Strategy, competences and learning: a supermarket case in the city of Sorocaba/Estrategia, competencias e aprendizagem: o caso de um supermercado na cidade de Sorocaba/Estrategia, competencias y aprendizaje: el caso de un supermercado en la ciudad de Sorocaba.
Marietto, Marcio Luiz ; Sanches, Cida ; Meireles, Manuel 等
1. INTRODUCAO
O sucesso de uma empresa vincula-se a dinamica da sua estrategia,
que deve buscar vantagem competitiva, isto e, buscar a preferencia dos
clientes, conforme assinala Zacarelli (2000). Deve haver, para tal, uma
sintonia entre aquilo que a empresa oferece ao mercado e os desejos dos
clientes (ZEITHAML, 1988). A oferta ao mercado consubstancia as
competencias da organizacao, que deve gerenciar os adequados Fatores
Criticos de Sucesso (FCS), os quais, de acordo com Fernandes (2006:33),
nada mais sao do que os atributos especificos a que os players, em um
dado setor, devem atender para permanecer no negocio e que,
necessariamente, estao atrelados as vantagens competitivas que a empresa
busca. Por sua vez, as vantagens competitivas estao ligadas a percepcao
dos clientes (PRAHALAD; HAMEL, 1990; ZACCARELLI, 2000). Um dos problemas
de qualquer empresa e a compatibilizacao dos FCS com a vantagem
competitiva (PORTER, 1985; PETERAF, 1993). As duvidas dos gestores
ocorrem em torno da questao: como saber se as competencias da empresa
estao alinhadas com as preferencias dos clientes? Esta e uma questao
vital para os gestores. Este trabalho exibe uma tecnica que conduz a
resposta.
2. REFERENCIAL TEORICO
2.1. Estrategia como Aprendizagem
A obra de Quinn (1980) sobre Incrementalismo Logico inicia os
estudos em estrategia na escola do aprendizado, segundo Mintzberg,
Ahlstrand e Lampel (2000:135).
Quinn explica que "a estrategia evolui a medida que as
decisoes internas e eventos externos fluem em conjunto para criar um
novo e amplo consenso para a acao entre os membroschave da equipe
gerencial". Em outras palavras, as estrategias sao elaboradas pelos
executivos, mas estao permeadas de uma flexibilizacao assistida, em
razao de seu poder de movimentar seletivamente as pessoas, incluindo-as
no processo de forma integradora e legitima (MINTZBERG; AHLSTRAND;
LAMPEL, 2000:138). Ou seja, os executivos usam meios institucionais para
gerar credibilidade, mudar simbolos, incorporar novos pontos de vista ou
superar a oposicao, como forma de legitimar a estrategia formulada e
obter exito em sua implementacao.
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000:156) destacam as seguintes
premissas para a Estrategia como Aprendizagem: a) a natureza do ambiente
das organizacoes e complexa e imprevisivel e, por isso, a estrategia
precisa assumir a forma de um processo de aprendizado ao longo do tempo,
extrapolando o processo de formulacao e implementacao; b) o lider deve
aprender com o sistema coletivo; c) este aprendizado procede de forma
emergente, seja do ambiente interno ou externo (botton up ou top down);
d) o papel da lideranca passa a ser o de gerenciar o processo de
aprendizagem e nao mais o de conceber a estrategia; e) estrategias
aparecem, primeiro, como padroes do passado, mais tarde como planos para
o futuro e, finalmente, como perspectivas para guiar o plano gerencial.
Argyris e Schon (1978) tambem abordam a questao do aprendizado
estrategico, associando a aprendizagem organizacional com a solucao de
problemas no contexto das empresas. Para tanto, elaboram os conceitos de
aprendizagem de laco unico e de laco duplo. O primeiro tipo de
aprendizagem envolve mudancas rotineiras, o segundo, mudancas
estruturais.
Goodman e Darr (1998) examinam as combinacoes
"problema/solucao" como forma de aprendizado estrategico, e
assinalam que as decisoes de adotar ou de contribuir com conhecimentos
acarretam custos em termos de esforco ou de tempo despendido.
Dodgson (1993), em uma direcao semelhante, descreve aprendizagem
organizacional da seguinte forma: "A maneira como as firmas
constroem, suplementam e organizam conhecimento e rotinas em torno de
suas atividades e dentro de suas culturas, e adaptam e desenvolvem a
eficiencia por meio da melhoria da utilizacao das amplas capacidades de
sua forca de trabalho".
Sanchez e Heene (1997), aproximando-se do conceito de aprendizagem
de laco duplo de Argyris e Schon (1978), argumentam que a aprendizagem
representa um processo que muda o status do conhecimento (de individuos
ou de organizacoes) de diversas maneiras: por meio da modificacao das
crencas existentes, da adocao de novas crencas, do abandono de crencas
anteriormente tidas como verdadeiras, e tambem por meio da mudanca no
grau de confianca que as pessoas depositam em determinada crenca ou
conjunto de crencas no contexto organizacional. Ou seja, o aprendizado
comporta verificacao empirica de crencas tidas como verdadeiras em novas
situacoes; se as velhas crencas se revelarem adequadas, reafirmam-se; se
se mostrarem obsoletas em face dos novos problemas, podem ser derrubadas
e substituidas por outras que se revelarem mais eficazes. Esse e o
processo de aprendizagem.
Ainda, a proposito do aprendizado organizacional, Senge (2001:38)
advoga a necessidade de descobrir um modo de cultivar nas pessoas o
comprometimento e a capacidade de aprender em todos os niveis da
organizacao, em vez de deixar o aprendizado circunscrito a determinadas
areas isoladas da empresa. Para Senge (2001:39), a aprendizagem ocorre
quando uma nova ideia e inventada e funciona comprovadamente em
"laboratorio", podendo ser reproduzida de modo confiavel em
uma escala significativa, a custos razoaveis. Se for suficientemente
importante, a ideia e chamada de inovacao basica e cria um novo setor da
economia, ou transforma um ja existente.
2.2. Core Competence, Vantagem Competitiva e Aprendizagem
Relacionada ao conceito de aprendizado estrategico esta a nocao de
Competencias Essenciais. Prahalad e Hamel (1990) defendem que
organizacoes bem-sucedidas sustentam seu desempenho numa coordenacao
valiosa de recursos especiais, obtendo vantagens competitivas. Denominam
esses recursos cuidadosamente articulados de Competencias Essenciais.
Explicam que as Competencias Essenciais relacionam-se com:
"O aprendizado coletivo na organizacao, especialmente no que
diz respeito a como coordenar as diversas habilidades de producao e
integrar as multiplas correntes da tecnologia [...]. A Competencia
Essencial e comunicacao, envolvimento e um profundo comprometimento em
trabalhar alem das fronteiras organizacionais. Envolve muitas pessoas e
de todas as funcoes." (PRAHALAD; HAMEL, 1990:58-59).
Os autores indicam tres testes que podem ser feitos para
identificar as Competencias Essenciais de uma empresa: 1) uma
Competencia Essencial oferece acesso potencial a uma ampla variedade de
mercados; 2) deve contribuir de maneira significativa para os beneficios
percebidos pelo cliente no produto final; 3) deve ser dificil de ser
imitada pelos concorrentes.
A Competencia Essencial, segundo Prahalad e Hamel (1990), desemboca
na vantagem competitiva. O termo Vantagem Competitiva (VC) e um conceito
complexo e relativamente antigo. Adam Smith ja mencionava o termo
Vantagem Comparativa em 1776, em A Riqueza das Nacoes; posteriormente, o
termo foi substituido, no campo da Estrategia Empresarial, por Vantagem
Competitiva. Desde entao Ansoff (1977), Porter (1985), Wernerfelt
(1984), Barney (1986, 1991, 1996), Peteraf (1993), entre outros,
desenvolveram e difundiram diversos modos de conceituar a Vantagem
Competitiva, adaptados ao resultado das organizacoes.
Neste estudo, adota-se o conceito tal como definido por Prahalad e
Hamel (1990), Zaccarelli (2000) e Meireles et al. (2007), que associam a
VC a capacidade de criar valor para o cliente por meio das competencias
internas da empresa, que advem da necessidade de aprendizagem constante.
Prahalad e Hamel (1990) indicam que a Vantagem Competitiva, no
curto prazo, provem dos atributos de preco/desempenho dos produtos
existentes; no longo prazo, incorporam a definicao de competencia
essencial conjugada a capacidade de adaptar-se rapidamente as
oportunidades em mutacao, observando que "a conexao tangivel entre
competencias essenciais e produtos finais e o que chamamos de produtos
essenciais--a materializacao de uma competencia ou mais" (PRAHALAD;
HAMEL, 1990:65). Para Zaccarelli (2000) e Meireles et al. (2007), a
vantagem competitiva e qualquer caracteristica do produto ou servico da
empresa que os clientes reconhecem como um diferenciador positivo em
relacao a outras empresas e que, por isso, os induz a comprar da
empresa. A palavra qualquer pretende salientar que nao e indispensavel
que a caracteristica, que e a vantagem competitiva, implique um
acrescimo de valor para o cliente. O acrescimo de valor e sempre
desejavel, porem nao e obrigatorio.
Meireles et al. (2007) ainda sublinham que os Fatores Criticos de
Sucessos (FCS) sao os meios que a empresa utiliza para alcancar vantagem
competitiva. Os autores entendem os FCS como um conjunto especifico e
delimitado de tecnicas, ferramentas e metodos que contribuem para a
conquista de uma dada vantagem competitiva, que pode ser percebida pelos
clientes e influenciar sua decisao de compra. Se uma determinada
vantagem competitiva e definida como estrategica, a empresa deve passar
a fazer uso de tecnicas, ferramentas e metodos que possibilitem tal
vantagem competitiva (MEIRELES et al., 2007). O conceito de FCS de
Meireles et al. (2007) nao se afasta da definicao de outros autores.
Fernandes (2006:33) define Fatores Criticos de Sucesso como atributos
especificos a que os players, em um dado setor, devem atender para
permanecer no negocio, atributos que estao atrelados as vantagens
competitivas e a percepcao dos clientes.
2.3. Atributos Percebidos pelos Clientes
Meireles et al. (2008) explicam que um produto ou servico pode ser
percebido pelos clientes pela qualidade de seus atributos.
Exemplificando, uma cadeira pode ser percebida por seu design, sua cor,
seu conforto ou seu preco; um servico de restaurante, pela qualidade da
comida, pela rapidez do atendimento, pela higiene do local. A essas
caracteristicas dos produtos ou servicos que determinam a avaliacao dos
clientes da-se o nome de atributos.
Gutman e Alden (1985) abordam a questao: "entre os diferentes
atributos do produto, quais sao selecionados pelo consumidor como
indicadores da qualidade percebida?". Ou seja: considerando-se que
um produto ou servico pode ter muitos atributos, quais deles sao mais
relevantes, importantes e valorizados? Por que uns atributos sao
escolhidos e outros sao desconsiderados?
A maior parte dos estudos empiricos publicados, decorrentes de
pesquisas feitas com clientes, tratou do preco como fator
extrinseco--isto e, que nao pertence ao produto--que sinaliza a
qualidade de uma oferta para o cliente (RAO; MONROE, 1989; ZEITHAML,
1988). Tais autores argumentam que o preco e uma especie de
"etiqueta" indicando o grau de qualidade do produto: alto
preco significa alta qualidade; baixo preco significa baixa qualidade.
Para os autores citados, o preco, embora nao seja um fator
intrinseco do produto, e sem duvida importante. A cor e o conforto de
uma cadeira sao fatores intrinsecos a ela; o preco e um fator
extrinseco, tal como a facilidade de pagamento e o prazo de entrega. Mas
nao e dificil perceber que os fatores extrinsecos (preco da cadeira,
facilidade de pagamento e prazo de entrega) sao tambem considerados
pelos clientes e influem em sua decisao de comprar ou nao a cadeira
(MEIRELES et al., 2008).
Durante o processo de decisao de compra, o consumidor compara as
diferentes opcoes de produtos capazes de satisfazer suas necessidades.
Ele seleciona, integra e avalia informacoes relacionadas aos diferentes
produtos, para chegar a um julgamento.
Percebe-se, desse modo, que a satisfacao ou insatisfacao do cliente
esta diretamente ligada ao produto ou servico prestado, ou seja, que, em
primeira instancia, o produto ou servico e que determina a sensacao de
(in)satisfacao do cliente. Outros atributos so mais tarde serao
identificados pelos clientes.
Um bom exemplo sao os clientes que compram uma caneta Mont Blanc.
Em principio, eles estarao satisfeitos se o produto (a caneta) lhes
proporcionar o que procuram (status da marca); so posteriormente levarao
em conta atributos como preco, atendimento ou assistencia tecnica
posvenda. Portanto, se a empresa se descuidar daquilo que e o atributo
principal do produto (o status oriundo da manutencao de sua marca), ela
estara em risco.
Por outro lado, quando a empresa nao possui diferencial nos
produtos ou servicos, outros atributos podem tornar-se relevantes e
decisivos. Por exemplo, se tres companhias aereas oferecem voos para o
mesmo destino, e natural que o cliente procure sua satisfacao nao no
simples servico ofertado (transporte aereo de A para B), uma vez que as
tres oferecem servico similar. Atributos como preco, horario, servico de
bordo, entre outros, serao considerados pelos clientes.
Pelo exposto, conclui-se que as empresas devem procurar satisfazer
seus clientes, em primeira instancia, pela diferenciacao de seus
produtos ou servicos; caso isso nao seja possivel, em razao da
similaridade dos produtos e da concorrencia, devem buscar formas de
conhecer e ouvir os clientes e possibilitar a criacao de atributos
diferenciais, controlando por meio da avaliacao da satisfacao dos
clientes os processos que aplicam na consecucao de seus objetivos.
Assim, os atributos relevantes sao aqueles que, no entendimento do
consumidor, sinalizam, predizem ou geram beneficios importantes, ou
reduzem seus sacrificios. Dessa forma, e importante que as organizacoes,
qualquer que seja seu tamanho, saibam a resposta para a questao: "O
que os meus clientes valorizam?". Para responder a essa questao,
utilizou-se neste trabalho a Matriz Trade-Off.
2.4. Conceito de Trade-off
Segundo Meireles et al. (2008), na area de gestao a expressao
trade-off esta associada a inumeros conceitos, quase sempre indicativos
de uma escolha: ou se oferece isto ou aquilo. Por exemplo: uma empresa
oferece servicos a preco baixo ou oferece servicos com alta qualidade:
dificilmente, em condicoes normais, e possivel oferecer servicos de alta
qualidade a preco baixo, embora, com o advento de novas tecnicas de
gestao, muitos trade-offs tenham deixado de ter sentido, porquanto e
possivel ter, em muitos casos, preco baixo e alta qualidade.
O conceito de trade-off empregado aqui esta associado ao trabalho
de Meireles et al. (2008), que aborda a percepcao de prioridades por
outras pessoas. Sobretudo, visa responder a questao: quais os aspectos
de servico/produto que os meus clientes valorizam?
A resposta a essa pergunta estabelece um norte para campos onde uma
organizacao pode investir seus esforcos de aprendizagem e desenvolver
core competences (PRAHALAD; HAMEL, 1990). Sob outro angulo, informacoes
fornecidas pela matriz podem revelar um desajuste entre os focos de
desenvolvimento da empresa e aquilo que clientes e mercado demandam.
3. METODOS EMPREGADOS
A presente pesquisa consiste em um estudo de caso realizado com os
clientes de um supermercado de pequeno porte na regiao de Campolim, no
municipio de Sorocaba, nos meses de setembro a novembro de 2007. O
estudo envolveu 200 clientes selecionados aleatoriamente, todos eles
portadores do cartao fidelidade do supermercado. Um cliente nao
encontrado nas duas primeiras tentativas foi randomicamente substituido.
Os dados foram coletados por meio de um Questionario Trade-Off, mostrado
na Tabela 1. Os respondentes foram previamente instruidos, por meio de
um exemplo neutro, para atribuir notas de avaliacao. Foram feitas cinco
series de questionarios, com o objetivo de randomizar a apresentacao das
questoes.
Deve-se apontar que uma das premissas para o bom funcionamento da
tecnica em apreco e a homogeneidade dos respondentes, isto e: os
respondentes devem corresponder a um dado perfil. Nao sendo atendida
essa exigencia, os resultados nao serao significativos.
4. PROCEDIMENTOS E TECNICAS
A pesquisa atendeu a seguinte ordem geral de procedimentos de
implementacao: 1) identificacao dos atributos do servico (por meio de
brainstorming) que podiam ser percebidos e avaliados pelos clientes; 2)
selecao dos sete atributos a investigar, isto e, dos sete atributos
constantes do questionario, por meio de Tecnica Nominal de Grupo; 3)
elaboracao e teste piloto do questionario, conforme descrito na Tabela
1; o teste piloto foi feito com 10 clientes selecionados por
conveniencia; 4) impressao do questionario; selecao e treinamento de
quatro pesquisadores; 5) selecao aleatoria de 300 clientes, todos
portadores do cartao fidelidade, sendo 200 para a pesquisa e 100 para
potencial substituicao; 6) aplicacao do questionario e tabulacao dos
dados; 7) determinacao das medias da "coluna A" e da
"coluna B", da Relacao Trade-Off (RTO) e seu inverso; 8)
priorizacao das caracteristicas por meio da Matriz de Priorizacao.
A Matriz Trade-off pode ser aplicada em muitos setores da empresa,
para pesquisar preferencias dos clientes diante de varias alternativas.
No presente estudo, o metodo foi utilizado por um supermercado que
desejava determinar os atributos do servico que seus clientes mais
valorizam, a fim de promover um alinhamento estrategico em suas decisoes
gerenciais.
4.1. Identificacao dos Atributos
O primeiro passo consistiu em identificar quais atributos do
servico podiam ser percebidos e avaliados pelos clientes. A lista pode
ser longa, mas convem investigar apenas cinco ou seis atributos, para
que o questionario nao seja extenso e se torne cansativo.
Meireles e Enoki (2002) lembram que a coleta de dados por meio de
questionarios relativos a opinioes e atitudes, especialmente quando o
questionario exige multiplas comparacoes, como e o caso do questionario
trade-off, torna-se dificil quando o numero de variaveis (n) e grande,
visto que o numero de questoes que o individuo tem de responder e de
[(n-1) x (n/2)]. No caso acima, um questionario com 7 variaveis possui
[(7-1) x (7/2)] = [(6) x (3,5)] = 21 alternativas.
Parasuraman, Zeithaml e Berry (1988) abordam a dificuldade de
identificar a percepcao da qualidade no setor de servicos, ja que, nesse
contexto, caracteristicas como intangibilidade e inseparabilidade
convidam o cliente a participar e interagir, tornando-se parte atuante
do processo de avaliacao. Os autores citados propuseram uma escala
denominada SERVQUAL, que serve para mensurar a percepcao de qualidade em
servicos. Segundo eles, o modelo fornece um esqueleto, no formato de
comparacao entre expectativas e percepcoes, estruturado em cinco
dimensoes, e que pode ser adaptado ou suplementado para atender as
caracteristicas ou necessidades especificas do pesquisador.
SERVQUAL e uma escala de multiplos itens que objetiva descobrir
fraquezas e forcas da qualidade de servico de uma empresa, considerando
as seguintes dimensoes: tangibilidade, confiabilidade, responsividade,
seguranca e empatia.
--Tangibilidade: a aparencia fisica das instalacoes, equipamentos,
pessoas e demais materiais envolvidos na realizacao do servico.
--Confiabilidade: a capacidade de prestar o servico prometido de
modo confiavel e com precisao. Satisfazer as necessidades primarias dos
clientes de prazo e quantidade.
--Responsividade: a disposicao para ajudar o cliente e proporcionar
com presteza um servico.
--Seguranca: o conhecimento e a cortesia de empregados e sua
habilidade em transmitir confianca e exatidao.
--Empatia: a atencao e o carinho proporcionados individualmente aos
clientes.
Dessa forma, foram selecionadas algumas variaveis pertinentes ao
servico que o supermercado entrega ao cliente: agilidade do atendimento;
atendimento de reclamacoes; cartao fidelidade; departamentos existentes;
disposicao dos produtos; estacionamento; formas de pagamento aceitaveis;
horario de funcionamento; limpeza; localizacao; precos; promocoes;
qualidade do atendimento; qualidade dos produtos; sinalizacao; variedade
dos produtos.
Por meio da Tecnica Nominal de Grupo, conforme Meireles (2001:29),
utilizando-se como votantes dois gerentes do supermercado, tres
funcionarios e cinco clientes, foi feita a escolha das caracteristicas a
pesquisar, que sao as que importam ao questionario aplicado, descrito
pela Tabela 1.
4.2. Tabulacao
Um respondente pode fazer a avaliacao, mas um conjunto de
respondentes produz inumeras avaliacoes, diferentes umas das outras.
Tais avaliacoes podem ser tabuladas; para isso, deve-se considerar
apenas a primeira coluna respondida, ja que a segunda e o complemento
para 10. Observando-se a Tabela 2, basta saber os valores da coluna A
para deduzir os da coluna B. Os dados coletados por meio da matriz
Trade-Off sao introduzidos numa planilha Excel.
E importante observar que se deve conferir a exatidao dos valores
tabulados. Pode ser necessario remover dados em que o respondente nao
tenha atuado de forma consciente. Isso pode ser observado nos casos em
que todas as respostas possuem o mesmo valor, por exemplo, 4 para a
coluna A e 6 para a coluna B. Nesses casos, recomenda-se nao tabular a
resposta.
5. RESULTADOS OBTIDOS
5.1. Determinacao da Relacao Trade-Off (RTO) Uma variavel
importante para a analise do resultado e a RTO, isto e, a Relacao
Trade-Off. Pode-se conceitua-la como a divisao da media da coluna A pela
media da coluna B. Tendo-se obtido a media de cada uma das linhas
referentes a coluna A, e facil obter a media de cada uma das linhas
referentes a coluna B, ja que a media da Coluna B e igual a 10 (media da
coluna A). Dividindo-se a media da linha da coluna A pela media da linha
da coluna B, obtem-se a Relacao Trade-Off (RTO), imprescindivel para a
analise final dos resultados. A seguir calcula-se a coluna com os
valores inversos da RTO. Conhecendo-se esses valores, e apropriando-os a
uma Matriz Trade-Off vazia, pode-se afirmar que os respondentes, em
media, atribuiram tais valores, como mostra a Tabela 4.
Embora na Tabela 4 se possam ver os valores medios e as relacoes
trade-off ainda nao e possivel averiguar, de forma direta, quais sao as
caracteristicas preferidas pelos respondentes. Isso requer a continuacao
da analise por meio da Matriz de Priorizacao.
5.2. Matriz de Priorizacao
Para analisar os resultados obtidos (RTOs), e necessario que se
faca uso da Matriz de Priorizacao. A Matriz de Priorizacao e construida,
neste caso, com 7 linhas por 7 colunas, contendo as caracteristicas do
servico em analise.
A Matriz de Priorizacao correspondente a esse exemplo pode ser
vista na Tabela 4. Os valores a inserir na Matriz de Priorizacao sao os
valores RTOs obtidos na etapa anterior. Tais valores sao inseridos na
parte superior a diagonal da Matriz de Priorizacao, como mostram as
setas.
[TABLE 4 OMITTED]
Observe-se que a RTO entre "promocoes" e "qualidade
dos produtos", como mostra a Tabela 3, e igual a 0,33. Esse e o
valor que se encontra na celula correspondente as duas variaveis, na
Tabela 5. Dai a importancia de manter a mesma ordem das caracteristicas,
tanto no questionario como na tabulacao e na Matriz de Priorizacao.
Uma vez preenchida a parte superior da Matriz de Priorizacao, e
necessario preencher a parte inferior. O preenchimento da parte inferior
da Matriz de Priorizacao e feito com os valores inversos da RTO,
dispostos como mostra a tabela 5.
A Tabela 5 mostra a Matriz de Priorizacao completa. Uma vez
considerados os valores RTO e 1/RTO, e feita a soma total da linha. Na
presente pesquisa, a maior pontuacao foi atribuida a "qualidade dos
produtos", com 11,15 pontos, seguiiiuu-se a esse us neiis vaneuaue
ue produtos" e "atendimento cordial".
Uma vez obtida a pontuacao, e possivel priorizar o que o cliente
valoriza. No caso analisado, encontrou-se a seguinte ordem decrescente
de prioridades: qualidade dos produtos, variedade dos produtos e
atendimento cordial. O preco, uma caracteristica usualmente muito
considerada, foi identificado como a sexta prioridade dos clientes.
Embora esse resultado tivesse constituido uma surpresa para os gestores
do supermercado, e totalmente compreensivel, dadas as caracteristicas da
regiao.
O resultado sugere que os gestores do supermercado devem voltar
suas atencoes, prioritariamente, para a qualidade e variedade de
produtos. O atendimento cordial tambem e muito valorizado.
Os resultados da pesquisa, de alguma forma, desafiaram crencas do
grupo diretivo acerca da percepcao do cliente e do modelo de negocios
adotado pela empresa ate aquele momento. A pesquisa trouxe a tona a
inadequacao e, de certo modo, provocou um movimento de reorientacao
estrategica, com enfase no desenvolvimento de novas competencias.
6. CONCLUSAO
O presente artigo apresenta uma metodologia estruturada para
ajustar as competencias de uma organizacao aos Fatores Criticos de
Sucesso associados a competicao no setor. Nesse sentido, o
desenvolvimento de competencias nao pode estar descolado dos atributos
demandados no setor.
Na situacao descrita neste artigo, os provedores do servico,
caracterizados pelos gestores do pequeno supermercado, tinham uma
percepcao incorreta das preferencias de seus clientes, retratadas na
pesquisa pelos 200 respondentes. Segundo os gestores, o grande fator
determinante do sucesso (e merecedor de esforcos para desenvolver
competencias que assegurassem a excelencia operacional) estava
relacionado ao preco do produto. Em razao disso, os gerentes
acompanhavam a tabela de precos fixada pelas grandes redes de
supermercados na cidade, procurando implementa-la em sua realidade
diaria, sem o conhecimento de suas reais Vantagens Competitivas, dos
atributos que sao de fato levados em consideracao pelos seus clientes
(ZEITHAML, 1988; MEIRELES et al., 2008) e das competencias necessarias
ao negocio, conforme demonstrado nesta pesquisa.
Do ponto de vista dos gestores do supermercado, a pesquisa apontou
a inadequacao de suas crencas acerca do modelo de negocios, que os
levava a investir em competencias inadequadas aos atributos valorizados
pelos consumidores. Dando a pesquisa como legitima e desenvolvendo novas
estrategias, com foco em qualidade e atendimento, a empresa evidenciou
um movimento de aprendizagem de laco duplo, no sentido definido por
Argyris e Schon (1978): uma mudanca de crencas associada a novo foco
estrategico, que, no limite, aponta para novas competencias, passando da
excelencia operacional para a excelencia em servicos (FLEURY; FLEURY,
2001). Note-se que o aprendizado suscitou um realinhamento entre FCS,
competencias e estrategias empresariais.
Partindo-se do principio segundo o qual as competencias resultam do
aprendizado coletivo de uma organizacao, constata-se no caso em questao
um movimento de aprendizado associado a reorientacao estrategica e um
direcionamento da organizacao para novas competencias, mudancas que
ratificam as conclusoes destacadas por Quinn (1980), Sanchez e Heene
(1997), Goodman e Darr (1998), Prahalad e Hamel (1990), Zaccarelli
(2000) e Meireles et al.(2007).
Outro ponto elucidado pelo trabalho, que figura como contribuicao
relevante para a area de Pesquisa Organizacional e Estrategia e fornece
uma indicacao para futuros estudos academicos e/ou gerenciais, e a
possibilidade de empregar a Matriz Trade-off como ferramenta adequada,
confiavel, de simples aplicacao e de baixo custo em pesquisas referentes
a fatores que os clientes realmente valorizam, alem de utiliza-la como
instrumento para a reorientacao estrategica e o investimento em novas
competencias de negocio, em Micro e Pequenas Empresas.
DOI: 10.5700/rege 452
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Marcio Luiz Marietto
Coordenador e Professor do Curso de Pos-Graduacao em Gestao
Internacional de Negocios no Centro Universitario
SENAC/Sorocaba--Sorocaba-SP, Brasil Mestre em Administracao pela FACCAMP
e MBA em Gestao da Saude pela Universidade Federal de Sao Paulo
(UNIFESP) E-mail:
[email protected]
Cida Sanches
Pesquisadora e docente do Programa de Mestrado Profissional em
Administracao da FACCAMP--Instituto de Ensino Campo Limpo Paulista--Sao
Paulo-SP, Brasil Mestre em Educacao pela Universidade Paulista e Doutora
em Gestao da Saude pela Universidade Federal de Sao Paulo (UNIFESP)
E-mail:
[email protected]
Manuel Meireles
Pesquisador e docente do programa de Mestrado Profissional em
Administracao da FACCAMP--Instituto Campo Limpo Paulista--Sao Paulo-SP,
Brasil Doutor em Ciencias pela Universidade Federal de Sao Paulo
(UNIFESP) e em Engenharia de Producao pela Universidade de Sao Paulo
(USP) E-mail:
[email protected]
Bruno Henrique Rocha Fernandes
Coordenador do Programa de Mestrado e Doutorado em Administracao da
Universidade Positivo--Curitiba-Parana, Brasil Mestre em Administracao
pela Universidade Federal do Parana e Doutor em Administracao pela
Universidade de Sao Paulo E-mail:
[email protected]
Marisa Regina Paixao
Professora e Pesquisadora na Universidade Paulista (UNIP)--Sao
Paulo-SP, Brasil Graduacao em Direito pelo Centro Universitario das
Faculdades Metropolitanas Unidas e Mestre em Administracao pela UNIP
E-mail:
[email protected]
Recebido em: 24/8/2009
Aprovado em: 6/4/2010
Tabela 1: Questionario Trade-Off aplicado
A B
Promocoes Qualidade dos produtos
Agilidade no atendimento
Preco dos produtos
Atendimento cordial
Disposicao dos produtos
Variedade dos produtos
Qualidade dos produtos Agilidade no atendimento
Preco dos produtos
Atendimento cordial
Disposicao dos produtos
Variedade dos produtos
Agilidade no atendimento Preco dos produtos
Atendimento cordial
Disposicao dos produtos
Variedade dos produtos
Preco dos produtos Atendimento cordial
Disposicao dos produtos
Variedade dos produtos
Atendimento cordial Disposicao dos produtos
Variedade dos produtos
Disposicao dos produtos Variedade dos produtos
Atribua, a direita, uma nota de zero a dez, expressando o nivel de
satisfacao com nosso Supermercado. Quer fazer algum comentario que
entenda relevante?
Fonte: Meireles et al. (2008).
Tabela 2: Exemplo parcial de questionario Trade-Off aplicado
A B
2 8 Qualidade dos produtos
5 5 Agilidade no atendimento
Promocoes 6 4 Preco dos produtos
Promocoes 4 6 Atendimento cordial
5 5 Disposicao dos produtos
6 6 Variedade dos produtos
Fonte: Meireles et al.(2008).
Tabela 3: Valores medios atribuidos pelos respondentes as colunas
A e B e respectivas relacoes (RTO)
A B
Promocoes 2,5 7,5 Qualidade dos produtos
4,5 5,5 Agilidade no atendimento
5,4 4,6 Preco dos produtos
4,7 5,3 Atendimento cordial
5,6 4,4 Disposicao dos produtos
4,4 5,6 Variedade dos produtos
Qualidade dos produtos 4,8 5,2 Agilidade no atendimento
7,1 2,9 Preco dos produtos
5,6 4,4 Atendimento cordial
6,6 3,4 Disposicao dos produtos
6,1 3,9 Variedade dos produtos
Agdade no atendimento 5,0 5,0 Preco dos produtos
4,9 5,1 Atendimento cordial
5,9 4,1 Disposicao dos produtos
4,4 5,6 Variedade dos produtos
Preco dos produtos 3,9 6,1 Atendimento cordial
5,8 4,2 Disposicao dos produtos
3,7 6,3 Variedade dos produtos
Atendimento cordial 7,0 3,0 Disposicao dos produtos
5,0 5,0 Variedade dos produtos
Disposicao dos produtos 2,5 7,5 Variedade dos produtos
RTO Inverso
RTO
Promocoes 0,33 3,00
0,82 1,22
1,17 0,85
0,89 1,13
1,27 0,79
0,79 1,27
Qualidade dos produtos 0,92 1,08
2,45 0,41
1,27 0,79
1,94 0,52
1,56 0,64
Agdade no atendimento 1,00 1,00
0,96 1,04
1,44 0,69
0,79 1,27
Preco dos produtos 0,64 1,56
1,38 0,72
0,59 1,70
Atendimento cordial 2,33 0,43
1,00 1,00
Disposicao dos produtos 0,33 3,00
Atribua, a direita, uma nota de zero a dez, expressando o nivel de
satisfacao com o nosso Supermercado
Fonte: Meireles et al. (2008).
Tabela 5: Matriz de Priorizacao completa, incluindo a coluna de
"soma da linha" e a coluna "posto"
Matriz de priorizacao para Promocoes Qualidade dos
analise dos resultados oriundos produtos
do questionario Trade-Off
Promocoes 0,33
Qualidade dos produtos 3,00
Agilidade no atendimento 1,22 1,08
Preco dos produtos 0,85 0,41
Atendimento cordial 1,13 0,79
Disposicao dos produtos 0,79 0,52
Variedade dos produtos 1,27 0,64
Matriz de priorizacao para Agilidade no Preco dos
analise dos resultados oriundos atendimento produtos
do questionario Trade-Off
Promocoes 0,82 1,17
Qualidade dos produtos 0,92 2,45
Agilidade no atendimento 1,00
Preco dos produtos 1,00
Atendimento cordial 1,04 1,56
Disposicao dos produtos 0,69 0,72
Variedade dos produtos 1,27 1,70
Matriz de priorizacao para Atendimento Disposicao dos
analise dos resultados oriundos cordial produtos
do questionario Trade-Off
Promocoes 0,89 1,27
Qualidade dos produtos 1,27 1,94
Agilidade no atendimento 0,96 1,44
Preco dos produtos 0,64 1,38
Atendimento cordial 2,33
Disposicao dos produtos 0,43
Variedade dos produtos 1,00 3,00
Matriz de priorizacao para Variedade dos Soma da linha
analise dos resultados oriundos produtos
do questionario Trade-Off
Promocoes 0,79 5,27
Qualidade dos produtos 1,56 11,15
Agilidade no atendimento 0,79 6,49
Preco dos produtos 0,59 4,87
Atendimento cordial 1,00 7,85
Disposicao dos produtos 0,33 3,48
Variedade dos produtos 8,89
Matriz de priorizacao para Posto
analise dos resultados oriundos
do questionario Trade-Off
Promocoes
Qualidade dos produtos 1
Agilidade no atendimento
Preco dos produtos
Atendimento cordial 3
Disposicao dos produtos
Variedade dos produtos 2
Fonte: Meireles et al. (2008).