabilidade insatisfatoria de
consistencia interna. Quanto as escalas dos constructos da cidadania
corporativa, verificou-se que elas tem uma confiabilidade satisfatoria,
pois todos os valores de alfa de Cronbach ficaram acima de 0,77.
Para verificar o grau de adocao de praticas de cidadania
corporativa e o nivel de orientacao para o mercado das empresas
pesquisadas, optou-se por calcular uma medida global para cada um dos
constructos utilizados no estudo a partir da media aritmetica simples
das respostas dadas as questoes que funcionaram como seus respectivos
indicadores. Sendo assim, a Tabela 2 apresenta os resultados das medias
de cada um dos constructos.
Pode-se observar que todas as dimensoes da cidadania corporativa
foram bem avaliadas pelos respondentes da pesquisa. O destaque ficou por
conta da cidadania legal, que apresentou uma media alta (4,40). Outras
duas dimensoes da cidadania corporativa--etica e economica--tambem
obtiveram medias altas. Contudo, pode-se verificar uma menor preocupacao
por parte dos gestores das empresas pesquisadas com a cidadania
filantropica, que exibiu a menor media--3,34. O resultado evidencia uma
pequena participacao das empresas do setor varejista de Belo Horizonte
em acoes voltadas para a dimensao filantropica da cidadania corporativa.
Esses resultados sao coerentes com os de um estudo conduzido tambem no
comercio varejista de Belo Horizonte por Pinto (2003).
Quanto ao constructo de orientacao para o mercado, pode-se afirmar
tambem que as tres dimensoes foram bem avaliadas, pois apresentaram
medias acima de 3,68. Isso parece levar a conclusao de que as empresas
varejistas pesquisadas tem uma preocupacao com o mercado.
A fim de atingir o objetivo da pesquisa, que era verificar se
existe uma relacao entre praticas de orientacao para o mercado e acoes
de cidadania corporativa, foi utilizada a tecnica estatistica
multivariada denominada Analise de Correlacao. A Tabela 3 apresenta os
resultados obtidos.
Pode-se perceber que todas as correlacoes entre os constructos
foram consideradas significativas, com p < 0,01. Esses resultados
levam a constatacao de que existe uma correlacao significativa e
positiva entre praticas de orientacao para o mercado e acoes de
cidadania corporativa. Vale destacar tambem que boa parte dos indices de
correlacao podem ser considerados fortes, visto que apresentam r acima
de 0,50, com excecao da cidadania legal, na qual se verifica coeficiente
por volta de 0,30. Ou seja, os resultados afirmam que quanto mais a
empresa se orienta para o mercado (seja orientando-se para seus clientes
e seus concorrentes, seja coordenando interfuncionalmente esses
esforcos), maior e a sua preocupacao com questoes relacionadas as
dimensoes economica, legal, etica e filantropica da cidadania
corporativa.
6. REFLEXOES FINAIS
A titulo de conclusao, alguns pontos do trabalho merecem ser
ressaltados. Inicialmente, cabe comentar que, coincidentemente com o
estudo conduzido por Pinto (2003) tambem sobre o comercio varejista de
Belo Horizonte, verificou-se que a dimensao legal foi a mais bem
avaliada pelos dirigentes das empresas pesquisadas, o que coloca em
relevo a preocupacao destas em seguir a legislacao em suas diferentes
esferas. Interessante tambem e o resultado referente a dimensao
filantropica, que ficou com a pior media. De forma geral, pode-se
afirmar que as empresas nao estao engajadas de fato em questoes
filantropicas episodicas, como incentivar os funcionarios a participar
de acoes que apoiam a comunidade em que estao inseridos, contribuir para
entidades de caridade, incentivar a formacao de parcerias com empresas e
escolas da comunidade, apoiar atividades desportivas e culturais locais,
entre outras. Em segundo lugar, vale considerar que o objetivo do
trabalho foi atingido, uma vez que o interesse era empreender uma
pesquisa empirica em empresas do ramo de varejo localizadas em Belo
Horizonte, por meio da qual fosse possivel verificar se existe uma
relacao entre a adocao de praticas de orientacao para o mercado e acoes
de cidadania corporativa. Os resultados parecem levar a conclusao de que
essa relacao existe, pois a correlacao entre os constructos e
significativa e positiva.
Dessa forma, algumas reflexoes podem ser conduzidas. Ha uma clara
sinalizacao de que a orientacao para o mercado pode ser considerada um
antecedente da cidadania corporativa. Isso quer dizer que uma empresa
que se preocupa em atender aos anseios do mercado, seja orientando-se
para os clientes, seja focando os concorrentes, tende a praticar acoes
de cidadania corporativa. Sendo assim, o trabalho apresenta uma
contribuicao no sentido de proporcionar um apoio no processo de
incorporacao da cidadania corporativa no planejamento de marketing das
empresas.
Contudo, essa reflexao podera ir mais longe, principalmente se
buscar verificar quais sao os pontos de contato e de divergencia entre
os dois conceitos. Conforme a discussao conduzida na secao de revisao
teorica, os pontos de contato sao bastante obvios. Enquanto a orientacao
para o mercado deve ser encarada como uma estrategia para ampliar a
capacidade das organizacoes de obter vantagens competitivas
sustentaveis, uma vez que ela permite o desenvolvimento (e a manutencao)
de uma cultura empresarial que estimula comportamentos necessarios a
criacao de valor superior para o cliente, a cidadania corporativa almeja
integrar os anseios de todos os stakeholders para garantir a
sustentabilidade do negocio. Ora, parece logico que os dois conceitos
concordam sobre a importancia de um dos stakeholders do negocio--o
cliente. A grande questao, porem, e verificar os pontos de discordancia
entre os dois conceitos. Nesse sentido, o que soa conflitante e que,
muitas vezes, um negocio nao se resume a atender ao mercado. Para uma
empresa ser considerada cidada, conforme apresentado neste trabalho, e
essencial que ela concilie todas as dimensoes--economica, legal, etica e
filantropica--da cidadania corporativa, levando em consideracao todos os
stakeholders, sem excecao. Dai decorre a constatacao de que a orientacao
para o mercado tende a constituir-se apenas em uma das facetas da
cidadania corporativa.
Ainda que essa discussao mereca maiores reflexoes a luz tambem das
abordagens normativa, contratual e estrategica propostas por Kreitlon
(2004) e discutidas na secao de revisao teorica deste trabalho, cabe
assinalar que essa problematica pode constituir-se num possivel tema
para estudos futuros baseados nos resultados deste trabalho. Nao
obstante a complexidade do tema, fica registrado aqui um convite aos
pesquisadores da area para enveredarem por essa seara de investigacoes.
Como registrado durante o trabalho, as unidades de observacao do
estudo foram proprietarios, diretores, gerentes ou funcionarios que
atuassem em funcao de comando nas empresas pesquisadas. Como a adocao
tanto de praticas de cidadania corporativa quanto de orientacao para o
mercado leva em consideracao todos os publicos da empresa e afeta todos
eles, seria importante que trabalhos futuros mensurassem as opinioes de
outros grupos de stakeholders, como concorrentes, clientes e
funcionarios. Complementarmente, essas diferentes visoes poderiam ser
confrontadas com o objetivo de verificar possiveis convergencias na
perspectiva de cada um desses grupos.
Na pesquisa, optou-se pela utilizacao das escalas de cidadania
corporativa e lealdade dos clientes propostas por Maignan e Ferrell
(2001a) e pela escala de orientacao para o mercado desenvolvida por
Narver e Slater (1990). Em trabalhos futuros, outras escalas e
instrumentos poderiam ser incluidos e seus resultados confrontados. Uma
sugestao seria a utilizacao do conjunto de indicadores formulado pelo
Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
Por fim, algumas limitacoes deste estudo tambem podem ser
assinaladas, juntamente com as reflexoes finais. Como bem enfatizado por
Mohr e Webb (2001), neste tipo de estudo, em que sao empregados surveys,
e bastante comum a ocorrencia do chamado vies de desejabilidade social.
Tal vies e resultante de respostas que nao sao baseadas naquilo que o
respondente realmente acredita, mas no que percebe ser socialmente
apropriado. Sendo assim, e facilmente perceptivel que, no tocante as
questoes que procuravam mensurar o nivel de adocao de praticas de
cidadania corporativa, algum vies de desejabilidade social interferiu
nas respostas. Outra questao importante refere-se ao fato de inexistirem
no Brasil pesquisas que avaliem a relacao proposta neste estudo. Isso
pode constituir uma limitacao, pois nao permite afirmar que os
resultados podem ser comparados com outros estudos.
Recebido em: 11/9/2009
Aprovado em: 21/9/2009
APENDICE I--QUESTIONARIO UTILIZADO NA PESQUISA
Cuestionario -- Data: -- Nome do Pesquisador: --
1a parte -- Perfil da empresa
(01) A empresa faz parte de um grupo ?
( ) Sim. Quantos estabelecimentos compoem o grupo ? --
( ) Nao
(02) Idade da empresa (em anos): --
(03) A empresa faz parte de uma rede de franquia ?
( ) Sim ( ) Nao
(04) Qual o numero total de funcionarios da empresa ? --
(05) Cargo de quem esta respondendo o questionario:
( ) Proprietario
( ) Gerente/Diretor
( ) Vendedor
( ) Outro. Qual ? --
As proximas questoes devem ser respondidas marcando-se um X na
escala de 1 a 5 que segue cada frase. Esta escala refere-se ao
grau de concordancia com a frase. Nao existe resposta certa ou
errada. Faca a escolha levando em consideracao as praticas adotadas
por sua empresa atualmente e nao o que voce julga apropriado.
--1-- --2-- --3-- --4-- --5--
Discordo Discordo em Nao concordo Concordo em Concordo
totalmente parte nem discordo parte totalmente
2a parte--Questoes referentes a Cidadania Corporativa
(06) Nossa empresa tem procedimentos para 1 2 3 4 5
dos atender a qualquer reclamacao
clientes
(07) Nos melhoramos continuamente a 1 2 3 4 5
qualidade de nossos produtos
(08) Nos usamos a satisfacao do cliente 1 2 3 4 5
como desempenho um indicador de nosso
empresarial
(09) Nos temos maximizado o nosso lucro 1 2 3 4 5
com exito
(10) Nos nos esforcamos para reduzir 1 2 3 4 5
nossos custos operacionais
(11) Nos monitoramos cuidadosamente a 1 2 3 4 5
produtividade dos nossos funcionarios
(12) Os responsaveis pela administracao 1 2 3 4 5
estabelecem estrategias de longo
prazo para nossa empresa
(13) Todos os produtos que comercializamos 1 2 3 4 5
estao em conformidade com as normas
legais
(14) As nossas obrigacoes contratuais sao 1 2 3 4 5
sempre cumpridas
(15) Os gerentes desta empresa sempre 1 2 3 4 5
tentam cumprir a lei
(16) A nossa empresa busca cumprir todas 1 2 3 4 5
as leis que regulam a contratacao
de funcionarios e os seus beneficios
(17) Nos incentivamos a diversidade de 1 2 3 4 5
nossa mao de obra (no que diz respeito
a idade, genero ou raca)
(18) Nossas politicas impedem a 1 2 3 4 5
discriminacao na compensacao e na
promocao de funcionarios
(19) A nossa empresa tem um codigo de 1 2 3 4 5
conduta conhecido por todos
os funcionarios
(20) Os nossos gerentes analisam os 1 2 3 4 5
efeitos das nossas atividades
negativos para nossa comunidade
(21) Nos somos reconhecidos como uma 1 2 3 4 5
companhia confiavel
(22) Nossos funcionarios seguem padroes 1 2 3 4 5
eticos no tratamento a nossos
fornecedores e parceiros comerciais
(23) Existe um procedimento confidencial 1 2 3 4 5
para que os funcionarios possam
apresentar reclamacoes sobre qualquer
ma conduta no trabalho (por exemplo,
roubo ou assedio sexual)
(24) Os nossos vendedores sao obrigados a 1 2 3 4 5
fornecer informacoes completas e
precisas a todos os nossos clientes
(25) A nossa empresa apoia empregados que 1 2 3 4 5
adquirem qualificacao adicional
(26) A nossa empresa incentiva os 1 2 3 4 5
funcionarios a participar de acoes
que apoiem a nossa comunidade
(27) As politicas da nossa empresa sao 1 2 3 4 5
flexiveis, permitindo aos empregados
uma melhor coordenacao entre trabalho
e vida pessoal
(28) A nossa empresa contribui para 1 2 3 4 5
entidades de caridade
(29) Existe um programa para reduzir o 1 2 3 4 5
desperdicio de energia e materiais
em nossa empresa
(30) Nos incentivamos a formacao de 1 2 3 4 5
parcerias com empresas e escolas da
comunidade
(31) A nossa empresa apoia atividades 1 2 3 4 5
desportivas e culturais locais
3a parte--Questoes referentes a Orientacao para o Mercado
(32) Nosso pessoal de venda compartilha 1 2 3 4 5
informacoes com as demais areas da
empresa sobre o que os nossos
concorrentes estao fazendo
(33) Os objetivos da nossa empresa sao 1 2 3 4 5
direcionados primeiramente para a
satisfacao dos clientes
(34) Nos rapidamente respondemos as acoes 1 2 3 4 5
da concorrencia que nos ameacam
(35) Nos constantemente monitoramos nosso 1 2 3 4 5
grau de comprometimento com a
satisfacao das necessidades dos
clientes
(36) Os responsaveis pela administracao da 1 2 3 4 5
nossa empresa visitam regularmente
nossos clientes atuais e os potenciais.
ou se mantem em contato com eles
(37) Aqui na empresa as pessoas das 1 2 3 4 5
diferentes areas trocam livremente
informacoes sobre as experiencias de
sucesso e de insucesso dos clientes
(38) O nosso diferencial competitivo em
relacao aos nossos concorrentes e
baseado na compreensao que temos das
necessidades dos clientes
(39) Todas as nossas areas funcionais (como 1 2 3 4 5
marketing, vendas, producao,
financeira, etc.) sao integradas
para o atendimento das necessidades
de nossos clientes-alvo
(40) Nossas estrategias de negocio sao 1 2 3 4 5
direcionadas por nossas crencas sobre
como podemos criar maior valor para
os clientes
(41) Nos medimos a satisfacao dos clientes 1 2 3 4 5
periodicamente
(42) Nos damos muita atencao ao servico 1 2 3 4 5
de pos-venda
(43) Os responsaveis pela administracao da 1 2 3 4 5
empresa discutem regularmente os
pontos fortes e fracos dos nossos
concorrentes
(44) Os nossos gerentes compreendem 1 2 3 4 5
(saberiam dizer) como cada uma das
pessoas em nossa empresa pode
contribuir para a criacao de valor
para os clientes
(45) Nos definimos nosso mercado-alvo 1 2 3 4 5
quando identificamos que temos uma
oportunidade para oferecer-lhe um
diferencial competitivo
(46) Nos compartilhamos algum tipo de 1 2 3 4 5
recurso (financeiro, logistico, marca,
tradicao, escala de compra, etc.) com
outros negocios do mesmo grupo
empresarial a que pertencemos
7. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Marcelo de Rezende Pinto
Doutor em Administracao pelo CEPEAD/UFMG
Professor do Departamento de Administracao da Pontificia
Universidade Catolica de Minas Gerais--Belo Horizonte, MG, Brasil
E-mail:
[email protected]
Michele Cristina Duarte da Silva
Graduada em Administracao pela Pontificia Universidade Catolica de
Minas Gerais Belo Horizonte, MG, Brasil
E-mail:
[email protected]
(1) A traducao literal do termo para o portugues nao existe. Embora
os autores nacionais utilizem traducoes como interessados, partes
interessadas, grupos de interesse, parceiros, etc. para designar o
conceito, neste projeto optou-se por conservar o termo em ingles.
Entretanto, a definicao que sera adotada no presente estudo e dada por
Clarkson (1995). Esse autor estabelece que stakeholders sao pessoas ou
grupos que tem ou reivindicam a posse de direitos ou interesses em uma
organizacao.
Quadro 1: Abordagens sobre o conceito de responsabilidade social
Abordagem Caracteristicas principais
Normativa A abordagem normativa estabelece que a empresa e
suas atividades estao sujeitas ao julgamento
etico. A responsabilidade social da empresa
decorre de sua responsabilidade moral, isto e, a
empresa precisa agir de modo socialmente
responsavel porque e seu dever moral faze-lo.
Tem forte base filosofica e apresenta uma
tendencia normativa.
Contratual Esta abordagem apoia-se basicamente em tres
pressupostos: a) empresa e sociedade sao parte de
um mesmo sistema em constante interacao; b) ambas
estao ligadas por um contrato social; c) a empresa
esta sujeita ao controle da sociedade. Procura
justificar a responsabilidade social por meio de
uma perspectiva sociopolitica, voltada aos
interesses dos diferentes grupos de atores
sociais com os quais a empresa interage--os
stakeholders.
Estrategica Esta abordagem busca fornecer ferramentas praticas
de gestao, capazes de melhorar o desempenho etico
e social da empresa. Defende que, a medio e longo
prazos, o que e bom para a sociedade, e bom para a
empresa. Baseia-se em tres argumentos principais:
a) a empresa pode beneficiar-se das oportunidades
de mercado decorrentes de transformacoes nos
valores sociais; b) o comportamento socialmente
responsavel pode garantir-lhe uma vantagem
competitiva; c) uma postura proativa pode
antecipar-se a novas legislacoes. Esta
abordagem pode ser chamada de utilitaria ou
instrumental.
Fonte: Adaptado de Kreitlon (2004).
Quadro 2: Significado das quatro dimensoes da Cidadania Corporativa
segundo Carroll (1991)
Dimensoes Significado
Economica A dimensao economica incluiria as obrigacoes para
a empresa ser produtiva, lucrativa e atender as
expectativas dos acionistas de obter retorno sobre
o investimento. Todos os outros papeis dos
negocios sao atributos derivados desse pressuposto
fundamental.
Legal A dimensao legal requer que o negocio acrescentea
sua missao economica um respeito as leis e aos
regulamentos. A sociedade espera que os negocios
oferecam produtos dentro das normas de seguranca
e obedecam a regulamentacoes governamentais.
etica A dimensao etica leva em consideracao principios e
padroes que definem a conduta aceitavel determinada
pelo publico, orgaos regulamentadores, grupos
privados interessados, concorrentes e a propria
organizacao. A tomada de decisoes deve ser feita
considerando-se as consequencias das acoes,
honrando-se o direito dos outros, cumprindo-se
deveres e evitando-se prejudicar os outros.
Filantropica A dimensao filantropica preve que o negocio deve
estar envolvido com a melhoria da sociedade por
meio da responsabilidade legal, etica e economica,
bem como da adocao de praticas filantropicas. A
dimensao filantropica preve atividades que sao
guiadas pelo desejo dos negocios de se engajar em
papeis sociais nao legalmente obrigatorios, mas
que estao se tornando cada vez mais estrategicos.
Fonte: CARROLL, 1991; CARROLL, 1998; MAIGNAN; FERRELL, 2001a.
Tabela 1: Confiabilidade das escalas
Conceito Constructo [alpha]
Cronbach
Cidadania Corporativa Dimensao Economica (CE) 0,804
Dimensao Legal (CL) 0,834
Dimensao Etica (CT) 0,774
Dimensao Filantropica (CF) 0,824
Orientacao para Orientacao para Clientes (OC) 0,704
o mercado Orientacao para Concorrentes (OO) 0,686
Coordenacao Interfuncional (CI) 0,618
Fonte: Dados da pesquisa (2008).
Tabela 2: Medias das Dimensoes do constructo Cidadania
Corporativa, Orientacao para o Mercado, Orientacao
Competitiva e Orientacao Humanistica
Constructo Media
Cidadania Economica (CE) 4,14
Cidadania Legal (CL) 4,40
Cidadania Etica (CT) 3,99
Cidadania Filantropica (CF) 3,34
Cidadania Corporativa (CC) 3,95
Orientacao para os Clientes (OCL) 4,02
Orientacao para os Concorrentes (OCR) 3,95
Coordenacao Interfuncional (CIF) 3,68
Orientacao para o Mercado (OM) 3,89
Fonte: Dados da pesquisa (2008).
Tabela 3: Coeficientes de Correlacao de Pearson entre as Dimensoes
da Cidadania Corporativa e Orientacao para Mercado
Orientacao Orientacao
Clientes (OC) Concorrentes
(OO)
Cid. Economica (CE) 0,458 * 0,557 *
Cid. Legal (CL) 0,367 * 0,323 *
Cid. Etica (CT) 0,498 * 0,395 *
Cid. Filantropica (CF) 0,528 * 0,395 *
Cid. Corporativa (CC) 0,589 * 0,522 *
Coordenacao Orientacao para o
Interfuncional Mercado (OM)
(CI)
Cid. Economica (CE) 0,371 * 0,528 *
Cid. Legal (CL) 0,392 * 0,421 *
Cid. Etica (CT) 0,508 * 0,547 *
Cid. Filantropica (CF) 0,578 * 0,589 *
Cid. Corporativa (CC) 0,594 * 0,663*
Nota: * p < 0,01
Fonte: Dados da pesquisa (2008).