Performance dos apresentadores dos telejornais: a construcao do ethos.
Fechine, Yvana
Um novo perfil de apresentador
A credibilidade do telejornal �� influenciada diretamente pela
confian?a que os espectadores depositam nos seus apresentadores.
Embora possam ser considerados, como em qualquer outro formato
televisual, a "cara" do programa que comandam, os
apresentadores do telejornal, diferentemente dos profissionais que
desempenham este papel em outros g��neros, constroem sua imagem numa
constante tens?o entre a propalada exig��ncia de
"objetividade" e imparcialidade da pr��tica
jornal��stica e a autopromo??o e glamouriza??o
inerentes �� televis?o. Se, antes, os apresentadores primavam
pela discri??o em rela??o �� sua vida pessoal,
hoje, muitos deles se comportam como celebridades, sendo objeto
freq��ente de revistas, sites e programas de TV dedicados aos
"famosos" ou a fofocas do meio art��stico. Jornalistas de
grandes emissoras, como F��tima Bernardes e Wiliam Bonner,
apresentadores do famoso Jornal Nacional (JN), chegam a ser retratados
na m��dia como "m��ticas estrelas hollywoodianas dos anos
dourados do star system" (Hagen e Machado, 2006, p. 2). Do
"locutor de not��cias", que se limitava a ler as
informa??es com atitude distanciada e em estilo
radiof?nico, ao "ancora", que se posiciona
enfaticamente sobre os fatos noticiados, podemos observar, grandes
transforma??es n?o somente nos pap��is, mas nas
posturas e perfis dos apresentadores de telejornal.
Hoje, �� cada vez mais f��cil apontar apresentadores de
telejornal que esbravejam contra os pol��ticos ou criticam duramente
as institui??es cobrando "solu??es" em
nome do "povo", evidenciando com clareza posturas
ideol��gicas. H�� ainda outros que, assumindo um estilo mais
descontra��do, fazem brincadeiras com a equipe ou com o pr��prio
espectador, revelam situa??es do seu cotidiano (a
rea??o que tiveram com a vacina conta gripe, por exemplo),
comportamentos privados (o que faz quando est�� de folga, por
exemplo) e gostos individuais (o time pelo qual torce, por exemplo) em
meio aos coment��rios feitos ��s reportagens apresentadas pelo
telejornal.
Por meio de tais comportamentos, o apresentador passa, por um lado,
a ser percebido paulatinamente pelo p��blico como algu��m mais
pr��ximo e familiar, algu��m de quem ele conhece at�� alguns
aspectos da vida, das experi��ncias, das opini?es e
prefer��ncias pessoais. Pode ainda, por outro lado, ser visto pelo
telespectador como algu��m capaz de defender seus interesses e
manifestar suas posi??es, apto a expressar ��s
autoridades, aos pol��ticos ou a representantes da sociedade civil
aquilo que ele pr��prio gostaria de falar. Por um ou por outro
caminho, com diferentes grada??es e estrat��gias de
manifesta??o, �� poss��vel indicar, especialmente a
partir dos anos 90, uma tend��ncia geral ��
personaliza??o desses apresentadores, provocando, assim,
tamb��m uma mudan?a na pr��pria ret��rica dos
telejornais. Essa nova estrat��gia ret��rica sustenta-se na
��nfase dada, agora, na constru??o do ��thos dos
apresentadores por meio de procedimentos determinados preliminarmente
pelas estrat��gias enunciativas dos telejornais. Para entender como
isso se d��, �� preciso n?o apenas recuperar alguns
pressupostos da ret��rica aristot��lica, mas tamb��m
discorrer, antes, sobre a pr��pria enuncia??o no
telejornal.
Telejornal e enuncia??o (1)
Do ponto de vista enunciativo, o telejornal pode ser tratado como
um enunciado englobante (o notici��rio como um todo) que resulta da
articula??o, por meio de um ou mais apresentadores, de um
conjunto de outros enunciados englobados (as not��cias) que, embora
aut?nomos, mant��m uma interdepend��ncia. Podemos, assim,
conceber o telejornal como um conjunto que emerge justamente da
articula??o dessas sucessivas unidades numa instancia
enunciativa que as engloba. Nas suas mais variadas formas - reportagens
gravadas, entrevistas no est��dio, entradas "ao vivo",
gr��ficos, material de arquivo etc. -, todos os enunciados
englobados (partes) organizam-se como um enunciado englobante
impl��cito (todo) ao serem inseridos e articulados entre si numa
mesma temporalidade definida pelo in��cio e pelo fim do programa. A
temporalidade na qual se d�� a pr��pria transmiss?o do
telejornal corresponde a uma dura??o continuamente no
presente. �� nesta dura??o que o telejornal se faz no
momento mesmo em que se exibe.
Este enunciado englobante (o telejornal) n?o se define como
tal apenas pela sucessividade das suas unidades constitutivas
(reportagens, links ao vivo etc.) numa temporalidade que articula o
sintagma audiovisual. Definese tamb��m a partir de uma pessoa (um
"eu") e de um espa?o de refer��ncia. Todo ato de
enuncia??o ��, afinal, a instancia de
instaura??o de um eu, de um aqui e de um agora, a partir dos
quais se definem, por proje??o, as mesmas categorias no
enunciado. �� importante, no entanto, distinguir duas
instancias no procedimento enunciativo: o "eu"
pressuposto e o "eu" projetado no interior do enunciado e,
respectivamente, um "tu" pressuposto e um "tu"
projetado no interior do enunciado, j�� que a cada "eu"
corresponde um "tu" (quem fala sempre fala para algu��m).
Estes "eu" e "tu" pressupostos, destinador e
destinat��rio impl��citos da enuncia??o, s?o
denominados, respectivamente de enunciador e enunciat��rio. Tanto
quanto a enuncia??o, os actantes deste n��vel s?o
tamb��m instancias conceituais, "sujeitos
l��gicos" ou pap��is pass��veis de
figurativiza??o apenas no n��vel mais concreto do
enunciado. Neste caso, instauram-se no enunciado sujeitos delegados do
enunciador e do enunciat��rio denominados, respectivamente, de
narrador e narrat��rio. Estes nada mais s?o do que o
"eu" e "tu" projetados: simulacros ou
figurativiza??es, constru��dos no e pelo pr��prio
enunciado, do enunciador e do enunciat��rio, respectivamente.
No esquema de pap��is definidos tradicionalmente na teoria da
enuncia??o, o enunciador e o enunciat��rio n?o podem
ser confundidos com o autor e leitor emp��ricos.
Estes ��ltimos s�� podem ser levados em conta, no campo da
enuncia??o, tamb��m a partir de seus simulacros:
enunciador e enunciat��rio agora como simulacros do autor e leitor
emp��ricos, dos indiv��duos concretos que participam do circuito
comunicativo. Por oposi??o a estes sujeitos emp��ricos
(sujeitos de "carne e osso"), enunciador e enunciat��rio
definem-se como "sujeitos semi��ticos" ("seres do
discurso") que correspondem, na verdade, a fun??es
textuais, a "pap��is", a "posi??es" de
subjetividade constru��das pelo pr��prio texto. Podem ser
definidos, enfim, como as "vozes" constru��das pelo
pr��prio texto ou como instancias que substituem simbolicamente
no texto seu autor e leitor reais. Se entendermos a pr��pria
enuncia??o como uma esp��cie de simulacro da
comunica??o constru��do no e pelo pr��prio texto,
parece poss��vel pensar em todos os atores envolvidos neste ato
comunicativo como pap��is envolvidos ora na instancia da
realiza??o, ora na instancia do realizado. Estes
pap��is corresponderiam assim, e respectivamente, aos actantes da
enuncia??o e do enunciado, conforme o esquema a seguir:
Enunciador [narrador DISCURSO narrat��rio] Enunciat��rio
Pensando as posi??es actanciais, no caso espec��fico
do telejornal, pode-se postular que a representa??o
emp��rico-comunicativa mais imediata do sujeito enunciador desse
macroenunciado, que �� o telejornal no seu conjunto, parece ser todo
o staff de produ??o do telejornal (dirigentes regionais,
jornalistas, t��cnicos etc.) denominado, genericamente aqui de
broadcaster. No n��vel do enunciado propriamente dito (o que se
v�� na tela), o narrador do telejornal corresponde ��
pr��pria figura do seu apresentador (ou apresentadores). ��
exemplo de outros programas televisivos, o telejornal pode tamb��m
representar sua audi��ncia, de tal modo que o narrat��rio aqui
est�� geralmente identificado com as figurativiza??es do
espectador no enunciado. Para isso, os telejornais apelam, mais
freq��entemente, ao discurso interpelativo por meio do qual os
apresentadores e rep��rteres dirigem-se diretamente ao espectador,
seja direcionando o olhar para a camera enquanto falam, seja
utilizando vocativos ou pronomes pessoais ("voc�� viu
...", "voc�� pode ...", "voc�� sabe
...") . �� poss��vel observar, no entanto, telejornais em
que h�� a participa??o do p��blico gravada (VTs com
enoites, por exemplo) ou "ao vivo" (por meio de telefone ou
internet). Embora mais rara, �� poss��vel apontar tamb��m
experi��ncias nas quais h�� a presen?a de espectadores
convidados no pr��prio est��dio do telejornal, opinando ou
participando de entrevistas com os convidados. Observamos assim, no
telejornal, o esquema de pap��is abaixo, no qual o termo
"espectador projetado" designa essas suas diferentes
figuratiza??es no
Broadcaster [Apresentador ELLJORNAL Espectador projectado]
Espectador
Em fun??o da estrutura recursiva2 do telejornal, o
apresentador n?o se constitui, no entanto, no ��nico actante
(pessoa) desse macroenunciado que �� o telejornal. Todo o telejornal
se organiza a partir da delega??o de voz que um "eu"
(quem fala), explicitamente instaurado no enunciado englobante, confere
a novos actantes definidos no n��vel dos enunciados englobados
(outros "eus"). Tratase, em outras palavras, da
delega??o de voz de um ator da enuncia??o a outro.
Empiricamente, o modo mais freq��ente de se estabelecer no
telejornal esta delega??o de voz �� a convoca??o
pelo apresentador de um rep��rter ao qual cabe o relato dos fatos.
Ao receber a palavra do apresentador-narrador, o rep��rter
instaura-se ent?o como um outro "eu", estabelecendo
aqueles com quem fala como "tu". �� nesse processo de
delega??o de voz, orientado por uma intercambialidade de
posi??es, que o apresentador define o seu papel enunciativo:
funciona como uma instancia de ancoragem actancial, articulando os
distintos atores da enuncia??o do n��vel enunciativo
englobado com o n��vel englobante (3). Ao fazer isso, assume o papel
de um macronarrador (narrador principal) no enunciado englobante, ainda
que existam v��rios outros narradores (secund��rios) no
n��vel englobado.
Pap��is enunciativos e modelos de telejornal
A partir dos pap��is enunciativos dos apresentadores ��
poss��vel identificar ao menos dois grandes modelos de telejornal.
H�� telejornais em que o apresentador funciona basicamente como um
"operador de passagens" entre os v��rios atores da
enuncia??o envolvidos. Nesse caso, mesmo dirigindo-se
diretamente �� audi��ncia, ele n?o se apropria do discurso
como sendo seu. Suas interven??es verbais s?o,
geralmente, constru��das em terceira pessoa e s?o poucas as
circunstancias nas quais se permite demonstrar uma
valora??o pessoal atrav��s de outros sistemas
semi��ticos (tom da voz, express?o facial, gestos etc.). Por
mais que seja tratado no universo extraling����stico como uma
"estrela", nos telejornais mais convencionais, o apresentador
jamais faz refer��ncia ao seu pr��prio papel, a si ou a quem
quer que ele represente: ele nunca "fala", de modo
expl��cito, em seu pr��prio nome e raramente fala em nome da
pr��pria equipe de produ??o do telejornal. O apresentador
�� um delegado imediato do sujeito enunciador que se manifesta
explicitamente no enunciado (sua figurativiza??o), mas ao qual
n?o se pode atribuir o ponto de vista do discurso. H�� aqui,
portanto, uma clara distin??o entre este comunicador em
particular (um "eu" individual) e seu papel p��blico, o de
representante ou "porta-voz" de um broadcaster (o que o
define, do ponto de vista discursivo, como um "n?o-eu").
Esse tipo de configura??o enunciativa pode ser alinhada
com o que Arlindo Machado denomina de "modelo de telejornal
polif?nico". Neste modelo, o apresentador ��, segundo
Machado, "mais exatamente um condutor em geral impessoal"
(2000, p. 106), com a mesma importancia dos demais integrantes da
equipe, conferindo ao telejornal um car��ter mais
"descentralizado" em prol da constru??o de um maior
efeito de "objetividade jornal��stica". Nesse modelo de
telejornal polif?nico, a principal caracter��stica, em termos
enunciativos, �� a dilui??o da "voz" do
apresentador em meio ao conjunto de "vozes" que o comp?e.
Poder��amos falar, em outros termos, na constru??o de um
apresentador "sem voz" pr��pria (um "eu" que
n?o diz "eu"). Por isso mesmo, seu papel �� t?o
somente o de um "porta-voz". Em outro modelo de telejornal que
Arlindo Machado denomina de "centralizado ou opinativo", o que
se observa ��, ao contr��rio, a produ??o de um efeito
de autonomia do apresentador frente �� equipe do telejornal e ��
pr��pria emissora. Investe-se, agora, deliberadamente na
constru??o de um efeito de sentido de "dono da voz"
(um apresentador dotado de "voz pr��pria"), que assume o
conte��do enunciado como sendo seu (um "eu" que diz
"eu").
Segundo Machado, no modelo de telejornal "centralizado ou
opinativo", a voz do apresentador costuma se impor sobre as demais,
emoldurando-as "com o crivo do seu coment��rio" (2000,
p.107). Neste modelo, do qual o jornalista Boris Casoy, com o seu TJ
Brasil (SBT, 1988-1997), foi o precursor no telejornalismo brasileiro
(Squirra, 1993), o apresentador coloca-se numa posi??o
hieraquicamente superior, de tal modo que o telejornal parece que lhe
pertencer. Nesse telejornal centralizado ou opinativo, investe-se, ao
contr��rio da configura??o anterior, na deliberada
oscila??o dos seus apresentadores entre um "eu"
(indiv��duo singular, um "dono da voz") e um
"n?o-eu" (um representante ou "porta-voz")
(Landowski, 1999). Produz-se, a partir dessa oscila??o, um
discurso mais pessoal e, por isso mesmo, de maior empatia com o
p��blico em nome de quem os apresentadores passam, em alguns
telejornais, a falar e a fazer "cobran?as" (4). A
estrat��gia adotada por esse tipo de telejornal �� baseada numa
inequ��voca personaliza??o dos seus apresentadores,
constru��da a partir do imbricamento, da superposi??o ou
de uma deliberada (con)fus?o entre os actantes do enunciado e da
enuncia??o Trata-se aqui, em outros termos, de uma
esp��cie de efeito de indistin??o entre os atores
instalados nas instancias do enunciado e da enuncia??o.
A id��ia de imbricamento est�� aqui, de modo geral,
associada �� superposi??o de instancias e, neste
contexto espec��fico, �� (con)fus?o dos pap��is
actanciais do enunciador com o narrador, provocando o
"ofuscamento" de um pelo outro: como se um fosse
"encoberto" pelo outro, como se um estivesse no lugar do
outro, quase como se um fosse o outro; mas sem que um prescinda do
outro. Todo esse mecanismo �� determinado pelo sincretismo dos
pr��prios pap��is actanciais envolvidos no circuito enunciativo,
de tal modo que se produz o efeito de que j�� n?o h�� um
"distanciamento" entre a fonte da enuncia??o
(enunciador) e sua figurativiza??o (o narrador). Diluemse,
assim, os limites entre uma e outra fun??o/ posi??o
actancial e j�� n?o se distingue mais exatamente quem
"fala" quando o apresentador do telejornal se dirige ao
espectador: se um eu, que figurativiza no enunciado um actante coletivo
da enuncia??o (o broadcaster) pela sua simples presen?a,
ou um "eu" individual que agora fala tamb��m aparentemente
por si (o jornalista "x" ou "y").
O que acontece, ent?o, quando este narrador-apresentador, que
j�� se constitui em um "eu" projetado no enunciado,
contraria os canones da "objetividade jornal��stica"
e, explicitamente, diz "eu"? Quando o apresentador, dos mais
variados modos, diz "eu" (assume-se como um "eu")
�� como se abandonasse a fun??o comunicativa de
"porta-voz" deste actante coletivo da enuncia??o,
que sua presen?a figurativiza, para construir a si pr��prio
como fonte do discurso (�� como se um ator discursivo, o
apresentador William Bonner, por exemplo, correspondesse ao
indiv��duo "real" William Bonner, jornalista ao qual
n?o temos acesso a partir do que vemos no telejornal). Nessa nova
configura??o enunciativa, ganha mais importancia a
constru??o do apresentador como uma persona (uma esp��cie
de "personagem" calcado na sua pr��pria personalidade) -
ou seja, um ator da enuncia??o que se constr��i a partir
de uma representa??o de si mesmo. Reveste-se tamb��m de
maior peso o modo como, a cada edi??o do telejornal, vai sendo
constru��da uma imagem do enunciador apoiada na imagem do
comunicador. �� diante desse tipo de configura??o
enunciativa que se imp?e agora, ao analisarmos os telejornais, o
estudo do ��thos do enunciador, tal como este foi recuperado da
tradi??o aristot��lica por J. L. Fiorin (cf. 1989, 2004,
2004a). Antes, por��m, �� preciso recuperamos um pouco das
postula??es da ret��rica.
Telejornal e ret��rica: o ��thos do apresentador
Contrariando as postula??es de Plat?o, seu mestre,
Arist��teles acreditava que a verdade n?o est�� mais no
objeto, �� constru��da no discurso. A preocupa??o
central da ret��rica aristot��lica �� com os procedimentos
de persuas?o no uso p��blico de um discurso; seu papel ��
fornecer ferramentas para o fazer-crer do orador. Pode ser considerada,
assim, um aut��ntico "manual" de procedimentos para
convencer o p��blico em cada situa??o. Por isso, n?o
se preocupa apenas com a constru??o argumentativa e incorpora
tamb��m entre as suas preocupa??es as emo??es,
as paix?es, os h��bitos e cren?as da audi��ncia.
Interessa-se n?o tanto pela constru??o da verdade, mas
por tudo que possa parecer verdadeiro ao ouvinte. (Cruz Junior, 2006,
pp. 19-22). H��, em raz?o disso, uma grande
preocupa??o na ret��rica com o ��thos do orador, o
modo como este aparece ao p��blico. O conceito remete, em outras
palavras, �� configura??o de car��ter por meio do qual
o orador conquista a confian?a da plat��ia com vistas ��
sua persuas?o.
Na tradi??o filos��fica greco-romana, o ��thos
foi concebido de duas maneiras distintas. Para Is��crates ou
Quintiliano, era o resultado da imagem p��blica do orador,
constru��da por fatores exteriores ao discurso, sobretudo os seus
atributos morais (coragem, integridade etc.). Remetia, em suma, ��
reputa??o ou �� fama do orador. Compreendese assim, e em
parte, a coniv��ncia das emissoras de TV com a
glamouriza??o dos seus profissionais de jornalismo, desde que
essa imagem constru��da por outros meios que n?o o pr��prio
telejornal lhes seja favor��vel. A freq����ncia com que o
famoso casal de apresentadores do Jornal Nacional (TV Globo), William
Bonner e F��tima Bernardes, freq��entam as revistas de
celebridades d�� prova disso (Hagen & Machado, 2006). Em outros
tempos, apesar na sua enorme popularidade, evitavase a
apari??o de Cid Moreira - apresentador que se tornou a
"marca" do JN - at�� mesmo nos programas da pr��pria
Globo. Hoje, ao contr��rio, o modo como os apresentadores constroem
sua reputa??o junto ao p��blico ��, tamb��m, o
resultado daquilo que se publica sobre eles em outras m��dias ou
at�� mesmo das suas apari??es em outras programas de TV
(dando entrevistas, por exemplo). Refor?ando a importancia dos
fatores ex��genos na constru??o da credibilidade, Pierre
Bourdieu prop?e tamb��m que a efic��cia do discurso ��
determinada ainda pela institui??o que o autoriza, assim como
pela posi??o social daquele que o profere (Cruz Junior, 2006,
p. 37).
Para Arist��teles e C��cero, no entanto, o ��thos
n?o dependia tanto das qualifica??es sociais ou dos
atributos morais reputados ao orador. Era, sobretudo, uma
constru??o do pr��prio discurso (Cruz Junior, 2006,
pp.3334). No estudo do telejornal, todas essas diferentes
posi??es parecem, no entanto, ser concili��veis, ainda
que, a depender da situa??o, possa se dar uma ��nfase
maior a uma constru??o ora mais emp��rica (pessoal) ou
institucional, ora mais ling����stica. Em uma discuss?o
mais focada na instancia da produ??o, como a proposta
aqui, consideraremos a priori o ��thos como um resultado da
pr��pria enuncia??o e adotaremos o referencial da
semi��tica discursiva, que n?o leva em considera??o o
"indiv��duo real". Autor e o leitor reais n?o
pertencem, portanto, ao universo textual. Apenas o autor e o leitor
impl��citos pertencem ao texto e, por meio deles, s?o
apreendidos. Mesmo na autobiografia, o "eu" que se enuncia
�� sempre um simulacro constru��do do escritor, que se define no
interior do texto por suas rela??es com os outros atores da
enuncia??o a�� instalados. O mesmo princ��pio vale
para o estudo dos apresentadores de telejornal.
Embora tenhamos, com muita facilidade, informa??es sobre
suas vidas "reais" e pessoais pelas pr��prias m��dias,
especialmente pelas j�� mencionadas revistas dedicadas ��s
celebridades, o que �� importante observar �� como os
apresentadores constroem um ��thos a partir das suas
apari??es di��rias no telejornal. Na perspectiva adotada
por J. L. Fiorin, o ��thos corresponde a uma imagem do autor,
n?o do autor real, mas do autor discursivo, um autor impl��cito
no enunciado. Para ele, o ��thos explicitase "nas marcas da
enuncia??o deixadas no enunciado. Portanto, a an��lise do
��thos do enunciador nada tem do psicologismo que, muitas vezes,
pretende infiltrar-se nos estudos discursivos" (Fiorin, 2004, p.
120). Ainda segundo Fiorin, quando analisamos uma obra singular, podemos
definir t?o somente os tra?os do narrador. �� apenas
quando estudamos a obra inteira de um autor que podemos apreender,
ent?o, um ��thos do enunciador (5). Fiorin lembra ainda que,
para Roland Barthes, o ��thos podia ser considerado como uma
conota??o. Consistia na propriedade que o orador possu��a
de, ao proferir uma informa??o (o dito), afirmar tamb��m
algo sobre si (pelo modo de dizer).
Se admitimos que o ��thos do enunciador define-se na
pr��pria enuncia??o, podemos concluir, ent?o, que a
influ��ncia exercida por um determinado enunciador sobre um
enunciat��rio n?o depende apenas dos conte��dos que
p?e em circula??o (enuncia): "o enunciat��rio
n?o adere ao discurso apenas porque ele �� apresentado como um
conjunto de id��ias que expressam seus poss��veis interesses.
Ele adere, porque se identifica com um dado sujeito da
enuncia??o, com um car��ter, com um corpo, com um
tom" (Fiorin, 2004: 134). No caso do telejornal, a
constru??o do ��thos do apresentador �� determinada,
antes de mais nada, pela estrat��gia de actorializa??o
adotada. A configura??o enunciativa do apresentador, nos
moldes de "porta-voz" ou "dono da voz" ("voz
pr��pria"), orienta o seu modo de dizer e parecer
(apar��ncia de ser) e influencia diretamente o fazer-crer sobre
aquilo que �� dito. �� preciso, por isso, prestar cada vez mais
aten??o �� "qualidade" da performance dos
apresentadores ou, em outros termos, a tudo aquilo est�� relacionado
�� aspectualiza??o do ator da enuncia??o
(Fiorin, 1989).
��thos e aspectualiza??o
Na teoria semi��tica, a aspectualiza??o corresponde a
um ponto de vista de um observador expl��cito ou impl��cito
sobre o tempo, o espa?o e os atores (pessoas) de uma determinada
a??o. No caso da aspectualiza??o do ator, esse
observador determina a "qualidade" de suas
realiza??es, a maneira como ele desempenha suas
a??es. Para esse observador, um gesto de um determinado ator
da enuncia??o (figurativizado por um palestrante, por exemplo)
pode ser elegante ou desastrado, a voz pode ser estridente ou suave, a
exposi??o pode ser segura ou hesitante. O julgamento que esse
observador faz da "qualidade" da performance, no entanto,
n?o �� individual, pois seus pontos de vista s?o sociais,
Dependem, portanto, de valora??es que regem, de modo geral, as
nossas rela??es com os outros homens (Fiorin, 1989, p.350).
De acordo ainda com o Fiorin, os comportamentos e
rela??es sociais costumam ser pautadas pela "l��gica
da gradualidade" apoiada na neutralidade. Neste l��gica, devem
ser considerados como disf��ricos (negativos) os p��los
categoriais ocupados pelo excesso e pela insufici��ncia. O que
Fiorin denomina de "justa medida" ��, nesse universo
relacional, o termo euf��rico (positivo). A qualidade da
a??o positivamente valorizada na performance do ator deve ser,
portanto, neutra em rela??o aos p��los categoriais: nem
excesso, nem insufici��ncia, �� a justa medida (neutralidade)
que preside a aspectualiza??o dos comportamentos sociais
(1989, p.350). A partir desse esquema relacional, cada cultura consolida
uma aspectualiza??o positiva ou negativa dos comportamentos
sociais e, conseq��entemente, da "qualidade" da
performance do ator. Fiorin aponta, por exemplo, a "justa
medida" em rela??o ao vestir como sendo sin?nimo de
simplicidade e sobriedade, "qualidades" que se op?em
tanto ao espalhafatoso (excesso) quanto �� displic��ncia
(insufici��ncia) (1989, pp. 352-353). Ainda como exemplos de
aspectualiza??es do ator, definidas socialmente entre
n��s, ele indica v��rias outras valoriza??es
disf��ricas e euf��ricas associadas, respectivamente, a
performance de quem fala: exagerado (excesso) ou deficiente
(insufici��ncia) vs. moderado (justa medida); duro (excesso) ou mole
(insufici��ncia) vs. firme (justa medida); arrogante (excesso) ou
subserviente (insufici��ncia) vs. humilde (justa medida);
temer��rio (excesso) ou medroso (insufici��ncia) vs. prudente
(justa medida); rude (excesso) ou adulador (insufici��ncia) vs.
sincero (justa medida), entre tantas.
Se retomarmos as proposi??es de Fiorin sobre a
aspectualiza??o do ator, agora �� luz da ret��rica
aristot��lica, parece poss��vel concluir que as
qualifica??es da performance de um sujeito feitas por um
observador podem ser consideradas como um resultado direto da
constru??o discursiva do seu ��thos. Baseado nas
descri??es que a Ret��rica traz das caracter��sticas
que inspiram a confian?a no orador, Fiorin identifica tr��s
esp��cies de ��the (2004, p.121): 1) ��thos baseado na
phr��nesis, qualidade que remete ao bom senso, a prud��ncia, a
pondera??o, indicando se o orador exprime opini?es
competentes e razo��veis; 2) ��thos baseado na aret��, que
remete �� virtude, entendida, neste contexto, como coragem,
justi?a e sinceridade, o que se traduz na manifesta??o do
orador como algu��m simples, sincero e franco ao expor seus pontos
de vista; 3) ��thos baseado na e��noia, que remete ��
benevol��ncia e �� solidariedade, associadas ��s
demonstra??es de simpatia do orador pelo audit��rio. De
acordo com Fiorin, o orador que se utiliza da phr��nesis se
apresenta como sensato, ponderado e exerce sua persuas?o muito mais
com os recursos discursivos (argumentivos). O orador que se utiliza da
aret�� costumar mostrar-se como desbocado, franco, temer��rio e
exerce seu convencimento sobre o audit��rio com base na
emo??o. J�� aquele que usa a e��noia apresenta-se como
algu��m solid��rio e benevolente com seu enunciat��rio,
conquistando-o por meio da simpatia.
�� evidente que por tratar da performance de um orador diante
do audit��rio, todas essas qualidades descritas na Ret��rica
devem ser repensadas a partir das especificidades do aparato enunciativo
analisado. Para pensarmos, por exemplo, a constru??o da imagem
do enunciador nos jornais, ser�� preciso considerar outras
"marcas" que dependem das especificidades
t��cnicoexpressivas do meio. Para se estabelecer os ��the do que
se chama, comumente, imprensa s��ria e imprensa sensacionalista, por
exemplo, �� preciso observar, entre outras coisas, o modo como num
corpus formado a partir de um conjunto representativo de
edi??es, os jornais trabalham recorrentemente com determinados
arranjos no conte��do (temas predominantes, tipo de abordagem,
manchetes etc.) e na express?o (fotos, fontes, cores etc.) (6). No
caso dos apresentadores de telejornal, �� poss��vel postular a
constru??o de dois tipos de ��thos que podem ser
homologados, em p��los opostos, ��s duas configura??es
enunciativas descritas anteriormente ("porta-voz" e "dono
da voz"): o apresentador-impessoal (distante) e o
apresentadorc��mplice (pr��ximo), respectivamente.
Definindo-os a partir da sua aspectualiza??o, podemos
associar ��s descri??es dos ��the dos apresentadores,
a comportamentos e qualidades que caracterizam sua performance. O
��thos do apresentador-impessoal pode ser reconhecido pela
formalidade e por uma postura corporal mais tensa, pela
conten??o gestual e pela mono tonalidade. Esse tipo de
apresentador evidencia uma obedi��ncia mais estrita ao texto escrito
(script), evitando improvisa??es ou mesmo exprimir
emo??es. Toda a sua performance �� orientada por um apelo
mais deliberado �� racionalidade e inteligibilidade do
telespectador. Tratase aqui de um comportamento baseado na
phr��nesis, nos termos descritos por Arist��teles, e de uma
postura orientada rumo �� insufici��ncia, nos termos de Fiorin.
A performance do apresentador-c��mplice, ao contr��rio, apela
�� afetividade e passionalidade do telespectador. Para a
constru??o desse tipo oposto de ��thos, costuma adotar um
comportamento mais informal e uma a postura corporal mais relaxada. Seu
gestual �� mais espontaneo e menos contido, suas
express?es faciais s?o usadas deliberadamente como forma de
coment��rio. Sua entona??o varia com freq����ncia,
sendo utilizada tamb��m para exprimir seus estados de alma, seja de
como??o ou indigna??o (�� o tipo de apresentador
que "esbraveja" ou fala muito alto, por exemplo). A
performance desse tipo de apresentador �� compar��vel, nos
termos da ret��rica aristot��lica, a do orador que se utiliza da
aret��. Seu comportamento tende ao p��lo do excesso, nos termos
de Fiorin.
�� poss��vel ainda identificar e descrever
posi??es intermedi��rias entre esses termos opostos que
nos levariam ainda a outros dois tipos de ��thos que, por meio de
manifesta??es distintas, tenderiam igualmente ��
"justa medida" (Fiorin, 1989). Bastaria, por meio de uma
opera??o l��gica, negarmos os termos opostos com os quais
operamos at�� aqui para chegarmos a dois outros ��the. Se
pensarmos, por exemplo, em um apresentador que pode ser qualificado como
n?o-c��mplice, poder��amos propor a sua descri??o
como um apresentador-cr��tico. Esse tipo de apresentador n?o se
comporta com a formalidade e contens?o pr��prias ao
apresentador-impessoal, mas, como este, investe mais na racionalidade
que na emo??o. Exp?e, no entanto, suas posi??es
e sentimentos por comen t��rios, express?es ou
entona??es discretamente ir?nicos, c��ticos,
bem-humorados (ou mal-humorados), por exemplo. Na sua postura,
evidencia-se um convencimento de que, apesar da sutileza das suas
interven??es, elas ser?o bem compreendidas
Pelo mesmo caminho, propondo a nega??o do outro p��lo
categorial (o do apresentador-impessoal), chegar��amos ao ��thos
baseado no n?o-impessoal, que propomos associar, aqui, ��
descri??o de um apresentador-comprometido, cujo comportamento
�� caracterizado pela busca de empatia com o p��blico, mas sem
que, para isso, tenha que assumir posi??es
pol��tico-ideol��gicas expl��citas ou encenar bravatas. Seu
esfor?o para construir uma maior proximidade do telespectador
manifesta-se, freq��entemente, por meio de coment��rios
simp��ticos e de natureza pessoal, que tentam construir a si mesmo
como "homem comum", algu��m com os mesmos gostos,
preocupa??es, interesses e problemas cotidianos do
telespectador.
Pensados em termos da ret��rica aristot��lica, esses dois
eth�� - o comprometido e o cr��tico - baseiam-se em distintos
modos de atualiza??o da e��noia, a partir de uma
valoriza??o maior do pr��prio telespectador, e n?o
tanto do protagonismo do apresentador, como ocorre no p��lo
categorial de base - do impessoal e do c��mplice. Neste p��lo, a
valoriza??o do apresentador evidencia-se tanto pelo modo como
ele assume seu discurso como "a verdade" (caso do
apresentador-impessoal), quanto pela maneira como toma para si o direito
de "falar pelos outros" (caso do apresentador-c��mplice).
A valoriza??o do telespectador, ao contr��rio, aparece em
todas as situa??es em que o apresentador esfor?a-se por
trat��-lo como "igual", seja por meio da busca de empatia
nos comportamentos/ h��bitos/gostos, seja por meio das
sinaliza??es discretas, tecidas na entrelinhas muita vezes,
quanto aos repert��rios compartilhados ou a vis?es de mundo
comuns (postura do tipo "voc�� sabe do que estou
falando...").
Embora n?o possamos, na atual etapa do estudo e nos limites
deste artigo, caracterizar o ��thos dos nossos principais
apresentadores de telejornal, parece poss��vel, a partir dessa
abordagem te��rica, assumir j�� como hip��tese a
possibilidade de alinh��-los em uma dessas quatro
posi??es. A comprova??o dessa hip��tese depende,
no entanto, do acompanhamento em curso da performance de cada
apresentador em um conjunto grande de apari??es di��rias,
pois s�� assim parece poss��vel fundamentar a
configura??o de um tipo particular de ��thos, assim como
sua rela??o com o modelo enunciativo e com a proposta
editorial do telejornal. �� importante ressalvar, no entanto, que o
alinhamento das performances dos apresentadores nesses quatro p��los
(impessoal/c��mplice, cr��tico/comprometido) servir�� apenas
para orientar a descri??o de um tipo de ��thos
predominante. �� este, ao final, que nortear�� a
intera??o entre o telespectador e o apresentador, assim como
os processos de identifica??o do pr��prio telejornal.
N?o se exclui aqui, no entanto, o deslocamento dos apresentadores,
inclusive numa mesma edi??o do telejornal, entre um p��lo
e outro, assumindo posi??es intermedi��rias ou graduais em
fun??o dos conte��dos proferidos (7).
Ainda preliminarmente, parece tamb��m poss��vel apontar que
a grande aceita??o do modelo de telejornal centralizado e
opinativo, no qual se d�� ainda mais ��nfase ��
constru??o do ��thos do enunciador, parece ser um
indicativo de que a credibilidade do apresentador j�� n?o se
mede mais pela aparente "objetividade" ou pela l��gica da
neutralidade (8). A credibilidade depende hoje muito mais da sua
capacidade de criar o espa?o necess��rio ��
valora??o e ao questionamento das not��cias que chegam ao
espectador em profus?o e frente ��s quais ele, geralmente, tem
dificuldades de avalia??o (Ver��n, 1995, p. 88). Esse novo
papel assumido pelo apresentador (ancora) produz agora um contrato
de veridic??o (um crerverdadeiro) que n?o se baseia mais
em estrat��gias para mascarar o fato evidente de que toda
produ??o de linguagem emana de algu��m e se dirige a
algu��m para falar de alguma coisa. N?o se pretende mais,
portanto, confundir uma pretensa "neutralidade" do
apresentador com uma objetiva??o do texto. O atributo de
"verdade" que se confere ao seu discurso ��, agora,
proporcional �� credibilidade que conquista junto ao telespectador,
a partir, especialmente, do ��thos constru��do pelo pr��prio
telejornal ?FAMECOS
REFER��NCIAS
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NOTAS
* Vers?o revista do texto apresentado ao Grupo de Trabalho
"Estudos de Jornalismo", no XVII Encontro da Comp��s, na
UNIP, em S?o Paulo, em junho de 2008.
(1.) Para discutir sobre a enuncia??o no telejornal,
recuperamos, e ampliamos, postua??este��ricas
desenvolvidas, inicialmente,em Fechine 2001, 2001a.
(2.) Uma estrutura �� recursiva quando a configura??o
mais geral pode tamb��m ser observada nas suas partes
(repeti??o do todo nas partes).
(3.) No Dicion��rio de Semi��tica, o termo ancoragem
designa "o ato de p?r em rela??o duas grandezas
semi��ticas pretencentes quer a duas semi��ticas diferentes (a
imagem publicit��ria e a legenda; o quadro e seu nome), quer a duas
instancias discursivas distintas (texto e t��tulo)"
(Greimas & Court��s 1983, p.21). A ancoragem permite que, ao
serem postas em rela??o, uma grandeza funcione como
refer��ncia da outra. �� precisamente nessa acep??o
que utilizamos o termo aqui: o apresentador funciona como uma
"ancora" semi��tica na defini??o do papel
de cada um dos outros participantes do telejornal (rep��rteres,
comentaristas, convidados etc.). Essa ancoragem �� necess��ria
porque, considerada isoladamente, cada reportagem constr��i um
dispositivo enunciativo semelhante ao do telejornal como um todo
(constr��i um outro narrador-rep��rter que, por sua vez, d��
"voz" a outros atores da enuncia??o), criando assim
a necessidade de retorno �� instancia englobante a cada
delega??o efetivada no n��vel englobado.
(4.) Conscientes do respaldo que os ancoras dos telejornais de
modelo opinativo constru��ram junto �� sua audi��ncia,
justamente atrav��s desse seu personalismo, homens p��blicos
(pol��ticos, empres��rios, pol��ticos, representantes de
��rg?os governamentais etc.) acabam, muito freq��entemente,
dando explica??es e assumindo compromissos com os
pr��priosos apresentadores do telejornal; agemcomo se estes fossem
as aut��nticas instancias ��s quais devem prestar contas
(5.) No estudo dos telejornais, essa postula??o implica
em uma orienta??o metodol��gica: n?o pode se basear a
descri??o do ��thos de um apresentador na an��lise de
um ��nico programa, mas em um conjunto amplo de exibi??es
(edi??es) e situa??es.
(6.) Fiorin indica como refer��ncia no estudo do ��thos do
enunciador nas m��dias o livro de Norma Discini de Campos intitulado
O estilo nos textos. S?o Paulo, Contexto, 2000 (cf. 2004a).
(7.) Tome-se como exemplo disso a edi??o do JN, de 06/
08/03,em que, ao noticiar a morte do ent?o presidente das
Organiza??es Globo, Roberto Marinho, William Bonner embargou a
voz e quase chorou, evidenciado toda a sua como??o ao anunciar
a morte do patr?o. Numa avalia??o preliminar do
��thosconstru��do por Bonner, no JN, seu comportamento estaria
mais alinhado ao do apresentador-impessoal, que cont��m suas
emo??es e ju��zos de valor. No entanto, esse alinhamento
n?o �� est��tico, j�� que o apresentador pode assumir
tamb��m outras posturas, sem que estas sejam predominantes, ou ao
menos as mais recorrentes, na observa??o da sua performance no
JN.
(8.) O termo "neutralidade" �� empregado aqui no
sentido proposto por Fiorin (1989), mas alude tamb��m �� sua
acep??o nos estudos de jornalismo nos quais est��,
geralmente, associado �� no??o de imparcialidade.
Yvana Fechine
Professora do Departamento de Comunica??o Social do
Programa de P��s-Gradua??o
da UFPE/PE/BR
[email protected]