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文章基本信息

  • 标题:Guiding factors of fund transfer in welfare programs in Brazil/Fatores direcionadores da transferencia de recursos em programas sociais no Brasil/Factores direccionadores de la transferencia de recursos enprogramas sociales en Brasil.
  • 作者:Monteiro, Doraliza Auxiliadora Abranches ; Ferreira, Marco Aurelio Marques ; Silveira, Suely de Fatima
  • 期刊名称:Revista de Gestao USP
  • 印刷版ISSN:1809-2276
  • 出版年度:2013
  • 期号:April
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade - FEA-USP
  • 关键词:Elementary schools;Mortality;Public assistance;Unemployment;Welfare

Guiding factors of fund transfer in welfare programs in Brazil/Fatores direcionadores da transferencia de recursos em programas sociais no Brasil/Factores direccionadores de la transferencia de recursos enprogramas sociales en Brasil.


Monteiro, Doraliza Auxiliadora Abranches ; Ferreira, Marco Aurelio Marques ; Silveira, Suely de Fatima 等


1. INTRODUCAO

O presente trabalho tem o proposito de verificar a existencia de fatores direcionadores das transferencias de recursos publicos aos programas sociais do governo federal.

A alocacao eficiente e equitativa dos recursos nos sistemas publicos e um dos principais desafios que instiga os governos e a sociedade, uma vez que a maximizacao dos resultados depende de uma alocacao adequada dos recursos, que sao limitados diante das necessidades crescentes dos cidadaos.

Sabe-se que, apesar do esforco das esferas governamentais e da sociedade civil organizada, o Brasil tem apresentado desigualdades sociais ao longo de toda sua historia. O pais tem 30% de sua populacao em estado de pobreza absoluta (IPEADATA, 2008), ou seja, uma significativa parcela populacional nao consegue ter atendidas, minimamente, suas necessidades diarias, em contraste com a elevada concentracao de renda, o que faz com que o pais apresente um dos maiores graus de desigualdade de renda do mundo. O Brasil possui, ainda, cerca de 191 milhoes de habitantes, constituindo-se na decima economia mundial e na decima maior concentracao de renda do mundo (IBGE, 2007; PNUD, 2007).

Em 2006, cerca de 1,3 milhao de familias brasileiras detinham o equivalente a 75% da renda nacional. Alem disso, a renda media da populacao mais rica superava a renda media do resto da populacao em cerca de 15 vezes (NASCIMENTO, 2006).

Os 10% mais ricos detem 45,8% da renda, enquanto os pobres do pais detem apenas 0,8%. A comparacao entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres mostra que a fatia da renda obtida pelo quinto mais rico da populacao (62,1%) e quase 24 vezes maior do que a fatia de renda do quinto mais pobre (2,6%) (PNUD, 2007).

Dados do Instituto de Pesquisa Economica Aplicada (IPEA, 2007) mostram que, no periodo de 2004 a 2006, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita brasileiro avancou 16,84%, passando de R$10.691,00 para R$12.490,00, um porcentual ainda muito aquem das necessidades internas atuais de geracao de trabalho e renda. O Indice de Desenvolvimento Humano (IDH), que e uma medida de desenvolvimento humano de um pais e engloba tres dimensoes, a riqueza, a educacao e a esperanca media de vida, passou de 0,792 em 2006 para 0,800 em 2007, resultado que coloca o Brasil entre as nacoes de alto desenvolvimento humano (o valor maximo e de 1).

Quanto ao desemprego, dados do DATASUS (2008) mostram sua diminuicao no Brasil entre os anos de 2004 (9,31%) e 2006 (8,88%)-uma queda de 4,62%. O agravante esta no fato de que, embora tenham sido registrados avancos em educacao, saude e renda, ainda ha um significativo numero de desempregados e pobres, o que mantem o Brasil como um dos paises mais desiguais do mundo, a frente apenas de paises como Colombia, Bolivia, Haiti e cinco paises da Africa Subsaariana.

Nesse contexto, as iniciativas de combate a pobreza multiplicam-se por meio de acoes e programas sociais governamentais. O Ministerio de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS), criado em 2004, integrou os ministerios responsaveis pelas politicas de protecao social brasileira--o Ministerio Extraordinario de Seguranca Alimentar e Nutricional (MESA), o Ministerio da Assistencia Social (MAS) e a Secretaria Executiva do Programa Bolsa Familia (SILVA, 2007; MDS, 2007). Esse fator implicou um aumento significativo dos investimentos em politicas de protecao, assistencia e desenvolvimento social, que se traduzem em programas e acoes de transferencia de renda, seguranca alimentar e nutricional, assistencia social e inclusao produtiva (SOUSA, 2006).

Os programas sociais do governo federal sao motivados pela missao central do MDS, que consiste em promover a inclusao social e a emancipacao das familias brasileiras, erradicando de forma definitiva a fome e a miseria no Brasil por meio de politicas publicas de protecao e promocao social (MDS, 2007).

De acordo com o MDS (2008), cerca de 60 milhoes de pessoas sao beneficiadas por seus programas, o que evidencia a grande cobertura de servicos e da rede de protecao social brasileira.

Assim, o MDS e composto de secretarias, que exercem o papel de execucao, avaliacao e articulacao institucional dos programas. O desenho organizacional do MDS contempla a Secretaria Nacional de Assistencia Social (SNAS), a Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (SENARC) e a Secretaria Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional (SESAN), formando, assim, as secretarias responsaveis pela execucao das politicas e programas sociais. O monitoramento e a avaliacao sao realizados pela Secretaria de Avaliacao e Gestao da Informacao (SAGI), enquanto a Secretaria de Articulacao Institucional e Parcerias (SAIP) completa a estrutura do MDS (Figura1).

[FIGURE 1 OMITTED]

A Politica Nacional de Assistencia Social (PNAS), realizada pela Secretaria Nacional de Assistencia Social (CNAS), tem como meta a consolidacao do direito a Assistencia Social em todo o territorio nacional. Busca superar o clientelismo e a caridade, que marcaram sua trajetoria, bem como garantir a efetividade dos direitos universais da PNAS.

Seu principal objetivo e a implantacao e a consolidacao do Sistema Unico de Assistencia Social (SUAS), que estabelece dois niveis de Protecao Social--a Basica e a Especial. O financiamento dos programas e servicos e viabilizado pelo Fundo Nacional de Assistencia Social (FNAS), que transfere recursos para as instancias descentralizadas nas esferas estaduais e municipais.

Exemplos de programas da SNAS sao: Beneficio de Prestacao Continuada (BPC); Servicos de Protecao Social as Criancas e aos Adolescentes Vitimas de Violencia, Abuso e Exploracao Sexual (Programa Sentinela); Programas Erradicacao do Trabalho Infantil (PETI) e Populacao em situacao de rua.

A Politica Nacional de Renda de Cidadania, realizada pela Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (SENARC) em conjunto com os entes federados e a sociedade civil organizada, tem por objetivo promover o alivio imediato da pobreza e a ruptura de seu ciclo intergeracional por meio da transferencia direta de renda, com o cumprimento de condicionalidades nas areas de saude e educacao, garantindo o exercicio de direitos sociais. Preve a articulacao das familias em situacao de pobreza e indigencia com programas complementares voltados a promocao da cidadania e a geracao de trabalho e renda. Um exemplo de programa da SNARC e o Programa Bolsa Familia (PBF).

A Politica Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional, realizada pela Secretaria Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional (SESAN), tem como objetivo garantir aos cidadaos o acesso a alimentacao e a agua em quantidade, qualidade e regularidade suficientes, de maneira sustentavel e respeitando a diversidade cultural da populacao brasileira. Para alcancar esse objetivo, o MDS, por meio da Secretaria Nacional de Seguranca Alimentar e Nutricional (SESAN), promove acoes estruturantes e emergenciais de combate a fome.

A atuacao dessa Secretaria consiste no desenvolvimento de programas, projetos e acoes de producao e distribuicao de alimentos, de apoio e incentivo a agricultura familiar, de desenvolvimento regional, de educacao alimentar e nutricional, alem de outros direcionados a populacoes especificas, contribuindo, assim, para o conjunto da estrategia FOME ZERO. Exemplos de programas da SESAN sao: Programa de aquisicao de alimentos (PAA); Programa de aquisicao de alimentos (PAA Leite); Programa Cisternas; Carteira Indigena; Programa de Apoio a Comunidades Quilombolas; Restaurantes Populares; Cozinhas Comunitarias; Agricultura Urbana; Banco de Alimentos; Chamada Nutricional.

1.1. O problema e sua importancia

Para a investigacao proposta, buscou-se verificar se os aspectos de vulnerabilidade socioeconomicos, presentes de forma dispare nas diversas regioes e Estados brasileiros, sao capazes de determinar as transferencias sociais do governo federal para as acoes de politicas publicas inseridas na protecao social brasileira.

Ha grande debate entre os estudiosos a respeito da focalizacao dos programas sociais. Assim, existem autores que apontam o lado negativo da focalizacao no Brasil, ou seja, a prevalencia de uma politica de acao isolada em detrimento das politicas universalizantes. Na visao desses estudiosos, tem prevalecido politicas e programas que ferem os principios de igualdade, principalmente no contexto dos direitos humanos (ZIMMERMANN, 2006; PASTORINI; GALIZIA, 2006; DRUK; FILGUEIRAS, 2007 .

Por outro lado, ha autores que, embora explicitem o tratamento desigual, apontam a importancia das politicas focalizadas, pois elas o tornam justo quando beneficiam o individuo mais necessitado (SENNA, 2002; DINIZ, 2007; SUPLICY, 2007; SILVA; YAZBEK; GIOVANNI, 2007).

Segundo Aguiar e Araujo (2002), o acesso de todas as pessoas aos direitos universais deve ser garantido com acoes de carater universal, mas tambem com acoes especificas e afirmativas voltadas aos grupos historicamente discriminados. Nessa vertente, Diniz (2007) afirma que os individuos sao diferentes entre si e, portanto, merecem um tratamento diferenciado, que elimine ou reduza a desigualdade.

Portanto, no presente estudo pretende-se responder a seguinte indagacao: existem fatores socioeconomicos direcionadores na distribuicao dos recursos publicos em programas sociais?

Destaca-se a importancia dessa investigacao, principalmente pela preocupacao existente, tanto no contexto economico quanto no social, com a alocacao, equidade e transparencia na utilizacao dos recursos em programas sociais, que torna necessarios estudos que possibilitem avaliar a alocacao dos recursos em programas sociais e refletir sobre ela. Isso porque a avaliacao dos principios de alocacao, distribuicao e efetiva aplicacao dos recursos publicos e extremamente necessaria para o desenvolvimento de politicas que ampliem a utilizacao de servicos pela sociedade, bem como a avaliacao da gestao social do poder publico municipal, e possibilita que a populacao tenha acesso as informacoes.

2. PROTECAO SOCIAL BRASILEIRA

As vulnerabilidades sociais ainda existentes no Brasil, tais como a pobreza, a desigualdade de renda, o desemprego, o analfabetismo e a baixa escolaridade, as carencias na saude e na educacao, a instabilidade economica e financeira, clamam por sistemas de protecao cada vez mais individualizados e complexos, principalmente em razao da articulacao e da complementaridade necessarias, ja que se verificam varias vulnerabilidades nos mesmos grupos de pessoas.

De acordo com Rosario (2005), ser protegido e a capacidade de possuir direitos e condicoes minimas de independencia, e a protecao social, alem da concessao de beneficios, deve prover condicao basica necessaria para todos, formando, assim, uma sociedade de iguais e concretizando a democracia.

O conceito de um Sistema de Protecao Social contra riscos como a doenca, a velhice e o desemprego, garantido exclusivamente pelo Estado, foi concebido principalmente com o surgimento de uma sociedade industrial capitalista, com suas classes trabalhadoras e a transparencia da questao social.

Partindo desse contexto historico, Pastorini e Galizia (2006) afirmam que a maioria dos sistemas de protecao social foi construida em conformidade com interesses politicos e economicos variados e com diversos modelos de Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State, que tem, como referencia, o estagio de desenvolvimento de uma dada sociedade.

Esses sistemas sao caracterizados pela presenca tanto da oferta de servicos publicos universais e particulares, por organizacoes publicas e privadas, a um publico que nao possui acesso ao sistema privado, quanto do oferecimento de programas compensatorios e emergenciais na area da assistencia social.

A protecao social e aquela que responde ao conceito de "risco social", entendido como todo acontecimento de realizacao incerta que afeta a plenitude das faculdades fisicas e mentais de uma pessoa, diminui seus recursos economicos ou determina seu desaparecimento (PASTORINI; GALIZIA, 2006).

Outra conceituacao, segundo esses autores, e que a protecao social e pautada na seguinte classificacao: cobertura e inclusao universal ou seletiva; relacao publico-privado no quesito do financiamento e oferta dos beneficios (setores publico, privado ou ambos); fatores deliberativos e institucionais nas decisoes e metodos de gestao.

Nesse quadro e em seu sentido mais amplo, a protecao social formal abrange desde a legislacao trabalhista ate os seguros sociais, a atencao a saude publica e a assistencia social.

A Constituicao Brasileira de 1988 representou um marco para a construcao de uma concepcao de politica social como "um conjunto integrado de acoes de iniciativa dos poderes publicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos a saude, a previdencia e a assistencia social" (BRASIL, 1988), conformando, assim, uma perspectiva de seguridade social pautada nos direitos de cidadania (RODRIGUES, 2005).

Nessa Constituicao, houve a ampliacao de alguns desses direitos sociais, como, por exemplo, os beneficios previdenciarios e assistenciais. Durante a decada de 1990 ocorreu a regulamentacao das areas de saude, previdencia e assistencia social, por meio de Leis Organicas (1), e uma definicao mais clara do conjunto de diretrizes e principios que regem essas areas (RODRIGUES, 2005). Assim, conforme Ferreira (2007), foram contempladas principalmente as areas da saude, educacao, previdencia, trabalho e assistencia social.

Peruzzo e Reis (2002), em complemento, afirmam que a questao da protecao social se institucionaliza e toma forma concreta por meio de politicas de carater social, assumidas pelo Estado e reconhecidas pela sociedade.

Na percepcao de Aguiar e Araujo (2002), os direitos sociais sao definidos pela participacao de todos na riqueza do pais. Neles estao incluidos os direitos a educacao, a informacao, ao trabalho, ao salario justo, a saude, a habitacao, a alimentacao, a cultura, ao lazer e a aposentadoria. A efetivacao dos direitos sociais permite as sociedades reduzir os excessos de desigualdade e garantir um minimo de bem-estar para todos, alem de um minimo de coesao social, sem a qual qualquer sociedade humana se desfigura e se dissolve. A ideia central em que se baseiam e a justica social.

Nesse sentido, e nas principais transformacoes da politica social, inclusive daquelas voltadas para o combate a pobreza e a fome, as quais configuram uma nova institucionalidade das politicas, que estao presentes os seguintes eixos: descentralizacao financeira e administrativa; ampliacao da participacao e do controle social; direito social enquanto fundamento da politica; busca por maior equidade, efetividade e eficacia do gasto social (DRAIBE, 1998; RODRIGUES, 2005).

Uma forma especifica de politicas de protecao social, que alcancou maior notoriedade na decada de 1990, sao os programas de transferencia de renda, que, a partir de experiencias focalizadas no Distrito Federal e em Campinas, contribuiram para a implantacao do maior programa de transferencia de renda atual, o Programa Bolsa Familia.

No entanto, existe ampla discussao acerca da focalizacao dos programas sociais, destacando-se autores que defendem estrategias institucionais destinadas a garantir que os programas sociais atinjam os segmentos mais vulneraveis. Em outra vertente, ha autores que defendem que os programas devem ser universais, ja que todos os individuos possuem direitos.

Na primeira vertente, Senna (2002) discorre sobre a saude e defende que o objetivo das politicas sociais seria reduzir ou eliminar diferencas resultantes de fatores considerados ao mesmo tempo evitaveis e injustos. Na mesma direcao, Garrafa, Oselka e Diniz (1997), apontam o reconhecimento de necessidades diferentes, de sujeitos tambem diferentes, para se atingirem direitos iguais, e a necessidade, entao, de intervencoes diferenciadas, traduzidas na focalizacao dos mais pobres como alvo prioritario das acoes governamentais. De acordo com Mello (2004), as politicas focalizadas sao de extrema importancia e tem relevante impacto na reducao da pobreza e da desigualdade, pois levam em consideracao diferentes situacoes e localidades, assim como as dificuldades advindas de particularidades regionais.

Por outro lado, na segunda vertente, os autores consideram que, em muitas situacoes, a focalizacao se resume a uma acao isolada de curto prazo e beneficia poucos, deixando diversas pessoas, possuidoras de direitos, fora dos programas (ZIMMERMANN, 2006; DRUK; FILGUEIRAS, 2007). De acordo com Mello (2004), considera-se politicamente mais popular as politicas nao se restringirem a um publico-alvo, uma vez que nao ha distincao socioeconomica entre quem pode e quem nao pode participar. Assim, a proposicao dessa vertente e que os beneficios sejam estendidos a toda a populacao.

3. METODOLOGIA

Buscando investigar os fatores que tem influenciado a destinacao dos recursos dos programas sociais no Brasil, estimou-se uma regressao linear multipla com dados em painel para o periodo de 2004 a 2006. A ideia-chave da analise de regressao multipla e a dependencia estatistica de uma variavel em relacao a um conjunto de outras variaveis explicativas (GUJARATI, 2000).

3.1. Dados em painel

Segundo Silva e Cruz Junior (2004), dados em painel sao muito comuns e se referem a combinacao de dados sobre diferentes unidades economicas, tais como familias, regioes, empresas e outros, coletados em diferentes periodos de tempo, como dias, semanas, meses, anos, dentre outros.

E consenso entre os autores que sao muitas as vantagens da utilizacao de dados em painel em relacao a analise dos mesmos dados como uma serie temporal ou um corte seccional. Uma delas e o maior numero de observacoes e informacoes, ou seja, uma maior variabilidade dos dados, que aumenta os graus de liberdade e a eficiencia dos parametros estimados, pois reduz o problema da colinearidade entre as variaveis explicativas (MARQUES, 2000; SILVA; CRUZ JUNIOR, 2004; SOUSA; MAIA, 2004; TEJADA; JACINTO; SANTOS, 2008). A utilizacao conjunta dos dados tambem permite que a dinamica intertemporal e a individualidade das variaveis analisadas possam ser mais bem controladas no que se refere aos efeitos da omissao de outras variaveis (SILVA; CRUZ JUNIOR, 2004).

Assim, os dados em painel sugerem a existencia de caracteristicas diferenciadoras dos individuos, as quais podem ou nao ser constantes ao longo do tempo, de tal forma que estudos temporais ou seccionais que nao tenham em conta tal heterogeneidade produzirao, quase sempre, resultados fortemente enviesados. Portanto, heterogeneidade individual e relevante (MARQUES, 2000).

Diversos estudos que estimam as funcoes de regressao com dados em painel tem sido realizados. Tejada et al. (2008) analisaram, utilizando um painel de dados, a existencia de causalidade entre indicadores de pobreza e saude para os Estados do Brasil. Para tal, foi utilizada a taxa de mortalidade na infancia como proxy de saude e a proporcao de pobres e a renda domiciliar per capita como proxies de pobreza, para um painel com os 25 Estados do Brasil mais o Distrito Federal, com o uso do teste de causalidade de Granger.

Souza (2007) utilizou dados em painel para verificar o grau de dependencia dos municipios da Zona da Mata mineira em relacao as transferencias intergovernamentais. Foram utilizadas as seguintes variaveis: despesa corrente per capita, fundo de participacao municipal, Imposto Sobre Circulacao de Mercadorias e Prestacao de Servicos (ICMS), Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), dentre outras. O modelo realizado foi o de efeitos fixos, o qual assume que todas as diferencas entre as unidades analisadas ao longo do tempo sao captadas pelo intercepto.

Loureiro e Carvalho Junior (2007) estimaram o impacto dos gastos publicos em seguranca e assistencia social sobre a criminalidade nos Estados brasileiros para o periodo de 2001 a 2003. Foram analisadas quatro categorias de crime, ou seja, homicidio, roubo, furto e sequestro, e variaveis consideradas determinantes do crime, como o indice de Gini (mede concentracao de renda), pobreza, renda domiciliar per capita, taxa de desemprego, gasto em seguranca publica, gasto em assistencia social e previdencia social, dentre outras.

Rocha e Giuberti (2007) examinaram a ligacao entre componentes do gasto do governo e o crescimento economico, durante o periodo 19862002, utilizando um painel composto dos Estados brasileiros. Aplicou-se, entao, o metodo de efeitos fixos, que leva em conta caracteristicas especificas dos Estados e o efeito especifico de tempo. As seguintes variaveis foram utilizadas: PIB per capita estadual, gastos correntes, gastos de capital, gastos por funcoes de saude, educacao, defesa, transporte e comunicacao.

Fujiwara (2008) visou mensurar, por meio de um estimador, o efeito medio da privatizacao dos servicos de agua e esgoto na reducao da mortalidade infantil nos municipios dos Estados do Rio de Janeiro e de Sao Paulo. Os dados constituiram um painel de dois anos (1991 e 2000) de 436 municipios, e um estimador de diferencaem-diferencas, com base nos anos de 1991 (pretratamento/privatizacao) e 2000 (postratamento/privatizacao) foi utilizado.

Souza e Maia (2004) investigaram os fatores determinantes da trajetoria da taxa de mortalidade infantil, estimando, com dados em painel, modelos tanto para efeitos fixos quanto para efeitos aleatorios nos Estados da Regiao Nordeste durante o periodo de 1991 a 2000.

Dessa forma, a estimacao com dados em painel caracteriza-se por utilizar observacoes de series temporais e secao cruzada. Os principais modelos sao os de equacoes aparentemente nao relacionadas (SUR), de efeitos fixos (EF) e de efeitos aleatorios (EA) (SILVA; CRUZ JUNIOR, 2004).

Segundo esses autores, um modelo com dados em painel que tenha N secoes cruzadas, T observacoes de serie temporal e (K-1) variaveis explicativas pode ser expresso como:

[Y.sub.it] = [[beta].sub.1it] + [k.summation over (K=2)] [[beta].sub.kit][X.sub.kit] + [e.sub.it] = 1,2,...,N t = 1,2,...,T (1)

em que [[beta].sub.1it] representa o intercepto diferenciado para cada unidade de secao cruzada i no periodo t, [[beta].sub.kit] representa as diferentes inclinacoes tambem para cada unidade de secao cruzada i analisada em cada periodo t, e [e.sub.it] e um termo de erro definido da mesma forma.

Para o presente estudo, realizou-se o teste de Chow, que permite selecionar o modelo mais apropriado. Esse teste verifica a opcao pelo modelo de intercepto comum para todas as secoes cruzadas (restrito) versus o modelo de efeitos fixos (irrestrito); assim, a hipotese nula e que os parametros de interceptos estimados sao iguais para cada secao cruzada (SILVA; CRUZ JUNIOR, 2004). Destaca-se que o teste de Hausman, utilizado para comparar modelos de efeitos fixos versus modelo de efeitos aleatorios, nao se aplicou, em razao de o modelo de efeitos fixos ser o recomendado para o trabalho, pois nao se tinha numero de periodos superior ao numero de coeficientes na equacao.

Assim, a estimacao foi realizada com efeitos fixos, assumindo-se que todas as diferencas entre as unidades de tempo podem ser captadas pelo intercepto e que as diferencas de secao cruzada sao consideradas constantes.

3.2. Fonte de dados

Para a obtencao dos Gastos dos Programas Sociais do Governo Federal, foram utilizados dados da Controladoria-Geral da Uniao (CGU 2008), disponiveis no Portal Transparencia. Como variaveis, que compuseram os indicadores sociais, foram utilizados os seguintes bancos de dados: IPEADATA, DATASUS, IBGE, INEP (2008) (Quadro 1).

As observacoes se referem aos 27 Estados brasileiros. A variavel dependente (Y) e o repasse social e as variaveis explicativas ([X.sub.1], [X.sub.2], [X.sub.3],...) se referem a populacao, numero medio de pessoas por domicilio, proporcao de pobres, taxa bruta de mortalidade, esperanca de vida ao nascer, taxa de desemprego, rendimento medio dos mais pobres, alunos matriculados no ensino fundamental, taxa de analfabetismo, proporcao de domicilios nao servidos por rede geral de agua, proporcao de domicilios nao servidos por rede geral de esgoto, proporcao de domicilios nao servidos por coleta de lixo e proporcao de domicilios nao servidos por iluminacao eletrica. Diferentes indicadores sao utilizados como variavel independente, a fim de verificar como e determinado o repasse dos programas sociais do governo federal.

Ressalta-se que as variaveis utilizadas para a composicao do modelo sao indicadores que refletem o contexto socioeconomico brasileiro em muitos aspectos e areas, tais como as de saude, de educacao, de trabalho, de renda, de pobreza e de infraestrutura social.

Portanto, o modelo estatistico utilizado para verificar indicadores socioeconomicos, que direcionam a distribuicao dos recursos publicos do governo federal, apresenta a seguinte forma:

Log REPS = Log ([POP.sub.it], [NMPD.sub.it], [PP.sub.it], [TXBM.sub.it], [EVN.sub.i]t, [TXD.sub.it], [RMP.sub.it], [MEF.sub.it], [TAN.sub.it], [PPNRG.sub.it], [PPNRE.sub.it], [PPNSIE.sub.it], [PPNCL.sub.it]) (2)

em que

i = 1,2,...,27 e t = 2004, 2005, 2006, 2007

REPS = Repasse social;

POP = Populacao;

NMPD = Numero medio de pessoas por domicilio;

PP = Proporcao de pobres;

TXBM = Taxa bruta de mortalidade;

EVN = Esperanca de vida ao nascer;

TXD = Taxa de Desemprego;

RMP = Rendimento medio dos mais pobres;

MEF = Alunos matriculados no ensino fundamental;

TAN = Taxa de analfabetismo;

PPNRG = Domicilios nao servidos por rede geral de agua;

PPNRE = Domicilios nao servidos por rede geral de esgoto;

PPNSIE = Domicilios nao servidos por iluminacao eletrica;

PPNCL = Domicilios nao servidos por coleta de lixo.

Os dados foram operacionalizados utilizandose o Software econometrico EViews 5.0.

A expectativa teorica para o estudo e de que o maior investimento em programas sociais seja determinado pelo aumento da populacao e da proporcao de pobres, pois se verifica grande e de que os programas sociais sejam direcionados para segmentos mais empobrecidos da populacao.

Outra expectativa e de que taxas mais altas de mortalidade e menor esperanca de vida ao nascer demandem maior investimento em programas sociais, haja vista que a maioria dos programas tem, como foco, o combate a vulnerabilidades sociais. Ressalta-se que o enfrentamento da mortalidade acompanhado do incentivo ao aumento da esperanca de vida e importante no combate a pobreza.

O bem-estar de uma populacao pode estar associado a renda e ao acesso ao trabalho. Assim, espera-se que maiores recursos de programas sociais possam ser destinados as pessoas de menor renda e maior exclusao no mercado formal de trabalho.

Sabe-se que a educacao e fundamental para a inclusao de um individuo na sociedade. Ela possibilita que as pessoas participem dos ambitos economico, social e politico, exercendo, assim, seu papel de cidadaos. Nesse sentido, espera-se que maiores taxas de analfabetismo e menores numeros de alunos matriculados demandem maiores investimentos de programas sociais como forma de incentivo a insercao dos beneficiarios nos sistemas de educacao.

O alcance de determinados servicos pelas familias sao fatores que contribuem para melhores condicoes de vida, saude, conforto e lazer da populacao. Espera-se que maiores deficiencias em infraestrutura social, materializadas em indicadores proxies, determinem a demanda por maiores repasses dos programas sociais do governo federal. Dessa maneira, procurou-se utilizar indicadores dos domicilios brasileiros como a presenca de abastecimento de agua, esgoto sanitario, coleta de lixo e energia eletrica.

4. RESULTADOS E DISCUSSAO

4.1. Protecao Social Brasileira: predominancia do Programa Bolsa Familia

Com base na Tabela 1, que apresenta os gastos dos programas sociais do Governo Federal a partir do ano de 2004, destaca-se a grande predominancia de recursos destinados a Secretaria de Renda e Cidadania (88, 21%), materializada no Programa Bolsa Familia.

Por essa razao, sustentam-se as afirmacoes de Sousa (2006) e Silva (2007) de que esse programa e prioridade do governo federal e passa a ser considerado eixo central de uma grande rede de protecao social implantada, de modo descentralizado, em quase todos os municipios brasileiros.

Em segundo lugar, mas com recursos bem inferiores, ressaltam-se os gastos com a Secretaria de Assistencia Social (8,7%), e, em terceiro, os gastos com a Secretaria de Seguranca Alimentar e Nutricional (3,00%). Destaca-se que a opcao "Outros" se refere a gastos em que havia descricao pendente de definicao, razao pela qual foi impossivel associa-la as Secretarias.

4.2. Direcionadores socioeconomicos dos repasses sociais do governo federal

Na Tabela 2 observa-se a analise descritiva das variaveis empregadas no modelo, para os anos de 2004 a 2007, no intuito de descrever e resumir o comportamento dos dados utilizados no estudo, a fim de conhecer suas caracteristicas.

A media de repasse social destinado aos Estados brasileiros, para os anos de 2004 a 2007, foi de R$223.934.061,12, R$270.625.065,38, R$316.136.851,90 e R$348.623.942,01, respectivamente, o que demonstra crescimento medio de 18,5% ao ano.

No ano de 2004, a media da populacao brasileira por Estado era de 6.742.966, numero que aumentou nos anos de 2005 e 2007. Ressaltase que o desvio-padrao e alto, maior que a media, pois ha grande discrepancia populacional nos Estados brasileiros. A media de pessoas por domicilio, no ano de 2007, caiu em relacao ao ano de 2004 (3,72 para 3,54).

Destaca-se que o numero de pobres da populacao brasileira e a taxa bruta de mortalidade cairam em todos os anos contemplados no estudo, bem como houve aumento da expectativa de vida da populacao brasileira.

Em consonancia com isso, observou-se aumento no rendimento dos mais pobres ao longo dos anos estudados e queda na taxa de desemprego, exceto para o ano de 2007.

Nessa direcao, destaca-se tambem o aumento de matriculas no ensino fundamental e a queda da taxa de analfabetismo. Ressalta-se que o aumento dos investimentos em educacao, mediante melhorias verificadas, como a oferta de maiores oportunidades educacionais e a promocao de maior equidade educacional, reflete a importancia dada a area da educacao.

As variaveis PPNRG, PPNRE, PPNCL e PDSIE foram utilizadas como proxies de infraestrutura social. Assim, a melhoria desses indicadores nos anos contemplados no estudo indica uma evolucao nas condicoes de vida, saude, conforto e lazer da populacao.

A Tabela 3 apresenta o modelo estimado para representar os principais fatores direcionadores do repasse social no Brasil.

Apos realizacao do teste de Chow, a hipotese nula foi rejeitada, aceitando-se que os interceptos sao diferentes para cada secao cruzada. Portanto, escolheu-se o modelo de efeito fixo (irrestrito).

Destaca-se que todos os coeficientes estimados sao significativos ao nivel de 1%, 5% e 10% (teste t). O modelo apresentou significancia global (teste F) de 1%, enquanto o R2 ajustado, que representa o ajustamento e o poder de explicacao das variaveis do modelo, foi 0,987. Assim, 98,7% na variacao do repasse dos recursos dos programas sociais sao explicados pela relacao linear entre as variaveis explicativas e a variavel dependente.

Dessa forma, os resultados apresentam relacao positiva entre REPS e POP. Assim, a variacao de 1% em POP determina a variacao em mesmo sentido de 0,82% no repasse social (REPS), da mesma forma como a variacao de 1% em NMPD determina 1,12% de variacao no repasse social.

A populacao esta, diretamente, relacionada aos grandes centros que possuem bolsoes de pobreza. Segundo Tejada et al. (2008), os pobres vivem em areas com alta concentracao populacional e, na maioria das vezes, nao possuem acesso a agua potavel, esgotamento sanitario e servicos de saude publica.

Em consonancia com isso, verifica-se que a relacao entre o REPS e a proporcao de pobres (PP) caminha no mesmo sentido, demonstrando que tambem o numero de pobres direciona os recursos dos programas sociais. Havendo variacao de 1% em PP, ha variacao de 0,43% em mesmo sentido no REPS. Essa variavel foi utilizada para demonstrar a pobreza existente no pais, ja que a pobreza priva as pessoas de recursos materiais e financeiros, impossibilitando-as de adquirir bens e servicos de saude, educacao, lazer, dentre outros. De acordo com as expectativas teoricas para o estudo e no contexto dos programas sociais, essa variavel e de fundamental importancia, e o resultado comprovou que programas sociais sao destinados a populacoes empobrecidas.

A relacao entre REPS e TXBM e positiva e estatisticamente significante. Assim, o maior repasse social esta condicionado a maior taxa de mortalidade. Para cada aumento de 1% de TXBM, ha variacao de 1,26% em REPS. A relacao entre REPS e EVN surpreendeu a expectativa teorica, pois se esperava que o aumento de repasse fosse determinado pela menor esperanca de vida ao nascer. Assim, para 1% de variacao em EVN ha variacao em mesmo sentido de 3,55% em REPS.

A taxa de desemprego (TXD) foi utilizada por se entender que a ausencia de emprego contribui para a diminuicao da renda familiar, que reduz o acesso a bens e servicos, alem de prejudicar a autoestima. Esta variavel, porem, nao se apresentou estatisticamente significante e sua variacao e pequena. Havendo variacao positiva em 1% de TXD, ha variacao de 0,03% no REPS no mesmo sentido.

O rendimento medio dos mais pobres (RMP) e uma variavel que representa o nivel de renda das pessoas pobres brasileiras. Na maioria dos programas sociais, o definidor dos beneficios dos programas e o patamar da renda. A relacao entre REPS e RMP nao foi significativa, corroborando as expectativas teoricas de que os recursos sao destinados as pessoas de menor renda. Entretanto, no intuito de aprofundar essa questao e buscar o melhor entendimento da relacao verificada, sugere-se que se facam maiores investigacoes locais (municipios, Estados, regioes), a fim de explicar melhor esse fator e entender suas causas.

MEF e TAN tiveram impacto na alocacao dos recursos repassados pelo Estado, pois o aumento do analfabetismo e de matriculas do ensino fundamental levou ao aumento do repasse social. Assim, a cada aumento de 1% em MEF e TAN, foram observados aumentos de 0,10% e 0,30% no REPS, respectivamente. O indicador TAN e de suma importancia, pois o maior repasse determinado pelo analfabetismo permite, via recursos e incentivo, combater vulnerabilidades educacionais. Muitos programas sociais tem, como condicao para o recebimento dos beneficios, a insercao de membros da familia no sistema educacional. Assim, o sentido da relacao de MEF e REPS parece pertinente, pois o repasse esta sendo realizado onde ha presenca de maior numero de matriculados. Destaca-se que, segundo diversos estudiosos, a educacao e considerada fundamental no combate a pobreza.

A proporcao de domicilios nao servidos por rede geral de agua (PPNRG), a proporcao de domicilios nao servidos por rede geral de esgoto (PPNRE), a proporcao de domicilios nao servidos por coleta de lixo (PPNCL) e a proporcao de domicilios nao servidos por iluminacao eletrica (PPSIE) foram utilizadas como proxies de infraestrutura social. Aponta-se que o coeficiente e negativo para PPNRG e PPNRE, considerandose que as principais variaveis de infraestrutura nao sao criterios para o aumento do repasse social. Destaca-se que o PDSIE foi estatisticamente nao significativo e que o PPNCL foi significativo. Para cada 1% de aumento de PPNCL, ha variacao positiva de 0,28 no REPS.

Portanto, os resultados indicam que as variaveis que afetam positivamente o repasse social sao: populacao, numero medio de pessoas por domicilio, proporcao de pobres, taxa bruta de mortalidade infantil, esperanca de vida ao nascer, taxa de desemprego, matriculas no ensino fundamental, taxa de analfabetismo e proporcao de domicilios nao servidos por coleta de lixo. As variaveis que afetam negativamente o repasse social sao: proporcao de domicilios nao servidos por rede geral de agua e proporcao de domicilios nao servidos por iluminacao eletrica.

5. CONSIDERACOES FINAIS

A logica apontada pelo estudo demonstrou grande dependencia do aumento do repasse social em relacao a alguns indicadores socioeconomicos, principalmente aqueles diretamente relacionados a pobreza, tais como a populacao, numero de pessoas por domicilio, proporcao de pobres, taxa bruta de mortalidade, taxa de desemprego, analfabetismo, rendimento medio dos mais pobres, matriculas no ensino fundamental e esperanca de vida ao nascer. E provavel que esses fatores demonstrem a seletividade e ampliacao dos criterios de focalizacao por meio de financiamento ou investimento de um conjunto de programas sociais. Entretanto, variaveis importantes de infraestrutura social tiveram relacao negativa, demonstrando que esses quesitos afetam, negativamente, o repasse social, nao sendo, assim, direcionadores do repasse, provavelmente pelo fato de as politicas estarem focadas ainda em elementos mais emergenciais. Portanto, a destinacao dos recursos parece ser motivada principalmente por questoes relacionadas a pobreza, pois as pessoas mais pobres precisam de investimentos maiores.

Essas evidencias revelam que as politicas sociais brasileiras, atualmente, caminham no intuito de proteger o cidadao, principalmente o mais pobre, viabilizando melhores condicoes de autonomia, por meio dos beneficios, enquanto buscam articular maior acesso das pessoas a outros servicos, como, por exemplo, a educacao.

Destaca-se a forte presenca do Programa Bolsa Familia na protecao social brasileira, considerando-se que grande parcela dos recursos e destinada a esse programa.

Portanto, excetuando-se algumas variaveis que contrariaram as expectativas teoricas, mas que se fundamentam, provavelmente, nas particularidades e em estudos especificos, pode-se dizer que os recursos estao sendo direcionados por variaveis que representam, com propriedade, direcionadores socioeconomicos capazes de descrever as relacoes teoricas construidas no estudo. Acredita-se que estudos desta natureza podem proporcionar informacoes e interpretacoes mais adequadas para a instrumentalizacao do processo de planejamento, permitindo a escolha de melhores opcoes dentre os programas e projetos a serem implantados ou uma avaliacao da qualidade da implantacao ou dos efeitos produzidos pelos programas e projetos adotados.

DOI: 10.5700/rege492

Recebido em: 13/5/2011

Aprovado em: 23/4/2012

Doraliza Auxiliadora Abranches Monteiro Doutoranda em Administracao na Universidade Federal da Bahia Salvador-BA, Brasil Mestre em Administracao pela Universidade Federal de Vicosa (UFV) Graduada em Administracao pela Universidade Catolica de Brasilia (UCB) E-mail: [email protected]

Marco Aurelio Marques Ferreira Professor e Coordenador do Programa de Pos-Graduacao em Administracao da UFV--Vicosa-MG, Brasil Pos-Doutor em Administracao Publica pela Rutgers University, The State University of New Jersey, USA Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Vicosa (UFV) E-mail: [email protected]

Suely de Fatima Ramos Silveira Professora do Programa de Pos-Graduacao em Administracao da Universidade Federal de Vicosa (UFV)--Vicosa-MG, Brasil Doutora em Economia Aplicada pela ESALQ-Universidade de Sao Paulo Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal de Vicosa Graduada em Ciencias Economicas pela Universidade Federal de Vicosa E-mail: [email protected]

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(1) A lei organica da saude foi publicada em 1990, a LOPS, Lei Organica da Previdencia Social, em 1991. A assistencia social foi a ultima area da seguridade social a ser regulamentada. A Lei Organica da Assistencia Social (LOAS) so foi aprovada em 1993 (RODRIGUES, 2005).
Tabela 1--Gastos dos programas sociais do governo
federal 2004-2007 (em milhoes)

Secretaria                       2004       2005        2006

1- Renda e Cidadania        5.596,46    6.490,06    7.372,41
2- Assistencia Social         326,77      495,54      888,66
3- Seguranca Alimentar e      116,61      314,34      263,26
  Nutricional
4- Outros                       6,39        6,93       11,35
Total                       6.046,22    7.306,88    8.535,70

Secretaria                      2007        Total    Part. Rel.

1- Renda e Cidadania        8.151,12    27.610,06        88,21%
2- Assistencia Social       1.012,33     2.723,30         8,70%
3- Seguranca Alimentar e      245,64       939,86         3,00%
  Nutricional
4- Outros                       3,75        28,42         0,91%
Total                       9.412,85    31.301,64       100,00%

Fonte: CGU/ Resultados da pesquisa.

* Valores reais deflacionados com base no IPCA do ano de 2004.

Tabela 2--Analise descritiva das variaveis empregadas
no modelo (2004-2007)

Variaveis             Min.                Max.              Med.

2004

REPS         17.069.683,75      806.191.068,20    223.934.061,12
POP                381.447          39.939.195         6.742.966
NMPD                  3,10                4,80              3,72
PP                   16,75               71,53             47,04
TXBM                  4,27                7,70              6,02
EVN                  65,53               74,64             70,83
TXD                   3,91               14,34              8,16
RMP                  53,73               77,24             64,07
MEF                 78.062           3.482.994         1.021.935
TAN                   4,20               29,51             14,09
PPNRG                 3,86               65,10             26,38
PPNRE                 3,86               89,33             46,39
PPNCL                 1,79               51,96             22,78
PDSIE                 0,05                3,13              0,89

2005

REPS         16.671.180,00      926.148.512,32    270.625.065,38
POP                392.255          40.490.757         6.829.208
NMPD                  3,10                4,40              3,66
PP                   14,90               68,74             44,43
TXBM                  4,28                7,60              5,98
EVN                  65,95               74,87             71,15
TXD                   4,53               13,33              8,88
RMP                  53,31               80,03             65,18
MEF                 82.145           5.875.983         1.242.020
TAN                   4,66               29,27             13,86
PPNRG                 4,12               64,46             25,98
PPNRE                 6,17               85,02             43,61
PPNCL                 1,62               51,02             21,51
PDSIE                 0,00                2,30              0,53

2006

REPS         19.953.745,74    1.079.930.279,75    316.136.851,90
POP                405.000          41.163.000         6.933.926
NMPD                  3,00                4,30              3,62
PP                   12,53               64,47             39,87
TXBM                  4,30                7,51              5,94
EVN                  66,36               75,11             71,46
TXD                   4,08               11,80              7,70
RMP                  53,44               78,12             66,17
MEF                 85.127           6.014.209         1.232.691
TAN                   4,58               28,76             13,62
PPNRG                 3,78               61,24             24,93
PPNRE                 4,92               78,99             44,04
PPNCL                 1,63               50,37             20,33
PDSIE                 0,00                2,40              0,50

2007

REPS         33.792.147,78    1.176.574.999,18    348.623.942,01
POP                417.521          41.778.574         7.030.383
NMPD                  3,00                4,30              3,54
PP                   15,24               67,66             43,87
TXBM                  4,31                7,44              5,91
EVN                  66,77               75,34             71,76
TXD                   3,76               14,77              7,97
RMP                  89,85              127,42            107,53
MEF                 83.420           6.017.579         1.189.714
TAN                   3,73               25,14             12,36
PPNRG                 3,44               59,59             24,19
PPNRE                 5,01               74,79             39,70
PPNCL                 1,36               46,83             18,16
PDSIE                 0,10                1,60              0,41

Variaveis         Des.-Pad.     Ass.     Cut.

2004

REPS         212.618.548,35     1,29     1,01
POP               8.173.915     2,88    10,23
NMPD                   0,40     0,67     0,63
PP                    16,76    -0,24    -1,37
TXBM                   0,95     0,28    -0,76
EVN                    2,53    -0,33    -0,69
TXD                    2,77     0,43    -0,40
RMP                    6,81     0,47    -0,67
MEF                 863.344     1,37     1,81
TAN                    7,64     0,48    -1,06
PPNRG                 14,76     0,94     0,67
PPNRE                 24,28    -0,02    -0,92
PPNCL                 12,89     0,32    -0,17
PDSIE                  0,80     1,35     1,55

2005

REPS         249.810.377,70     1,22     0,75
POP               8.277.278     2,89    10,30
NMPD                   0,34     0,24    -0,68
PP                    16,05    -0,22    -1,23
TXBM                   0,93     0,22    -0,79
EVN                    2,49    -0,32    -0,71
TXD                    2,49     0,15    -0,96
RMP                    7,05     0,42    -0,57
MEF               1.267.837     2,21     6,06
TAN                    7,77     0,49    -1,15
PPNRG                 14,37     1,02     0,84
PPNRE                 21,00    -0,08    -0,68
PPNCL                 12,18     0,35     0,04
PDSIE                  0,50     1,88     4,90

2006

REPS         286.065.020,60     1,20     0,68
POP               8.403.510     2,90    10,38
NMPD                   0,35     0,22    -0,89
PP                    15,25    -0,19    -1,24
TXBM                   0,91     0,17    -0,82
EVN                    2,44    -0,30    -0,72
TXD                    1,88     0,31     0,01
RMP                    6,76    -0,04    -1,06
MEF               1.275.681     2,33     6,88
TAN                    7,63     0,49    -1,15
PPNRG                 14,58     1,03     0,54
PPNRE                 22,09    -0,19    -1,07
PPNCL                 11,85     0,43     0,22
PDSIE                  0,47     2,58     9,33

2007

REPS         307.730.775,78     1,18     0,64
POP               8.518.916     2,91    10,45
NMPD                   0,35     0,42    -0,38
PP                    15,75    -0,25    -1,24
TXBM                   0,90     0,12    -0,82
EVN                    2,40    -0,29    -0,73
TXD                    2,51     0,67     0,67
RMP                    9,19     0,11    -0,52
MEF               1.256.855     2,47     7,77
TAN                    6,71     0,49    -1,09
PPNRG                 13,32     0,96     0,86
PPNRE                 20,87     0,06    -0,93
PPNCL                 11,03     0,56     0,49
PDSIE                  0,34     2,02     4,87

Fonte: Resultados da pesquisa.

Tabela 3--Estimacao do repasse social em
relacao aos indicadores sociais

Variavel (%)          Coeficiente (%)   Estatistica t   Sig.

C                        -17,7245           -3.00       0.004
LOG (POP)                 0,8231            13.40       0.000
LOG (NMPD)                1,1192            3.46        0.001
LOG (PP)                  0,4261            3.22        0.002
LOG (TXBM)                1,2610            6.05        0.000
LOG (EVN) *               3,5583            2.93        0.004
LOG (TXD)                 0,0310            0.43        0.670
LOG (RMP) *               0,2855            1.60        0.114
LOG (MEF) *               0,1037            1.77        0.080
LOG (TAN)                 0,3022            4.05        0.000
LOG (PPNRG) *             -0,1106           -2.54       0.013
LOG (PDSIE)               0,0080            0.29        0.770
LOG (PPNRE) *             -0,0619           -1.91       0.060
LOG (PPNCL)               0,2892            6.60        0.000
[R.sup.2] Ajustado                          0.987
Estatistica F                               13,88       0.000

Fonte: Resultados da pesquisa.

* Foi realizado o teste de correlacao parcial entre as
variaveis que nao atenderam as principais expectativas
teoricas.

Quadro 1--Descricao das variaveis e fonte
de dados para o periodo 2004-2007

Variavel    Descricao                                Fonte

REPS        Repasse dos programas sociais            CGU

POP         Populacao do Brasil                      IBGE

NMPD        Numero medio de pessoas por domicilio    IBGE

PP          Proporcao de pobres                      DATASUS

TXBM        Taxa bruta de mortalidade                IBGE

EVN         Esperanca de vida ao nascer              IBGE

TXD         Taxa de desemprego                       DATASUS

RMP         Rendimento medio dos mais pobres         IPEADATA

MEF         Numero de alunos matriculados            MEC/INEP
            no ensino fundamental

TAN         Taxa de analfabetismo                    IBGE


PPNRG       Proporcao de domicilios nao servidos     DATASUS
            por rede geral de agua

PPNRE       Proporcao de domicilios nao servidos     DATASUS
            por rede geral de esgoto

PPNCL       Proporcao de domicilios nao servidos     DATASUS
            por coleta de lixo

PPSIE       Proporcao de domicilios nao servidos     IBGE
            por iluminacao eletrica

Fonte: Resultados da pesquisa.


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