首页    期刊浏览 2024年12月14日 星期六
登录注册

文章基本信息

  • 标题:Performance dos apresentadores dos telejornais: a construcao do ethos.
  • 作者:Fechine, Yvana
  • 期刊名称:Revista Famecos - Midia, Cultura e Tecnologia
  • 印刷版ISSN:1415-0549
  • 出版年度:2008
  • 期号:August
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Editora da PUCRS
  • 摘要:A credibilidade do telejornal é influenciada diretamente pela confian?a que os espectadores depositam nos seus apresentadores. Embora possam ser considerados, como em qualquer outro formato televisual, a "cara" do programa que comandam, os apresentadores do telejornal, diferentemente dos profissionais que desempenham este papel em outros gêneros, constroem sua imagem numa constante tens?o entre a propalada exigência de "objetividade" e imparcialidade da prática jornalística e a autopromo??o e glamouriza??o inerentes à televis?o. Se, antes, os apresentadores primavam pela discri??o em rela??o à sua vida pessoal, hoje, muitos deles se comportam como celebridades, sendo objeto freqüente de revistas, sites e programas de TV dedicados aos "famosos" ou a fofocas do meio artístico. Jornalistas de grandes emissoras, como Fátima Bernardes e Wiliam Bonner, apresentadores do famoso Jornal Nacional (JN), chegam a ser retratados na mídia como "míticas estrelas hollywoodianas dos anos dourados do star system" (Hagen e Machado, 2006, p. 2). Do "locutor de notícias", que se limitava a ler as informa??es com atitude distanciada e em estilo radiof?nico, ao "ancora", que se posiciona enfaticamente sobre os fatos noticiados, podemos observar, grandes transforma??es n?o somente nos papéis, mas nas posturas e perfis dos apresentadores de telejornal.

Performance dos apresentadores dos telejornais: a construcao do ethos.


Fechine, Yvana


Um novo perfil de apresentador

A credibilidade do telejornal �� influenciada diretamente pela confian?a que os espectadores depositam nos seus apresentadores. Embora possam ser considerados, como em qualquer outro formato televisual, a "cara" do programa que comandam, os apresentadores do telejornal, diferentemente dos profissionais que desempenham este papel em outros g��neros, constroem sua imagem numa constante tens?o entre a propalada exig��ncia de "objetividade" e imparcialidade da pr��tica jornal��stica e a autopromo??o e glamouriza??o inerentes �� televis?o. Se, antes, os apresentadores primavam pela discri??o em rela??o �� sua vida pessoal, hoje, muitos deles se comportam como celebridades, sendo objeto freq��ente de revistas, sites e programas de TV dedicados aos "famosos" ou a fofocas do meio art��stico. Jornalistas de grandes emissoras, como F��tima Bernardes e Wiliam Bonner, apresentadores do famoso Jornal Nacional (JN), chegam a ser retratados na m��dia como "m��ticas estrelas hollywoodianas dos anos dourados do star system" (Hagen e Machado, 2006, p. 2). Do "locutor de not��cias", que se limitava a ler as informa??es com atitude distanciada e em estilo radiof?nico, ao "ancora", que se posiciona enfaticamente sobre os fatos noticiados, podemos observar, grandes transforma??es n?o somente nos pap��is, mas nas posturas e perfis dos apresentadores de telejornal.

Hoje, �� cada vez mais f��cil apontar apresentadores de telejornal que esbravejam contra os pol��ticos ou criticam duramente as institui??es cobrando "solu??es" em nome do "povo", evidenciando com clareza posturas ideol��gicas. H�� ainda outros que, assumindo um estilo mais descontra��do, fazem brincadeiras com a equipe ou com o pr��prio espectador, revelam situa??es do seu cotidiano (a rea??o que tiveram com a vacina conta gripe, por exemplo), comportamentos privados (o que faz quando est�� de folga, por exemplo) e gostos individuais (o time pelo qual torce, por exemplo) em meio aos coment��rios feitos ��s reportagens apresentadas pelo telejornal.

Por meio de tais comportamentos, o apresentador passa, por um lado, a ser percebido paulatinamente pelo p��blico como algu��m mais pr��ximo e familiar, algu��m de quem ele conhece at�� alguns aspectos da vida, das experi��ncias, das opini?es e prefer��ncias pessoais. Pode ainda, por outro lado, ser visto pelo telespectador como algu��m capaz de defender seus interesses e manifestar suas posi??es, apto a expressar ��s autoridades, aos pol��ticos ou a representantes da sociedade civil aquilo que ele pr��prio gostaria de falar. Por um ou por outro caminho, com diferentes grada??es e estrat��gias de manifesta??o, �� poss��vel indicar, especialmente a partir dos anos 90, uma tend��ncia geral �� personaliza??o desses apresentadores, provocando, assim, tamb��m uma mudan?a na pr��pria ret��rica dos telejornais. Essa nova estrat��gia ret��rica sustenta-se na ��nfase dada, agora, na constru??o do ��thos dos apresentadores por meio de procedimentos determinados preliminarmente pelas estrat��gias enunciativas dos telejornais. Para entender como isso se d��, �� preciso n?o apenas recuperar alguns pressupostos da ret��rica aristot��lica, mas tamb��m discorrer, antes, sobre a pr��pria enuncia??o no telejornal.

Telejornal e enuncia??o (1)

Do ponto de vista enunciativo, o telejornal pode ser tratado como um enunciado englobante (o notici��rio como um todo) que resulta da articula??o, por meio de um ou mais apresentadores, de um conjunto de outros enunciados englobados (as not��cias) que, embora aut?nomos, mant��m uma interdepend��ncia. Podemos, assim, conceber o telejornal como um conjunto que emerge justamente da articula??o dessas sucessivas unidades numa instancia enunciativa que as engloba. Nas suas mais variadas formas - reportagens gravadas, entrevistas no est��dio, entradas "ao vivo", gr��ficos, material de arquivo etc. -, todos os enunciados englobados (partes) organizam-se como um enunciado englobante impl��cito (todo) ao serem inseridos e articulados entre si numa mesma temporalidade definida pelo in��cio e pelo fim do programa. A temporalidade na qual se d�� a pr��pria transmiss?o do telejornal corresponde a uma dura??o continuamente no presente. �� nesta dura??o que o telejornal se faz no momento mesmo em que se exibe.

Este enunciado englobante (o telejornal) n?o se define como tal apenas pela sucessividade das suas unidades constitutivas (reportagens, links ao vivo etc.) numa temporalidade que articula o sintagma audiovisual. Definese tamb��m a partir de uma pessoa (um "eu") e de um espa?o de refer��ncia. Todo ato de enuncia??o ��, afinal, a instancia de instaura??o de um eu, de um aqui e de um agora, a partir dos quais se definem, por proje??o, as mesmas categorias no enunciado. �� importante, no entanto, distinguir duas instancias no procedimento enunciativo: o "eu" pressuposto e o "eu" projetado no interior do enunciado e, respectivamente, um "tu" pressuposto e um "tu" projetado no interior do enunciado, j�� que a cada "eu" corresponde um "tu" (quem fala sempre fala para algu��m). Estes "eu" e "tu" pressupostos, destinador e destinat��rio impl��citos da enuncia??o, s?o denominados, respectivamente de enunciador e enunciat��rio. Tanto quanto a enuncia??o, os actantes deste n��vel s?o tamb��m instancias conceituais, "sujeitos l��gicos" ou pap��is pass��veis de figurativiza??o apenas no n��vel mais concreto do enunciado. Neste caso, instauram-se no enunciado sujeitos delegados do enunciador e do enunciat��rio denominados, respectivamente, de narrador e narrat��rio. Estes nada mais s?o do que o "eu" e "tu" projetados: simulacros ou figurativiza??es, constru��dos no e pelo pr��prio enunciado, do enunciador e do enunciat��rio, respectivamente.

No esquema de pap��is definidos tradicionalmente na teoria da enuncia??o, o enunciador e o enunciat��rio n?o podem ser confundidos com o autor e leitor emp��ricos.

Estes ��ltimos s�� podem ser levados em conta, no campo da enuncia??o, tamb��m a partir de seus simulacros: enunciador e enunciat��rio agora como simulacros do autor e leitor emp��ricos, dos indiv��duos concretos que participam do circuito comunicativo. Por oposi??o a estes sujeitos emp��ricos (sujeitos de "carne e osso"), enunciador e enunciat��rio definem-se como "sujeitos semi��ticos" ("seres do discurso") que correspondem, na verdade, a fun??es textuais, a "pap��is", a "posi??es" de subjetividade constru��das pelo pr��prio texto. Podem ser definidos, enfim, como as "vozes" constru��das pelo pr��prio texto ou como instancias que substituem simbolicamente no texto seu autor e leitor reais. Se entendermos a pr��pria enuncia??o como uma esp��cie de simulacro da comunica??o constru��do no e pelo pr��prio texto, parece poss��vel pensar em todos os atores envolvidos neste ato comunicativo como pap��is envolvidos ora na instancia da realiza??o, ora na instancia do realizado. Estes pap��is corresponderiam assim, e respectivamente, aos actantes da enuncia??o e do enunciado, conforme o esquema a seguir:

Enunciador [narrador DISCURSO narrat��rio] Enunciat��rio

Pensando as posi??es actanciais, no caso espec��fico do telejornal, pode-se postular que a representa??o emp��rico-comunicativa mais imediata do sujeito enunciador desse macroenunciado, que �� o telejornal no seu conjunto, parece ser todo o staff de produ??o do telejornal (dirigentes regionais, jornalistas, t��cnicos etc.) denominado, genericamente aqui de broadcaster. No n��vel do enunciado propriamente dito (o que se v�� na tela), o narrador do telejornal corresponde �� pr��pria figura do seu apresentador (ou apresentadores). �� exemplo de outros programas televisivos, o telejornal pode tamb��m representar sua audi��ncia, de tal modo que o narrat��rio aqui est�� geralmente identificado com as figurativiza??es do espectador no enunciado. Para isso, os telejornais apelam, mais freq��entemente, ao discurso interpelativo por meio do qual os apresentadores e rep��rteres dirigem-se diretamente ao espectador, seja direcionando o olhar para a camera enquanto falam, seja utilizando vocativos ou pronomes pessoais ("voc�� viu ...", "voc�� pode ...", "voc�� sabe ...") . �� poss��vel observar, no entanto, telejornais em que h�� a participa??o do p��blico gravada (VTs com enoites, por exemplo) ou "ao vivo" (por meio de telefone ou internet). Embora mais rara, �� poss��vel apontar tamb��m experi��ncias nas quais h�� a presen?a de espectadores convidados no pr��prio est��dio do telejornal, opinando ou participando de entrevistas com os convidados. Observamos assim, no telejornal, o esquema de pap��is abaixo, no qual o termo "espectador projetado" designa essas suas diferentes figuratiza??es no

Broadcaster [Apresentador ELLJORNAL Espectador projectado] Espectador

Em fun??o da estrutura recursiva2 do telejornal, o apresentador n?o se constitui, no entanto, no ��nico actante (pessoa) desse macroenunciado que �� o telejornal. Todo o telejornal se organiza a partir da delega??o de voz que um "eu" (quem fala), explicitamente instaurado no enunciado englobante, confere a novos actantes definidos no n��vel dos enunciados englobados (outros "eus"). Tratase, em outras palavras, da delega??o de voz de um ator da enuncia??o a outro. Empiricamente, o modo mais freq��ente de se estabelecer no telejornal esta delega??o de voz �� a convoca??o pelo apresentador de um rep��rter ao qual cabe o relato dos fatos. Ao receber a palavra do apresentador-narrador, o rep��rter instaura-se ent?o como um outro "eu", estabelecendo aqueles com quem fala como "tu". �� nesse processo de delega??o de voz, orientado por uma intercambialidade de posi??es, que o apresentador define o seu papel enunciativo: funciona como uma instancia de ancoragem actancial, articulando os distintos atores da enuncia??o do n��vel enunciativo englobado com o n��vel englobante (3). Ao fazer isso, assume o papel de um macronarrador (narrador principal) no enunciado englobante, ainda que existam v��rios outros narradores (secund��rios) no n��vel englobado.

Pap��is enunciativos e modelos de telejornal

A partir dos pap��is enunciativos dos apresentadores �� poss��vel identificar ao menos dois grandes modelos de telejornal. H�� telejornais em que o apresentador funciona basicamente como um "operador de passagens" entre os v��rios atores da enuncia??o envolvidos. Nesse caso, mesmo dirigindo-se diretamente �� audi��ncia, ele n?o se apropria do discurso como sendo seu. Suas interven??es verbais s?o, geralmente, constru��das em terceira pessoa e s?o poucas as circunstancias nas quais se permite demonstrar uma valora??o pessoal atrav��s de outros sistemas semi��ticos (tom da voz, express?o facial, gestos etc.). Por mais que seja tratado no universo extraling����stico como uma "estrela", nos telejornais mais convencionais, o apresentador jamais faz refer��ncia ao seu pr��prio papel, a si ou a quem quer que ele represente: ele nunca "fala", de modo expl��cito, em seu pr��prio nome e raramente fala em nome da pr��pria equipe de produ??o do telejornal. O apresentador �� um delegado imediato do sujeito enunciador que se manifesta explicitamente no enunciado (sua figurativiza??o), mas ao qual n?o se pode atribuir o ponto de vista do discurso. H�� aqui, portanto, uma clara distin??o entre este comunicador em particular (um "eu" individual) e seu papel p��blico, o de representante ou "porta-voz" de um broadcaster (o que o define, do ponto de vista discursivo, como um "n?o-eu").

Esse tipo de configura??o enunciativa pode ser alinhada com o que Arlindo Machado denomina de "modelo de telejornal polif?nico". Neste modelo, o apresentador ��, segundo Machado, "mais exatamente um condutor em geral impessoal" (2000, p. 106), com a mesma importancia dos demais integrantes da equipe, conferindo ao telejornal um car��ter mais "descentralizado" em prol da constru??o de um maior efeito de "objetividade jornal��stica". Nesse modelo de telejornal polif?nico, a principal caracter��stica, em termos enunciativos, �� a dilui??o da "voz" do apresentador em meio ao conjunto de "vozes" que o comp?e. Poder��amos falar, em outros termos, na constru??o de um apresentador "sem voz" pr��pria (um "eu" que n?o diz "eu"). Por isso mesmo, seu papel �� t?o somente o de um "porta-voz". Em outro modelo de telejornal que Arlindo Machado denomina de "centralizado ou opinativo", o que se observa ��, ao contr��rio, a produ??o de um efeito de autonomia do apresentador frente �� equipe do telejornal e �� pr��pria emissora. Investe-se, agora, deliberadamente na constru??o de um efeito de sentido de "dono da voz" (um apresentador dotado de "voz pr��pria"), que assume o conte��do enunciado como sendo seu (um "eu" que diz "eu").

Segundo Machado, no modelo de telejornal "centralizado ou opinativo", a voz do apresentador costuma se impor sobre as demais, emoldurando-as "com o crivo do seu coment��rio" (2000, p.107). Neste modelo, do qual o jornalista Boris Casoy, com o seu TJ Brasil (SBT, 1988-1997), foi o precursor no telejornalismo brasileiro (Squirra, 1993), o apresentador coloca-se numa posi??o hieraquicamente superior, de tal modo que o telejornal parece que lhe pertencer. Nesse telejornal centralizado ou opinativo, investe-se, ao contr��rio da configura??o anterior, na deliberada oscila??o dos seus apresentadores entre um "eu" (indiv��duo singular, um "dono da voz") e um "n?o-eu" (um representante ou "porta-voz") (Landowski, 1999). Produz-se, a partir dessa oscila??o, um discurso mais pessoal e, por isso mesmo, de maior empatia com o p��blico em nome de quem os apresentadores passam, em alguns telejornais, a falar e a fazer "cobran?as" (4). A estrat��gia adotada por esse tipo de telejornal �� baseada numa inequ��voca personaliza??o dos seus apresentadores, constru��da a partir do imbricamento, da superposi??o ou de uma deliberada (con)fus?o entre os actantes do enunciado e da enuncia??o Trata-se aqui, em outros termos, de uma esp��cie de efeito de indistin??o entre os atores instalados nas instancias do enunciado e da enuncia??o.

A id��ia de imbricamento est�� aqui, de modo geral, associada �� superposi??o de instancias e, neste contexto espec��fico, �� (con)fus?o dos pap��is actanciais do enunciador com o narrador, provocando o "ofuscamento" de um pelo outro: como se um fosse "encoberto" pelo outro, como se um estivesse no lugar do outro, quase como se um fosse o outro; mas sem que um prescinda do outro. Todo esse mecanismo �� determinado pelo sincretismo dos pr��prios pap��is actanciais envolvidos no circuito enunciativo, de tal modo que se produz o efeito de que j�� n?o h�� um "distanciamento" entre a fonte da enuncia??o (enunciador) e sua figurativiza??o (o narrador). Diluemse, assim, os limites entre uma e outra fun??o/ posi??o actancial e j�� n?o se distingue mais exatamente quem "fala" quando o apresentador do telejornal se dirige ao espectador: se um eu, que figurativiza no enunciado um actante coletivo da enuncia??o (o broadcaster) pela sua simples presen?a, ou um "eu" individual que agora fala tamb��m aparentemente por si (o jornalista "x" ou "y").

O que acontece, ent?o, quando este narrador-apresentador, que j�� se constitui em um "eu" projetado no enunciado, contraria os canones da "objetividade jornal��stica" e, explicitamente, diz "eu"? Quando o apresentador, dos mais variados modos, diz "eu" (assume-se como um "eu") �� como se abandonasse a fun??o comunicativa de "porta-voz" deste actante coletivo da enuncia??o, que sua presen?a figurativiza, para construir a si pr��prio como fonte do discurso (�� como se um ator discursivo, o apresentador William Bonner, por exemplo, correspondesse ao indiv��duo "real" William Bonner, jornalista ao qual n?o temos acesso a partir do que vemos no telejornal). Nessa nova configura??o enunciativa, ganha mais importancia a constru??o do apresentador como uma persona (uma esp��cie de "personagem" calcado na sua pr��pria personalidade) - ou seja, um ator da enuncia??o que se constr��i a partir de uma representa??o de si mesmo. Reveste-se tamb��m de maior peso o modo como, a cada edi??o do telejornal, vai sendo constru��da uma imagem do enunciador apoiada na imagem do comunicador. �� diante desse tipo de configura??o enunciativa que se imp?e agora, ao analisarmos os telejornais, o estudo do ��thos do enunciador, tal como este foi recuperado da tradi??o aristot��lica por J. L. Fiorin (cf. 1989, 2004, 2004a). Antes, por��m, �� preciso recuperamos um pouco das postula??es da ret��rica.

Telejornal e ret��rica: o ��thos do apresentador

Contrariando as postula??es de Plat?o, seu mestre, Arist��teles acreditava que a verdade n?o est�� mais no objeto, �� constru��da no discurso. A preocupa??o central da ret��rica aristot��lica �� com os procedimentos de persuas?o no uso p��blico de um discurso; seu papel �� fornecer ferramentas para o fazer-crer do orador. Pode ser considerada, assim, um aut��ntico "manual" de procedimentos para convencer o p��blico em cada situa??o. Por isso, n?o se preocupa apenas com a constru??o argumentativa e incorpora tamb��m entre as suas preocupa??es as emo??es, as paix?es, os h��bitos e cren?as da audi��ncia. Interessa-se n?o tanto pela constru??o da verdade, mas por tudo que possa parecer verdadeiro ao ouvinte. (Cruz Junior, 2006, pp. 19-22). H��, em raz?o disso, uma grande preocupa??o na ret��rica com o ��thos do orador, o modo como este aparece ao p��blico. O conceito remete, em outras palavras, �� configura??o de car��ter por meio do qual o orador conquista a confian?a da plat��ia com vistas �� sua persuas?o.

Na tradi??o filos��fica greco-romana, o ��thos foi concebido de duas maneiras distintas. Para Is��crates ou Quintiliano, era o resultado da imagem p��blica do orador, constru��da por fatores exteriores ao discurso, sobretudo os seus atributos morais (coragem, integridade etc.). Remetia, em suma, �� reputa??o ou �� fama do orador. Compreendese assim, e em parte, a coniv��ncia das emissoras de TV com a glamouriza??o dos seus profissionais de jornalismo, desde que essa imagem constru��da por outros meios que n?o o pr��prio telejornal lhes seja favor��vel. A freq����ncia com que o famoso casal de apresentadores do Jornal Nacional (TV Globo), William Bonner e F��tima Bernardes, freq��entam as revistas de celebridades d�� prova disso (Hagen & Machado, 2006). Em outros tempos, apesar na sua enorme popularidade, evitavase a apari??o de Cid Moreira - apresentador que se tornou a "marca" do JN - at�� mesmo nos programas da pr��pria Globo. Hoje, ao contr��rio, o modo como os apresentadores constroem sua reputa??o junto ao p��blico ��, tamb��m, o resultado daquilo que se publica sobre eles em outras m��dias ou at�� mesmo das suas apari??es em outras programas de TV (dando entrevistas, por exemplo). Refor?ando a importancia dos fatores ex��genos na constru??o da credibilidade, Pierre Bourdieu prop?e tamb��m que a efic��cia do discurso �� determinada ainda pela institui??o que o autoriza, assim como pela posi??o social daquele que o profere (Cruz Junior, 2006, p. 37).

Para Arist��teles e C��cero, no entanto, o ��thos n?o dependia tanto das qualifica??es sociais ou dos atributos morais reputados ao orador. Era, sobretudo, uma constru??o do pr��prio discurso (Cruz Junior, 2006, pp.3334). No estudo do telejornal, todas essas diferentes posi??es parecem, no entanto, ser concili��veis, ainda que, a depender da situa??o, possa se dar uma ��nfase maior a uma constru??o ora mais emp��rica (pessoal) ou institucional, ora mais ling����stica. Em uma discuss?o mais focada na instancia da produ??o, como a proposta aqui, consideraremos a priori o ��thos como um resultado da pr��pria enuncia??o e adotaremos o referencial da semi��tica discursiva, que n?o leva em considera??o o "indiv��duo real". Autor e o leitor reais n?o pertencem, portanto, ao universo textual. Apenas o autor e o leitor impl��citos pertencem ao texto e, por meio deles, s?o apreendidos. Mesmo na autobiografia, o "eu" que se enuncia �� sempre um simulacro constru��do do escritor, que se define no interior do texto por suas rela??es com os outros atores da enuncia??o a�� instalados. O mesmo princ��pio vale para o estudo dos apresentadores de telejornal.

Embora tenhamos, com muita facilidade, informa??es sobre suas vidas "reais" e pessoais pelas pr��prias m��dias, especialmente pelas j�� mencionadas revistas dedicadas ��s celebridades, o que �� importante observar �� como os apresentadores constroem um ��thos a partir das suas apari??es di��rias no telejornal. Na perspectiva adotada por J. L. Fiorin, o ��thos corresponde a uma imagem do autor, n?o do autor real, mas do autor discursivo, um autor impl��cito no enunciado. Para ele, o ��thos explicitase "nas marcas da enuncia??o deixadas no enunciado. Portanto, a an��lise do ��thos do enunciador nada tem do psicologismo que, muitas vezes, pretende infiltrar-se nos estudos discursivos" (Fiorin, 2004, p. 120). Ainda segundo Fiorin, quando analisamos uma obra singular, podemos definir t?o somente os tra?os do narrador. �� apenas quando estudamos a obra inteira de um autor que podemos apreender, ent?o, um ��thos do enunciador (5). Fiorin lembra ainda que, para Roland Barthes, o ��thos podia ser considerado como uma conota??o. Consistia na propriedade que o orador possu��a de, ao proferir uma informa??o (o dito), afirmar tamb��m algo sobre si (pelo modo de dizer).

Se admitimos que o ��thos do enunciador define-se na pr��pria enuncia??o, podemos concluir, ent?o, que a influ��ncia exercida por um determinado enunciador sobre um enunciat��rio n?o depende apenas dos conte��dos que p?e em circula??o (enuncia): "o enunciat��rio n?o adere ao discurso apenas porque ele �� apresentado como um conjunto de id��ias que expressam seus poss��veis interesses. Ele adere, porque se identifica com um dado sujeito da enuncia??o, com um car��ter, com um corpo, com um tom" (Fiorin, 2004: 134). No caso do telejornal, a constru??o do ��thos do apresentador �� determinada, antes de mais nada, pela estrat��gia de actorializa??o adotada. A configura??o enunciativa do apresentador, nos moldes de "porta-voz" ou "dono da voz" ("voz pr��pria"), orienta o seu modo de dizer e parecer (apar��ncia de ser) e influencia diretamente o fazer-crer sobre aquilo que �� dito. �� preciso, por isso, prestar cada vez mais aten??o �� "qualidade" da performance dos apresentadores ou, em outros termos, a tudo aquilo est�� relacionado �� aspectualiza??o do ator da enuncia??o (Fiorin, 1989).

��thos e aspectualiza??o

Na teoria semi��tica, a aspectualiza??o corresponde a um ponto de vista de um observador expl��cito ou impl��cito sobre o tempo, o espa?o e os atores (pessoas) de uma determinada a??o. No caso da aspectualiza??o do ator, esse observador determina a "qualidade" de suas realiza??es, a maneira como ele desempenha suas a??es. Para esse observador, um gesto de um determinado ator da enuncia??o (figurativizado por um palestrante, por exemplo) pode ser elegante ou desastrado, a voz pode ser estridente ou suave, a exposi??o pode ser segura ou hesitante. O julgamento que esse observador faz da "qualidade" da performance, no entanto, n?o �� individual, pois seus pontos de vista s?o sociais, Dependem, portanto, de valora??es que regem, de modo geral, as nossas rela??es com os outros homens (Fiorin, 1989, p.350).

De acordo ainda com o Fiorin, os comportamentos e rela??es sociais costumam ser pautadas pela "l��gica da gradualidade" apoiada na neutralidade. Neste l��gica, devem ser considerados como disf��ricos (negativos) os p��los categoriais ocupados pelo excesso e pela insufici��ncia. O que Fiorin denomina de "justa medida" ��, nesse universo relacional, o termo euf��rico (positivo). A qualidade da a??o positivamente valorizada na performance do ator deve ser, portanto, neutra em rela??o aos p��los categoriais: nem excesso, nem insufici��ncia, �� a justa medida (neutralidade) que preside a aspectualiza??o dos comportamentos sociais (1989, p.350). A partir desse esquema relacional, cada cultura consolida uma aspectualiza??o positiva ou negativa dos comportamentos sociais e, conseq��entemente, da "qualidade" da performance do ator. Fiorin aponta, por exemplo, a "justa medida" em rela??o ao vestir como sendo sin?nimo de simplicidade e sobriedade, "qualidades" que se op?em tanto ao espalhafatoso (excesso) quanto �� displic��ncia (insufici��ncia) (1989, pp. 352-353). Ainda como exemplos de aspectualiza??es do ator, definidas socialmente entre n��s, ele indica v��rias outras valoriza??es disf��ricas e euf��ricas associadas, respectivamente, a performance de quem fala: exagerado (excesso) ou deficiente (insufici��ncia) vs. moderado (justa medida); duro (excesso) ou mole (insufici��ncia) vs. firme (justa medida); arrogante (excesso) ou subserviente (insufici��ncia) vs. humilde (justa medida); temer��rio (excesso) ou medroso (insufici��ncia) vs. prudente (justa medida); rude (excesso) ou adulador (insufici��ncia) vs. sincero (justa medida), entre tantas.

Se retomarmos as proposi??es de Fiorin sobre a aspectualiza??o do ator, agora �� luz da ret��rica aristot��lica, parece poss��vel concluir que as qualifica??es da performance de um sujeito feitas por um observador podem ser consideradas como um resultado direto da constru??o discursiva do seu ��thos. Baseado nas descri??es que a Ret��rica traz das caracter��sticas que inspiram a confian?a no orador, Fiorin identifica tr��s esp��cies de ��the (2004, p.121): 1) ��thos baseado na phr��nesis, qualidade que remete ao bom senso, a prud��ncia, a pondera??o, indicando se o orador exprime opini?es competentes e razo��veis; 2) ��thos baseado na aret��, que remete �� virtude, entendida, neste contexto, como coragem, justi?a e sinceridade, o que se traduz na manifesta??o do orador como algu��m simples, sincero e franco ao expor seus pontos de vista; 3) ��thos baseado na e��noia, que remete �� benevol��ncia e �� solidariedade, associadas ��s demonstra??es de simpatia do orador pelo audit��rio. De acordo com Fiorin, o orador que se utiliza da phr��nesis se apresenta como sensato, ponderado e exerce sua persuas?o muito mais com os recursos discursivos (argumentivos). O orador que se utiliza da aret�� costumar mostrar-se como desbocado, franco, temer��rio e exerce seu convencimento sobre o audit��rio com base na emo??o. J�� aquele que usa a e��noia apresenta-se como algu��m solid��rio e benevolente com seu enunciat��rio, conquistando-o por meio da simpatia.

�� evidente que por tratar da performance de um orador diante do audit��rio, todas essas qualidades descritas na Ret��rica devem ser repensadas a partir das especificidades do aparato enunciativo analisado. Para pensarmos, por exemplo, a constru??o da imagem do enunciador nos jornais, ser�� preciso considerar outras "marcas" que dependem das especificidades t��cnicoexpressivas do meio. Para se estabelecer os ��the do que se chama, comumente, imprensa s��ria e imprensa sensacionalista, por exemplo, �� preciso observar, entre outras coisas, o modo como num corpus formado a partir de um conjunto representativo de edi??es, os jornais trabalham recorrentemente com determinados arranjos no conte��do (temas predominantes, tipo de abordagem, manchetes etc.) e na express?o (fotos, fontes, cores etc.) (6). No caso dos apresentadores de telejornal, �� poss��vel postular a constru??o de dois tipos de ��thos que podem ser homologados, em p��los opostos, ��s duas configura??es enunciativas descritas anteriormente ("porta-voz" e "dono da voz"): o apresentador-impessoal (distante) e o apresentadorc��mplice (pr��ximo), respectivamente.

Definindo-os a partir da sua aspectualiza??o, podemos associar ��s descri??es dos ��the dos apresentadores, a comportamentos e qualidades que caracterizam sua performance. O ��thos do apresentador-impessoal pode ser reconhecido pela formalidade e por uma postura corporal mais tensa, pela conten??o gestual e pela mono tonalidade. Esse tipo de apresentador evidencia uma obedi��ncia mais estrita ao texto escrito (script), evitando improvisa??es ou mesmo exprimir emo??es. Toda a sua performance �� orientada por um apelo mais deliberado �� racionalidade e inteligibilidade do telespectador. Tratase aqui de um comportamento baseado na phr��nesis, nos termos descritos por Arist��teles, e de uma postura orientada rumo �� insufici��ncia, nos termos de Fiorin. A performance do apresentador-c��mplice, ao contr��rio, apela �� afetividade e passionalidade do telespectador. Para a constru??o desse tipo oposto de ��thos, costuma adotar um comportamento mais informal e uma a postura corporal mais relaxada. Seu gestual �� mais espontaneo e menos contido, suas express?es faciais s?o usadas deliberadamente como forma de coment��rio. Sua entona??o varia com freq����ncia, sendo utilizada tamb��m para exprimir seus estados de alma, seja de como??o ou indigna??o (�� o tipo de apresentador que "esbraveja" ou fala muito alto, por exemplo). A performance desse tipo de apresentador �� compar��vel, nos termos da ret��rica aristot��lica, a do orador que se utiliza da aret��. Seu comportamento tende ao p��lo do excesso, nos termos de Fiorin.

�� poss��vel ainda identificar e descrever posi??es intermedi��rias entre esses termos opostos que nos levariam ainda a outros dois tipos de ��thos que, por meio de manifesta??es distintas, tenderiam igualmente �� "justa medida" (Fiorin, 1989). Bastaria, por meio de uma opera??o l��gica, negarmos os termos opostos com os quais operamos at�� aqui para chegarmos a dois outros ��the. Se pensarmos, por exemplo, em um apresentador que pode ser qualificado como n?o-c��mplice, poder��amos propor a sua descri??o como um apresentador-cr��tico. Esse tipo de apresentador n?o se comporta com a formalidade e contens?o pr��prias ao apresentador-impessoal, mas, como este, investe mais na racionalidade que na emo??o. Exp?e, no entanto, suas posi??es e sentimentos por comen t��rios, express?es ou entona??es discretamente ir?nicos, c��ticos, bem-humorados (ou mal-humorados), por exemplo. Na sua postura, evidencia-se um convencimento de que, apesar da sutileza das suas interven??es, elas ser?o bem compreendidas

Pelo mesmo caminho, propondo a nega??o do outro p��lo categorial (o do apresentador-impessoal), chegar��amos ao ��thos baseado no n?o-impessoal, que propomos associar, aqui, �� descri??o de um apresentador-comprometido, cujo comportamento �� caracterizado pela busca de empatia com o p��blico, mas sem que, para isso, tenha que assumir posi??es pol��tico-ideol��gicas expl��citas ou encenar bravatas. Seu esfor?o para construir uma maior proximidade do telespectador manifesta-se, freq��entemente, por meio de coment��rios simp��ticos e de natureza pessoal, que tentam construir a si mesmo como "homem comum", algu��m com os mesmos gostos, preocupa??es, interesses e problemas cotidianos do telespectador.

Pensados em termos da ret��rica aristot��lica, esses dois eth�� - o comprometido e o cr��tico - baseiam-se em distintos modos de atualiza??o da e��noia, a partir de uma valoriza??o maior do pr��prio telespectador, e n?o tanto do protagonismo do apresentador, como ocorre no p��lo categorial de base - do impessoal e do c��mplice. Neste p��lo, a valoriza??o do apresentador evidencia-se tanto pelo modo como ele assume seu discurso como "a verdade" (caso do apresentador-impessoal), quanto pela maneira como toma para si o direito de "falar pelos outros" (caso do apresentador-c��mplice). A valoriza??o do telespectador, ao contr��rio, aparece em todas as situa??es em que o apresentador esfor?a-se por trat��-lo como "igual", seja por meio da busca de empatia nos comportamentos/ h��bitos/gostos, seja por meio das sinaliza??es discretas, tecidas na entrelinhas muita vezes, quanto aos repert��rios compartilhados ou a vis?es de mundo comuns (postura do tipo "voc�� sabe do que estou falando...").

Embora n?o possamos, na atual etapa do estudo e nos limites deste artigo, caracterizar o ��thos dos nossos principais apresentadores de telejornal, parece poss��vel, a partir dessa abordagem te��rica, assumir j�� como hip��tese a possibilidade de alinh��-los em uma dessas quatro posi??es. A comprova??o dessa hip��tese depende, no entanto, do acompanhamento em curso da performance de cada apresentador em um conjunto grande de apari??es di��rias, pois s�� assim parece poss��vel fundamentar a configura??o de um tipo particular de ��thos, assim como sua rela??o com o modelo enunciativo e com a proposta editorial do telejornal. �� importante ressalvar, no entanto, que o alinhamento das performances dos apresentadores nesses quatro p��los (impessoal/c��mplice, cr��tico/comprometido) servir�� apenas para orientar a descri??o de um tipo de ��thos predominante. �� este, ao final, que nortear�� a intera??o entre o telespectador e o apresentador, assim como os processos de identifica??o do pr��prio telejornal. N?o se exclui aqui, no entanto, o deslocamento dos apresentadores, inclusive numa mesma edi??o do telejornal, entre um p��lo e outro, assumindo posi??es intermedi��rias ou graduais em fun??o dos conte��dos proferidos (7).

Ainda preliminarmente, parece tamb��m poss��vel apontar que a grande aceita??o do modelo de telejornal centralizado e opinativo, no qual se d�� ainda mais ��nfase �� constru??o do ��thos do enunciador, parece ser um indicativo de que a credibilidade do apresentador j�� n?o se mede mais pela aparente "objetividade" ou pela l��gica da neutralidade (8). A credibilidade depende hoje muito mais da sua capacidade de criar o espa?o necess��rio �� valora??o e ao questionamento das not��cias que chegam ao espectador em profus?o e frente ��s quais ele, geralmente, tem dificuldades de avalia??o (Ver��n, 1995, p. 88). Esse novo papel assumido pelo apresentador (ancora) produz agora um contrato de veridic??o (um crerverdadeiro) que n?o se baseia mais em estrat��gias para mascarar o fato evidente de que toda produ??o de linguagem emana de algu��m e se dirige a algu��m para falar de alguma coisa. N?o se pretende mais, portanto, confundir uma pretensa "neutralidade" do apresentador com uma objetiva??o do texto. O atributo de "verdade" que se confere ao seu discurso ��, agora, proporcional �� credibilidade que conquista junto ao telespectador, a partir, especialmente, do ��thos constru��do pelo pr��prio telejornal ?FAMECOS

REFER��NCIAS

CRUZ JUNIOR, Dilson Ferreira. O ��thos do enunciador nos romances de Machado de Assis: uma abordagem semi��tica.

USP:FFLCH, Programa de P��s-gradua??o em Semi��tica e Ling����stica Geral, Tese de Doutorado, S?o Paulo, 2006.

FECHINE, Yvana. Televis?o e presen?a: uma abordagem semi��tica da transmiss?o direta em g��neros informativos. Tese de doutorado, Programa de Estudos P��s-graduados em Comunica??o e Semi��tica - PUCSP, 2001.

--. Estrat��gias de personaliza??o dos apresentadores do SPTV: uma abordagem semi��tica do problema, in Antonio Fausto Neto et. al. (orgs.), Pr��ticas midi��ticas e espa?o p��blico, EDIPUCRS/Famecos, Porto Alegre, 2001a.

FIORIN, Jos�� Luiz. O ��thos do enunciador, in A. Cortina A. R. Marchezan (org.), Raz?es e sensibilidades: a semi��tica em foco. Araraquara (SP): Laborat��rio Editorial FLC/UNESP/Cultura Acad��mica Editora, 2004.

--. Semi��tica e Comunica??o. Gal��xia - Revista Transdisciplinar de Comunica??o, semi��tica, cultura, N��8. S?o Paulo: EDUC.

--. A l��gica da neutralidade: um caso de aspectualiza??o do ator. XVIII Anais de Semin��rios do GEL (Grupo de Estudos Lingu��sticos de S?o Paulo). S?o Paulo: Dedalus/Acervo USP-FFLCH-LE, 1989.

GREIMAS, Algirdas Julien & COURT��S, Joseph. Dicion��rio de semi��tica (trad. port. Alceu Amoroso Lima et al.), Tomo I. S?o Paulo: Cultrix, 1983.

HAGEN, Sean e MACHADO, M��rcia B. Jornalismo e o mito da perfei??o andr��gina. UNIrevista, Vol. 1, N��3, Unisinos, Porto Alegre (RS), 2006.

LANDOWSKI, Eric. Diana, in vivo, in O. Quezada Macchiavello (ed.), Froteras de la semi��tica. Homenaje a Desiderio Blanco. Universidad de Lima/ Fondo de Cultura Econ��mica: Peru, Lima, 1999.

MACHADO, Arlindo. A televis?o levada a s��rio. S?o Paulo: SENAC, 2000.

SQUIRRA, Sebasti?o. Boris Casoy: o ancora no telejornalismo brasileiro. Petr��polis (RJ): Vozes, 1993.

V��RON, Eliseo. Construir el acontecimento. Barcelona: Gedisa Editorial, 1995.

NOTAS

* Vers?o revista do texto apresentado ao Grupo de Trabalho "Estudos de Jornalismo", no XVII Encontro da Comp��s, na UNIP, em S?o Paulo, em junho de 2008.

(1.) Para discutir sobre a enuncia??o no telejornal, recuperamos, e ampliamos, postua??este��ricas desenvolvidas, inicialmente,em Fechine 2001, 2001a.

(2.) Uma estrutura �� recursiva quando a configura??o mais geral pode tamb��m ser observada nas suas partes (repeti??o do todo nas partes).

(3.) No Dicion��rio de Semi��tica, o termo ancoragem designa "o ato de p?r em rela??o duas grandezas semi��ticas pretencentes quer a duas semi��ticas diferentes (a imagem publicit��ria e a legenda; o quadro e seu nome), quer a duas instancias discursivas distintas (texto e t��tulo)" (Greimas & Court��s 1983, p.21). A ancoragem permite que, ao serem postas em rela??o, uma grandeza funcione como refer��ncia da outra. �� precisamente nessa acep??o que utilizamos o termo aqui: o apresentador funciona como uma "ancora" semi��tica na defini??o do papel de cada um dos outros participantes do telejornal (rep��rteres, comentaristas, convidados etc.). Essa ancoragem �� necess��ria porque, considerada isoladamente, cada reportagem constr��i um dispositivo enunciativo semelhante ao do telejornal como um todo (constr��i um outro narrador-rep��rter que, por sua vez, d�� "voz" a outros atores da enuncia??o), criando assim a necessidade de retorno �� instancia englobante a cada delega??o efetivada no n��vel englobado.

(4.) Conscientes do respaldo que os ancoras dos telejornais de modelo opinativo constru��ram junto �� sua audi��ncia, justamente atrav��s desse seu personalismo, homens p��blicos (pol��ticos, empres��rios, pol��ticos, representantes de ��rg?os governamentais etc.) acabam, muito freq��entemente, dando explica??es e assumindo compromissos com os pr��priosos apresentadores do telejornal; agemcomo se estes fossem as aut��nticas instancias ��s quais devem prestar contas

(5.) No estudo dos telejornais, essa postula??o implica em uma orienta??o metodol��gica: n?o pode se basear a descri??o do ��thos de um apresentador na an��lise de um ��nico programa, mas em um conjunto amplo de exibi??es (edi??es) e situa??es.

(6.) Fiorin indica como refer��ncia no estudo do ��thos do enunciador nas m��dias o livro de Norma Discini de Campos intitulado O estilo nos textos. S?o Paulo, Contexto, 2000 (cf. 2004a).

(7.) Tome-se como exemplo disso a edi??o do JN, de 06/ 08/03,em que, ao noticiar a morte do ent?o presidente das Organiza??es Globo, Roberto Marinho, William Bonner embargou a voz e quase chorou, evidenciado toda a sua como??o ao anunciar a morte do patr?o. Numa avalia??o preliminar do ��thosconstru��do por Bonner, no JN, seu comportamento estaria mais alinhado ao do apresentador-impessoal, que cont��m suas emo??es e ju��zos de valor. No entanto, esse alinhamento n?o �� est��tico, j�� que o apresentador pode assumir tamb��m outras posturas, sem que estas sejam predominantes, ou ao menos as mais recorrentes, na observa??o da sua performance no JN.

(8.) O termo "neutralidade" �� empregado aqui no sentido proposto por Fiorin (1989), mas alude tamb��m �� sua acep??o nos estudos de jornalismo nos quais est��, geralmente, associado �� no??o de imparcialidade.

Yvana Fechine

Professora do Departamento de Comunica??o Social do Programa de P��s-Gradua??o

da UFPE/PE/BR

[email protected]
联系我们|关于我们|网站声明
国家哲学社会科学文献中心版权所有