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文章基本信息

  • 标题:The retextualization of the genre notebook of reality in the Pedagogy of Alternation/A retextualizacao no genero caderno da realidade na Pedagogia da Alternancia.
  • 作者:da Silva, Cicero ; Andrade, Karylleila dos Santos ; Moreira, Flavio
  • 期刊名称:Acta Scientiarum. Language and Culture (UEM)
  • 印刷版ISSN:1983-4675
  • 出版年度:2015
  • 期号:October
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Universidade Estadual de Maringa
  • 摘要:A Pedagogia da Alternancia (doravante PA), ao longo de sua caminhada e experiencias desde a criacao das primeiras Maisons Familiales Rurales (MFR) ou Casas Familiares Rurais (CFR) em 1935 na Franca (GIMONET, 2007), criou e aperfeicoou, com o proposito de escolarizar jovens camponeses, diferentes Instrumentos Pedagogicos (IP), fundamentais ao processo de formacao.
  • 关键词:Estrategias de aprendizaje;Estudiantes de escuela secundaria;Estudiantes de preparatoria;Metodos de ensenanza;Redaccion de discursos;Tecnicas de estudio

The retextualization of the genre notebook of reality in the Pedagogy of Alternation/A retextualizacao no genero caderno da realidade na Pedagogia da Alternancia.


da Silva, Cicero ; Andrade, Karylleila dos Santos ; Moreira, Flavio 等


Introducao

A Pedagogia da Alternancia (doravante PA), ao longo de sua caminhada e experiencias desde a criacao das primeiras Maisons Familiales Rurales (MFR) ou Casas Familiares Rurais (CFR) em 1935 na Franca (GIMONET, 2007), criou e aperfeicoou, com o proposito de escolarizar jovens camponeses, diferentes Instrumentos Pedagogicos (IP), fundamentais ao processo de formacao.

A PA e reconhecida pelos movimentos sociais como uma Pedagogia propria e apropriada a uma educacao critico-emancipatoria destinada aos povos do campo. Foi inicialmente praticada no Brasil pelas Escolas Familias Agricolas (EFA) no final da decada de 1960 (MOREIRA, 2000, 2009). De la para ca, tem se constituido como uma referencia pedagogica para a formacao nos movimentos sociais. Recentemente, tem fundamentado tambem cursos de graduacao especificos em Educacao do Campo nas diversas areas do conhecimento em mais de 40 (quarenta) universidades publicas brasileiras. Assim, a relevancia impar desta pesquisa esta em analisar um dos seus IP especificos, como forma de potencializar seu uso, oxala para alem das praticas em PA aqui analisadas.

Dentre os IP mais importantes da PA, podemos citar o genero Caderno da Realidade (doravante CR), ao qual restringiremos a analise proposta neste trabalho. Este artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre os aspectos constitutivos do genero CR e o processo de retextualizacao dos textos que compoem esse genero (SILVA, 2011). Entretanto, neste trabalho, a amostra e composta por textos de apenas 01 (um) exemplar do genero Caderno da Realidade, um instrumento didatico-pedagogico das unidades educativas que adotam a Pedagogia da Alternancia (PA). Os textos foram produzidos ao longo do ano letivo de 2009 por 01 (um) aluno do 9. ano do Ensino Fundamental II, de uma Escola Familia Agricola (EFA), situada no municipio de Colinas do Tocantins, Estado do Tocantins.

Veremos, na analise do corpus, que, em grande parte, a dinamica de producao de seus textos envolve processos de retextualizacao. Para isso, estabelecemos uma pergunta orientadora para nossa investigacao: 'como se caracteriza o processo de retextualizacao em textos do CR, considerando que esse e um instrumento pedagogico produzido em um contexto de ensino, orientado pela Pedagogia da Alternancia?' Para responder tal questao, procuramos, entao, discutir e situar os processos de retextualizacao.

O trabalho esta organizado em duas partes principais. Primeiramente, sao apresentadas algumas concepcoes teoricas relacionadas aos estudos dos generos discursivos e da retextualizacao, alem de abordar a metodologia e situar o contexto da pesquisa. Na ultima parte, considerando a natureza dos eventos linguisticos (KOCH, 2009) que orientam as atividades de producao escrita dos textos que compoem o CR, buscamos identificar e caracterizar os textos produzidos a partir de processos de retextualizacao (DELL'ISOLA, 2007; MARCUSCHI, 2007), bem como as praticas pedagogicas demandadas. Para finalizar, sao apresentadas algumas consideracoes sobre os resultados da pesquisa.

Aporte teorico

Os generos (orais ou escritos), por estarem presentes e desempenharem papel importante em qualquer evento discursivo, apresentam caracteristicas que pressupoem organizacao das informacoes linguisticas conforme a finalidade do texto, o papel dos interlocutores e as caracteristicas da situacao de enunciacao. Aprendemos a utilizar os generos da mesma forma que aprendemos a usar o codigo linguistico, ou seja, reconhecendo intuitivamente o que e semelhante e o que e diferente nos diversos textos.

Pelo fato de a pesquisa focalizar na analise diferentes textos materializados no genero Caderno da Realidade (SILVA, 2011), torna-se fundamental o estudo do genero de tais textos para a sua compreensao. Orientados pela concepcao dialogica da linguagem, tomaremos 'genero' numa perspectiva bakhtiniana. Conforme postulado por Bakhtin (2006, p. 262, grifo do autor), os 'generos do discurso' sao "[...] 'tipos relativamente estaveis de' enunciados". Ainda segundo o autor, os generos do discurso apresentam tres elementos basicos: conteudo tematico, estilo linguistico e construcao composicional. Nesse sentido, sao elementos pertencentes a atividades de linguagem, os quais estabelecem as praticas sociais. De certo modo, sao 'relativamente estaveis', pois atendem as especificidades de comunicacao de cada esfera quando se faz uso da linguagem. Por exemplo, o uso da linguagem nas atividades da esfera academica e primordial, sendo que constantemente seus atores recorrem a composicao de enunciados (orais ou escritos) especificos para executar suas atividades ou expressar suas ideias.

Bakhtin (2006, p. 282) lembra, ainda, que a "[...] diversidade dos generos do discurso e infinita [...]" e ocorre em funcao da abundancia de formas da atividade humana. Em outras palavras, podemos afirmar que e atraves dos processos sociais ou de interacao verbal que os generos sao originados. Ou seja, sao as esferas que dao origem aos generos. A escola, a familia, o sindicato, por exemplo, enquanto espacos ou esferas de convivencia de atores sociais, oferecem a possibilidade de composicao e disseminacao de generos do discurso para atender as suas demandas tipicas.

E preciso entender que, a depender das intencoes de seus atores, objetivos de ensino e da metodologia adotada, cada escola podera favorecer ou ampliar o ensino a partir de generos 'impares', as vezes, ate desconhecidos do circulo das praticas de ensino mais conservadoras, como e o caso do genero Caderno da Realidade (CR) na PA. E isso se deve tambem ao fato de que "[...] os generos tipificam muitas coisas alem da forma textual. Sao parte do modo como os seres humanos dao forma as atividades sociais. [...]" (BAZERMAN, 2009, p. 31). Na escola ou em qualquer outra esfera, as praticas sociais sao desenvolvidas por meio das praticas de linguagem, e os generos tem papel fundamental nesse processo.

Cabe-nos ressaltar que, numa perspectiva sociohistorica e dialogica (BAKHTIN, 2006), como estamos defendendo neste trabalho, o Caderno da Realidade e um genero que possibilita sistematizar e organizar os conhecimentos escolares em seus textos segundo a realidade das praticas educativas empreendidas nos Centros Familiares de Formacao em Alternancia (CEFFA (1)). Para ele existir, sao necessarias diferentes atividades de linguagem empreendidas em diferentes esferas, como na escolar, na familiar e na comunidade. Por isso, a importancia da abordagem discursiva, destacando-o como um instrumento pedagogico essencial da PA, uma vez que reflete as varias tradicoes da educacao em regime de alternancia, as inovacoes no ensino a partir da realidade do campo, a interacao nessa esfera social etc. E a retextualizacao e uma atividade que faz parte da sua construcao.

Retextualizacao

O estudo dos generos discursivos, alem da estrutura, da circulacao na sociedade, entre outros elementos, tambem deve abordar aspectos do modo de producao. A passagem ou transformacao de um texto falado em texto escrito ou vice-versa, em nosso cotidiano, e uma atividade bastante recorrente. Segundo Marcuschi (2007), esse processo e denominado 'retextualizacao' (2). Na sequencia, apresentamos os quatro tipos mais comuns ou possibilidades de retextualizacao quando operamos com certos generos (Figura 1).
Figura 1. Possibilidades de retextualizacao.

Possibilidades de Retextualizacao

1. Fala Escrita (entrevista oral entrevista impressa)

2. Faia Fala (conferencia traducao simultanea)

3. EscritaFala (texto escrito exposicao oral)

4. Escrita Escrita (texto escrito resumo escrito)

Fonte: Adaptado de Marcuschi (2007, p. 48).


O autor lembra que a retextualizacao nao pode ser compreendida como um processo mecanico, ja que, em nossas atividades comunicativas, e frequente depararmos com reformulacoes dos mesmos textos, envolvendo variacao de registros, generos discursivos, niveis linguisticos e estilos. Cabe salientar tambem que

[...] toda vez que repetimos ou relatamos o que alguem disse, ate mesmo quando produzimos as supostas citacoes ipsis verbis, estamos transformando, reformulando, recriando e modificando uma fala em outra (MARCUSCHI, 2007, p. 48).

Todas essas atividades sao retextualizacoes. Portanto, sao atividades rotineiras que se realizam de diversas maneiras em diferentes esferas de nossa sociedade, o que significa dizer que nao ocorrem apenas na sala de aula. Por exemplo, quando uma secretaria recebe uma chamada telefonica e produz um 'recado escrito'; um escrivao registra por escrito a 'tomada de depoimento' durante uma audiencia; um relator participa de uma reuniao e lavra a 'ata', podemos dizer que, em todos esses eventos linguisticos, um texto oral foi retextualizado em um texto escrito. Esses mesmos generos podem ser transformados em outros: o 'recado escrito' pode ser transformado em um 'aviso escrito'; as decisoes tomadas na reuniao e registradas na 'ata' podem ser transformadas em um 'manifesto escrito' do grupo, caracterizando a retextualizacao de texto escrito para texto escrito. O seguinte esquema (Figura 2) ilustra, segundo cada R, uma operacao diferente de retextualizacao.

[FIGURE 2 OMITTED]

O R1 traz a passagem da fala para escrita; o R2 exemplifica a transformacao da escrita para escrita; o R3, passagem da escrita para a fala; em R4 e R5, acontece a transformacao da fala para a fala. Como podemos observar, todas as atividades de retextualizacao apresentadas no esquema sao bastante comuns em nosso dia a dia. Na concepcao de Dell'Isola (2007, p. 10), a retextualizacao e o
   [...] processo de transformacao de uma modalidade
   textual em outra, ou seja, trata-se de uma refaccao e
   reescrita de um texto para outro, processo que
   envolve operacoes que evidenciam o funcionamento
   social da linguagem.


Depreendemos que a 'refaccao' e a 'reescrita' sao atividades fundamentais nas operacoes de retextualizacao de diferentes generos.

Para Fiad (2009, p. 9), reescrita
   [...] refere-se principalmente ao conjunto de
   modificacoes escriturais pelas quais diversos estados
   do texto constituem as sequencias recuperaveis
   visando um texto terminal.


Ou seja, envolve aspectos enunciativos gerais e processos individuais, o que ajuda a caracterizar os alunos em seus diferentes percursos formativos, em especial sobre a aprendizagem da escrita. E uma atividade que envolve participacao do professor ou de outra pessoa. Tal como explicitado por Goncalves (2009, p. 21), "[...] a reescrita e parte integrante da atividade escrita". Trata-se dos aspectos relacionados as mudancas de um texto no seu interior, isto e, uma escrita para outra, reescrevendo o mesmo texto. Em se tratando de generos produzidos pelo aluno, com o objetivo de torna-los (mais) adequados a situacao de interacao prevista para seu funcionamento, entendemos que essas atividades podem envolver apenas o aluno (refaccao) ou a participacao do professor (reescrita). Em sintese, a retextualizacao e um processo que requer a passagem de 'um texto para outro', de 'um genero para outro', em 'modalidades' diferentes, tal como estabelece Marcuschi (2007).

Na esfera escolar ou em qualquer outra, a retextualizacao de um genero (oral ou escrito) exige basicamente: a) compreensao sobre o genero original e o que esta sendo retextualizado; b) consideracao a respeito dos diversos aspectos dos generos, como condicoes de producao, funcao social e propriedades; c) manutencao de tracos que identifiquem o genero retextualizado. Podemos afirmar, entao, que e um processo que ultrapassa as questoes meramente linguisticas, pois requer a adequacao do texto a determinada situacao comunicativa, ao estilo e ao genero discursivo em uma atividade interativa envolvendo professor e aluno. Nas retextualizacoes em foco, ou corpus da pesquisa, serao tratadas as transformacoes de generos escritos, a transposicao do conteudo de um texto para outro, bem como a mudanca de genero.

Aspectos metodologicos do estudo

A abordagem do objeto de estudo parte de uma revisao bibliografica, sendo a pesquisa de base epistemologica qualitativo-interpretativista, com procedimentos de coleta documental de dados (FLICK, 2009; GIL, 1999). Embora faca parte de uma pesquisa mais ampla (SILVA, 2011), o corpus e constituido por textos de apenas 01 (um) Caderno da Realidade, um instrumento didatico-pedagogico das unidades educativas que adotam os principios teorico-metodologicos da Pedagogia da Alternancia (GIMONET, 2007; GARCIA-MARIRRODRIGA; PUIG, 2010). Os textos foram produzidos ao longo do ano letivo de 2009 por 01 (um) aluno do 9. ano do Ensino Fundamental II, de uma Escola Familia Agricola (EFA), situada no municipio de Colinas do Tocantins, Estado do Tocantins.

Neste estudo, nao tivemos participacao alguma na geracao dos dados da amostra, tais como coordenar atividades ou orientar o aluno (autor dos textos) durante a producao dos textos. Nos apenas coletamos documentos. Desse modo, como nossa pesquisa e de cunho documental, nao foi possivel verificar in loco as dimensoes metodologicas ou etapas que envolveram a escrita e o processo de retextualizacao de generos do corpus em sala de aula. Discutiremos as operacoes de retextualizacao de uma forma geral, mais especificamente a transformacao de um texto escrito para outro texto escrito, de um genero para outro genero, como e o caso da Pesquisa do PE para Colocacao em Comum, da Colocacao em Comum para Sintese do PE e da Sintese do PE para Conclusao e Avaliacao do PE.

Do ponto de vista da analise, nossa interpretacao sobre a metodologia de producao escrita dos textos que compoem o CR tem como referencia tres aspectos: 1) nossas experiencias pedagogicas acumuladas ao longo de quase dois anos na PA, como 'monitor' (3) (docente) de uma EFA; 2) compreensao do percurso (da primeira a ultima etapa) de estudo ou aplicacao de um Plano de Estudo (4) (PE); 3) reflexoes sobre os elementos e as caracteristicas gerais de cada uma das secoes de registros dos temas dos PE no CR de uma EFA.

Os exemplos de retextualizacao no CR que apresentaremos na sequencia sao denominados textos 1, 2, 3 e 5. Esses textos foram cedidos gentilmente pelo autor (menor de idade) com autorizacao formal dos pais, conforme protocolo de pesquisa (TCLE). Por isso, optamos por omitir os dados do informante (e tambem do monitor), em especial o nome.

A retextualizacao no Caderno da Realidade

Enquanto genero discursivo, o CR incorpora e reelabora, em suas secoes, diversos generos, denominados, a partir de agora, 'Pesquisa do PE', 'Colocacao em Comum', 'Sintese do PE', 'Conclusao e Avaliacao do PE'.

O CR, formado a partir desse conjunto de textos, adquire um carater especial, tal como o genero do discurso 'livro didatico' (BUNZEN, 2005). Considerando sua natureza, o processo de sua construcao a partir de temas dos PE, embora incorpore varios generos, tomamos o CR como genero discursivo, e nao como um 'suporte' de generos. De acordo com Marcuschi (2008, p. 174), "[...] suporte de um genero e uma superficie fisica em formato especifico que suporta, fixa e mostra um texto". Um jornal, uma revista exemplificam muito bem o que e um suporte. Para esse autor, o dicionario seria um genero, e nao um suporte. E importante salientar ao leitor que a caracterizacao de cada uma das partes ou generos do CR sera realizada ao longo desta parte do artigo.

Da Pesquisa do PE para Colocacao em Comum

A Pesquisa do PE e um genero de grande importancia para a constituicao do CR na PA, principalmente pelo fato de instigar o jovem a fazer questionamentos, a desenvolver uma pesquisa sobre o tema de um PE na comunidade em que vive. Durante a preparacao (no Tempo Escola) de saida dos jovens do CEFFA para o meio familiar/propriedade, ocorre a escolha de um tema do PE (por monitores e alunos) a ser estudado durante o Tempo Comunidade (5). Como animador do processo, o monitor prepara (elabora) com os jovens um 'conjunto de questoes' sobre o tema do PE a ser aplicado na comunidade. Esse genero tem como objetivo registrar o 'depoimento' de um ator da comunidade que tenha suas atividades ligadas ao tema do PE em estudo atraves de 'sequencias injuntivas' (questoes/perguntas), podendo o entrevistado ser os pais do aluno ou outras pessoas proximas. Essa condicao se estabelece para que alguem possa responder as questoes, alem de dar mais veracidade sobre a realidade do tema na comunidade do aluno, ja que o jovem precisa ampliar seus conhecimentos acerca da comunidade, da familia, da propria realidade em que esta inserido.

Por sua vez, o dialogismo e um aspecto importante da Pesquisa do PE, pois a composicao desse genero permite a manifestacao de muitas vozes sociais, como a do proprio jovem alternante (aluno) na elaboracao 'das questoes e respostas', do monitor na elaboracao das 'questoes' e 'intervencoes realizadas durante a producao escrita', dos pais, de parceiros da sala de sala e de entrevistados da comunidade nas 'respostas produzidas'. Por isso, devemos concordar com Bakhtin (2006, p. 279) quando diz que "[...] a obra e um elo na cadeia da comunicacao discursiva". Ou seja, e o elemento que permite o dialogismo. Certamente, a Pesquisa do PE e a parte do CR mais representativa das praticas discursivas no referido genero. Sem a interacao e a participacao de cada um desses atores, entendemos que a execucao de um PE nao seria possivel, o que inviabilizaria a producao de textos para registros no CR. Alem dos varios atores que participam, sua construcao envolve diferentes situacoes de interacao comunicativa nos tempos escola e comunidade.

Considerando que a Pesquisa do PE e um genero apoiado em 'sequencias injuntivas' (questoes/perguntas) e 'sequencias expositivas' (resposta as questoes/perguntas), as caracteristicas basicas apresentadas por esse genero se assemelham aquelas do genero 'entrevista'. Por outro lado, a socializacao dos resultados da pesquisa no CEFFA com alunos e monitores permite discutir aspectos da vida pessoal, social e profissional dos entrevistados das comunidades relacionados ao tema em estudo.

Alem disso, o questionario Pesquisa do PE e bastante representativo da diversidade de eventos linguisticos nas atividades de um CEFFA. Analisando as capacidades comunicativas mobilizadas na construcao desse genero, podemos destacar que elas possibilitam o estreitamento das relacoes sociais entre elementos ou conhecimentos da instituicao escola e da realidade social desses atores sociais--o lar do entrevistado, a comunidade, o cotidiano do meio rural etc. Por meio da 'entrevista', o estudo do tema de um PE traz outros aspectos da vida social e cultural ao alcance do jovem, como o estabelecimento da relacao entre conhecimento empirico e cientifico, entre cultura popular e cultura escolar (SILVA, 2011). Ou seja, sao mobilizadas diversas praticas sociais em diferentes esferas, como 'escola', 'familia' e 'propriedade/comunidade' na construcao nao so da Pesquisa do PE, mas tambem de outros textos que compoem o CR.

Como veremos no texto 1, as questoes que compoem a Pesquisa do PE apresentam uma estrutura bastante semelhante. Levando em consideracao que uma analise pode aduzir diferentes aspectos dos textos, optamos por aplicar a analise desse texto as seguintes categorias: (1) tipo de pergunta; (2) marcas de reescrita; (3) apreciacao (6) do monitor; e (4) aspectos linguisticos.

O texto (7) 1 (Figura 3), traz o questionario Pesquisa do PE selecionado para analise e tem como tema os 'derivados da carne'. Ele foi escrito pela 'Informante 1' (8), que era aluna do 9 ano do Ensino Fundamental da Escola campo (EFA) em 2009. A producao desse texto foi orientada pelo 'Monitor 1', que e licenciado em Pedagogia e ja cursou PosGraduacao Lato sensu na area da PA:

[FIGURE 3 OMITTED]

Observando a estrutura (ou tipologia) das perguntas que compoem o texto 1, notamos que elas sao introduzidas pelas palavras 'Como', 'Na' e 'Quais'. Das cinco questoes desse texto, a numero 1 parece exigir do entrevistado um pouco mais de reflexao e conhecimento sobre o assunto (comercializacao da carne e de seus derivados) para responde-la. Aparentemente, parece ser uma questao simples, mas a resposta demanda conhecimentos sobre precos, oferta e procura da carne no mercado. Como nao foi registrada nenhuma resposta a questao numero 1, nao podemos afirmar se o entrevistado concedeu ou nao uma resposta.

Os registros desse texto (1) apresentam perguntas registradas a caneta e respostas a lapis. Essa observacao esta relacionada ao plano estetico do texto, embora os registros a lapis nao sejam proibidos. Apesar de respostas a lapis oferecerem mais possibilidade de reescrita ate chegar a versao final do texto, isso nao aconteceu. Por exemplo, a resposta a questao numero 2 e muito breve. Esta e as demais respostas nao retomam os enunciados das respectivas perguntas, trazendo apenas informacoes basicas. Como leitor, entendemos que ha um grande paradoxo no texto 1: de um lado, apresenta respostas que exigem reescrita; de outro, bordas desenhadas para ilustrar o aspecto visual do texto.

Considerando que a informante teve um monitor responsavel pelas orientacoes e intervencoes durante a producao escrita dos textos do CR, como e o caso do genero Pesquisa do PE, espera-se que tais contribuicoes ajudem-na a melhorar o nivel dos textos produzidos. Em relacao ao papel desempenhado pelo monitor durante a producao escrita do texto 1, o original mostra que parece nao terem acontecido intervencoes satisfatorias. O monitor se limitou a inserir seu 'visto' no rodape e na parte superior esquerda (apagamos o visto para evitar identificacao) do texto, apesar das inadequacoes suscitadas.

No que diz respeito a pontuacao, as questoes numeros 3, 4 e 5 nao trazem o ponto de interrogacao, o que e fundamental em qualquer pergunta. Alem disso, tais questoes apresentam inadequacoes nao so na sua elaboracao, mas tambem nas respectivas respostas, pois algumas palavras nao tem conexao, como, por exemplo, 'mais e' no interior da resposta a questao numero 3 e 'o lucro' a numero 4. Ainda na questao numero 3, aparece a conjuncao 'e' em lugar do verbo de ligacao 'e'. Entendemos que nao se trata apenas do simples fato de a autora do texto ter omitido o acento agudo do 'e', pois isso se repete ao longo dos textos do CR. Como mostra o texto 1, tais inadequacoes interferem na producao escrita. Ao implementar a reescrita nos CEFFA, essas e outras inadequacoes poderiam ser resolvidas, o que ajudaria os alunos a refletirem sobre os proprios textos que escrevem e melhorarem a producao final dos CR (SILVA; ANDRADE, 2014). Analisaremos, na secao seguinte, o genero Colocacao em Comum.

Analise a Colocacao em Comum

A fim de aprofundar nossa analise sobre a escrita de textos que constituem o genero CR, discutiremos, a partir de agora, a retextualizacao do genero Pesquisa do PE para o genero Colocacao em Comum presente na amostra. Sao transformacoes de generos escritos, decorrentes da transposicao do conteudo de um texto para outro, bem como a mudanca de genero (DELL'ISOLA, 2007).

A Colocacao em Comum, enquanto instrumento pedagogico da PA, apresenta-se de duas formas nas atividades dos CEFFA: 'oral' ou 'escrita'. Quando o jovem retorna do tempo comunidade (meio familiar/propriedade), ele traz os resultados da pesquisa que realizou sobre o tema de um PE, com o questionario Pesquisa do PE respondido. Apos a equipe de monitores apreciar o trabalho de cada jovem, individualmente, ocorre a Colocacao em Comum na modalidade oral em sala de aula. Este e um momento fundamental para socializacao dos resultados da pesquisa do PE e aprofundamento das discussoes sobre o tema estudado nas comunidades pelos jovens. Durante as socializacoes, dependendo da importancia do assunto para a comunidade e dos resultados apresentados, o monitor e os jovens podem planejar uma 'intervencao externa'. Como nossa pesquisa contempla apenas textos escritos registrados nos CR, nao abordaremos na analise a Colocacao em Comum na modalidade oral.

Para os registros escritos do CR, a Colocacao em Comum e um genero em que o jovem apresenta uma especie de 'relato', baseado na pesquisa realizada na comunidade sobre o tema de um PE. Podemos afirmar que seu objetivo e intermediar a socializacao, na modalidade escrita da lingua no CR, da experiencia e das informacoes coletadas sobre o tema (do PE) estudado. Por isso, predominam, na Colocacao em Comum, as 'sequencias expositivas'. Portanto, cabe ao jovem o desafio de transpor o conteudo da Pesquisa do PE para Colocacao em Comum.

Apresentamos na sequencia o texto 2 (Figura 4), que e uma retextualizacao do texto 1, isto e, do genero Pesquisa do PE para o genero Colocacao em Comum no CR. Ambos foram escritos pela Informante 1 sob orientacao do Monitor 1:

[FIGURE 4 OMITTED]

O genero Colocacao em Comum tem o papel de materializar e socializar, por meio de um texto expositivo, o relato das experiencias do jovem relacionadas ao estudo e a pesquisa sobre o tema de um PE na comunidade em que vive. E o texto 2 (Colocacao em Comum) consegue atender esse objetivo. Considerando que a retextualizacao e uma atividade que leva em conta, em alguns de seus aspectos, a transposicao do conteudo de um texto para outro, a adequacao do texto a estrutura do novo genero, a autora consegue atingir isso. E possivel notar diferencas pontuais na composicao dos textos 1 e 2. Enquanto o texto 1 e constituido de perguntas e respostas, o texto 2 (retextualizado) reelabora tais respostas em paragrafos.

Quando a autora afirma, no primeiro paragrafo (do texto 2), que: "[...] com as aulas que tivemos em sala debatendo sobre os derivados da carne nos os alunos chegamos a conclusao [...]", ela nos leva a depreender que houve interacao na construcao desse texto do CR e socializacao de experiencias. Por si so, o emprego do verbo 'debater' e dos verbos na primeira pessoa do plural ('tivemos, chegamos') evidencia o dialogo, marca a interacao com outro, seja esse outro o aluno ou o monitor. No segundo paragrafo, ela adiciona uma resposta nao registrada na questao numero 1 do texto 1, mas que e coerente com o tema estudado. Por sua vez, o terceiro paragrafo (texto 2) amplia a resposta da segunda questao do texto 1, ou seja, alem de armazenar na geladeira, 'colocar' a carne ao sol ou 'fazer' derivados tambem sao opcoes de conservacao.

Se na resposta numero 3 do texto 1 (Pesquisa do PE) a finalidade dos derivados da carne limita-se ao 'proprio consumo' da familia, ao retextualizar essa resposta, no quarto paragrafo do texto 2, a autora afirma agora que a "[...] finalidade e agregar valores, 'da' novos sabores, conservacao e fonte de renda". E uma mudanca significativa no plano semanticopragmatico do texto, deixando clara a ideia de que a carne so e produzida para a comercializacao. Alem disso, ao final do texto 2, sao citados alguns derivados da carne ('carne de sol, defumados, linguica, bolinho de carne'), os quais nao estao presentes nas respostas as questoes do texto 1.

Mais uma vez, o ultimo paragrafo do texto 2 corrobora a tese de que os textos do CR sao construidos coletivamente, permeados de diferentes vozes em sua composicao, como afirma a autora:
   [...] com as ideias de cada um aluno, conhecemos varias formas de
   conservacao como: fazer defumados, fazer derivados, colocar no sol,
   na geladeira, fazer linguica, bolinho de carne e outros.


Tal conhecimento so foi possivel porque cada um dos alunos aplicou o questionario Pesquisa do PE (texto 1) na sua comunidade, socializando posteriormente os resultados em sala de aula por meio da Colocacao em Comum. Sem isso, talvez a autora nao tivesse conseguido ter nocao de quais sao ou o que seriam derivados da carne.

Analisando a estrutura do texto 2, podemos observar que ele e organizado em paragrafos, embora nao apresente conectivos para articular suas sequencias e ideias. Quando empregados adequadamente, os conectivos sao elementos importantes para o estabelecimento da coerencia ao texto. Por mais que o texto 2 apresente inadequacoes relacionadas a ortografia, a coesao, a pontuacao, principalmente, a autora consegue expressar suas ideias de forma coerente com o tema da pesquisa do PE. Tais inadequacoes podem ser resolvidas com intervencoes adequadas do monitor durante a producao escrita ou processo de retextualizacao dos generos, o que vai refletir de forma positiva no letramento do aluno.

Por outro lado, embora tenham sido desenhados pequenos coracoes na margem superior do texto 2 para ilustrar e demonstrar 'capricho', o texto verbal apresenta caracteristicas de rascunho, pois a primeira frase esta rasurada, alem de inadequacoes no plano linguistico ja discutidas. Apesar da melhora nessa retextualizacao, ainda sao necessarios ajustes, reescrita na versao final para atender as condicoes de producao de um genero. As inadequacoes em um texto nem sempre estao relacionadas a falta de habilidade individual de um aluno (GONCALVES, 2009), mas sim a falta de atividades de leitura, de analise linguistica e a intervencoes inadequadas do docente (cf. SILVA; ANDRADE, 2014).

Se o CR apresenta caracteristica de genero discursivo, como podemos depreender com seus objetivos dentro da proposta da PA, em especial quando propoe a formacao integral (GARCIAMARIRRODRIGA; PUIG, 2010) dos jovens camponeses, as funcoes do monitor vao muito alem do acompanhamento apenas para pontuar as atividades que o aluno fez ou deixou de fazer. De qualquer forma, em funcao de a nossa pesquisa tomar como fonte de dados apenas documentos, e nao as dimensoes metodologicas ou os processos de construcao dos respectivos textos que compoem o CR do corpus, torna-se delicado estabelecer outras observacoes ou conjecturas acerca das orientacoes sobre a producao escrita. Talvez, uma pesquisa-acao pudesse oferecer elementos necessarios e adequados a investigacao. Na seguinte secao, analisaremos outros textos do CR que tambem apresentam retextualizacoes.

Da Colocacao em Comum para Sintese do PE

Como ja discorremos sobre a constituicao do genero Colocacao em Comum, explicitando seus objetivos, sua estrutura, nao o retomaremos aqui. Nosso proposito nesta secao e analisar uma retextualizacao do genero Colocacao em Comum para Sintese do PE (Texto 3).

A Sintese do PE constitui um dos textos mais importantes entre os registros de um PE no CR. Trata-se de um genero que tem como objetivo apresentar uma sintese pessoal elaborada pelo jovem sobre as atividades relacionadas ao tema de um PE, as respostas do questionario Pesquisa do PE, a Colocacao em Comum e suas experiencias cotidianas no tempo comunidade (familiar/propriedade). A Sintese do PE e um texto que deve abordar questoes teoricas e experiencias cotidianas contempladas pelo estudo do PE. E um genero que favorece a discussao de aspectos da realidade, do conhecimento de mundo dos alunos e das informacoes que eles detem sobre os temas dos PE. Logo, a construcao desse genero exige competencia discursiva (BRASIL, 1998-2001) por parte dos jovens aprendizes, sobretudo para articular as informacoes e compor um genero segundo as condicoes de producao.

Entendemos que a Sintese do PE parece oferecer mais liberdade aos autores (alunos) na sua composicao do que outros generos que constituem o CR. Para elaborar a Sintese do PE, o jovem (aluno) precisa fazer reflexoes e retomar todas as atividades desenvolvidas durante as duas primeiras etapas de estudo do tema de um PE (Pesquisa do PE e Colocacao em Comum). Por sua vez, os resultados da pesquisa do tema do PE na comunidade sao fundamentais na construcao desse genero. Com isso, podemos afirmar que a Sintese do PE e caracterizada por um estilo livre, aparentemente impessoal, constituindo um texto em que predominam 'sequencias expositivas'. Alem disso, exige dos autores o emprego de uma linguagem objetiva, para tornar a comunicacao mais eficiente.

Para analisar o texto 3, estabelecemos alguns criterios, considerados bastante relevantes para o estudo, tais como: (1) Aspectos linguisticos (sintatico e semantico); (2) Fatores pragmaticos; (3) Paragrafacao; e (4) Intervencao do monitor. Considerando que esses criterios serao aludidos de forma implicita ao longo das analises, cabe ao leitor inferi-los em cada um dos paragrafos.

Para dar sequencia a nossa discussao sobre o processo de retextualizacao em textos do genero CR, apresentamos o texto 3 (Sintese do PE) (Figura 5), que e uma retextualizacao do texto 2 (Colocacao em Comum). Conforme explicitado, esses textos foram produzidos pela Informante 1 na Escola campo (EFA). A autora foi orientada pelo Monitor 1:

Apesar de ser escrito a partir da retextualizacao, o texto 3 (Sintese do PE) apresenta bastantes inadequacoes em seu aspecto linguistico. Na ortografia, ha palavras rasuradas e outras registradas incorretamente ('conzida' em vez de 'cozida', paragrafo 3) ou faltando alguma letra. Podemos citar ainda inadequacoes na concordancia do paragrafo 4, entre outras bastante visiveis. A pontuacao do texto, como no caso do paragrafo 5, precisa ser revista. Embora seja usado com pouca frequencia, a aluna emprega corretamente os dois pontos no interior do paragrafo 3. Alem disso, ela introduz a primeira palavra de cada um dos paragrafos com letra maiuscula, o que nao e comum em outros textos do corpus. De modo geral, sao questoes ligadas diretamente a textualizacao, o que pode gerar dificuldades na compreensao do texto por parte do leitor.

[FIGURE 5 OMITTED]

Observando outros aspectos do texto 3 (Sintese do PE), notamos que a autora inicia o primeiro paragrafo com a expressao 'os derivados da carne' (o tema gerador do PE), sendo repetida nos paragrafos terceiro e quarto. Certamente, se realizadas releituras e reescrita, as informacoes desses tres paragrafos poderiam ser condensadas em apenas um. Isso traria mais objetividade em relacao as informacoes do texto retextualizado. Alem disso, as informacoes sobre a 'conservacao da carne' poderiam ser apresentadas em um unico paragrafo. No entanto, aparecem distribuidas nos paragrafos primeiro, segundo e terceiro, o que reforca a necessidade de reescrita do texto por parte da autora sob orientacao do monitor. Nos paragrafos quinto e sexto, podemos destacar um aspecto bastante positivo: a autora introduz informacoes que nao estao presentes no texto 2 ('original'). Ou seja, sao inseridas novas informacoes sobre o tema do PE, especificamente sobre a 'higiene' durante o processo de manipulacao da carne para comercializacao. Evidentemente, essa informacao esta relacionada a possiveis conteudos do topico numero 1, do texto 2 (Colocacao em Comum). O fato de a ordem das informacoes ou dos conteudos nao ser a mesma do texto original nao descaracteriza a retextualizacao. Alias, e sinal de criatividade por parte da aluna, demonstrando tambem que ela incorporou informacoes que obteve durante a fase de construcao da Colocacao em Comum.

Tal como sao apresentadas as informacoes no texto 2 ('original'), o texto 3 e organizado em paragrafos. Por sua vez, a exposicao nao se apresenta melhor porque ainda predominam periodos soltos, com a presenca de poucos articuladores. Como a autora faz uso limitado dos recursos linguisticos na construcao do seu texto (3), podemos notar uma pequena evolucao em relacao ao texto 2.

De modo geral, as inadequacoes presentes no texto 3 poderiam ser sanadas com a verificacao, observacoes e intervencoes adequadas do monitor durante o processo de producao (SILVA; ANDRADE, 2014). Isso possibilitaria ao aluno a realizacao de uma producao escrita reflexiva. Tal como mencionado em outros textos, as intervencoes do monitor se resumiram a insercao de um visto na parte superior (esquerda) do texto e outro no rodape do texto. O texto ainda sugere que sejam trabalhadas especificidades da modalidade escrita da lingua com a aluna. Mas, independentemente dessas inadequacoes, o texto 3 e uma retextualizacao do texto 2, embora demonstre um nivel menos elaborado.

Na proxima secao, analisaremos o processo de retextualizacao do genero Sintese do PE para Conclusao e Avaliacao do PE no CR. A analise tambem tera como referencia os seguintes criterios: (1) Aspectos linguisticos (sintatico e semantico); (2) Fatores pragmaticos; (3) Paragrafacao; e (4) Intervencao do monitor.

Da Sintese do PE para Conclusao e Avaliacao do PE

Considerando que ja realizamos a caracterizacao do genero Sintese do PE no CR, explicitando seus objetivos, sua estrutura, dentre outros elementos, nao o retomaremos aqui. Nesta secao, o intuito e analisar uma retextualizacao do genero Sintese do PE para o genero Conclusao e Avaliacao do PE.

A Conclusao e Avaliacao do PE e o genero que aparece na ultima secao (quinta) de registros de um PE no CR. Constitui um espaco reservado as reflexoes finais do jovem alternante sobre o tema (PE) estudado. De modo geral, podemos afirmar que o objetivo desse genero e registrar consideracoes, reflexoes, pontos positivos e negativos do jovem (aluno) sobre o tema do PE estudado (desenvolvido) no tempo escola (CEFFA) e no tempo comunidade (familiar/propriedade), bem como pontuar a importancia do estudo para sua realidade socioprofissional.

De certa forma, ao construir o genero Conclusao e Avaliacao do PE, os jovens devem contemplar as atividades e/ou informacoes consideradas mais significativas relacionadas ao estudo do tema de um PE, suas experiencias cotidianas, em especial o conteudo do genero Sintese do PE. E essa passagem ou transposicao do conteudo de um genero para outro envolve diretamente a retextualizacao.

Tendo em vista que a Conclusao e Avaliacao do PE e constituida de: 'consideracoes, reflexoes, pontos positivos e negativos', a natureza desses elementos nos permite afirmar que e um genero constituido basicamente por uma sintese, em um primeiro momento pessoal, mas depois no texto ela incorpora uma compreensao mais ampla, ou seja, coletiva. Por isso, e um texto em que predominam 'sequencias expositivas'. Trata-se, portanto, de um texto de estilo pessoal e de cunho avaliativo. Por ser uma sintese expositiva, o(a) autor(a) tem liberdade para fazer julgamento, emitir suas consideracoes, avaliar o desenvolvimento do estudo e ate mesmo apresentar sugestoes por meio dos pontos negativos em seu texto, desde que mantenha o tema do texto original, neste caso, a Sintese do PE.

Para finalizar nossa analise ao processo de retextualizacao em textos do genero CR, apresentamos o texto 5 (Conclusao e Avaliacao do PE) (Figura 6), que e uma retextualizacao do texto 3 (Sintese do PE). A autora desses textos tambem e a Informante 1, sendo o Monitor 1 responsavel pelas orientacoes durante o processo de producao escrita de tais textos:

[FIGURE 6 OMITTED]

Analisando o plano linguistico do texto 5, podemos identificar algumas inadequacoes, envolvendo, principalmente, pontuacao, inadequacao vocabular e ortografia. E notorio que a autora ('aluna') do texto faz uso adequado do ponto, da virgula e dos dois pontos, mas a virgula deveria ser empregada apos o termo 'bom' e 'da carne', e o ponto apos 'sabores' no paragrafo 4. Ha inadequacao vocabular ao empregar 'esta em' em vez de '.ser de' no paragrafo 2. Em relacao a ortografia, ha palavras sem acento e outras faltando letras, como e o caso de 'se' em vez de 'ser' no paragrafo 2. Alem disso, surgem palavras rasuradas. No ultimo paragrafo, a autora emprega o termo 'bom' para introduzir sua conclusao; depreende-se que e como se estivesse dialogando com alguem. Apesar de nao ser um articulador conclusivo, da maneira como foi empregado ele traz ideia de finalizacao. No geral, as inadequacoes nao geram problemas de compreensao do texto.

Conforme explicitado, a Conclusao e Avaliacao do PE e um genero constituido de 'consideracoes', 'reflexoes', 'pontos positivos' e 'negativos' com base no estudo realizado sobre o tema de determinado PE pelos alunos. Entretanto, depreende-se que a autora do texto 5 se limita a fazer apenas consideracoes sobre a finalidade dos derivados da carne, tipos de derivados mais comuns e a importancia da higiene durante a manipulacao da carne. Ou seja, nao ha reflexao mais ampla sobre o tema. O texto nao retoma questoes como comercializacao e conservacao da carne presentes no texto 3 ('original'). Ainda que limitado e apresentando um nivel pouco elaborado, a autora conseguiu realizar a retextualizacao. Embora apresente todas essas inadequacoes, de modo geral, e um texto que favorece a textualizacao por parte do leitor.

Tal como apresentado no texto 3, a paragrafacao tambem ocorre no texto 5. Evidentemente, isso favorece a exposicao das ideias de forma (mais) adequada. E a autora tem nocao da importancia dos paragrafos, de modo que cada um apresenta certo 'item' do tema principal.

Por ser o genero que 'fecha' o ciclo dos registros de estudos sobre o tema de determinado PE, entendemos que a Conclusao e Avaliacao do PE tambem oferece espaco suficiente para que o aprendiz (aluno) possa, de fato, nao so refletir e avaliar, mas tambem apresentar sugestoes relevantes para o aperfeicoamento da propria construcao do CR. Infelizmente, isso nao aconteceu no texto 5.

Consideracoes finais

De modo geral, a analise demonstra que ha uma pequena evolucao no nivel da retextualizacao do genero Pesquisa do PE (texto 1) para o genero Colocacao em Comum (texto 2). Por outro lado, a retextualizacao do genero Colocacao em Comum (texto 2) para o genero Sintese do PE (texto 3) apresenta um nivel 'mais bem' elaborado, sendo considerado o texto (mais) adequado ao genero. Ja a retextualizacao do genero Sintese do PE (texto 3) para o genero Conclusao e Avaliacao do PE (texto 5) pode ser considerada a que apresenta menor evolucao em relacao ao nivel dos textos.

Considerando os exemplos apresentados por meio dos textos 1, 2, 3 e 5, podemos afirmar que as atividades de retextualizacao sao rotinas usuais e altamente importantes nas praticas escritas no contexto da educacao em alternancia. Talvez os atores envolvidos nem tenham consciencia disso, mas, como ilustram os textos, o CR concretiza esse processo, embora ainda de forma incipiente e aberta ao aperfeicoamento. Por isso mesmo, a producao do genero CR pode ser um instrumento de grande importancia para o ensino de Lingua Materna nos CEFFA, especialmente da modalidade escrita.

Mas para que isso ocorra, a producao escrita exige que sejam estabelecidos parametros metodologicos. Isso permite que as condicoes de producao e recepcao dos textos sejam outras, gerando bons textos (retextualizados ou nao). E o aluno, evidentemente, podera melhorar seu desempenho nas producoes escritas, ampliando, assim, sua capacidade de escrever. Isso e o que mais nos interessa no estudo da retextualizacao para o desenvolvimento da escrita do aluno, pensando a construcao do CR e, de um modo geral, outros textos nos CEFFA.

Portanto, a partir da analise interpretativa, depreende-se que e fundamental realizar um trabalho mais sistematizado com o referido genero e as atividades de retextualizacao (DELL'ISOLA, 2007), a fim de que os alunos possam compreender o processo de construcao do CR e tambem avancar em suas capacidades de uso da escrita. Como ja sinalizamos, a reescrita (FIAD, 2009; SILVA; ANDRADE, 2014) pode ser uma ferramenta importante nas atividades escritas e na retextuzalizacao de textos do CR nos CEFFA.

Doi: 10.4025/actascilangcult.v37i4.25050

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Received on September 24, 2014.

Accepted on June 23, 2015.

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Cicero da Silva [1] *, Karylleila dos Santos Andrade [2] e Flavio Moreira [3] ([dagger])

[1] Fundacao Universidade Federal do Tocantins, Av. Nossa Senhora de Fatima 1588, 77900-000, Tocantinopolis, Tocantins, Brasil. [2] Fundacao Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Tocantins, Brasil. [3] Universidade Federal do Espirito Santo, Centro Universitario Norte do Espirito Santo, Sao Mateus, Espirito Santo, Brasil. ([dagger]) in memoriam. * Autorpara correspondencia. E-mail: [email protected]

(1) Compreendem-se as unidades educativas que assumiram o sistema pedagogico da PA, como as Escolas Familias Agricolas (EFA), as Casas Familiares Rurais (CFR), dentre outras. Elas tem objetivos comuns, voltados a formacao de jovens agricultores.

(2) O termo 'retextualizacao' foi empregado por Neusa Goncalves Travaglia, em 1993, em sua tese de doutorado intitulada A traducao numa perspectiva textual. Nessa obra, a autora concebe a traducao de uma lingua para outra enquanto processo de retextualizacao. A partir desse trabalho, Marcuschi (2007) estabelece outras possibilidades de retextualizacao.

(3) Nos CEFFA, alguns termos adotados diferem dos conhecidos nas escolas que oferecem o ensino regular, como por exemplo: 'monitor' = professor; 'jovem' = aluno/estudante; CEFFa = escola etc. Assim, o 'monitor' nao e o 'detentor do conhecimento', mas aquele que acompanha, guia, orienta os jovens em direcao as fontes de conhecimento, aquele que facilita a aprendizagem. Alem de exercer as atribuicoes pedagogicas de professor, o monitor tambem exerce outras atividades (inclusive, administrativas) em um CEFFA (GIMONET, 2007).

(4) Durante um ano letivo, os monitores trabalham com os alunos de cada uma das series dos CEFFA 08 (oito) Planos de Estudo (PE) constituidos de tematicas diferentes. E sao os textos resultantes das pesquisas desenvolvidas e discussoes sobre esse conjunto de temas (conteudos) dos PE que vao compor os registros do CR.

(5) Por nao ser o foco deste estudo, nao aprofundaremos as discussoes sobre Tempo Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC). Para tanto, consultar Ribeiro (2008).

(6) Tomamos 'apreciar', considerando as atribuicoes inerentes ao trabalho do monitor durante o processo de producao escrita do CR: fazer intervencoes, propor a reescrita, avaliar a producao/versao final dos textos.

(7) Utilizamos o 'italico' na transcricao do genero Pesquisa do PE (texto 1) para indicar as respostas apresentadas pelo aluno as questoes.

(8) Essa Informante 1 e a autora dos textos 1, 2, 3 e 5, todos produzidos sob orientacao do Monitor 1.

(9) Esse texto foi ilustrado, originalmente, por Silva (2011) como 'Texto 1c Pesquisa do PE'.

(10) Esse texto foi ilustrado, originalmente, por Silva (2011) como 'Texto 2c Colocacao em Comum'.

(11) Esse texto foi ilustrado, originalmente, por Silva (2011) como 'Texto 3c Sintese do PE'.

(12) Esse texto foi ilustrado, originalmente, por Silva (2011) como 'Texto 5c Conclusao e Avaliacao do PE'.
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