Time returns/O tempo retorna.
de Freitas, Fernanda Lopes
MAFFESOLI, Michel. O tempo retorna: formas elementares da
pos-modernidade. Rio de Janeiro: Forense Universitaria, 2012.
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O tempo retorna: formas elementares da pos-modernidade e o livro
lancado, mais recentemente, pelo filosofo Michel Maffesoli, pela Editora
Forense. A obra propoe revisar e lancar comportamentos e caracteristicas
cotidianas, as quais nos encaminham a sociedade pos-moderna. Ela
divide-se em oito partes: O Envolvimentismo Pos-Moderno; A Altura do
Cotidiano; Climatologia; O Desapossamento Tribal; Invaginacao do
Sentido; O Instinto Nomade; Arcaismos e Tecnologia; Imaginario.
Imaginal. O autor, assim, discorre atraves de paralelos e paradoxos
sobre a sua hipotese de que a crise financeira nao passa de uma forma de
saturacao individual.
Percebemos em nossa sociedade que as mudancas comportamentais,
culturais, e, consequentemente, comunicacionais permeiam nosso cotidiano
de maneira quase irreversivel. Do mesmo modo que temos a nitida
impressao de que somos sujeitos portadores de individualidades
triunfantes, temos a necessidade vital de estarmos inseridos em
comunidades, em tribos, para nos sentirmos identificados com os outros,
como lembra-nos Maffesoli.
A volta ao sentido fraternal presente nas comunidades parece
emergir a partir da saturacao do culto ao individuo. Assim, ao longo do
texto, parece-nos quase natural o caminho que o autor percorre para
aclarar as questoes da pos-modernidade, principalmente quando o mesmo
traca paralelos entre tempos passados e as situacoes atuais, como bem
denomina o livro--o tempo retorna.
No primeiro capitulo, O Envolvimentismo Pos-Moderno (grifo do
autor), Maffesoli retrata o envolvimento que na pos-modernidade envolve
os sujeitos, mesmo que, para isso, haja um conformismo de pensamento.
Nao e de hoje que encontramos astros ou personalidades que, ainda que
durante seus quinze minutos de fama, surgem como salvadores da patria e
criam regras de como agir. O autor nos lembra que desde sempre passamos
por este tipo de situacao, estimulando o conformismo de pensamento em
nossa sociedade. E ainda aclara que "A economia, os movimentos
sociais, o imaginario e ate mesmo a politica sofrem contragolpes de uma
onda de mare cuja amplitude ainda nao se consegue medir" (2012, p.
2), sendo este o mito do progresso que tanto nos obsedia.
Para este progresso, Maffesoli evidencia-nos que e necessaria a
mutacao atraves da transmutacao, ou seja, o ingresso so e possivel a
partir da regressao. Precisamos, na pos-modernidade, pensar em espiral
com coragem e lucidez.
Em A Altura do Quotidiano, o filosofo discorre sobre acontecimentos
historicos, ancorado nas ideias de outros pensadores como Durkhein,
Galileu e Vico, a fim de mostrar-nos a socialidade pos-moderna, sendo
que sua primeira caracteristica e o ressurgimento da vida cotidiana.
Assim, a revolucao e necessaria, no sentido de voltar a origem. Sobre
este retorno, podemos compreender que tem a ver com o que o autor
evidencia-nos atraves da resiliencia, bem como da necessidade de voltar
a matriz.
Para Maffesoli, este retorno a matriz leva-nos ao espirito
fraternal, a lei dos irmaos, como o mesmo denomina, sendo a partilha
cotidiana o elemento central desta vinculacao pos-moderna. Mais uma vez,
a ideia que nos e remontada e a de que a crise economica estimula esta
solidariedade, encaminhando-nos, entao, ao comunitario, ao tribal.
No capitulo intitulado de Climatologia, reforca o paralelo entre os
fenomenos e componentes climaticos, com os sujeitos e seus
comportamentos. O autor salienta-nos que: "A climatologia nos
lembra que existe o 'mais que um' no ar, mais que o individuo.
Este se inscreve em um interser. E determinado por um codigo
inter-relacional" (2012, p. 41). Esta relacao se da em todo este
capitulo, convergindo em um pacto emocional: onde ha partilha das
emocoes comuns entre os sujeitos, ha uma epidemia emocional, sendo as
redes sociais o testemunho desta tendencia. O filosofo (2012, p. 41)
encerra esta ideia quando explica que: "As vibracoes estao no ar
dos tempos [...] vivemos numa verdadeira mudanca climatica e com
certeza, temos uma cara de atmosfera".
O Desapossamento Tribal e como o quarto capitulo esta intitulado,
sendo ele uma revisao sobre o aspecto tribal, a fragmentacao do sujeito
em prol da pluralidade de si mesmo, encaminhando-nos a uma identidade
coletiva, pois, a partir dai, as tribos estabelecem seus elos entre os
individuos. Para o autor, na pos-modernidade, a pessoa e plural a partir
de um tribalismo emocional. Maffesoli esclarece que: "O mosaico
societal seria, desde entao, o ajuste dessas pequenas comunidades
forjadas, pelas solidariedades do cotidiano, os usos e costumes da
tribo, e os rituais especificos que tudo isso nao deixa de
estimular" (2012, p. 54). Mais uma vez, o que sentimos e o cimento
entre as ideias do livro, pois a solidariedade reflete, em seu sentido
mais estritamente comunitario--tribal, que precisamos do outro para que
possamos existir, para que possamos ter nossa propria identidade.
No capitulo Invaginacao do Sentido, o filosofo nos traz a ideia do
regresso, do retorno ao ventre, aos sentidos, ao sensivel, tempo, no
qual a forca das coisas e irreprimivel. Devemos pensar no humano, nao
somente enquanto cerebro, mas, sobretudo, enquanto corpo--dai a questao
da importancia da moda, dos rituais festivos, do corporeismo. Ou seja,
estamos em uma era na qual a barroquizacao do individuo e das coisas
demarca nossa existencia; temos a importancia do material e do emocional
concomitantemente formando o cimento social da tribo.
Em Instinto Nomade, temos uma reflexao sobre a volta do nomadismo,
a partir das tribos, sendo esta uma caracteristica essencialmente
pos-moderna por ser arcaica em seu regresso. Mais do que nunca, temos a
importancia das regioes, do localismo, da comunidade; paradoxalmente,
temos a criacao das redes, nao apenas as chamadas redes sociais, como
tambem as de saberes, no caso, as universidades, e a circulacao dos bens
simbolicos. O autor (2012, p. 74) evidencia-nos que: "A partir de
algumas cidades mundo, a difusao do comercio e correlata a difusao da
cultura. Nao se deve esquecer a circulacao dos conflitos ou das doencas
que pode ser considerada como a parte obscura da troca
civilizacional". Este nomadismo nos leva ao sentido de relativismo
e ate mesmo de brevidade das acoes, fato este que parece ser uma das
principais caracteristicas do instinto pos-moderno.
A pos-modernidade, segundo Maffesoli, e uma uniao ou a relacao
entre o arcaico e o tecnologico. Em o Arcaismo e a Tecnologia, o autor
discorre sobre este paradoxo que nos leva a progressividade. A partir da
tecnologia estamos em um tempo de reencantamento do mundo, atraves das
ciberculturas; como esclarece-nos o filosofo, temos a religacao ao
sentimento tribal. O mesmo evidencia-nos que: "O tempo fara a
triagem. Este e o relativismo induzido pela internet. Os avatares
multiplos, as tribos se reagrupando em torno de seus totens, a
fragmentacao dos saberes gera o mesmo numero de manifestacoes"
(2012, p. 102). Verificamos, desta forma, que, a partir do tribalismo
arcaico e do reencantamento do mundo por meio dos aspectos tecnologicos,
emerge a sociedade pos-moderna.
Imaginario. Imaginai. e o ultimo aparte do livro, no qual Maffesoli
traz como caracteristicas essenciais da pos modernidade o cotidiano e o
imaginario. Para o filosofo, o cotidiano e a capacidade de dizer sim a
vida, e o solo em que cresce o poder de estar junto que e a sociedade.
Quanto ao imaginario, este e o que permite a coesao do conjunto social.
A imagem, por sua vez, surge como vetor da estetica. Temos aqui um apelo
emocional mais forte; ha um pacto estetico se sobrepondo ao nosso tempo
devido as incursoes das tecnologias em nossa vida, sendo o imaginario
quase ou, sobretudo, um realismo no qual vivemos.
Desta forma, Maffesoli discorre em seu livro sobre as formas
elementares da pos-modernidade, tracando paralelos e paradoxos sobre
outras eras e cuja era estamos inseridos, permitindo que possamos
compreender que, inegavelmente, o tempo retorna.
Endereco da autora:
Fernanda Lopes de Freitas
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Pontificia Universidade Catolica do Rio Grande do Sul
(PUCRS)--Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao Social
Av. Ipiranga, 6681--Predio 7--Partenon
CEP 91530-000, Porto Alegre, RS, Brasil
Fernanda Lopes de Freitas
Doutoranda do Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao Social da
Pontificia Universidade Catolica do Rio Grande do Sul
(PUCRS).
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