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文章基本信息

  • 标题:Young entrepreneurship and family influence: the life history of a successful young girl/Empreendedorismo jovem e a influencia da familia: a historia de vida de uma empreendedora de sucesso/El espiritu empresarial joven y la influencia de la familia: la historia de vida de una emprendedora de suceso.
  • 作者:Teixeira, Rivanda Meira ; Ducci, Norma Pimenta Cirilo ; Sarrassini, Noeli dos Santos
  • 期刊名称:Revista de Gestao USP
  • 印刷版ISSN:1809-2276
  • 出版年度:2011
  • 期号:January
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade - FEA-USP
  • 摘要:As micro e pequenas empresas (MPEs) tem papel de destaque e significativa importancia no desenvolvimento economico e social de um pais, contribuindo para a geracao de emprego e renda e a criacao de riquezas. No Brasil, segundo dados do Anuario do Trabalho na Micro e Pequena Empresa publicado em 2008, a participacao de micro e pequenas empresas entre 2002 e 2006, no conjunto dos estabelecimentos formais brasileiros, foi macica, correspondendo a 98% do total. Segundo esse anuario, essas empresas foram responsaveis por 43% dos postos de trabalho formal urbano criados no pais entre 2002 e 2006 (SEBRAE, 2009).
  • 关键词:Businesspeople;Entrepreneurs;Entrepreneurship

Young entrepreneurship and family influence: the life history of a successful young girl/Empreendedorismo jovem e a influencia da familia: a historia de vida de uma empreendedora de sucesso/El espiritu empresarial joven y la influencia de la familia: la historia de vida de una emprendedora de suceso.


Teixeira, Rivanda Meira ; Ducci, Norma Pimenta Cirilo ; Sarrassini, Noeli dos Santos 等


1. INTRODUCAO

As micro e pequenas empresas (MPEs) tem papel de destaque e significativa importancia no desenvolvimento economico e social de um pais, contribuindo para a geracao de emprego e renda e a criacao de riquezas. No Brasil, segundo dados do Anuario do Trabalho na Micro e Pequena Empresa publicado em 2008, a participacao de micro e pequenas empresas entre 2002 e 2006, no conjunto dos estabelecimentos formais brasileiros, foi macica, correspondendo a 98% do total. Segundo esse anuario, essas empresas foram responsaveis por 43% dos postos de trabalho formal urbano criados no pais entre 2002 e 2006 (SEBRAE, 2009).

Quando se fala em pequena empresa, imediatamente se pensa na figura do empreendedor. Para Chagas e Freitas (2001), ser empreendedor ou atuar em uma profissao depende de caracteristicas pessoais e do ambiente, alem de outros fatores. Afirmam ainda esses autores que, apesar de existirem pessoas que demonstram atributos empreendedores desde muito cedo, tornar-se empreendedor implica nao apenas encontrar ou identificar oportunidades de negocio, mas tambem ter acao e realiza-las.

Empreendedorismo e geralmente associado a iniciativa, desembaraco, inovacao, possibilidades de fazer coisas novas e/ou de maneira diferente, assim como a capacidade de assumir riscos. Subentende-se dai que as pessoas empreendedoras estao sempre prontas para agir, desde que existam, no meio em que atuam, condicaes propicias e apoio.

Autores como Filion (1999), Pati (1995), Dolabela (1999a, 1999b) e Garcia (2001) concordam em que ha mais chances de uma pessoa se tornar empreendedora se houver um modelo na familia ou no meio em que vive. Outros autores, como McClelland (1972) e Dolabela (2002), apresentam as caracteristicas do empreendedor, dentre as quais algumas se destacam, como a persistencia, a persuasao, a rede de contatos, a independencia, a perseveranca e a tenacidade.

Apesar da profusao de estudos sobre esses temas, ainda ha espaco para novos elementos de reflexao. A historia de vida relatada neste artigo e um exemplo disso--a de uma jovem empreendedora que, aos 13 anos, comecou a montar bijuterias em casa numa cidade do norte do Parana e hoje, aos 19 anos, tem uma historia bem-sucedida nos negocios. O objetivo central deste artigo e analisar os fatores que influenciaram essa jovem empreendedora a iniciar o seu negocio. Especificamente, pretende-se analisar a influencia da familia na formacao do negocio e identificar as caracteristicas mais marcantes que contribuiram para o sucesso deste ao longo desses seis anos.

Inicialmente, apresenta-se a revisao teorica pertinente aos temas identificados como relevantes para fundamentar o estudo; em seguida, e apresentada a metodologia da pesquisa baseada na historia de vida da empreendedora e, finalmente, irrompem as conclusaes do estudo realizado.

2. EMPREENDEDORISMO E CARACTERISTICAS EMPREENDEDORAS

O interesse pelo estudo do entrepreneurship cresceu rapidamente nos anos 80 (FILION, 1997). Esse periodo foi marcado por dois acontecimentos importantes: a publicacao da primeira enciclopedia contendo o state of the art dessa area do conhecimento (KENT; SEXTON; VESPER, 1982) e a realizacao da primeira grande conferencia do Babson College dedicada a divulgacao das investigacoes realizadas. Essa conferencia vem se repetindo todos os anos, e a publicacao dos conteudos sob o titulo Frontiers of Entrepreneurship Research constitui importante contribuicao aos temas em discussao nessa area do conhecimento cientifico (RAPOSO; SILVA, 2000).

Paiva Jr. e Cordeiro (2002), na conclusao do trabalho que realizaram sobre a evolucao dos estudos acerca do empreendedorismo na producao academica brasileira, classificaram o tema como "emergente no cenario de publicacaes" e enfatizaram a necessidade de fortalecimento do constructo e de reconducao das abordagens que atribuem ao empreendedorismo apenas a geracao de novos negocios. Rimoli et al. (2004) trazem outra caracteristica dos estudos a respeito do empreendedorismo: a falta de consenso sobre a definicao do tema. Afirmam que, desde Cantillon, em 1755, os enfoques sao diversos e vem mudando com o passar dos anos.

De acordo com Filion (1999), duas correntes de pensamento abordam diferentemente o conceito de empreendedorismo: os economistas o associam a inovacao e os comportamentalistas se concentram no individuo, em suas caracteristicas, intuicao e criatividade. Podem-se citar como representantes da primeira corrente Cantillon, Say e Schumpeter; da segunda, McClelland e Filion. Schumpeter, como representante mais destacado da primeira corrente, nao se limitou a associar empreendedores a inovacao--mostrou tambem sua importancia para o desenvolvimento economico. Ja McClelland associou a ciencia do comportamento ao empreendedorismo, dando origem a outra abordagem do assunto. Para esse pesquisador, os individuos empreendedores possuem caracteristicas especificas que os diferenciam dos demais (FILION, 1999).

Para Drucker (1985), o entrepreneurship nao e um estado de ser nem e caracterizado pela elaboracao de planos que nao se seguem. O entrepreneurship comeca com acao, e essa acao e a criacao de uma nova empresa. Essa empresa pode ou nao ter sucesso, mas quando um individuo cria uma empresa, da inicio ao fenomeno do entrepreneurship.

Gartner (1988) enfatiza essas ideias quando afirma que o empreendedorismo e a criacao de organizacaes. Para esse autor, o que diferencia os empreendedores dos nao empreendedores e que os primeiros criam organizacoes, enquanto os ultimos nao o fazem. Segundo Shane e Venkataraman (2000: 218), o campo do empreendedorismo e definido como "a analise erudita de como, por quem e com quais efeitos as oportunidades para criar servicos e produtos futuros sao descobertas, avaliadas e exploradas". Ainda conforme eles, as pessoas possuem diferentes conjuntos de informacoes que influenciam suas habilidades para identificar oportunidades especificas.

Shane e Venkataraman (2000) ainda ressaltam que a exploracao de uma oportunidade empreendedora depende de que o empreendedor acredite na possibilidade de lucro, superando o custo da oportunidade e o investimento de capital. Alem disso, essa decisao pode ser influenciada pelas diferencas na capacidade de percepcao de cada individuo: vontade para assumir riscos, otimismo, tolerancia para ambiguidades. Segundo Venkataraman e Sarasvathy (2001), uma oportunidade envolve um fim ou proposito e "coisas favoraveis" a sua realizacao. Uma oportunidade empreendedora consiste na possibilidade de criar futuros produtos manufaturados e envolve, por um lado, a procura e, por outro, a oferta, alem de meios para coloca-los juntos. As "coisas favoraveis" podem ser resumidas em duas categorias: (a) crencas sobre o futuro; e (b) acoes baseadas nessas crencas.

Bhide (2002) considera que o empreendedor e aquele que localiza e aproveita uma oportunidade de mercado, criando a partir dai um novo negocio. Para esse autor, o principio basico do sucesso de um empreendimento depende da capacidade de adaptacao do empreendedor. Segundo ele, uma vez que nao existe receita pronta para o sucesso, e fundamental que o empreendedor se identifique com o seu negocio e tenha em mente que tudo dependera da sua percepcao e criatividade. Nao considera, em seus trabalhos, o planejamento ou a elaboracao sistematica de estrategias como algo essencial para o sucesso de um empreendimento; pelo contrario, ha um alerta para o perigo de considerar o planejamento como algo estatico.

Apesar de o processo de entrepreneurship se iniciar com a criacao de uma nova empresa, nao se devem esquecer os antecedentes da criacao, que sao fundamentais no processo. Entre esses antecedentes podem-se apontar: a procura de oportunidades no meio envolvente, a identificacao da oportunidade a seguir, a avaliacao da possibilidade de programar a nova empresa, os tracos individuais, as caracteristicas sociodemograficas, a experiencia anterior e a educacao do empresario, as restricoes do meio envolvente e os valores da sociedade. Esses e outros aspectos que influenciam na formacao de novas empresas devem ser considerados como parte do processo de entrepreneurship (RAPOSO; SILVA, 2000).

Dolabela (1999a, 1999b) e Filion (1999) acreditam que as pessoas que empreendem possuem alguns tracos comuns de personalidade e comportamento que as diferenciam das demais. Tais autores consideram que esses profissionais possuem perseveranca e tenacidade, usam o fracasso como fonte de aprendizado e desenvolvem forte intuicao como resultado de um profundo conhecimento do ramo em que atuam.

Mello et al. (2008) realizaram uma pesquisa com o objetivo de identificar enfases dadas aos estudos sobre empreendedorismo no Brasil, para situa-las no contexto de discussoes internacionais acerca do que se considera ou nao empreendedorismo. Nessa pesquisa foram analisados 140 artigos apresentados nos quatro ultimos anos nos encontros da Associacao Nacional dos Programas de Pos-Graduacao em Administracao (ANPAD). Constatou-se que, nos tres primeiros anos, o tema mais frequente esteve relacionado ao comportamento empreendedor. No entanto, no ultimo ano analisado, 2006, mudancas nas preferencias por temas foram identificadas, como a presenca maior de estudos sobre empresas familiares e sobre reconhecimento de oportunidades que se aproximam mais das abordagens internacionais do tema.

A USAID (Agencia para o Desenvolvimento Internacional das Nacoes Unidas), a Management Systems International (MSI) e a McBeer & Company, empresa de consultoria de McClelland, iniciaram em 1982 um projeto para estudos mais abrangentes sobre o comportamento empreendedor e identificaram uma dezena de caracteristicas comuns aos empreendedores triunfadores. Entre essas caracteristicas, consta este elenco: buscar oportunidades e ter iniciativa; exigir qualidade e eficiencia; ser persistente; correr riscos calculados; buscar informacoes em diversas fontes; estabelecer metas; planejar e monitorar; demonstrar comprometimento; ser persuasivo e desenvolver e manter boas redes de relacionamento (VIDAL; SANTOS FILHO, 2003).

Muitos outros autores ja tentaram delinear o perfil ideal do empreendedor, acreditando que os individuos com suas motivacoes de realizacao e suas caracteristicas comportamentais sao responsaveis pelo processo e determinantes nele. Kets de Vries (2001) busca detalhar caracteristicas unicas dos empreendedores, como a orientacao para a realizacao e o fato de nao gostarem de trabalhos repetitivos. Para o autor, os empreendedores geram "entusiasmo contagiante" e transmitem "senso de proposito e determinacao", sabem como liderar e dar impulso a uma ideia e, por isso, representam a forca motriz da economia.

Filion (1999) tambem deu sua contribuicao a tentativa de definir o perfil do empreendedor, criando uma tipologia e afirmando serem os empreendedores pessoas criativas e marcadas pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos. Juntamente com Dornelas (2001), ele salienta a importancia de o empreendedor ser um visionario e de possuir habilidade para realizar seus sonhos. Para Filion (1999), nao se pode avaliar uma pessoa e afirmar, com certeza, que ela vai ser bem-sucedida ou nao como empreendedora, mas pode-se dizer se ela possui caracteristicas mais comumente encontradas nos empreendedores. O autor citado conclui que a pesquisa sobre os bem-sucedidos permite aos empreendedores em potencial e aos empreendedores de fato identificar as caracteristicas que devem ser aperfeicoadas para a obtencao do sucesso.

Um empreendedor de sucesso possui caracteristicas extras, alem dos atributos do administrador e dos atributos pessoais que, somados a caracteristicas sociologicas e ambientais, permitem o nascimento de uma nova empresa. De uma ideia surge uma inovacao, e desta, uma empresa (DORNELLAS, 2001). Dutra e Previdelli (2003), em seu estudo que relaciona o perfil do empreendedor com as causas da mortalidade de empresas, nao chegam a uma conclusao sobre o fator ou fatores que sao determinantes do sucesso. Afirmam que o conceito de sucesso e relativo a cada empreendedor e pode ser expresso por meio do crescimento da empresa, do sentimento de autorrealizacao do empreendedor, do orgulho de realizar um servico, da autoestima e da independencia.

Nao ha padrao nem verdades cientificamente estabelecidas sobre as caracteristicas comportamentais do empreendedor. A diversidade de percepcaes amplia o aprendizado, desafia a inteligencia, aguca o espirito inquiridor e o senso de observacao. Conhecer mais e melhor as caracteristicas do empreendedor e conhecer ainda mais e melhor a natureza humana. No Quadro 1 sao apresentadas as principais caracteristicas do empreender sob a otica de varios autores.

3. EMPREENDEDORISMO FEMININO

Ao lado de uma crescente expansao do numero de pequenas e medias empresas em nivel mundial, tem se destacado o alto numero de mulheres que participam da populacao economicamente ativa; por consequencia, surge uma preocupacao significativa com o enfoque do empreendedorismo feminino. A importancia do empreendedorismo, das pequenas e medias empresas e do empreendedorismo feminino vem sendo reconhecida pelo papel que estas desempenham na geracao de empregos e de riquezas. De acordo com o relatorio publicado pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2007), o Brasil, em 2007, destacou-se como sexto pais de empreendedoras mais atuantes, atras apenas da Venezuela, Tailandia, Jamaica, Nova Zelandia e China.

Nos ultimos anos, as mulheres empreendedoras tem representado um fenomeno em crescimento em todo o mundo. Acredita-se, assim, que diante do crescente interesse da sociedade e dos governos pelo empreendedorismo feminino, tambem e crescente o interesse e a curiosidade pelo tema entre os estudiosos e pesquisadores (GIMENEZ et al. 2000).

Tentativas de identificar e compreender esse fenomeno, de entender as diferencas basicas entre homens e mulheres a frente de empreendimentos, fizeram surgir uma diversidade de trabalhos e pesquisas acerca da tematica do empreendedorismo feminino. Alguns trabalhos se preocuparam com os diferentes motivos das mulheres para abrirem empresas; outros sao voltados para a compreensao da dimensao do genero no contexto do empreendedorismo; outros sublinham as caracteristicas pessoais e comportamentais das mulheres em face dos negocios, e tambem ha os que tem o objetivo de conhecer o perfil da empreendedora.

Alguns motivos, como o desejo de realizacao e independencia, percepcao de oportunidade de mercado, dificuldades em ascender na carreira profissional em outras empresas, necessidade de sobrevivencia e maneira de conciliar trabalho e familia, sao citados por Cromie e Hayes (1988), Gimenez et al. (2000), Hisrich (1989), Moore e Buttner (1997) e Still e Timms (1998).

Machado et al. (2003) citam outros fatores ligados a decisao de iniciar um empreendimento, independentemente do genero, dentre os quais se destacam a experiencia profissional anterior e a existencia de modelos empreendedores na familia. Moore e Buttner (1997) afirmam que um fator que pode indiretamente exercer influencia na decisao de abrir uma empresa e a existencia de modelos de referencia.

Machado et al. (2003) atribuem as empreendedoras um estilo proprio de gestao por combinarem caracteristicas masculinas, como iniciativa, coragem e determinacao, com caracteristicas femininas, como sensibilidade, intuicao e cooperacao. Para Machado et al. (2003), o numero e a atuacao de mulheres nos negocios tem sido cada vez maiores, mas os autores concordam que ainda nao existe resposta sobre as diferencas entre os generos.

No estudo de Machado et al. (2003), um dos fatores comuns na analise de historias de vida de empreendedoras foi a existencia de modelos na familia, principalmente os pais ou pessoas mais proximas. Esse e um dos determinantes do papel empreendedor, pois no processo de identificacao desenvolvido com essas pessoas ha um aprendizado cognitivo e afetivamente construido que resulta na assimilacao e na reproducao do modelo, neste caso, o modelo empreendedor. Ainda, alguns estudos como os de Belcourt (1990) e de Gosselin e Grise (1990) demonstraram uma possivel relacao entre empreendedoras que tiveram pais ou parentes empreendedores e a opcao pelo empreendedorismo.

Outros estudos, como os de Jonathan (2003), Takahashi, Graeff e Teixeira (2006), Machado (1999) e Fontana (1996), visam aprofundar a compreensao da dimensao do genero no contexto do empreendedorismo e buscam respostas sobre as semelhancas e diferencas existentes entre empreendimentos criados e gerenciados por mulheres e empreendimentos criados e gerenciados por homens. Ainda pouco se pode afirmar sobre essas diferencas, e o que se observa nesses estudos sao o perfil das empreendedoras, algumas de suas preferencias, estilos de gestao e barreiras e dificuldades.

4. EMPREENDEDORES JOVENS E A INFLUENCIA FAMILIAR

Dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2008) revelam que os jovens brasileiros estao empreendendo mais. Os resultados do relatorio GEM (2008) mostram que, do total de jovens entre 18 e 24 anos no Brasil, 15% empreendem, o equivalente a 3,82 milhaes de pessoas. Para se ter uma ideia desse crescimento, a taxa media de empreendedorismo jovem ficou em 11,9% entre 2001 e 2008. Do total de empreendedores brasileiros, 25% sao jovens, o que coloca o Brasil em terceiro lugar no ranking mundial, atras apenas do Ira (29%) e da Jamaica (28%).

Ainda de acordo com o GEM (2008), em paises como Ira, Jamaica, Brasil e Egito, que apresentam baixo nivel de distribuicao de renda, o jovem e obrigado a entrar cedo no mercado de trabalho para aumentar a renda familiar. Nesses lugares, ha predominancia de jovens empreendedores em atividades de baixa produtividade, em razao da necessidade. Por falta de empregos formais, esses jovens buscam no empreendedorismo uma opcao de trabalho e renda.

Percebe-se que a alta taxa de jovens empreendedores assinala a importancia de acaes especificas para o grupo e aponta a necessidade de desenvolvimento de politicas publicas, pois os jovens que empreendem estao entrando com muita forca no mercado.

Soares e Machado (2005), em estudo sobre jovens empreendedores realizado no Conselho Permanente do Jovem Empresario de Maringa (COPEJEM), composto por trinta jovens, apontaram alguns fatores de destaque que explicam o nivel de sucesso desses empreendedores: o elevado nivel educacional, a formacao em areas gerenciais e a insercao em uma network. Outra constatacao do estudo e que a incubacao de empresas representa uma via intermediaria importante para preparar os jovens para a criacao de suas proprias empresas. Por outro lado, segundo o estudo, o capital inicial utilizado pelos jovens foi bastante reduzido, mas isso nao representou impedimento a sobrevivencia do negocio. O estudo destaca o fato de que parte das empresas esta exportando os produtos e gradativamente ampliando o numero de funcionarios. Concluindo, o estudo revela que o perfil desses jovens e pro-ativo, uma vez que eles pretendem ampliar ainda mais suas empresas, lancar novos produtos e ate abrir novas empresas.

Borges, Filion e Simard (2008), em trabalho escrito sobre o processo de criacao de negocio por 89 empreendedores jovens no Canada, verificaram que os jovens empreendedores canadenses encontram mais dificuldade em redigir o plano de negocios do que os outros empreendedores. A principal dificuldade que encontram para desenvolver o primeiro produto ou servico e de ordem financeira, pois encontram mais dificuldades em negociar o financiamento com bancos do que os outros empreendedores, razao pela qual usam mais o capital de proximidade (recursos de familia e amigos). O estudo ainda revelou que ha um alto indice de empreendedorismo em equipe: em 74% dos casos, os jovens criam a empresa em equipe e exercem um papel polivalente na nova empresa. Dedicam mais tempo a gestao administrativa e financeira e a comercializacao, mas precisam se envolver igualmente nas demais areas da empresa. Apesar desse envolvimento em todas as areas, os jovens comecam o processo de criacao com pouca ou nenhuma experiencia ou formacao nelas. E no setor de servicos que as empresas criadas pelos jovens estao mais presentes.

Com relacao a influencia da familia, Filion (1991, 1999) destacou que as pessoas apresentam mais chances de se tornar empreendedoras se houver um modelo na familia ou no seu meio, e que, quanto mais novo for o empreendedor no inicio do processo, maior sera a influencia do ambiente familiar. Por sua vez, Matthews e Moser (1996) lembram que a presenca de background familiar em atividades empreendedoras e significativa na opcao pessoal pelo negocio proprio, em particular a atividade exercida pelo pai e pela mae.

Realizado no Brasil, o estudo de Bohnenberger, Schmidt e Freitas (2007) teve como objetivo verificar quanto o contexto familiar esta contribuindo para o desenvolvimento do comportamento empreendedor dos alunos dos cursos de formacao superior do Centro Universitario Feevale. Os resultados indicam que um trabalho de desenvolvimento do empreendedorismo deve se iniciar no primeiro grupo social do individuo: a familia. Os esforcos despendidos por governos, universidades e orgaos nao-governamentais podem reforcar essa relacao ja iniciada na infancia, mas e possivel que tenham pouco impacto nos individuos que nao foram influenciados positivamente no seu contexto familiar.

Pesquisas baseadas na teoria da aprendizagem social tem demonstrado que um modelo familiar de empreendedores e fator determinante na escolha do negocio proprio. McClelland e citado por enfatizar a motivacao para a realizacao; segundo Murray (1973), as criancas motivadas por suas maes deram resultados mais positivos quando se tornaram adultos e empresarios. Para Tonelli (1997), essa discussao sobre ser um empreendedor inato ou nao e vasta. No entanto, ele afirma que a influencia da educacao familiar e do meio cultural tem parcela significativa na formacao de empreendedores.

5. METODOLOGIA

Este estudo foi realizado com uma empreendedora que criou uma empresa de bijuterias na cidade de Cornelio Procopio, Estado do Parana. Pode ser caracterizado como qualitativo e exploratorio, e a estrategia de pesquisa escolhida foi o estudo de caso unico, que, para Yin (2001), e adequado quando se colocam questaes do tipo "como" e "por que" e quando se focalizam fenomenos contemporaneos nos quais nao ha definicao clara dos limites entre fenomeno e contexto. Segundo Yin (2001), quando em uma pesquisa for desenvolvido um estudo de caso unico e analisada a natureza global de uma unica unidade, ter-se-a representado um projeto de estudo de caso unico holistico (TIPO 1).

Utilizou-se a historia de vida como tecnica de coleta de dados, com o uso de entrevista em profundidade. A historia de vida e uma das modalidades de estudo da abordagem qualitativa. Foi introduzida no meio academico em 1920 pela Escola de Chicago e desenvolvida por Znaniescki na Polonia. O termo Historia de Vida, traduzido de histoire (em frances) e de story e history (em ingles), tem significados distintos. O sociologo americano Denzin propos, em 1970, uma distincao entre as terminologias: life story (relato de vida) designa a historia de vida contada pela pessoa que a vivenciou--neste caso, o pesquisador nao confirma a autenticidade dos fatos, pois o importante e o ponto de vista de quem esta narrando; quanto ao termo life history (ou estudo de caso clinico), refere-se ao estudo aprofundado da vida de um individuo ou de grupos de individuos.

No relato de vida, o que interessa ao pesquisador e o ponto de vista do sujeito, a historia contada por quem a vivenciou, uma vez que seu objetivo e apreender e compreender os temas abordados a partir das suposicoes, mundos, pressoes e constrangimentos das pessoas (HAGUETTE, 1987). Pela teoria da Weltanschauung (W), que e o prisma atraves do qual o individuo enxerga o mundo real, devem ser considerados valores, atitudes, humor e intencoes, fatores que influem no filtro da realidade, onde o que importa nao e o que de fato ha no mundo real, e sim o que o empreendedor pensa que ha ali--imagens, modelos e outras formas de representacao da realidade (FILION, 1993). Para Haguette (1987), a historia de vida cria um arquivo que entrelaca o verdadeiro, o vivido, o adquirido e o imaginado, e por isso foi considerada ideal para o alcance dos objetivos desta pesquisa.

Com relacao ao criterio da escolha do caso, Yin (2001:71) afirma que "qualquer aplicacao da logica de amostragem aos estudos de caso estaria mal direcionada", pois estes nao se preocupam com a incidencia dos fenomenos. Segundo Yin (2001), a unica generalizacao possivel e a analitica, nao sendo possivel a generalizacao estatistica. Uma jovem empreendedora, que iniciou seu negocio com apenas 13 anos, foi escolhida para este estudo de caso, pois sua experiencia singular, ao iniciar um empreendimento em idade tao precoce, permite explorar novos insights sobre as caracteristicas mais marcantes que influenciaram o sucesso de seu negocio. Ainda, ao se descrever um contexto de vida real no qual uma intervencao ocorreu, espera-se que novos angulos sejam explorados, trazendo contribuicoes relevantes ao estudo do empreendedorismo jovem.

Foi feita uma primeira entrevista em profundidade com a empreendedora, que durou em torno de tres horas, e posteriormente foram realizadas consultas para detalhamento de alguns aspectos mal compreendidos. A entrevista foi gravada e depois transcrita, respeitando-se a opiniao e versao da entrevistada, sem que houvesse avaliacao das pesquisadoras. A historia relatada e sempre confrontada com a teoria durante a analise dos dados, e algumas falas relevantes foram transcritas na integra. Apos o termino da pesquisa, o material foi enviado a empreendedora entrevistada para validacao final. A analise do caso foi feita a partir da leitura do material transcrito, o que possibilitou a associacao das falas da entrevistada com a teoria pesquisada.

Procurando-se maior confiabilidade das informacoes, fez-se o encadeamento de evidencias por meio da exposicao dos relatos da fundadora do negocio. Visando captar as caracteristicas essenciais, os significados, as convergencias e divergencias dos conteudos da entrevista com a jovem empreendedora, utilizou-se a analise de conteudo, que, segundo Laville e Dionne (1999:214-215), "permite abordar atitudes, valores, representacoes, mentalidades e ideologias". Adotou-se uma abordagem qualitativa para a analise de conteudo, pelo fato de que ela conserva a forma literal dos dados, atendo-se as evidencias existentes nas unidades e nas categorias adotadas (LAVILLE; DIONNE, 1999).

6. O CASO DA EMPREENDEDORA X

Em 2001, uma jovem estudante de 13 anos de idade iniciou sua trajetoria profissional na cidade de Cornelio Procopio, no norte do Parana. Na idade em que todas as criancas estao apenas estudando e brincando, ela comecou a se interessar pela montagem de bijuterias, atividade realizada pela mae. Hoje, com 19 anos, a jovem esta cursando o segundo ano do curso de Administracao de Empresas, tem uma loja num dos melhores pontos de comercio da cidade e faz planos para ter uma fabrica de bijuterias para distribuicao dos produtos na regiao.

Trata-se de uma pequena empresa, uma vez que atende a alguns dos criterios apresentados por Torres (1999) para empresas desse porte, tais como: ter de 0 a 49 empregados, o market-share ser local ou regional, os recursos humanos e financeiros serem limitados, o negocio ou a maior parte dele pertencer a uma pessoa ou a familia e o gerenciamento estar centrado no proprio dono.

O incentivo da mae da inicio a historia de nossa entrevistada, que, assim, aprende a criar e montar bijuterias e coloca-las em exposicao no escritorio do pai. Com o estoque de mercadorias que vai produzindo, comeca a realizar as vendas para as amigas na escola, familiares e amigos mais intimos. Percebendo o aumento das vendas, o pai sugere que ela monte sua propria loja na sala ao lado de seu negocio.

A loja funcionou ao lado do escritorio do pai e com seu apoio financeiro no periodo de 2003 a 2005. Ainda no ano de 2005, a empreendedora, querendo expandir seu negocio, aluga por alguns meses uma sala na avenida principal do comercio da cidade para aproveitar as vendas de final de ano e adquirir experiencia. Por nao poder continuar nesse ponto alugado e optar por manter sua loja em 2006, escolhe outro ponto de venda estrategico da cidade, onde se encontra instalada ate hoje. Desde sua primeira experiencia com loja, atua em periodo integral e e responsavel pelas compras, negociacoes e vendas, design e montagem das pecas. Apenas em 2007 contrata uma auxiliar, para trabalhar meio periodo auxiliando na montagem das pecas. A administracao financeira e feita pela mae e a parte contabil e realizada por um escritorio de contabilidade.

A compra de mercadorias e realizada principalmente em Sao Paulo. Em sua loja, 90% das pecas sao de fabricacao propria; a meta futura e montar uma fabrica e passar a vender no atacado. Desde que abriu a primeira loja participa das feiras do setor, para ficar por dentro das tendencias e manter contato com clientes e fornecedores. Como sua perspectiva sobre o futuro do empreendimento e montar uma fabrica de bijuterias com distribuicao em lojas da regiao, ela ja esta se estruturando, instruida pelo pai, e trabalhando com revendedoras para testar alguns canais de distribuicao.

Nota-se que um dos fatores determinantes no processo de criacao do empreendimento, e que despertou sua paixao pela criacao de bijuterias, foi a influencia exercida pela mae, que ja havia trabalhado com bijuterias em uma loja que possuira no passado.

Para Dolabela (1999a, 1999b), a primeira escola do empreendedor e sua familia. Mais de um terco dos empreendedores vieram de familias em que o pai ou a mae tinham sido autonomos durante a maior parte de sua vida, e dois tercos vieram de familias nas quais o pai ou a mae tinham tentado levar, pelo menos uma vez, um negocio a frente sem auxiliares.

Essa influencia fez com que a empreendedora, na epoca uma menina, deixasse de sair, curtir as ferias e as amigas, e despertasse sua vontade e interesse de criar bijuterias, como explica com suas proprias palavras:
 Minha mae tem muita influencia nisso. Ela sempre trabalhou e ainda
 trabalha. Ja teve a empresa dela, onde tambem vendia bijuterias,
 mas acabou fechando. Hoje ela me ajuda na parte financeira da loja
 e e secretaria da oficina de meu pai. Ela fica muito no computador
 e vive procurando cursos e novas coisas para eu implementar no
 negocio.


Percebe-se tambem que o apoio financeiro do pai foi decisivo para a criacao do negocio. "Para montar esta atual loja, fui crescendo aos pouco. O meu pai foi mantendo a loja e ajudando, fui juntando um capital, mas mesmo assim meu pai teve de ajudar. Ate tempos atras, a loja nao se bancava. Agora se banca".

Nota-se que o pai foi um importante incentivador da expansao do seu empreendimento.
 Comecei a montar as bijuterias e o estoque foi aumentando. Entao
 meu pai ofereceu um espaco ao lado do seu escritorio para eu montar
 uma loja. Incentivada por ele, comprei um balcao e fui enchendo com
 as pecas que criava [...] Meu pai me incentivou muito quando eu
 abri a loja no seu escritorio. Perto da epoca de Natal eu tive
 vontade de mudar minha loja para a avenida principal da cidade.
 Falei com meus pais, que deram todo apoio, incluindo o financeiro,
 e fui atras de uma sala para locacao.


Em alguns momentos a empreendedora pensou em desistir, mas a mae, sempre de forma muito firme, insistia em que isso era importante para seu futuro e que ela deveria se empenhar para alcancar sucesso no negocio.
 Comecei a trabalhar com as bijuterias aos treze anos e era tachada
 de "tonta" pelas minhas amigas. Minha casa e caminho do clube e
 minhas amigas passavam por la e falavam "vamos, Jessica, para
 piscina", e eu respondia que nao, pois eu tinha que trabalhar.
 Antes eu ate brigava com minha mae porque tinha de ficar em casa e
 ela insistia que eu a escutasse e dizia que um dia ia lhe
 agradecer, ela me segurava. Hoje eu vejo que minhas amigas nao
 fazem faculdade e nao fazem nada.


O incentivo da mae no dia a dia foi fator que contribuiu para a permanencia do negocio ate hoje: "[...] devo tudo a minha mae! Minha mae foi quem me incentivou. Eu, as vezes, ficava desanimada, e ela sempre me empurrava. Isto e uma empresa de mae e filha, nao e so minha: e minha e dela".

Caracteristicas como persistencia, perseveranca, determinacao, dedicacao, comprometimento, paixao pelo trabalho, criatividade e visao de futuro sao determinantes para o sucesso de um empreendimento. Essas caracteristicas encontram-se presentes entre aquelas mencionadas por McClelland (1972), Dornelas (2001), Dolabela (1999a, 1999b), Timmons (1994) e Filion (1999).

A dedicacao ao negocio e uma caracteristica que, entre outras, esta presente quando se analisa a fala da entrevistada. "[...] A minha vida e isto aqui. Estou aqui de segunda a sabado. Eu amo isto aqui, tem que amar, senao nao fica. As vezes acordo a meia-noite e quero ir para a loja porque estou com a ideia de um colar." "Eu atribuo o meu sucesso a perseveranca. Nao so minha, mas da minha mae tambem. E hoje eu dedico minha vida a isso aqui".

Segundo Filion (1999), empreendedores sao pessoas que precisam continuar a aprender sobre o que fazem e sobre o que esta acontecendo para agir e ajustar-se conforme a situacao. Vivem em processo de evolucao constante, mas tem como foco de seu processo de aprendizagem a capacidade de detectar oportunidades e manter-se como empreendedores.

Percebe-se claramente a busca pelo aperfeicoamento e aprendizagem, caracteristicas fundamentais de um empreendedor. A empreendedora cursa o segundo ano de Administracao de Empresas, e a nova aprendizagem tem-lhe proporcionado outra visao do seu negocio e lhe dado subsidios para decisoes no dia a dia.
 [...] agora tenho tudo muito planejado, tenho muita ajuda dos
 professores, principalmente da professora da area de marketing.
 Antes de eu fazer a faculdade eu achava que nao precisava fazer
 promocoes no fim de ano; achava que era uma epoca em que as pessoas
 estavam dispostas a gastar e que entao era so vender.


Os empreendedores sao pessoas motivadas para atuar em seus negocios, desejosas de independencia e autonomia. Dornelas (2001) destaca que sao independentes e constroem o proprio destino. Esse pensamento pode ser observado no depoimento da empreendedora:
 Ja fui chamada para trabalhar como gerente em loja de moveis.
 Convidaram-me para o cargo de gerente da loja. A proposta era
 tentadora, mas pensei bem e vi que neste tipo de empresa nao teria
 muito como crescer profissionalmente, nao poderia ser a dona!
 Pensei, entao, em continuar e crescer no meu negocio.


Outra caracteristica percebida e a capacidade de encarar adversidades com naturalidade (TIMMONS, 1994). Quando um novo concorrente chegou a cidade com uma logomarca muito parecida, confundindo os clientes e atrapalhando suas vendas, ela prontamente desenvolveu e investiu em nova logomarca para a loja.

A discriminacao por ser jovem e mulher nao a impediu de continuar, como explica a empreendedora: "Ainda sou considerada como uma menina que ja trabalha com sua propria loja. Outros me olham e falam que sou muito nova, e sinto que nao dao muita credibilidade ao meu trabalho e ao meu negocio".

A criatividade e outra caracteristica presente em muitos empreendedores e tambem identificada no caso da jovem entrevistada. Para Filion (1999), os empreendedores sao pessoas criativas, marcadas pela capacidade de estabelecer e atingir objetivos. A empreendedora entrevistada se considera observadora de outros negocios e acredita que isso a ajuda a aprender.
 Na verdade, me inspiro nas pecas que compro. Pecas em grandes
 quantidades, formatos e diferentes cores. Quando compro, nao tem
 como imaginar o que farei. Vou comprando o que vejo e de que gosto,
 e, quando eu retorno para Cornelio Procopio, chego a minha loja,
 abro os varios produtos, vou misturando uma peca com a outra e vou
 criando [...] Tenho meu estilo, mas tenho que acompanhar a
 tendencia. Vou para Sao Paulo, nas Feiras de Lancamentos que
 ocorrem quatro vezes ao ano e onde encontro pessoas do mundo
 inteiro.


Filion (1999) destaca ainda a forca do networking para acoes ligadas ao compartilhamento de informacoes entre instituicoes, agencias de apoio e ordens profissionais responsaveis pelo empreendedorismo por meio da realizacao de reunioes, foruns e congressos. A participacao da empreendedora em feiras e exposicoes ajuda a criar uma rede de relacionamentos que sao, segundo ela, importantissimos para sua aprendizagem e para a divulgacao de seu trabalho.
 Eu participo muito de feiras, da exposicao agropecuaria, e isso me
 ajudou a crescer. Devo muito a esses eventos, pois so nas lojas e
 no mercado e dificil; uma loja ou porta aberta as vezes nao se
 banca. Tenho pouca venda no atacado e nas feiras jogo mercadoria
 bem abaixo do custo para girar. Jogo os precos nas feiras e foram
 elas que me deixaram conhecida. [...] Tenho alguns fornecedores (3
 a 4 que sao de outros Estados, alem de Sao Paulo) que conheci nas
 feiras tempos atras e de quem fui conquistando a confianca e me
 tornando uma cliente com credibilidade. Hoje eles me enviam malotes
 com suas mercadorias em consignacao, eu escolho o que me agrada e
 retorno os demais produtos.


Para Degen (1989), o empreendedor de sucesso e aquele que nao se cansa de observar negocios na constante procura de novas oportunidades, seja no caminho de casa ou do trabalho, seja nas compras. Ramos, Escrivao e Azolini Jr. (2000) reforcam esse pensamento quando afirmam que ser empreendedor e um estado de espirito: um tipo de mente que nunca para e que esta sempre buscando a informacao para dar suporte a sua pratica.

A empreendedora demonstra esse estado de espirito quando menciona seus planos de expansao do negocio, que vao muito alem de sua loja. "Tenho muita vontade de exportar, mas e dificil. Nao estou achando nenhuma ponta para isso. Ha muita burocracia, e nao estou conseguindo. Solicitei um consultor do SEBRAE para me ajudar."

Para conseguir a perenidade de seu negocio, o empreendedor precisa ter a visao de onde quer estar e do que precisa fazer no presente para chegar la. Assim, da mesma forma como para Dornelas "ser visionario" e uma caracteristica do empreendedor, para Filion (1991) a visao e algo importante. No caso da jovem empreendedora, essa visao de aonde quer ir e clara e esta expressa nas suas palavras:
 Desde o primeiro dia em que comecei a montar brincos eu tinha uma
 meta: quero vender no atacado. Eu nao quero ser comerciante, quero
 ser fabrica. Esta loja e so um ponto para chegar ao que eu quero, e
 estou caminhando. Antes nao dava, pois comprava pedraria cara, e
 agora, como estou fabricando, posso vender mais barato [...] Tenho
 as revendedoras com as quais comecei a trabalhar ha pouco tempo, e
 a minha meta para o comeco do ano de 2008 e analisar o desempenho
 delas. Entao, em caso positivo, vou contratar mais revendedoras e
 esperar dois ou tres meses para ver se vale a pena usar este canal
 de distribuicao. Entao, partirei para Revendedora Regional e,
 quando descobrir minhas linhas de Distribuicao, vou me dedicar a
 fabricacao de meus produtos para venda no atacado.


7. CONCLUSAO

O objetivo central deste artigo foi analisar os fatores que influenciaram essa jovem empreendedora a iniciar seu negocio, destacando as caracteristicas pessoais mais marcantes que contribuiram para seu sucesso e a influencia da familia. Pode-se perceber que a empreendedora possui as caracteristicas atribuidas por diversos autores (MCCLELLAND, 1972; DORNELAS, 2001; DOLABELA, 1999a, 1999b; TIMMONS, 1994; FILION, 1999) a pessoas empreendedoras: persistencia, perseveranca, determinacao, dedicacao, comprometimento, paixao pelo trabalho, criatividade e visao de futuro, determinantes para o sucesso de um empreendimento.

A influencia da familia em todas as fases do negocio foi enfatizada pela jovem empreendedora. No inicio, os pais da empreendedora tiveram papel fundamental, pois a apoiaram, atuando como facilitadores e oferecendo ambiente favoravel ao crescimento do negocio. A seguir, durante a fase de crescimento, a jovem precisou de apoio financeiro e de suporte para o funcionamento do dia a dia do empreendimento.

A empreendedora destacou nos seus depoimentos que tem na familia a fonte de todas as suas conquistas, pelo apoio e motivacao recebidos. Afirmou ter sido de grande importancia nao apenas o apoio financeiro dos pais, mas principalmente o incentivo e o modelo a ser seguido em todos os momentos. A influencia da familia foi reforcada em estudos anteriores realizados por diversos autores, como Hornaday (1982), Timmons (1994), Belcourt (1990), Gosselin e Grise (1990), Filion (1991, 1999), Pati (1995), Dolabela (1999a, 1999b), Matthews e Moser (1996), Machado et al. (2003) e Bohnenberger, Schmidt e Freitas (2007), que afirmaram que ha mais chances de uma pessoa se tornar empreendedora se houver um modelo na familia ou no seu meio, principalmente os pais ou pessoas mais proximas.

Alem das caracteristicas empreendedoras e da influencia da familia, outros fatores que influenciaram essa jovem empreendedora a iniciar seu negocio foram identificados neste estudo de caso, como o interesse em aprender e a participacao em redes de relacionamento.

Segundo Filion (1999), empreendedores sao pessoas que precisam continuar a aprender sobre o que fazem e sobre o que esta acontecendo, para agir e ajustar-se conforme a situacao. Vivem em processo de evolucao constante, mas tem como foco de seu processo de aprendizagem a capacidade de detectar oportunidades e manter-se atualizados. No caso da jovem empreendedora, essa caracteristica e facilmente percebida em sua busca constante de aprendizagem e de aperfeicoamento, que se da tambem pela realizacao de curso superior em Administracao de Empresas, a fim de aplicar os conhecimentos adquiridos no curso a gestao de seu negocio.

Finalmente, vale destacar que a participacao da empreendedora em redes de relacionamento proporciona conhecimentos sobre o setor em que esta inserta. Filion (1999) lembra a forca do networking em acoes ligadas ao compartilhamento de informacoes entre instituicoes, agencias de apoio e ordens profissionais responsaveis pelo empreendedorismo por meio da realizacao de reunioes, foruns e congressos. A participacao da empreendedora em feiras e exposicoes ajuda na criacao de networks, que sa fundamentais para a divulgaca de seus produtos e para sua aprendizagem.

Recebido em: 10/9/2008

Aprovado em: 12/4/2010

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Rivanda Meira Teixeira

Professora do Departamento de Administracao e do Mestrado em Economia (NUPEC) da Universidade Federal de Sergipe. Doutorado em Administracao pela Cranfield University, Inglaterra. Pos-Doutorado em Gestao de Turismo na Bournemouth University, Inglaterra, e na Strathclyde University, Escocia. Pos-Doutorado em Empreendedorismo em Turismo na HEC em Montreal, Canada E-mail: [email protected]

Norma Pimenta Cirilo Ducci

Mestre em Administracao pela Universidade Federal do Parana (UFPR)--Curitiba--PR, Brasil E-mail: [email protected]

Noeli dos Santos Sarrassini

Mestre em Administracao pela Universidade Federal do Parana UFPR)--Curitiba--PR, Brasil E-mail: [email protected]

Vilma Pimenta Cirilo Munhe

Mestre em Administracao pela Universidade Federal do Parana (UFPR)--Curitiba--PR, Brasil E-mail: [email protected]

Larissa Zamarian Ducci

Mestre em Administracao pela Universidade Federal do Parana (UFPR)--Curitiba--PR, Brasil E-mail: [email protected]
Quadro 1: Resumo das principais caracteristicas do empreendedor
segundo diferentes autores

DORNELAS DOLABELA MCCLELLAND

-Visionario. - Possui um - Busca de
- Sabe tomar "modelo", oportunidades
decisoes. uma pessoa e iniciativa.
- Individuo que o influencia. - Persistencia.
que faz a - Iniciativa, - Exigencia
diferenca. autonomia e de qualidade
- Sabe otimismo, e eficiencia.
explorar ao autoconfianca, - Assume riscos
maximo as necessidade de calculados.
oportunidades. realizacao. - Determina metas.
- Determinado - Trabalha - Busca
e dinamico. sozinho. informacoes.
- Dedicado. - Perseveranca - Planejamento e
- Otimista e e tenacidade. monitoramento
apaixonado - Aprende com sistematico.
pelo que faz. os erros. - Persuasao e rede
- Independente - Grande energia, de contatos.
e constroi o e incansavel. - Independencia e
proprio - Fixa metas e as autoconfianca.
destino. alcanca. - Comprome-
- Lider. - Forte intuicao. timento.
 - Comprome-
 timento.
 - Obtem
 feedback.
 - Busca, controla
 e utiliza recursos.
 - Sonhador
 realista.

DORNELAS TIMONNS BHIDE FILION

-Visionario. - Comprome- - "Nao existe - Pessoa
- Sabe tomar timento, perfil ideal. criativa.
decisoes. determinacao e Os empreen- - Marcada pela
- Individuo perseveranca. dedores capacidade de
que faz a - Busca podem estabelecer e
diferenca. autorrealizacao, ser gregarios atingir
- Sabe crescimento, com ou taciturnos, objetivos.
explorar ao metas desafiadoras. analiticos ou - Visionario.
maximo as - Senso de intuitivos,
oportunidades. Oportunidade cautelosos ou
- Determinado e orientacao ousados".
e dinamico. para metas. Nao se pode
- Dedicado. - Iniciativa definir um
- Otimista e pelo senso de modelo unico
apaixonado responsabilidade de perfil
pelo que faz. social. empreendedor.
- Independente - Persistencia e
e constroi o determinacao na
proprio resolucao de
destino. problemas.
- Lider. - Enfrenta
 situacoes adversas
 com otimismo,
 humor e
 perspectiva.
 - Busca feedback
 do desempenho
 e aprende com
 os erros.
 - Controle racional
 do impulso.
 - Encara
 as adversidades
 com naturalidade.

Fonte: Elaboracao das autoras.
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