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文章基本信息

  • 标题:Um panorama da producao jornalistica audiovisual no ciberespaco: as experiencias das redes colaborativas.
  • 作者:Becker, Beatriz ; Teixeira, Juliana
  • 期刊名称:Revista Famecos - Midia, Cultura e Tecnologia
  • 印刷版ISSN:1415-0549
  • 出版年度:2009
  • 期号:December
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Editora da PUCRS
  • 摘要:O processo de producao da noticia resulta da cultura profissional, dos processos produtivos, dos criterios de noticiabilidade e dos valores-noticia (Traquina, 2005) e dos codigos e regras particulares do campo da comunicacao. Deve ser compreendido como um trabalho de construcao de discursos sobre os fatos transformados em acontecimentos (Pena, 2005, p.128), que servem a formacao da opiniao publica. Os angulos determinados na producao das reportagens com seus diferentes enquadramentos buscam conferir significados a realidade cotidiana, as relacoes sociais e as instituicoes. A funcao da midia de organizar e hierarquizar a realidade nos relatos dos acontecimentos ocorre de forma mais expressiva e impactante quando se faz uso da linguagem audiovisual, um campo da comunicacao complexo na construcao e ressignificacao de sentidos (Vizeu, 2008, p. 7-14). As narrativas jornalisticas audiovisuais, tanto na TV quanto na internet, nos referimos como praticas de jornalismo audiovisual, cuja qualidade pressupoe as representacoes dos fatos diversidade de atores sociais, pluralidade de interpretacoes, inovacoes esteticas e contextualizacao dos acontecimentos, o que o uso da convergencia, necessariamente, nao garante.
  • 关键词:Internet;Oil and gas field equipment industry

Um panorama da producao jornalistica audiovisual no ciberespaco: as experiencias das redes colaborativas.


Becker, Beatriz ; Teixeira, Juliana


No seculo XX, o desenvolvimento dos meios de comunicacao aceleraram a circulacao de noticias, constituindo um fluxo continuo de informacao em escala internacional. Nas ultimas decadas os conteudos jornalisticos regionais, nacionais e internacionais ganharam espaco expressivo na imprensa escrita, nas emissoras de radio e, especialmente, na televisao. A partir dos anos 90, a internet passou a provocar profundas alteracoes nas rotinas produtivas do jornalismo. Ha, porem, uma ilusao referente a uma especie de plenitude informativa da contemporaneidade, sustentada pela "sensacao" de estar informado, como explica Sodre (2001, p. 60), pelo fato de estar "quase-presente" ao acontecimento veiculado pela imagem e pela retorica repetitiva, simplificadora e veloz das mensagens, e nao por conteudos jornalisticos pertinentes a compreensao da realidade historica.

O processo de producao da noticia resulta da cultura profissional, dos processos produtivos, dos criterios de noticiabilidade e dos valores-noticia (Traquina, 2005) e dos codigos e regras particulares do campo da comunicacao. Deve ser compreendido como um trabalho de construcao de discursos sobre os fatos transformados em acontecimentos (Pena, 2005, p.128), que servem a formacao da opiniao publica. Os angulos determinados na producao das reportagens com seus diferentes enquadramentos buscam conferir significados a realidade cotidiana, as relacoes sociais e as instituicoes. A funcao da midia de organizar e hierarquizar a realidade nos relatos dos acontecimentos ocorre de forma mais expressiva e impactante quando se faz uso da linguagem audiovisual, um campo da comunicacao complexo na construcao e ressignificacao de sentidos (Vizeu, 2008, p. 7-14). As narrativas jornalisticas audiovisuais, tanto na TV quanto na internet, nos referimos como praticas de jornalismo audiovisual, cuja qualidade pressupoe as representacoes dos fatos diversidade de atores sociais, pluralidade de interpretacoes, inovacoes esteticas e contextualizacao dos acontecimentos, o que o uso da convergencia, necessariamente, nao garante.

Ha muitas criticas e indagacoes sobre a exploracao dos novos formatos informativos e sobre o grau de inovacao dos sites jornalisticos na apuracao e no tratamento das noticias. Segundo Salaverria (2005, p. 520) frente ao mito, se apresenta uma modesta realidade porque o hipertexto raramente e utilizado como recurso narrativo no ciberespaco. Apesar de todos os avancos tecnologicos, a imprensa online ainda busca uma identidade propria. Em pesquisas anteriores (Becker; Teixeira, 2008), identificamos que as webtvs, webjornalismo audiovisual caracterizada por projetos editoriais de informacao e entretenimento produzidos e dirigidos exclusivamente para a internet.

Os sites audiovisuais que produzem conteudos exclusivos para o meio digital ainda experimentam os primeiros passos em direcao a uma gramatica propria, que carecem da experimentacao de novas formas de narrativa com aproveitamento de recursos multimidia e de interatividade, capazes de proporcionar ao usuario a oportunidade de navegar e percorrer um relato noticioso mais do que simplesmente acompanhalo de modo linear. Nesse trabalho investigamos se a utilizacao da linguagem audiovisual na construcao de novos conteudos e nos processos interativos disponibilizados pelos sites jornalisticos mais acessados no pais e pelas redes colaborativas pode colaborar para outras representacoes das realidades sociais cotidianas.

Realizamos um mapeamento de distintas experiencias que incorporam esses processos na web, questionando o potencial das novas tecnologias de informacao para descentralizacao da producao jornalistica, para a criacao de novos formatos e conteudos e, consequentemente, para a promocao de percepcoes mais amplas das realidades do Brasil e do mundo. Nessa investigacao, as reflexoes sobre os efeitos das novas tecnologias nas praticas socioculturais foram amparadas pelas teorias do jornalismo e pela Analise Critica do Discurso. Os estudos de interacoes mediadas por computador e da linguagem audiovisual tambem foram relevantes para investigar com maior profundidade o objeto de estudo da investigacao proposta.

Utilizamos como metodologia a analise comparativa quantitativa e qualitativa, constituida a partir de categorias que nos permitem observar as caracteristicas e o funcionamento de cada um dos sites e redes analisados. Em acordo com Albornoz (2007, p. 54), observamos que diferentes experiencias informativas no ciberespaco sao analisadas, a partir da "hipertextualidade", uma forma multidirecional, nao linear, de estruturar e acessar informacoes numa plataforma digital promovendo relacoes com outros dados, atraves de links; da "interatividade", um conceito que remete a ideia de que os membros da audiencia podem iniciar e desenvolver acoes plenas de comunicacao tanto com o meio quanto com outros usuarios, o que de modo geral, nao ocorre de modo efetivo; e da "multimidialidade", que supoe a possibilidade de integrar em um mesmo suporte diferentes formatos e linguagens. A qualidade dos conteudos informativos, como explica Salaverria (2005, p. 517), nao depende do uso da hipertextualidade, da interatividade e da multimidialidade. Um conteudo de um site jornalistico pode ser excelente sem recorrer a essas posibilidades, ate porque um texto com infinidades de recursos pode carecer de valor informativo. Mas, essas caracteristicas narrativas das noticias no ciberespaco apresentam novas possibilidades de construcao discursivas que devem ser avaliadas e exploradas. Por essa razao, consideramos estes criterios nessa analise comparativa e ainda acrescentamos outras tres categorias inspiradas tambem nos trabalhos de Nogueira (2005) e Palacios (2002) : a "estrutura", para que possamos indicar como o conteudo e sistematizado atraves de determinadas estrategias de usabilidade; a "atualidade", para observarmos a peridiocidade e velocidade de producao e circulacao da informacao, caracteristica inenerente a atividade jornalistica; e a "memoria", a capacidade de armazenamento de dados no ambiente digital, atraves de sistemas de busca.

Desafios do jornalismo digital

Os dados referentes a expansao do mercado digital sao contundentes. A internet ainda tem uma participacao pequena frente a outros meios no bolo publicitario no pais, mas foi a midia que mais cresceu em termos percentuais em 2008. Durante o primeiro trimestre deste ano, a internet ficou com uma fatia de 3,24% desse mercado, um crescimento de 36% em relacao ao ano anterior(1), reunindo R$ 134,3 milhoes em investimentos. O numero de pessoas com acesso a internet no Brasil ja ultrapassou 40 milhoes de pessoas, 22,5% de uma populacao de 184 milhoes de habitantes acessam a web(2). E o brasileiro ainda passou a ser o internauta que mais horas navega na internet por mes em todo o mundo, 23h48min(3). Embora os numeros de internautas venham crescendo bastante nos ultimos anos, o contingente de analfabetos digitais ainda responde por mais da metade de todos os brasileiros. Segundo Castells (2003, p. 138), a Internet e de fato uma tecnologia da liberdade, mas pode libertar os poderosos para oprimir os desinformados e levar a exclusao dos desvalorizados pelos conquistadores do valor. A batalha pela liberdade na Era da Informacao esta sendo disputada na rede e o poder e exercido em torno da producao e difusao de nos culturais e conteudos de informacao.

As novas tecnologias tendem a ampliar o status quo e os poderes politico-financeiros, mas seguem diferentes tendencias de desenvolvimento, usos e significados de acordo com distintos contextos socio-culturais. Observamos que os modos de utilizacao da internet pelos brasileiros carecem de estudos mais especificos. Uma pesquisa recente(4), porem, indica que a maioria expressiva dos usuarios, 88% dos brasileiros, busca na internet noticias diariamente. Nesse contexto, os sites jornalisticos passam a ocupar lugares estrategicos. Esses dados tornam-se ainda mais expressivos se considerarmos a desaceleracao constante da venda de jornais diarios em relacao aos anos anteriores(5). A tiragem diaria do jornal mais vendido no pais, a Folha de Sao Paulo e de pouco mais de 300 mil exemplares por dia6. Outro estudo revela que 98% dos jovens assistem a TV 3,4 horas por dia(6), embora esse veiculo venha caindo na preferencia dos jovens e a internet esteja subindo. Para os jovens das classes A e B, a internet leva vantagem sobre a TV: 43% a 26%. Na classe C a realidade e outra: a TV tem 33% da preferencia e a web 21%. Nas classes D e E, sao 42% para a TV e so 10% para a rede (7).

Este panorama obriga os diarios online a esforcarse por ofertar uma bateria de conteudos e servicos capazes de atrair a atencao do publico. Observamos, porem, que os sites mais acessados (8) pertencem a grandes grupos de midia e as decisoes destas empresas tem grande poder de influencia nos conteudos e na gestao da circulacao da informacao. Os sites jornalisticos contam com recursos suficientes para inseri-los numa posicao de vanguarda e inovacao tecnica no mercado, por outro lado, sao alimentados por conteudos de outras empresas dos grupos de midia a que pertencem, o que prejudica a diversidade e a pluralidade de interpretacoes, o investimento em conteudos mais consistentes e na inventividade estetica, e, consequentemente, em um jornalismo de maior qualidade (Becker, 2008). De qualquer modo, ja e possivel identificar mudancas na forma das narrativas audiovisuais. A imagem fixa tem ocupado cada vez mais espaco, como na imprensa escrita, e a presenca de audio e de imagens em movimento, e mais timidamente de arquivos multimidia tem sido fortalecida.

Por essas razoes, uma analise das apropriacoes da linguagem audiovisual e dos processos de interacao proporcionados pelos sites jornalisticos e pelas redes colaborativas, e uma contribuicao importante para fomentar o acesso coletivo e gratuito aos conteudos e servicos distintos disponibilizados na rede, estimulando a producao e postagem de diferentes temas, abordagens e formatos de noticias, capazes de sustentar relacoes comerciais e industriais, mas tambem de gerar novas formas de producao e consumo de informacao jornalistica e de representar mutiplas identidades culturais e maior pluralidade de interpretacoes dos acontecimentos sociais. Observamos ate que ponto a conexao, a convergencia e a interatividade sao utilizadas para desenvolver narrativas jornalisticas audiovisuais de maior qualidade, investigando ainda se os processos interativos proporcionados pelos sites jornalisticos e pelas redes colaborativas contribuem para a construcao de uma sociedade mais democratica e descentralizada.

Redes colaborativas

A experiencia das redes colaborativas e um exemplo das formas contemporaneas de apropriacao das novas tecnologias para o estabelecimento de outros tipos de mediacoes socio-culturais. Segundo Castells (1999), as redes sao sistemas organizacionais capazes de reunir individuos e instituicoes, de forma voluntaria e democratica, em torno de objetivos e/ou tematicas comuns, e sao estabelecidas por relacoes horizontais que supoem o trabalho colaborativo e participativo.

Algumas vezes, as redes colaborativas utilizam esse potencial na luta social, assumindo, desse modo, a caracteristica de espacos que atuam ativamente na promocao de mudancas, afetando ate mesmo os processos produtivos, o poder e a cultura, constituindose como fontes potenciais de transformacao da sociedade. Mas, o processo de constituicao das redes colaborativas pressupoe a superacao de interesses corporativistas, da tradicao hierarquica e clientelista que ainda marcam as relacoes sociais. Nesse sentido, na producao jornalistica, as redes permitem que as informacoes sejam compartilhadas por todos, sem canais reservados, favorecendo a formacao de uma cultura de comunicacao efetiva que fortaleca, ao mesmo tempo, a autonomia e a participacao dos cidadaos, o que nao significa que todo cidadao estaria automaticamente exercendo o jornalismo. Kunczik; Varela (1997, p. 16) definem o jornalismo como a profissao das pessoas que reunem, avaliam, difundem ou comentam as noticias. O jornalista seria o profissional envolvido na formulacao de conteudos analiticos para a comunicacao de massa, seja na apuracao, na apreciacao, no processamento ou na divulgacao de informacoes. Portanto, embora as informacoes de redes colaborativas, que funcionam como plataformas de microblogging sejam rapidamente reproduzidas nas emissoras de TV e websites de midia, muitos cidadaos estariam apenas acessando ou utilizando as ferramentas disponiveis para postagem de conteudos, ate porque, como mostra Aguiar(9), fotos de um incendio, de um massacre ou de um fenomeno ambiental agregam valor de consumo imediato, mas nao de conhecimento. Informacoes transmitidas por essas redes carecem de atributos interpretativos, de tratamentos diferenciados dos fatos sociais, que valorizam mais a noticia como mercadoria do que como forma de conhecimento de realidades sociais. Alem disso, se 135 milhoes de usuarios, ou seja, 60% da populacao brasileira, ja tem acesso a comunicacao movel(10), isso nao significa que todo este percentual de brasileiros esteja distribuido em todo territorio nacional, participe das redes colaborativas, tenha acesso e habilidade com os equipamentos e programas de transmissao de dados, e tampouco tenha formacao profissional adequada para investigar um fato da maneira mais ampla possivel, o que restringe a publicacao de novos conteudos audiovisuais.

Assumimos, portanto, como hipotese que a descentralizacao na producao de conteudos audiovisuais nao garante a qualidade das noticias publicadas, nem a incorporacao das possibilidades do hipertexto, mas novas apropriacoes da linguagem audiovisual e dos recursos multimidia podem colaborar para a promocao de um jornalismo de qualidade. E as redes colaborativas oferecem possibilidades de producao de novos conteudos noticiosos audiovisuais marcados pela diversidade.

Producao colaborativa audiovisual no ciberespaco

Realizamos, primeiramente, um mapeamento de nove experiencias brasileiras realizadas atualmente no ciberespaco que aproveitam a contribuicao do usuario e que apresentam propostas diferentes do uso da linguagem audiovisual e de recursos multimidia e estruturas narrativas singulares para realizar a nossa investigacao, em acordo com os criterios da originalidade, da diversidade e da representatividade, sugeridos pelo Grupo de Jornalismo Online da UFBA--GJOL. O site Overmundono (11) representa uma iniciativa de jornalismo cidadao e se propoe a ser um canal de expressao da producao cultural do Brasil sustentado por recursos do governo federal. O Canal Contemporaneo (12) e um exemplo de jornalismo segmentado, relacionado especificamente a cultura. Define-se como uma comunidade digital que procura discutir a arte, seus circuitos e politicas publicas.

O Observatorio de Imprensa (13) foi escolhido porque e a primeira experiencia de critica de midia na web produzida no pais, tornando-se o primeiro site brasileiro a ter uma versao televisiva. E uma iniciativa do Laboratorio de Estudos Avancados em Jornalismo da Unicamp que se constitui como um forum permanente de debates. Estudamos tambem o uso da linguagem audiovisual e dos recursos de multimidia, assim como os processos interativos do UOL (14) e do G1 (15) , os sites jornalisticos mais acessados no Brasil(16). Estes sites tambem foram selecionados porque a TVUOL, inserida no portal, e a primeira experiencia de webtv no pais e o G1 concentra a maior porcentagem de usuarios de banda larga. Vc no G1 (17) e a editoria dedicada a receber e disponibilizar as contribuicoes dos usuarios, que podem ser textos, fotos ou videos. O Leia Livro(18) foi escolhido como exemplo de sites tematicos. Essa rede colaborativa da Secretaria de Estado da Cultura de Sao Paulo foi desenvolvida para promover o habito da leitura.

Pudemos reconhecer, ainda, algumas experiencias importantes na producao de conteudos colaborativas para a web no Forum de Midia Livre realizado na Escola de Comunicacao da UFRJ em 2008. A TV Lata(19) e um projeto realizado pela ONG Baguncaco em Salvador, com a participacao de criancas e jovens entre 8 e 19 anos, que tem autonomia para escolher os temas referentes a comunidade, gravar e publicar videos. O projeto do Instituto Espaco Cubo (20) foi iniciado em Cuiaba, com foco na cena da musica independente, viabilizando a realizacao de trabalhos, atraves de uma forma alternativa de captar recursos, a troca de forca de trabalho contabilizada na forma de moeda cultural. E o Canal Motoboy (21) e uma webtv, cujas imagens sao gravadas e editadas por motoboys que retratam em videos e fotos tirados de cameras de celulares o cotidiano da cidade de Sao Paulo e dos profissionais do transito paulistano.

Os primeiros resultados desse estudo indicaram que apesar de todos os avancos tecnologicos, a imprensa online e as redes colaborativas ainda carecem de publicacoes de conteudos mais analiticos, da exploracao de novos formatos e de um maior aproveitamento da convergencia possibilitada pela rede. A maioria dos conteudos informativos e escrito. Os sites jornalisticos estao submetidos a uma linha editorial que, de modo geral, privilegia a reproducao e o aproveitamento de conteudos previamente elaborados para os veiculos impressos ou pelas emissoras de televisao que pertencem a um mesmo grupo de midia. E as redes colaborativas revelam pouca habilidade no tratamento dos recursos audiovisuais e de multimidia. Constatamos que a maioria das pecas formadas por arquivos digitais de audio e video nao sao produzidas exclusivamente para a rede. Sao utilizadas estruturas narrativas bastante simples, sem fazer uso do hipertexto para manter a concisao descritiva do texto principal e permitir, ao mesmo tempo, que o usuario amplie voluntariamente por meio de hiperlinks, informacoes sobre uma pessoa mencionada, sobre os lugares em que ocorreram os acontecimentos e sobre diferentes pontos de vistas dos atores sociais envolvidos em determinado fato social.

Uma analise comparativa

Interessadas em aprofundar nossa investigacao sobre os potenciais das redes colaborativas para a promocao de um jornalismo de qualidade e sobre os processos de interacao oferecidos pelos sites jornalisticos mais acessados no Brasil para descentralizacao da producao jornalistica, estabelecemos seis diferentes categorias para realizar uma analise comparativa qualitativa e quantitativa de quatro portais informativos, dois sites jornalisticos e duas redes colaborativas, selecionados entre as nove experiencias anteriormente mapeadas, que procuram promover interatividade no tratamento das noticias e utilizam a linguagem audiovisual e recursos multimidia na publicacao de conteudos: o Overmundo, o Canal Contemporaneo, a TV UOL, a secao do UOL dedicada a videos, e o Vc no G1, a editoria do G1 aberta a participacao dos usuarios. As categorias ja referidas--hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, estrutura, atualidade, e memoria foram adotadas para nos permitir alcancar os objetivos propostos. Essa investigacao foi realizada em setembro e em outubro de 2008. Aplicamos as categorias descritas na analise comparativa.

Observamos que os softwares utilizados permitem a postagem de textos escritos, imagens fixas, audio e video. Os dois ultimos formatos nao sao usados com a mesma frequencia que os demais nas colaboracoes dos usuarios. As imagens fixas, especialmente as fotos, sao usadas para destacar as chamadas da homepage ou para complementar as informacoes escritas. Os infograficos sao visiveis apenas nas reportagens anteriormente produzidas por emissoras de televisao e publicadas nos sites jornalisticos. Nenhuma reportagem audiovisual enviada pelos usuarios emprega este recurso nos sites estudados durante o periodo analisado. Os icones de TVs e radios para identificar reportagens em video e audio favorecem a navegabilidade, porem sao utilizados somente nos portais UOL e G1.

Todos os sites analisados oferecem a oportunidade de publicacao de conteudos de audio e video. Mas, no Canal Contemporaneo foram encontrados em media apenas dois videos artisticos apresentados na homepage por dia num total de 21 textos informativos, 15 no formato jornalistico. Na homepage do Overmundo tambem e possivel acessar em media dois videos, registros curtos de imagens de acontecimentos presenciados pelos usuarios sem caracteristicas narrativas de reportagens, inseridos nos 13 assuntos destacados na pagina principal, seis trabalhados como noticias na forma escrita. Materias jornalisticas em audio e video sao verificadas somente nos portais UOL e G1, mas todas seguem o formato telejornalistico e a duracao das noticias varia de 30 segundos a 3 minutos.

A producao jornalistica audiovisual corresponde a 8% do conteudo do UOL. Na homepage do portal 40 dos 50 destaques, ou seja, 80% sao dedicados ao jornalismo, e apenas tres sao chamadas para materias que utilizam a linguagem audiovisual. Das 19 chamadas publicadas diariamente na primeira pagina da TV UOL, 49% sao videos de entretenimento e 51% sao jornalisticos, a maior parte produzida pelo UOL. O percentual da producao jornalistica audiovisual no G1 e praticamente o mesmo do UOL, 9%, embora o site tenha em media um numero maior de chamadas. 55 de 65 destaques se referem a noticias diversas, mas e possivel acessar apenas cinco reportagens que combinam som, imagem em movimento e recursos multimidia disponibilizadas por meio de links na pagina principal.

A editoria Vc no G1 apresenta em media 18% das suas chamadas na homepage com links para conteudos audiovisuais por dia, 66% sao jornalisticos, e a maioria e produzida pela Rede Globo. Os videos publicados pelos usuarios na TV UOL e no Vc no G1 sao comparativamente mais numerosos e tem maior atualidade do que nas redes colaborativas, as quais procuram manter uma periodicidade mais dinamica atraves de boletins informativos e de programacoes culturais. Tanto na TV UOL quanto no Vc no G1, porem, a maior parte dos textos audiovisuais colaborativos sao clips musicais, traillers de filmes e curiosidades ou registros de acontecimentos sem estrutura de narrativa jornalistica.

Os resultados dessa investigacao revelam que ha uma escassez de recursos audiovisuais e multimidia e dispositivos ainda restritos de participacao de usuarios mais livres e ativos disponibilizados. Nesse sentido, a contextualizacao e a diversidade de representacoes dos fatos sociais nao sao, consequentemente, inerentes ao jornalismo audiovisual do futuro, uma vez que as mesmas mensagens circulam em suportes diferentes, supostamente neutros, ainda reduzindo o lugar do usuario ao consumo, sem o estabelecimento de uma relacao simetrica entre producao e recepcao (Primo, 2007, p. 17-54). As redes e sites analisados sao projetos abertos, ja que recebem colaboracoes de qualquer usuario. O envio das contribuicoes, porem, nem sempre garante a publicacao dos conteudos enviados porque os textos sao selecionados pelos editores.

Consideracoes Finais

O desenvolvimento da tecnologia e a evolucao dos modos de transmissao e compressao de dados estimulam o incremento da producao e da publicacao de videos na internet, podendo proporcionar outros significados e sentidos sobre a experiencia social cotidiana. Isso nao quer dizer que a producao descentralizada possa enfrentar com facilidade os dominios de grandes monopolios de comunicacao. Os efeitos das novas tecnologias nas rotinas produtivas do jornalismo, assim como em todos os sitemas de mercado geram desigualdades. Os custos para um site manter uma conexao de banda larga, com capacidade de armazenar e disponibilizar conteudos audiovisuais, e para um internauta produzir textos de qualidade em audio e video ainda sao muito altos. A concentracao do mercado dificulta a entrada de produtores de conteudo menos favorecidos economicamente, o que colabora para a ausencia da pluralidade de pontos de vista e da inovacao estetica nas construcoes discursivas. E preciso superar a falta de recursos nao apenas com criatividade e capacidade de partilhar conteudos, mas tambem adotando processadores baratos de distribuicao e armazenamento de informacoes, especialmente na cadeia produtiva do audiovisual digital. Desse modo, ha possibilidades de sistemas dinamicos de uso livre serem apropriados e modalidades inovadoras de jornalismo serem desenvolvidas no ciberespaco, mesmo em condicoes precarias de infra-estrutura tecnologica. As redes colaborativas podem, efetivamente, se constituir como uma experiencia inovadora de producao jornalistica. A perspectiva do usuario como agente no processo de comunicacao subverte a forma de distribuicao unilateral e a recepcao passiva de informacoes nas redes colaborativas, e aponta para uma nova maneira de pensar a relacao entre produtores e consumidores, entre jornalistas e cidadaos, entre os veiculos de comunicacao e a sociedade. Sugerimos que a insercao de novos sujeitos na producao da midia gera mudancas esteticas e nas linguagens, pode promover diferentes modos de contar historias do cotidiano, e demanda outros estudos para identificar essas transformacoes

REFERENCIAS

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NOTAS

* Trabalho apresentado no GT Estudos de Jornalismo do XVIII Encontro Anual da Compos 2009.

(1) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u416776.shtml

(2) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u416776.shtml

(3) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u416776.shtml

(4) josemauronunes.wordpress.com/2009/01/09/ acesso-a-internet-no-brasil-cresce-a-passos-largos/

(5) www.midialogismo.com/2009/01/tiragem-dosjornais- pagos-cresce-5-no.html

(6) www.midialogismo.com/2009/01/tiragem-dosjornais- pagos-cresce-5-no.html

(7) www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ul t124u426874.shtml.

(8) www.alexa.com

(9) www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos. asp?cod=522ENO001.

(10) Dados do Ministerio das Comunicacoes anunciados na palestra de Jefferson Fued Nacif, especialista em Politicas Publicas e Gestao Governamental, no V Forum Internacional de TV Digital.

(11) www.overmundo.com.br

(12) www.canalcontemporaneo.art.br

(13) www.observatoriodaimprensa.com.br

(14) vuol.uol.com.br

(15) g1.globo.com

(16) www.alexa.com

(17) g1.globo.com

(18) www.leialivro.com.br

(19) www.tvlata.org

(20) www.cubocard.blogspot.com

(21) www.zexe.net/SAOPAULO

Beatriz Becker

Professora do Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao da UFRJ/RJ/BR

[email protected]

Juliana Teixeira

Meslranda do Programa de Pos-Graduacao em Jornalismo da UFSC/SC/BR

[email protected]
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