Um panorama da producao jornalistica audiovisual no ciberespaco: as experiencias das redes colaborativas.
Becker, Beatriz ; Teixeira, Juliana
No seculo XX, o desenvolvimento dos meios de comunicacao aceleraram
a circulacao de noticias, constituindo um fluxo continuo de informacao
em escala internacional. Nas ultimas decadas os conteudos jornalisticos
regionais, nacionais e internacionais ganharam espaco expressivo na
imprensa escrita, nas emissoras de radio e, especialmente, na televisao.
A partir dos anos 90, a internet passou a provocar profundas alteracoes
nas rotinas produtivas do jornalismo. Ha, porem, uma ilusao referente a
uma especie de plenitude informativa da contemporaneidade, sustentada
pela "sensacao" de estar informado, como explica Sodre (2001,
p. 60), pelo fato de estar "quase-presente" ao acontecimento
veiculado pela imagem e pela retorica repetitiva, simplificadora e veloz
das mensagens, e nao por conteudos jornalisticos pertinentes a
compreensao da realidade historica.
O processo de producao da noticia resulta da cultura profissional,
dos processos produtivos, dos criterios de noticiabilidade e dos
valores-noticia (Traquina, 2005) e dos codigos e regras particulares do
campo da comunicacao. Deve ser compreendido como um trabalho de
construcao de discursos sobre os fatos transformados em acontecimentos
(Pena, 2005, p.128), que servem a formacao da opiniao publica. Os
angulos determinados na producao das reportagens com seus diferentes
enquadramentos buscam conferir significados a realidade cotidiana, as
relacoes sociais e as instituicoes. A funcao da midia de organizar e
hierarquizar a realidade nos relatos dos acontecimentos ocorre de forma
mais expressiva e impactante quando se faz uso da linguagem audiovisual,
um campo da comunicacao complexo na construcao e ressignificacao de
sentidos (Vizeu, 2008, p. 7-14). As narrativas jornalisticas
audiovisuais, tanto na TV quanto na internet, nos referimos como
praticas de jornalismo audiovisual, cuja qualidade pressupoe as
representacoes dos fatos diversidade de atores sociais, pluralidade de
interpretacoes, inovacoes esteticas e contextualizacao dos
acontecimentos, o que o uso da convergencia, necessariamente, nao
garante.
Ha muitas criticas e indagacoes sobre a exploracao dos novos
formatos informativos e sobre o grau de inovacao dos sites jornalisticos
na apuracao e no tratamento das noticias. Segundo Salaverria (2005, p.
520) frente ao mito, se apresenta uma modesta realidade porque o
hipertexto raramente e utilizado como recurso narrativo no ciberespaco.
Apesar de todos os avancos tecnologicos, a imprensa online ainda busca
uma identidade propria. Em pesquisas anteriores (Becker; Teixeira,
2008), identificamos que as webtvs, webjornalismo audiovisual
caracterizada por projetos editoriais de informacao e entretenimento
produzidos e dirigidos exclusivamente para a internet.
Os sites audiovisuais que produzem conteudos exclusivos para o meio
digital ainda experimentam os primeiros passos em direcao a uma
gramatica propria, que carecem da experimentacao de novas formas de
narrativa com aproveitamento de recursos multimidia e de interatividade,
capazes de proporcionar ao usuario a oportunidade de navegar e percorrer
um relato noticioso mais do que simplesmente acompanhalo de modo linear.
Nesse trabalho investigamos se a utilizacao da linguagem audiovisual na
construcao de novos conteudos e nos processos interativos
disponibilizados pelos sites jornalisticos mais acessados no pais e
pelas redes colaborativas pode colaborar para outras representacoes das
realidades sociais cotidianas.
Realizamos um mapeamento de distintas experiencias que incorporam
esses processos na web, questionando o potencial das novas tecnologias
de informacao para descentralizacao da producao jornalistica, para a
criacao de novos formatos e conteudos e, consequentemente, para a
promocao de percepcoes mais amplas das realidades do Brasil e do mundo.
Nessa investigacao, as reflexoes sobre os efeitos das novas tecnologias
nas praticas socioculturais foram amparadas pelas teorias do jornalismo
e pela Analise Critica do Discurso. Os estudos de interacoes mediadas
por computador e da linguagem audiovisual tambem foram relevantes para
investigar com maior profundidade o objeto de estudo da investigacao
proposta.
Utilizamos como metodologia a analise comparativa quantitativa e
qualitativa, constituida a partir de categorias que nos permitem
observar as caracteristicas e o funcionamento de cada um dos sites e
redes analisados. Em acordo com Albornoz (2007, p. 54), observamos que
diferentes experiencias informativas no ciberespaco sao analisadas, a
partir da "hipertextualidade", uma forma multidirecional, nao
linear, de estruturar e acessar informacoes numa plataforma digital
promovendo relacoes com outros dados, atraves de links; da
"interatividade", um conceito que remete a ideia de que os
membros da audiencia podem iniciar e desenvolver acoes plenas de
comunicacao tanto com o meio quanto com outros usuarios, o que de modo
geral, nao ocorre de modo efetivo; e da "multimidialidade",
que supoe a possibilidade de integrar em um mesmo suporte diferentes
formatos e linguagens. A qualidade dos conteudos informativos, como
explica Salaverria (2005, p. 517), nao depende do uso da
hipertextualidade, da interatividade e da multimidialidade. Um conteudo
de um site jornalistico pode ser excelente sem recorrer a essas
posibilidades, ate porque um texto com infinidades de recursos pode
carecer de valor informativo. Mas, essas caracteristicas narrativas das
noticias no ciberespaco apresentam novas possibilidades de construcao
discursivas que devem ser avaliadas e exploradas. Por essa razao,
consideramos estes criterios nessa analise comparativa e ainda
acrescentamos outras tres categorias inspiradas tambem nos trabalhos de
Nogueira (2005) e Palacios (2002) : a "estrutura", para que
possamos indicar como o conteudo e sistematizado atraves de determinadas
estrategias de usabilidade; a "atualidade", para observarmos a
peridiocidade e velocidade de producao e circulacao da informacao,
caracteristica inenerente a atividade jornalistica; e a
"memoria", a capacidade de armazenamento de dados no ambiente
digital, atraves de sistemas de busca.
Desafios do jornalismo digital
Os dados referentes a expansao do mercado digital sao contundentes.
A internet ainda tem uma participacao pequena frente a outros meios no
bolo publicitario no pais, mas foi a midia que mais cresceu em termos
percentuais em 2008. Durante o primeiro trimestre deste ano, a internet
ficou com uma fatia de 3,24% desse mercado, um crescimento de 36% em
relacao ao ano anterior(1), reunindo R$ 134,3 milhoes em investimentos.
O numero de pessoas com acesso a internet no Brasil ja ultrapassou 40
milhoes de pessoas, 22,5% de uma populacao de 184 milhoes de habitantes
acessam a web(2). E o brasileiro ainda passou a ser o internauta que
mais horas navega na internet por mes em todo o mundo, 23h48min(3).
Embora os numeros de internautas venham crescendo bastante nos ultimos
anos, o contingente de analfabetos digitais ainda responde por mais da
metade de todos os brasileiros. Segundo Castells (2003, p. 138), a
Internet e de fato uma tecnologia da liberdade, mas pode libertar os
poderosos para oprimir os desinformados e levar a exclusao dos
desvalorizados pelos conquistadores do valor. A batalha pela liberdade
na Era da Informacao esta sendo disputada na rede e o poder e exercido
em torno da producao e difusao de nos culturais e conteudos de
informacao.
As novas tecnologias tendem a ampliar o status quo e os poderes
politico-financeiros, mas seguem diferentes tendencias de
desenvolvimento, usos e significados de acordo com distintos contextos
socio-culturais. Observamos que os modos de utilizacao da internet pelos
brasileiros carecem de estudos mais especificos. Uma pesquisa
recente(4), porem, indica que a maioria expressiva dos usuarios, 88% dos
brasileiros, busca na internet noticias diariamente. Nesse contexto, os
sites jornalisticos passam a ocupar lugares estrategicos. Esses dados
tornam-se ainda mais expressivos se considerarmos a desaceleracao
constante da venda de jornais diarios em relacao aos anos anteriores(5).
A tiragem diaria do jornal mais vendido no pais, a Folha de Sao Paulo e
de pouco mais de 300 mil exemplares por dia6. Outro estudo revela que
98% dos jovens assistem a TV 3,4 horas por dia(6), embora esse veiculo
venha caindo na preferencia dos jovens e a internet esteja subindo. Para
os jovens das classes A e B, a internet leva vantagem sobre a TV: 43% a
26%. Na classe C a realidade e outra: a TV tem 33% da preferencia e a
web 21%. Nas classes D e E, sao 42% para a TV e so 10% para a rede (7).
Este panorama obriga os diarios online a esforcarse por ofertar uma
bateria de conteudos e servicos capazes de atrair a atencao do publico.
Observamos, porem, que os sites mais acessados (8) pertencem a grandes
grupos de midia e as decisoes destas empresas tem grande poder de
influencia nos conteudos e na gestao da circulacao da informacao. Os
sites jornalisticos contam com recursos suficientes para inseri-los numa
posicao de vanguarda e inovacao tecnica no mercado, por outro lado, sao
alimentados por conteudos de outras empresas dos grupos de midia a que
pertencem, o que prejudica a diversidade e a pluralidade de
interpretacoes, o investimento em conteudos mais consistentes e na
inventividade estetica, e, consequentemente, em um jornalismo de maior
qualidade (Becker, 2008). De qualquer modo, ja e possivel identificar
mudancas na forma das narrativas audiovisuais. A imagem fixa tem ocupado
cada vez mais espaco, como na imprensa escrita, e a presenca de audio e
de imagens em movimento, e mais timidamente de arquivos multimidia tem
sido fortalecida.
Por essas razoes, uma analise das apropriacoes da linguagem
audiovisual e dos processos de interacao proporcionados pelos sites
jornalisticos e pelas redes colaborativas, e uma contribuicao importante
para fomentar o acesso coletivo e gratuito aos conteudos e servicos
distintos disponibilizados na rede, estimulando a producao e postagem de
diferentes temas, abordagens e formatos de noticias, capazes de
sustentar relacoes comerciais e industriais, mas tambem de gerar novas
formas de producao e consumo de informacao jornalistica e de representar
mutiplas identidades culturais e maior pluralidade de interpretacoes dos
acontecimentos sociais. Observamos ate que ponto a conexao, a
convergencia e a interatividade sao utilizadas para desenvolver
narrativas jornalisticas audiovisuais de maior qualidade, investigando
ainda se os processos interativos proporcionados pelos sites
jornalisticos e pelas redes colaborativas contribuem para a construcao
de uma sociedade mais democratica e descentralizada.
Redes colaborativas
A experiencia das redes colaborativas e um exemplo das formas
contemporaneas de apropriacao das novas tecnologias para o
estabelecimento de outros tipos de mediacoes socio-culturais. Segundo
Castells (1999), as redes sao sistemas organizacionais capazes de reunir
individuos e instituicoes, de forma voluntaria e democratica, em torno
de objetivos e/ou tematicas comuns, e sao estabelecidas por relacoes
horizontais que supoem o trabalho colaborativo e participativo.
Algumas vezes, as redes colaborativas utilizam esse potencial na
luta social, assumindo, desse modo, a caracteristica de espacos que
atuam ativamente na promocao de mudancas, afetando ate mesmo os
processos produtivos, o poder e a cultura, constituindose como fontes
potenciais de transformacao da sociedade. Mas, o processo de
constituicao das redes colaborativas pressupoe a superacao de interesses
corporativistas, da tradicao hierarquica e clientelista que ainda marcam
as relacoes sociais. Nesse sentido, na producao jornalistica, as redes
permitem que as informacoes sejam compartilhadas por todos, sem canais
reservados, favorecendo a formacao de uma cultura de comunicacao efetiva
que fortaleca, ao mesmo tempo, a autonomia e a participacao dos
cidadaos, o que nao significa que todo cidadao estaria automaticamente
exercendo o jornalismo. Kunczik; Varela (1997, p. 16) definem o
jornalismo como a profissao das pessoas que reunem, avaliam, difundem ou
comentam as noticias. O jornalista seria o profissional envolvido na
formulacao de conteudos analiticos para a comunicacao de massa, seja na
apuracao, na apreciacao, no processamento ou na divulgacao de
informacoes. Portanto, embora as informacoes de redes colaborativas, que
funcionam como plataformas de microblogging sejam rapidamente
reproduzidas nas emissoras de TV e websites de midia, muitos cidadaos
estariam apenas acessando ou utilizando as ferramentas disponiveis para
postagem de conteudos, ate porque, como mostra Aguiar(9), fotos de um
incendio, de um massacre ou de um fenomeno ambiental agregam valor de
consumo imediato, mas nao de conhecimento. Informacoes transmitidas por
essas redes carecem de atributos interpretativos, de tratamentos
diferenciados dos fatos sociais, que valorizam mais a noticia como
mercadoria do que como forma de conhecimento de realidades sociais. Alem
disso, se 135 milhoes de usuarios, ou seja, 60% da populacao brasileira,
ja tem acesso a comunicacao movel(10), isso nao significa que todo este
percentual de brasileiros esteja distribuido em todo territorio
nacional, participe das redes colaborativas, tenha acesso e habilidade
com os equipamentos e programas de transmissao de dados, e tampouco
tenha formacao profissional adequada para investigar um fato da maneira
mais ampla possivel, o que restringe a publicacao de novos conteudos
audiovisuais.
Assumimos, portanto, como hipotese que a descentralizacao na
producao de conteudos audiovisuais nao garante a qualidade das noticias
publicadas, nem a incorporacao das possibilidades do hipertexto, mas
novas apropriacoes da linguagem audiovisual e dos recursos multimidia
podem colaborar para a promocao de um jornalismo de qualidade. E as
redes colaborativas oferecem possibilidades de producao de novos
conteudos noticiosos audiovisuais marcados pela diversidade.
Producao colaborativa audiovisual no ciberespaco
Realizamos, primeiramente, um mapeamento de nove experiencias
brasileiras realizadas atualmente no ciberespaco que aproveitam a
contribuicao do usuario e que apresentam propostas diferentes do uso da
linguagem audiovisual e de recursos multimidia e estruturas narrativas
singulares para realizar a nossa investigacao, em acordo com os
criterios da originalidade, da diversidade e da representatividade,
sugeridos pelo Grupo de Jornalismo Online da UFBA--GJOL. O site
Overmundono (11) representa uma iniciativa de jornalismo cidadao e se
propoe a ser um canal de expressao da producao cultural do Brasil
sustentado por recursos do governo federal. O Canal Contemporaneo (12) e
um exemplo de jornalismo segmentado, relacionado especificamente a
cultura. Define-se como uma comunidade digital que procura discutir a
arte, seus circuitos e politicas publicas.
O Observatorio de Imprensa (13) foi escolhido porque e a primeira
experiencia de critica de midia na web produzida no pais, tornando-se o
primeiro site brasileiro a ter uma versao televisiva. E uma iniciativa
do Laboratorio de Estudos Avancados em Jornalismo da Unicamp que se
constitui como um forum permanente de debates. Estudamos tambem o uso da
linguagem audiovisual e dos recursos de multimidia, assim como os
processos interativos do UOL (14) e do G1 (15) , os sites jornalisticos
mais acessados no Brasil(16). Estes sites tambem foram selecionados
porque a TVUOL, inserida no portal, e a primeira experiencia de webtv no
pais e o G1 concentra a maior porcentagem de usuarios de banda larga. Vc
no G1 (17) e a editoria dedicada a receber e disponibilizar as
contribuicoes dos usuarios, que podem ser textos, fotos ou videos. O
Leia Livro(18) foi escolhido como exemplo de sites tematicos. Essa rede
colaborativa da Secretaria de Estado da Cultura de Sao Paulo foi
desenvolvida para promover o habito da leitura.
Pudemos reconhecer, ainda, algumas experiencias importantes na
producao de conteudos colaborativas para a web no Forum de Midia Livre
realizado na Escola de Comunicacao da UFRJ em 2008. A TV Lata(19) e um
projeto realizado pela ONG Baguncaco em Salvador, com a participacao de
criancas e jovens entre 8 e 19 anos, que tem autonomia para escolher os
temas referentes a comunidade, gravar e publicar videos. O projeto do
Instituto Espaco Cubo (20) foi iniciado em Cuiaba, com foco na cena da
musica independente, viabilizando a realizacao de trabalhos, atraves de
uma forma alternativa de captar recursos, a troca de forca de trabalho
contabilizada na forma de moeda cultural. E o Canal Motoboy (21) e uma
webtv, cujas imagens sao gravadas e editadas por motoboys que retratam
em videos e fotos tirados de cameras de celulares o cotidiano da cidade
de Sao Paulo e dos profissionais do transito paulistano.
Os primeiros resultados desse estudo indicaram que apesar de todos
os avancos tecnologicos, a imprensa online e as redes colaborativas
ainda carecem de publicacoes de conteudos mais analiticos, da exploracao
de novos formatos e de um maior aproveitamento da convergencia
possibilitada pela rede. A maioria dos conteudos informativos e escrito.
Os sites jornalisticos estao submetidos a uma linha editorial que, de
modo geral, privilegia a reproducao e o aproveitamento de conteudos
previamente elaborados para os veiculos impressos ou pelas emissoras de
televisao que pertencem a um mesmo grupo de midia. E as redes
colaborativas revelam pouca habilidade no tratamento dos recursos
audiovisuais e de multimidia. Constatamos que a maioria das pecas
formadas por arquivos digitais de audio e video nao sao produzidas
exclusivamente para a rede. Sao utilizadas estruturas narrativas
bastante simples, sem fazer uso do hipertexto para manter a concisao
descritiva do texto principal e permitir, ao mesmo tempo, que o usuario
amplie voluntariamente por meio de hiperlinks, informacoes sobre uma
pessoa mencionada, sobre os lugares em que ocorreram os acontecimentos e
sobre diferentes pontos de vistas dos atores sociais envolvidos em
determinado fato social.
Uma analise comparativa
Interessadas em aprofundar nossa investigacao sobre os potenciais
das redes colaborativas para a promocao de um jornalismo de qualidade e
sobre os processos de interacao oferecidos pelos sites jornalisticos
mais acessados no Brasil para descentralizacao da producao jornalistica,
estabelecemos seis diferentes categorias para realizar uma analise
comparativa qualitativa e quantitativa de quatro portais informativos,
dois sites jornalisticos e duas redes colaborativas, selecionados entre
as nove experiencias anteriormente mapeadas, que procuram promover
interatividade no tratamento das noticias e utilizam a linguagem
audiovisual e recursos multimidia na publicacao de conteudos: o
Overmundo, o Canal Contemporaneo, a TV UOL, a secao do UOL dedicada a
videos, e o Vc no G1, a editoria do G1 aberta a participacao dos
usuarios. As categorias ja referidas--hipertextualidade, interatividade,
multimidialidade, estrutura, atualidade, e memoria foram adotadas para
nos permitir alcancar os objetivos propostos. Essa investigacao foi
realizada em setembro e em outubro de 2008. Aplicamos as categorias
descritas na analise comparativa.
Observamos que os softwares utilizados permitem a postagem de
textos escritos, imagens fixas, audio e video. Os dois ultimos formatos
nao sao usados com a mesma frequencia que os demais nas colaboracoes dos
usuarios. As imagens fixas, especialmente as fotos, sao usadas para
destacar as chamadas da homepage ou para complementar as informacoes
escritas. Os infograficos sao visiveis apenas nas reportagens
anteriormente produzidas por emissoras de televisao e publicadas nos
sites jornalisticos. Nenhuma reportagem audiovisual enviada pelos
usuarios emprega este recurso nos sites estudados durante o periodo
analisado. Os icones de TVs e radios para identificar reportagens em
video e audio favorecem a navegabilidade, porem sao utilizados somente
nos portais UOL e G1.
Todos os sites analisados oferecem a oportunidade de publicacao de
conteudos de audio e video. Mas, no Canal Contemporaneo foram
encontrados em media apenas dois videos artisticos apresentados na
homepage por dia num total de 21 textos informativos, 15 no formato
jornalistico. Na homepage do Overmundo tambem e possivel acessar em
media dois videos, registros curtos de imagens de acontecimentos
presenciados pelos usuarios sem caracteristicas narrativas de
reportagens, inseridos nos 13 assuntos destacados na pagina principal,
seis trabalhados como noticias na forma escrita. Materias jornalisticas
em audio e video sao verificadas somente nos portais UOL e G1, mas todas
seguem o formato telejornalistico e a duracao das noticias varia de 30
segundos a 3 minutos.
A producao jornalistica audiovisual corresponde a 8% do conteudo do
UOL. Na homepage do portal 40 dos 50 destaques, ou seja, 80% sao
dedicados ao jornalismo, e apenas tres sao chamadas para materias que
utilizam a linguagem audiovisual. Das 19 chamadas publicadas diariamente
na primeira pagina da TV UOL, 49% sao videos de entretenimento e 51% sao
jornalisticos, a maior parte produzida pelo UOL. O percentual da
producao jornalistica audiovisual no G1 e praticamente o mesmo do UOL,
9%, embora o site tenha em media um numero maior de chamadas. 55 de 65
destaques se referem a noticias diversas, mas e possivel acessar apenas
cinco reportagens que combinam som, imagem em movimento e recursos
multimidia disponibilizadas por meio de links na pagina principal.
A editoria Vc no G1 apresenta em media 18% das suas chamadas na
homepage com links para conteudos audiovisuais por dia, 66% sao
jornalisticos, e a maioria e produzida pela Rede Globo. Os videos
publicados pelos usuarios na TV UOL e no Vc no G1 sao comparativamente
mais numerosos e tem maior atualidade do que nas redes colaborativas, as
quais procuram manter uma periodicidade mais dinamica atraves de
boletins informativos e de programacoes culturais. Tanto na TV UOL
quanto no Vc no G1, porem, a maior parte dos textos audiovisuais
colaborativos sao clips musicais, traillers de filmes e curiosidades ou
registros de acontecimentos sem estrutura de narrativa jornalistica.
Os resultados dessa investigacao revelam que ha uma escassez de
recursos audiovisuais e multimidia e dispositivos ainda restritos de
participacao de usuarios mais livres e ativos disponibilizados. Nesse
sentido, a contextualizacao e a diversidade de representacoes dos fatos
sociais nao sao, consequentemente, inerentes ao jornalismo audiovisual
do futuro, uma vez que as mesmas mensagens circulam em suportes
diferentes, supostamente neutros, ainda reduzindo o lugar do usuario ao
consumo, sem o estabelecimento de uma relacao simetrica entre producao e
recepcao (Primo, 2007, p. 17-54). As redes e sites analisados sao
projetos abertos, ja que recebem colaboracoes de qualquer usuario. O
envio das contribuicoes, porem, nem sempre garante a publicacao dos
conteudos enviados porque os textos sao selecionados pelos editores.
Consideracoes Finais
O desenvolvimento da tecnologia e a evolucao dos modos de
transmissao e compressao de dados estimulam o incremento da producao e
da publicacao de videos na internet, podendo proporcionar outros
significados e sentidos sobre a experiencia social cotidiana. Isso nao
quer dizer que a producao descentralizada possa enfrentar com facilidade
os dominios de grandes monopolios de comunicacao. Os efeitos das novas
tecnologias nas rotinas produtivas do jornalismo, assim como em todos os
sitemas de mercado geram desigualdades. Os custos para um site manter
uma conexao de banda larga, com capacidade de armazenar e disponibilizar
conteudos audiovisuais, e para um internauta produzir textos de
qualidade em audio e video ainda sao muito altos. A concentracao do
mercado dificulta a entrada de produtores de conteudo menos favorecidos
economicamente, o que colabora para a ausencia da pluralidade de pontos
de vista e da inovacao estetica nas construcoes discursivas. E preciso
superar a falta de recursos nao apenas com criatividade e capacidade de
partilhar conteudos, mas tambem adotando processadores baratos de
distribuicao e armazenamento de informacoes, especialmente na cadeia
produtiva do audiovisual digital. Desse modo, ha possibilidades de
sistemas dinamicos de uso livre serem apropriados e modalidades
inovadoras de jornalismo serem desenvolvidas no ciberespaco, mesmo em
condicoes precarias de infra-estrutura tecnologica. As redes
colaborativas podem, efetivamente, se constituir como uma experiencia
inovadora de producao jornalistica. A perspectiva do usuario como agente
no processo de comunicacao subverte a forma de distribuicao unilateral e
a recepcao passiva de informacoes nas redes colaborativas, e aponta para
uma nova maneira de pensar a relacao entre produtores e consumidores,
entre jornalistas e cidadaos, entre os veiculos de comunicacao e a
sociedade. Sugerimos que a insercao de novos sujeitos na producao da
midia gera mudancas esteticas e nas linguagens, pode promover diferentes
modos de contar historias do cotidiano, e demanda outros estudos para
identificar essas transformacoes
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NOTAS
* Trabalho apresentado no GT Estudos de Jornalismo do XVIII
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(1) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u416776.shtml
(2) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u416776.shtml
(3) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u416776.shtml
(4) josemauronunes.wordpress.com/2009/01/09/
acesso-a-internet-no-brasil-cresce-a-passos-largos/
(5) www.midialogismo.com/2009/01/tiragem-dosjornais-
pagos-cresce-5-no.html
(6) www.midialogismo.com/2009/01/tiragem-dosjornais-
pagos-cresce-5-no.html
(7) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u426874.shtml.
(8) www.alexa.com
(9) www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos. asp?cod=522ENO001.
(10) Dados do Ministerio das Comunicacoes anunciados na palestra de
Jefferson Fued Nacif, especialista em Politicas Publicas e Gestao
Governamental, no V Forum Internacional de TV Digital.
(11) www.overmundo.com.br
(12) www.canalcontemporaneo.art.br
(13) www.observatoriodaimprensa.com.br
(14) vuol.uol.com.br
(15) g1.globo.com
(16) www.alexa.com
(17) g1.globo.com
(18) www.leialivro.com.br
(19) www.tvlata.org
(20) www.cubocard.blogspot.com
(21) www.zexe.net/SAOPAULO
Beatriz Becker
Professora do Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao da
UFRJ/RJ/BR
[email protected]
Juliana Teixeira
Meslranda do Programa de Pos-Graduacao em Jornalismo da UFSC/SC/BR
[email protected]