首页    期刊浏览 2025年03月03日 星期一
登录注册

文章基本信息

  • 标题:Novas temporalidades no fluxo televisivo: apontamentos sobre reconfiguracoes da experiencia de assistir a televisao.
  • 作者:Rocha, Simone Maria ; de Lacerda e Silva, Vanessa Rodrigues
  • 期刊名称:Revista Famecos - Midia, Cultura e Tecnologia
  • 印刷版ISSN:1415-0549
  • 出版年度:2012
  • 期号:January
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Editora da PUCRS
  • 摘要:Em 2010 a Rede Globo de Televisao noticiou uma decisao institucional segundo a qual as novelas das 18h seriam reduzidas para seis meses e a primeira foi Cama de Gato. Outras decisoes estao sendo tomadas nesta direcao. Podemos citar a criacao de um novo formato--o da macrosserie--dedicado a producao de remakes de curtissima duracao que estreou em julho de 2011 e comecou com O Astro.
  • 关键词:Experiencia;Flujometros

Novas temporalidades no fluxo televisivo: apontamentos sobre reconfiguracoes da experiencia de assistir a televisao.


Rocha, Simone Maria ; de Lacerda e Silva, Vanessa Rodrigues


New temporalities in the TV flow: notes on reconfigurations of the experience of watching television

Em 2010 a Rede Globo de Televisao noticiou uma decisao institucional segundo a qual as novelas das 18h seriam reduzidas para seis meses e a primeira foi Cama de Gato. Outras decisoes estao sendo tomadas nesta direcao. Podemos citar a criacao de um novo formato--o da macrosserie--dedicado a producao de remakes de curtissima duracao que estreou em julho de 2011 e comecou com O Astro.

O que significa essa mudanca nas temporalidades dos elementos que compoem determinado segmento do fluxo televisivo? Quais as razoes para tal fato? Seriam as quedas dos indices de audiencia? Seria a diversificacao das opcoes de assistencia?

Obviamente nao temos a intencao de responder a tantas questoes neste texto. A partir do objeto de estudo--o segmento noturno da producao televisiva da Rede Globo (das 18 as 23 horas)--nosso objetivo e, com o auxilio metodologico da analise de genero televisivo como categoria cultural, provocar algumas reflexoes que nos ajudem a identificar as possiveis consequencias de tal reorganizacao do fluxo, especialmente no que tange a experiencia de assistir a televisao.

Esteticas da televisao

Falar de televisao e tambem falar das formas que ela desenvolveu para se adequar as circunstancias de sua assistencia. E possivel falar que as especificidades tecnicas do aparelho conformam um regime de representacao na producao para TV (Fiske, 1987; Fiske e Hartley, 1978; Ellis, 1992; Mittell, 2004). A sua domesticidade advem do fato de ela estar dentro de casa ocupando o mesmo lugar que fotos de familia, objetos pessoais, etc, tornando-se intima e cotidiana e nao um evento especial que rompe a rotina domestica. Tal fato traz implicacoes para a audiencia presumida: familias nucleares isoladas em seus ambientes domesticos (Ellis, 1992; Fiske e Hartley, 1978) (4).

Em funcao disso, a transmissao televisiva tem desenvolvido formas especificas de narracao e de organizacao de seu material. No que diz respeito a ficcao, seu modo de narrar se estrutura na forma das series ou das ficcoes seriadas. No geral, as ficcoes seriadas se constituem a partir de certa progressao narrativa que se encaminha para uma conclusao, multiplicando os incidentes no decorrer de sua exibicao e mergulhando seus personagens em tramas repletas de relacoes e situacoes. Sua amplitude pode abarcar diferentes geracoes e seu acompanhamento requer um conhecimento previo acumulado, embora as instituicoes televisivas levem em conta que grande parte da audiencia pode perder um ou outro capitulo, inclusive o primeiro que tem carater expositivo (5). Essas ficcoes podem ganhar a forma do seriado, das minisseries e das microsseries-que tem curta duracao-e das telenovelas-cuja duracao tem girado em torno de oito meses (6). Ja a serie se estrutura em torno de uma situacao particular e de um conjunto fixo de personagens, ainda que este nucleo possa contar com participacoes especiais em episodios distintos. Em cada episodio ha a recorrencia a uma tematica inicialmente estabelecida em torno da qual os incidentes vao acontecendo de forma a serem solucionados no interior de cada um garantindo uma relativa independencia em relacao aos demais. A cada episodio os personagens se encontram em uma nova situacao, embora seja possivel identificar uma sequencia logica na exibicao dos mesmos.

Outro modo de reconhecimento destas narrativas diz respeito ao seu horario no fluxo de cada canal. Series e seriados sao organizados dentro de uma programacao que estrutura a transmissao a partir daquilo que seria a rotina diaria de uma familia. A programacao, desse modo, regulariza a exibicao dos programas levando-nos a criar certas expectativas de reconhecimento e identificacao daquilo que passa em horarios determinados. Nossa hipotese e a de que alguns elementos que compoem determinado segmento do fluxo televisivo-das 18h as 23h na TV Globo-estariam sofrendo alteracoes no que diz respeito as suas temporalidades e que isso estaria reconfigurando a experiencia de assistir a televisao.

Fluxo como experiencia

Raymond Williams (1974) propoe que a programacao das emissoras nao deve ser percebida nos termos de uma grade de programacao constituida por unidades singulares de conteudo. O fazer televisivo, bem como a experiencia do "ver televisao", envolvem perceber a sequencia de materiais simbolicos veiculados pelas emissoras na forma de fluxo. Isto e, a programacao televisiva se constitui de forma sequencial e interrompida, o que evidencia um continuo simbolico que se caracteriza nao pela sucessao definida de partes independentes, mas pelo imbricamento de fragmentos oriundos de diferentes formatos televisivos.

Desse modo, Williams pretende formular um conceito que possibilite compreender os produtos televisivos no interior das logicas e dinamicas especificas do meio no qual se inserem e no qual eles se realizam para as audiencias. E mais especificamente, nos permite pensar em termos do que e proprio da experiencia de assistencia a TV.

Ao nos debrucarmos sobre a midia televisao, nosso interesse se volta para o proprio processo pelo qual os conteudos se realizam no fluxo televisivo. Isso implica observar os conteudos televisivos nao de forma descontextualizada do momento de sua exibicao, mas, compreender as proprias dinamicas e processos que integram os programas, generos e formatos no instante mesmo em que eles se realizam para o telespectador. Apreender, desse modo, seu "ato exibicional" e, com isso os modos de constituicao e possiveis reconfiguracoes da experiencia do "ver TV".

Por isso, se mostra relevante desenvolver uma abordagem voltada para um olhar sobre o fluxo, suas composicoes e transformacoes, como modo de apreender possiveis mudancas que afetariam de algum modo nossa experiencia com o meio.

Proposta metodologica para analise cultural: praticas midiaticas como praticas culturais

Nossa proposta metodologica toma por base a analise cultural de generos televisivos como realizada por Jason Mittell (2004). Para este autor os generos devem ser entendidos como uma categoria cultural, e nao textual, uma vez que sua construcao envolve praticas culturais como o contexto, as condicoes de producao, o espaco ocupado no fluxo, a relacao proposta com a audiencia, a opiniao da critica especializada etc. Ao pensar de modo mais complexo a relacao entre textos televisivos e praticas culturais, a proposta de Mittell nos parece bastante adequada para lidar com outras dimensoes dessa relacao, como a estruturacao do fluxo televisivo.

A medida que os estudos dos generos televisivos vem crescendo dentro dos estudos dos media, os pesquisadores tem expandido seus metodos para alem da critica puramente textual. Varios deles (Allen, 1985; Martin-Barbero, 2001; Mittell, 2004) procuram explorar como o genero funciona como parte de um sistema de producao e de consumo televisivo, explorando como praticas de audiencia e institucionais estao envolvidas no processo criativo e constitutivo de um genero. Esboca-se ai uma tendencia que sugere uma diferente orientacao voltada para o papel cultural dos generos que colocam em primeiro plano as praticas das industrias e das audiencias. Os generos podem ser vistos como categorias culturais que circulam em torno e atraves da programacao televisiva. Esta abordagem, influenciada pelo paradigma mais amplo da teoria pos-estruturalista, sugere um modo diferente de se entender a importancia e a funcao cultural dos generos, o que nos leva a um caminho distinto para a pesquisa da historia dos mesmos atraves da analise do discurso (Mittell, 2004).

Generos sao categorias conceituais que vinculam certo numero de programas, mas que articulam, tambem, uma gama de pressuposto culturais que se tornam atrelados a categoria para alem da propria atracao. Essas categorias sao criadas por uma ampla gama de praticas culturais que se somam aos discursos dos generos televisivos, desde comentarios criticos, vinhetas, sites produzidos por fas, decisoes institucionais ate regulacoes governamentais. Mittell identifica tres praticas discursivas em particular que sao comumente usadas para constituir os generos televisivos: definicao ("este programa e uma novela porque conta uma historia de amor cheia de encontros e desencontros"), interpretacao ("minha vida e uma novela!") e avaliacao ("as minisseries sao mais bem produzidas do que as novelas"). Atraves destas praticas discursivas a categoria das telenovelas torna-se culturalmente coerente e acumula sentidos e associacoes que as vinculam a normas e valores sociais especificos, aspectos do genero que nao poderiam ser discerniveis quando analisamos os programas em si.

Pesquisar um genero nessa perspectiva requer a analise de uma ampla gama de enunciacoes institucionais, de opinioes da audiencia sobre o uso de categorias genericas, e o mapeamento das mudancas nos discursos acerca de uma categoria particular em diferentes contextos historicos, uma tecnica que Mittell denomina "genealogia generica", partindo da concepcao de formacoes discursivas de Foucault7. Tal abordagem recomenda que olhemos para a circulacao cultural de definicoes para entender como um texto e categorizado ou como pode haver definicoes de genero que competem entre si e que sugerem uma variacao de concepcoes e valores culturais.

E essa abordagem teorico-metodologica que sustenta o estudo aqui proposto. Nossa tentativa de identificar algumas mudancas na organizacao de determinado segmento do fluxo da TV Globo--a partir de novas temporalidades--que estariam reconfigurando a experiencia de assistir a TV passa pelas diferentes praticas culturais e discursivas proferidas pelos realizadores e demais atores ligados a instituicao televisiva bem como pelas diversas opinioes de criticos especializados e membros da audiencia.

Os objetos em cena e procedimentos de analise

Para a analise proposta escolhemos tres elementos que fazem parte do segmento do fluxo escolhido para esta pesquisa (das 18 as 23 h, aproximadamente) que sao: 1) o encurtamento da duracao da novela das 18h; 2) o horario de exibicao da novela das 21h e 3) criacao de um novo formato definido como macrosserie cuja definicao envolve a producao de remakes com duracao maxima de 50 capitulos.

A novela das 18h foi escolhida devido a uma decisao institucional; no caso da novela das 21h constatamos que esta producao vem sofrendo grande variacao no que diz respeito, sobretudo, ao seu horario de inicio e de termino. Quanto as macrosseries compostas por remakes notamos a total inovacao no que diz respeito a temporalidade desta producao e as possiveis mudancas na experiencia de ver TV.

[GRAFICO 1 OMITIR]

O grafico nos mostra que, nos anos de 1990, houve certa heterogeneidade quanto ao tempo de duracao da novela das 18h, que oscilou de cinco ate oito meses (com algumas excecoes como foram os casos de Salome, Estrela Guia e Barriga de Aluguel com quatro, tres e nove meses respectivamente). Ao mesmo tempo, os dados nos permitem ver, tambem, que, embora a decisao institucional tenha sido divulgada no inicio de 2010, alguma experimentacao no que diz respeito a reducao do tempo de duracao deste folhetim ja vinha ocorrendo em producoes anteriores que giraram em torno de cinco, seis meses (como foram os casos de Eterna Magia, Desejo Proibido, Ciranda de Pedra, Negocio da China e Paraiso).

[GRAFICO 2 OMITIR]

A telenovela das 21 horas e considerada um dos produtos mais rentaveis da Emissora e ocupa o horario de maior valor comercial. E tambem um importante produto cultural sendo que muitas delas ja foram frutos de inumeros estudos. Dada a sua relevancia tanto no fluxo quanto no cenario cultural, "a novela das 8" - como e popularmente conhecida-ja sofreu varias modificacoes no que diz respeito ao seu horario de inicio. Pelos dados apresentados podemos notar certa predominancia do horario das 20 horas durante a decada de 90 ate comeco dos anos 2000. A partir de Celebridade (2003) a Rede Globo optou por iniciar a exibicao das telenovelas as 21h (8). O terceiro elemento do fluxo que compoe nosso objeto diz respeito a criacao de um novo formato voltado para a producao de remakes de novelas de grande sucesso com duracao maxima de 50 capitulos e que a Emissora vem chamando de "macrosserie". A primeira producao sera de O Astro.

Dentre as possibilidades encontradas e que podem nos ajudar a compreender as mudancas de temporalidades no fluxo televisivo, elegemos algumas que consideramos mais significativas:

a) Queda dos indices de audiencia;

b) A concorrencia com outras midias;

c) O aumento do acesso a TV por assinatura, que acresce a escolha do telespectador;

d) A popularizacao de seriados americanos e uma nascente "cultura de assistencia as series e seriados";

e) A concorrencia com os outros canais da TV aberta, cujo aperfeicoamento de sua programacao nos ultimos anos tem as tornado mais competitivas;

f) Novas praticas culturais engendradas por novos habitos cultivados por membros da audiencia.

Para constatar a pertinencia dessas possibilidades, procuramos por enunciacoes que pudessem fortalecer a construcao de certa discursividade social em torno da mudanca do fluxo por meio de novas temporalidades de seus elementos em varias fontes como: dados estatisticos em sites como a Anatel e o IBGE, noticias acerca desses assuntos em revistas e jornais, artigos academicos relacionados aos temas e comentarios em blogs e postagens de usuarios de foruns on-line.

Por tras dos dados, os fatos...

O que significariam essas mudancas nas temporalidades dos elementos que compoem determinado segmento do fluxo televisivo? Quais as razoes para tal fato? As possibilidades sao varias. Como explicitamos acima, elegemos algumas, a titulo de hipotese, por considera-las mais evidentes, segundo nossa percepcao, para a reflexao proposta. Uma das razoes seria a queda dos indices de audiencia:

A TV Globo fez mudancas em sua programacao nesta segunda-feira para tentar alavancar as audiencias das novelas das 18h e 19h, informa a coluna Outro Canal da Folha de S. Paulo. A emissora alega que a mudanca na grade se deve a adequacao ao 'fim do horario eleitoral e comeco do horario de verao'. [...] Com a alteracao, a Globo tenta ajustar a exibicao de seus produtos mais nobres aos novos habitos do telespectador, principalmente de Sao Paulo e do Rio. Com o horario de verao e o transito, o telespectador chega cada vez mais tarde em casa.

(Terra, 2008) (9)

Levando-se em conta que a Rede Globo e uma empresa comercial, e de se esperar a preocupacao constante com a audiencia de seus programas. Encurtar novelas, alterar horarios, retirar personagens de cena, mudar o rumo das tramas sao alguns dos recursos dos quais se lanca mao na tentativa de manter indices desejaveis. Recentemente, conforme os dados demonstraram, a Emissora adotou tal medida como uma decisao institucional.

Dados e informacoes multiplicam-se nos meios de divulgacao e informacao e os proprios motivos que nos ajudam a compreender o fenomeno da queda de audiencia ajudam-nos, tambem, a compreender a questao investigada neste texto: a das novas temporalidades. A queda dos indices parece mesmo ser uma razao para as mudancas empreendidas pela Emissora. E preciso fazer algo na medida em que a producao de telenovelas envolve questoes como dificuldade de inovacao, problemas na relacao com anunciantes, no prestigio dos autores, dos diretores e do elenco, o que pode gerar prejuizos que vao alem dos financeiros.

Outra razao diz respeito ao crescente uso da internet e outros media (DVD, videogame) nos horarios compativeis com o segmento aqui abordado. Nao cabe aqui discutir sobre as propriedades desses meios, mas e possivel aventar que, pelas caracteristicas que eles apresentam, as inumeras possibilidades de troca de comunicacao, crescente facilidade de acesso, infinutude de conteudo - no caso da internet, por exemplo tenham se tornado opcoes de entretenimento, informacao e interatividade significativa chegando mesmo a "concorrer" com a atencao e o tempo outrora dedicados a TV (10):

Um indicio de que a internet pode estar tomando parte do publico das novelas e a reducao no numero de televisores ligados, tendencia que o Ibope tem detectado de forma cada vez mais clara. No Rio de Janeiro, por exemplo, quase 20% dos aparelhos de televisao foram desligados entre 2005 e 2008. A media diaria de televisores ligados caiu de 44% para 36%. A media nacional ainda e alta, em torno de 42%, mas tambem tem dado sinais de ceder.

(Toluna, 2010) (11)

Ademais, a diversificacao e barateamento de pacotes de TV's por assinatura tem desviado a atencao do telespectador em relacao as TV's abertas. Isso tem gerado uma audiencia cada vez maior de series e seriados, em sua maioria americanos, de grande sucesso em seu pais de origem e que acaba por contribuir para o que poderiamos chamar do desenvolvimento de uma "cultura de assistencia as series", de curta duracao, nucleo permanente, episodios com principio, meio e fim.

Com 251.732 novos assinantes em fevereiro, o Brasil encerrou o segundo mes de 2011 com 10.176.149 domicilios atendidos com TV por Assinatura, o equivalente a uma penetracao de 17,0% das residencias do pais. [...] Considerando-se o numero medio de pessoas por domicilio divulgado pelo IBGE (3,3 pessoas), os Servicos de TV por Assinatura alcancaram mais de 33,6 milhoes de brasileiros.

(Anatel, 2011) (12)

Outro ponto que merece destaque relaciona-se ao desenvolvimento e profissionalizacao dos demais canais de TV aberta, especialmente a Record, que tem investido na criacao de nucleos profissionais de producao de telenovela. Tal investimento se faz notar tanto na composicao tecnica dos produtos, na contratacao de autores e diretores experientes, bem como na formacao de um casting composto por atores e atrizes de relativo sucesso, inclusive na propria TV Globo (que tem apresentado dificuldades nesse aspecto). Contudo, esse fenomeno de consolidacao das demais redes de TV aberta ainda e recente e de carater experimental:

De acordo com o colunista da UOL, Ricardo Feltrini, a unica novidade das novelas da ultima decada foi a licitacao da rede Record para produzir novelas em escala industrial. Ja Flavio Ricco, colunista do mesmo site, argumenta que novelas exigem uma producao de altissima qualidade, a Record peca muito ainda nesses detalhes de producao. Ha certos cuidados que com o tempo a Record vai acabar tomando e vai acabar crescendo. 'F uma questao de tempo so, porque a Globo tambem demorou muito tempo para chegar ao que ela e'.

(Uol, 2010) (13)

O ultimo aspecto aqui abordado diz a mutua afetacao entre televisao e cultura. Varios autores (Martin-Barbero, 2001; Silverstone, 1994; Hall, 2003; Fiske; Williams, 1974) ressaltam a necessidade de se estudar a televisao tendo em vista seu significado cultural. Nessa medida e importante estarmos atentos as novas praticas culturais que tambem contribuem para a configuracao de novas temporalidades no fluxo televisivo.

Ha algum tempo atras o TVFoco publicou uma pesquisa que mostra que o telespectador esta indo dormir mais tarde - a Record ja tinha percebido isso - e a Globo vai investir nesse telespectador que nao dorme logo apos a novela das 21 horas, e o investimento vai vir no que a Globo faz de melhor, mais novelas. Este novo horario das 22h30 sera de remakes de grandes sucessos da Globo, produzidos em poucos capitulos. [...] A estreia dessa nova faixa deve acontecer em julho deste ano.

(Tvfoco, 2011) (14)

Contudo, nem sempre essas praticas sao feitas notar de modo evidente e imediato. Mudancas socioculturais nao acontecem "da noite para o dia". Novos habitos surgem com novas geracoes e desafiam as TV's a incorpora-los em suas producoes. Ainda que nem sempre prontamente, e certo que tais praticas estao no pano de fundo de todas as mudancas que as emissoras procuram empreender.

[...] um dos maiores erros da Globo se da com os nucleos jovens das novelas: com historias fracas e atores idem, esse tipo de publico esta fugindo das novelas. Troca o folhetim global por um seriado na TV paga ou simplesmente desliga o televisor e navega na internet.

(Veja, 2008) (15)

Porem, criticos apontam que esta nao parece ser uma problematica considerada de modo aberto pela Globo. Pelo que indicam, a Emissora nao admite tais questoes de modo franco e declarado. Dai a relativa dificuldade, durante a coleta de dados, de identificacao de enunciacoes que partissem dos realizadores quanto as razoes ate aqui apontadas. Por isso acrescentamos uma rara citacao que, embora enunciada por um realizador que nao faca parte dos quadros profissionais da Emissora-objeto de nossa investigacao, pode demonstrar que por parte da instancia da producao essa ja uma preocupacao latente:

'Vou gritar', dispara Lauro Cesar Muniz, 73, autor de telenovelas como 'Salvador da Patria' e 'Roda de Fogo'. [...] 'O processo industrial esta acabando com a qualidade e a solucao e cortar pela metade o numero de capitulos. Antes, as historias podiam ser mais lentas. Hoje, com a pressao da disputa por audiencia, acredita-se que o publico exige muita acao, cenas fortes que chamem a atencao a todo o momento.' [...] Para Lauro, as novelas devem passar a ter 120 capitulos. 'Seriam mais concentradas na historia central, com menos tramas paralelas, um elenco mais enxuto, o que reduziria tambem os custos.' Nos anos 90, Lauro e outros defenderam a ideia na Globo, mas a mudanca do processo de producao era recente, e a emissora preferiu deixar tudo como estava. No segundo semestre de 2011, contudo, a Globo se aproximara dessa experiencia com um remake de 'O Astro'.

(Uol, 2011) (16)

Acreditamos que as mudancas sejam promovidas justamente em virtude da mutua afetacao entre televisao e cultura. Sao as novas praticas culturais, os indices de audiencia, dentre outros, que levam as redes de TV a experimentar novas possibilidades, posto que elas agem em consonancia com as demandas socioculturais e economicas dos contextos onde estao inseridas.

Novas temporalidades e as reconfiguracoes da experiencia de assistir a TV

Em que medida as novas temporalidades de alguns elementos do segmento do fluxo noturno da TV Globo reconfigurant ou alteram nossa experiencia de assistir TV?

Em nosso entendimento novas temporalidades reconfiguram sim novos modos de assistir e de se relacionar com a TV. Muitos estudos apontam para as maneiras pelas quais este meio se imiscui na domesticidade dos lares, organizando a rotina, pautando as discussoes, estabelecendo proximidades e distanciamentos dos membros de uma familia, estimulando a reflexividade nos sujeitos.

No caso da novela das 18h, embora a mudanca na temporalidade nao seja algo muito radical, e possivel argumentar que uma mudanca na expectativa do telespectador sera gerada. Muitas vezes a narrativa exibe uma trama ou um conflito que conquista a simpatia, a curiosidade e, consequentemente, a adesao do publico. E em circunstancias como esta que os produtores investem num prolongamento da telenovela criando o que se conhece popularmente como "barriga". Em producoes declaradamente encurtadas, o telespectador sabera que o desfecho se dara em breve desfazendo a costumeira espera pela resolucao do conflito ou pela mudanca de uma determinada situacao.

Na novela das 21 horas, muitos aspectos podem estar implicados no adiamento do inicio e na extensao do fim. Uma novela que comeca apos as 21 horas tera mais possibilidades de abordar temas adultos, polemicos e nao recomendaveis a criancas e adolescentes--como violencia, sexo, adulterio, assassinato, abuso de drogas. Cada vez mais a producao seriada desta faixa oferece entretenimento, mas tambem informa, pratica intervencao social, tematiza a diversidade cultural, etc.

Na criacao do novo formato das macrosseries podemos argumentar que o telespectador, acostumado a acompanhar a uma telenovela de 180 a 200 capitulos, nao arca com prejuizos do entendimento da sequencia da trama caso deixe de assistir tres ou quatro deles. A telenovela multiplica suas subtramas, cria situacoes que se arrastam por varios capitulos e preserva o enredo central sem comprometer a percepcao do telespectador. Ja numa producao cuja duracao e de 50 capitulos a perda de dois ou tres, consecutivamente, pode comprometer o acompanhamento da historia. Isso pode gerar no telespectador um maior comprometimento com o horario, com os dias de exibicao e com a pratica de assistencia--que passa a requerer maior investimento na atencao ao experimentar e ao produzir sentido do que se ve na TV. Tramas mais aceleradas e que focam de maneira mais concisa no desfecho podem levar as audiencias a reorganizarem sua rotina com vistas a se tornar disponiveis no horario de exibicao. Pode gerar nelas um novo modo de engajamento com o formato, novo senso de interpretacao e avaliacao do que seriam as ficcoes seriadas e pode estimular o prazer de acompanhar tramas sucintas. Afinal, com um cotidiano cada vez mais permeado por inumeras possibilidades e afazeres, que pode gerar certa impaciencia no telespectador em relacao as narrativas que demandam um acompanhamento tao demorado, esta pode ser uma boa alternativa para a redefinicao do que seja acompanhar ficcao seriada. o

Sites consultados

http://www.anatel.gov.br

http://www.dicm. com.br

http://www1.folha.uol.com.br

http://mais.uol.com.br

http://memoriaglobo.globo.com

http://teledramaturgia.com.br

http://tvfoco.com.br

http://www.vermelho.org.br

http://veja.abril.com.br

http://www.terra.com.br

http://www.toluna.com

REFERENCIAS

ALLEN, Robert Clyde. Speaking of Soap Operas. Chapel Hill : University of North Carolina Press, 1985.

ELLIS, John. Visible fictions. London and New York: Routledge, 1992.

FISKE, John. Television Culture. London: Routledge, 1987.

FISKE, John; HARTLEY, John. Reading television. London: Methuen, 1978.

MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos meios as mediacoes. RJ: Editora UFRJ, 2001.

MEMORIA GLOBO. Dicionario da TV Globo. RJ: Jorge Zahar, 2003. Vol. 1: Dramaturgia & Entretenimento.

MITTELL, Jason. Genre and television. London and New York: Routledge, 2004.

SILVERSTONE, Roger. Television y vida cotidiana. Buenos Aires: Amarrortu: 1994

WILLIAMS, Raymond. Television. Technology and Cultural Form. London: Routledge, 1974.

Simone Maria Rocha

Professora Pos-doutora do Programa de Pos Graduacao em Comunicacao UFMG/MG/BR <[email protected]>

Vanessa Rodrigues de Lacerda e Silva

Doutoranda pela UFMG. Professora da Faculdade Estacio de Sa. <[email protected]>

NOTAS

(1) Uma primeira versao deste trabalho foi apresentada no I Confibercom 2011, em SP, na USP, de 01 a 04 de agosto, na ST 1: Audiovisual (Cinema, radio e televisao). Agradeco aos colegas as sugestoes aqui incorporadas.

(2) A expressao "reconfiguracoes na experiencia" diz respeito tanto ao fato de que as novas temporalidades fazem emergir uma nova pratica de assistencia (novos horarios, por exemplo), como tambem modificam as formas de ver e perceber, ou seja, a propria capacidade de assistencia (que demandam mais atencao, novos modos de engajamento) que advem da 'friccao' do espectador com a materialidade ou, no caso em questao, com os novos formatos das producoes seriadas. Sabemos do amplo debate que a nocao de experiencia tem nas tradicoes da Estetica, da Hermeneutica e da Filosofia analitica, mas foge aos propositos deste trabalho delinear o conceito segundo essas tradicoes.

(3) Agradecemos ao CNPq o auxilio financeiro concedido; a Leticia Lopes da Silveira e Emmanuelle C. Dias Miranda, bolsistas de iniciacao cientifica, pelas efetivas contribuicoes dadas a este artigo.

(4) Esta concepcao e vista em comerciais, na interpretacao de estatisticas feitas nos noticiarios (para a 'media' das familias isso quer dizer...), nas 'familias' selecionadas para programas de jogos e brincadeiras, nas 'familias' mostradas em representacoes ficcionais variadas. Contudo, Ellis chama atencao para o fato de que apenas uma minoria da populacao da Gra-Bretanha, por exemplo, vive de acordo com ela. Ja em 1992 a unidade familiar nuclear classica, do pai trabalhador, mae dona de casa e criancas dependentes e em idade escolar respondiam por menos de 5% da populacao (Ellis 1992).

(5) Para minimizar este aspecto varias tecnicas sao empregadas tais como a sequencia do titulo que introduz personagens, a repeticao de um fragmento final do capitulo anterior antes do inicio do proximo e referencias precisas sobre eventos que sao objeto da conversacao dos personagens.

(6) Essas ultimas tem apresentado problemas como, por exemplo, assegurar uma audiencia constante para os exigentes patamares de indices de audiencia que a TV requer. Este foi um dos fatores que nos levaram a pensar que a Rede Globo-emissora que tem grande responsabilidade na consolidacao da ficcao seriada - estaria tomando algumas medidas que privilegiassem producoes de curta duracao.

(7) A concepcao de formacoes discursivas de Foucault parece particularmente apta a analise generica. Foucault analisa amplas formacoes discursivas como sexualidade, insanidade e criminalidade, argumentando que elas sao sistemas de pensamento historicamente especificos, categorias conceituais que funcionam para definir experiencias da cultura dentro de um amplo sistema de poder. Essas formacoes discursivas emergem nao de uma estrutura centralizada ou de um lugar unico de poder, mas sao construidas da base para micro instancias. Embora as formacoes discursivas sejam sempre marcadas pelas descontinuidades, elas seguem regularidades gerais, se adequando aos amplos 'regimes de verdade' de uma sociedade. Finalmente, formacoes discursivas parecem ser naturais ou propriedades internas dos seres, como se fossem humanas, mas sao de fato culturalmente constituidas e variaveis.

(8) Contudo, cabe ressaltar que, mesmo este horario de 21h vem sofrendo alteracao que os sitios consultados nao costumam registrar. Muitas vezes as producoes comecam 10 ou 15 minutos depois do horario normalmente previsto devido a varios fatores como: pronunciamentos oficiais, alguma cobertura especial que ocupou mais espaco no Jornal Nacional, Horario Eleitoral Gratuito, etc. A novela que estava no ar ate agosto de 2011, Insensato Coracao, teve seu inicio marcado para 21:15 e seu termino variava entre 22:20, 22:25 e 22:30. O que nos interessa ressaltar aqui e o fato de que esta producao tem sofrido alteracoes no seu horario de inicio e no seu horario de termino por varias razoes.

(9) Disponivel em: <http://diversao.terra.com. br/gente/noticias/0,,OI3568616-EI13419,00-Globo+muda+ programacao+para+alavancar+novelas.html>, consultado em: 31 mar. 2011.

(10) Alem disso, a internet disponibiliza para download ou ate mesmo exibe a propria programacao em tempo simultaneo ao da televisao.

(11) Disponivel em: <http://us.toluna.com/ opinions/674172/-Como-internet-pode-fazer-frente-novelas.htm> e consultado em: 01 abr. 2011.

(12) TV por Assinatura alcanca mais de 10 milhoes de domicilios em fevereiro. Disponivel em http://www.anatel. gov.br/Portal/exibirPortalNoticias.do?acao= carregaNoticia&codigo=22357e consultado em 06.04.2011.

(13) Disponivel em: <http://mais.uol.com.br/ view/gce2c85st888/retrospectiva-da-dcada-novelas-0402983062 DCC98307?types=A&> e consultado em: 28 mar. 2011.

(14) Disponivel em: <http://tvfoco.com.br/destaque/ novidade-globo-tera-nova-faixa-de-novelas-as-2030h> e consultado em: 28 mar. 2011>.

(15) Disponivel em: <http://veja.abril.com.br/ idade/exclusivo/perguntas_respostas/audiencia-novelas-globo/ tv-televisao-ibope-indices-queda-emissora.shtml> e consultado em: 01 abr. 2011.

(16) Disponivel em: <http://www1.folha.uol.com. br/fsp/ilustrad/fq1004201109.htm> e consultado em: 10 abr. 11.
联系我们|关于我们|网站声明
国家哲学社会科学文献中心版权所有