Ciclos de producao extensiva e intensiva na agricultura brasileira e seus impactos na ocupacao da mao-de-obra agricola (1960-2000).
Ferrera de Lima, Jandir ; Piacenti, Carlos Alberto ; Alves, Lucir Reinaldo 等
Resumo. O objetivo deste artigo e analisar o comportamento da
ocupacao da mao-de-obra agricola no Brasil, durante os ciclos de
producao agricola extensiva e intensiva, entre 1960 e 2000. Depois da
decada de 1930, a economia brasileira passou por profundas
transformacoes. A modernizacao da producao rural e um produto dessas
transformacoes que marcam a evolucao da estrutura de producao
capitalista. Este processo ou ciclo de modernizacao acentuou-se a partir
da decada de 60, caracterizando-se em ciclos tecnologicos e formas de
organizar o processo produtivo. No contexto brasileiro, com as mudancas
nas politicas de credito agricola e a formacao dos complexos
agroindustriais, houve uma inversao no modelo intensivo. Este passou a
ser mais intensivo na exploracao das terras e da mao-de-obra, mas
extensivo nos impactos sociais e ambientais. O resultado final foi a
exclusao daqueles que foram incapazes de adaptar-se aos novos modelos de
producao agricola e ao aumento do exodo rural.
Abstract. The objective of this article is to analyze the changes
in the occupation of the agricultural manpower in Brazil during the
extensive and intensive agricultural production cycles between 1960 and
2000. After the 1930s, the Brazilian economy underwent deep
transformations. The modernization of agricultural production methods
was one of the transformations that indicated the evolution of the
capitalist production structure. This process or modernization cycle was
accentuated as of the 1960s, characterized by technological cycles and
new forms of organization of the productive process. In Brazil, changes
in agricultural credit policies and the formation of agro-industrial
structures led to an inversion in the intensive model. Production
started to be more intensive in manpower and land exploration, but more
extensive in its social and environmental impacts. This change resulted
in the exclusion of those incapable of adapting themselves to the new
agricultural production models and an increase in rural exodus.
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Depois da decada de 1930, a economia brasileira passou por
profundas transformacoes. Parte destas transformacoes foi impulsionada
pelo processo de modernizacao do processo produtivo. O desenvolvimento
rural brasileiro e um produto destas transformacoes que marcam a
evolucao e a modernizacao da estrutura de producao capitalista.
Consequentemente, o conceito de modernizacao rural denota a passagem de
uma estrutura de producao tradicional ou em atraso para uma estrutura de
producao avancada e altamente produtiva. Essa passagem e marcada pelo
uso de novas tecnologias e mudancas na organizacao social que
caracterizam as nacoes mais desenvolvidas (Long 1982).
A modernizacao, em si, seria a adaptacao aos novos processos de
acumulacao do capital. No Brasil, o processo de modernizacao das
atividades rurais esta ligado aos ciclos economicos. Por exemplo, no
seculo XIX, a abolicao da escravatura e a introducao do trabalho
assalariado, principalmente nos cafezais paulistas, sao marcos das
transformacoes por que o setor primario passa para adaptar-se a novas
formas de producao e gerar mais excedentes. Entretanto, cronologicamente
o avanco tecnologico no setor agrario passa a ser mais patente a partir
de 1935, com a chamada "revolucao verde."
Com a revolucao verde ocorreu uma serie de transferencias
tecnologicas para a producao agropecuaria. Essas transferencias
envolveram o uso da quimica, mecanica e biologia para aumentar a
produtividade e a fertilidade do solo. Para Zamberlam e Froncheti
(1994), o inicio da revolucao verde marca novos ciclos da agropecuaria
brasileira. Ciclos que se diferenciam na absorcao e aplicacao de novas
tecnologias, o que impacta na ocupacao e utilizacao da mao-de-obra,
principalmente agricola.
Neste sentido, este artigo analisa o impacto dos ciclos de producao
agricola extensiva e intensiva, entre 1960 e 2000, na ocupacao e
remuneracao da mao-de-obra agricola, bem como no total da populacao
urbana e rural no Brasil. Na primeira parte do artigo sao definidos os
dois ciclos de producao e as formas que os caracterizam. Em seguida, sao
analisados os impactos desses ciclos na ocupacao e remuneracao da
mao-de-obra atraves da analise de alguns dados estatisticos,
principalmente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica
(IBGE).
Os ciclos de producao agricola no Brasil
O paradigma que descreve o processo de modernizacao da agricultura
brasileira define o seu desenvolvimento atraves de tres formas:
a) renovacoes tecnologicas, substituindo tecnicas tradicionais por
tecnicas atualizadas em conhecimento cientifico;
b) processo de comercializacao agricola, caracterizando a passagem
de uma agricultura de subsistencia sem crase comercial e o surgimento do
trabalho assalariado;
c) processo de industrializacao dos produtos agropecuarios e a
urbanizacao das areas rurais.
Para avancar nessas formas de modernizacao, ocorreram intervencoes
nas areas rurais. Estas intervencoes, tanto estatais como privadas,
foram organizadas atraves da disseminacao de novas tecnicas de producao,
da difusao de uma nova infra-estrutura (quimica e mecanica) e da
liberalizacao do credito.
Estas intervencoes tornaram a economia rural mais dependente de
relacoes mais amplas com os grupos controladores do capital financeiro
(bancos e Estado), com as unidades de comercializacao (cooperativas e
atravessadores) e com as unidades de transformacao (agroindustrias). Na
medida que esse processo se intensificou, acarretou mudancas na
organizacao social e nas regras normativas do campesinato. Do lado
social, criou-se um campesinato moderno, altamente integrado a lavoura
comercial e a producao de commodities. O processo criou tambem um outro grupo, excluido da producao moderna e menos especializado. Em geral, os
produtores que nao se modernizam tendem a diversificar sua estrutura
produtiva para garantir uma renda de subsistencia.
Deve-se ressaltar que a lavoura ou o criatorio comercial define a
separacao entre producao de consumo e comercializacao. Ela marca a
transicao de atividades de subsistencia para o fomento a criacao de
excedentes. Isto modifica a forma como o trabalho e empregado na
producao e sua otica de organizacao, interagindo tambem na forma como e
empregada a mao-de-obra agricola.
Assim, percebe-se que o processo de modernizacao cria relacoes que
levam a aprofundamentos amplos e constantes. E um processo que nao acaba
e precisa sempre de novos impulsos e intervencoes para se reproduzir, se
desenvolver. No Brasil, este processo ou ciclo de modernizacao,
acentuou-se na decada de 1960. Entretanto, estas mudancas vem desde o
final da Segunda Guerra mundial, como forma de redirecionar sobras de
guerra e do aproveitamento da estrutura agraria cada vez mais patente no
processo de acumulacao. Estas mudancas ocorrem para atender a
necessidade de expansao do capital. Com isto, a modernizacao rural
caracteriza-se pela presenca de ciclos tecnologicos e por novas formas
de organizacao do processo produtivo (Pedrao 1997). No Brasil, estes
ciclos podem ser divididos em Extensivo (1960-1979) e Intensivo
(1980-2000).
O ciclo tecnologico extensivo de producao agricola (1960-1979)
No Brasil, no inicio do seculo XX, a producao rural extensiva
fez-se em funcao da abundancia de terras, da oferta de mao-de-obra
elastica, barata e do clima tropical. Foi um modelo estimulado pela
fronteira agricola movel e pelo progresso tecnico. Nesse ciclo, as
propriedades rurais estabeleceram formas de organizacao, na sua grande maioria, sob a forma de empresas agromercantis. O trabalhador rural
ficou atrelado a empresa agromercantil atraves de diversas formas de
relacoes de trabalho: o trabalho assalariado, foreiro, arrendatario,
morador, etc. Consequentemente, a disponibilidade de mao-de-obra e a
fronteira agricola em expansao permitiram a producao de excedentes,
propiciando a empresa agromercantil ganhos em duas frentes no processo
de acumulacao.
Segundo Furtado (1974), ate 1960, mesmo que houvesse uma suposta
escassez de mao-de-obra, a estrutura produtiva convergiria na absorcao e
exploracao de mais terras. Essa pratica, chamada de agricultura
itinerante, exigia sempre uma maior quantidade de terras disponiveis e
novas frentes de ocupacao agricola, mesmo que as terras fossem
subutilizadas. Por outro lado, a concentracao fundiaria, ao assegurar
mao-de-obra barata a empresa agromercantil, foi um indutor do uso
extensivo das terras e perpetuou tecnicas agricolas rudimentares. Esse
uso extensivo das terras e as tecnicas rudimentares eram as formas mais
rentaveis de producao, pois exigiam poucos investimentos na recuperacao
dos solos e dispunham de uma forca de trabalho abundante, em muitos
casos empregada apenas pela subsistencia.
Entretanto, conforme Graziano da Silva (1994), a partir de 1960, a
estrutura agraria comeca a ingressar na chamada "modernizacao
dolorosa," marcada pela mecanizacao extensiva das lavouras, o uso
de sementes melhoradas, pelo uso da quimica e a producao
agroesportadora. A evolucao desta modernizacao pode ser observada na
tabela a seguir.
Pode-se observar pela Tabela 1 que o numero de tratores aumentou de
forma surpreendente em 40 anos. O que demonstra que o padrao tecnico da
agricultura brasileira teve um aumento consideravel, tanto que a relacao
tratores por estabelecimentos caiu de 46 para 6. Ja o consumo de
fertilizantes e agrotoxicos cresceu a uma taxa media de 20% e 8% ao ano,
respectivamente, entre 1960 e 1980, e continua crescendo nos periodos
seguintes.
A expansao do uso de tratores e insumos modernos exigiu a
capitalizacao das fazendas. Essa capitalizacao, que viabilizou a
aquisicao de maquinas e equipamentos, deu-se via subsidios estatais. As
expansoes do credito facil e dos graos de alta rentabilidade, como a
soja e o trigo, serao os grandes impulsionadores das mudancas na base
tecnologica. Da mesma maneira, a crise na producao agricola brasileira
na decada de 1980 esta relacionada a queda dos produtos agricolas no
mercado internacional e a diminuicao dos subsidios estatais (Soares
1997).
A capitalizacao das areas rurais tambem tem um outro impacto na
estrutura da producao agropecuaria brasileira: o aumento das empresas
agrarias ou agromercantis. Dessas empresas, as Cooperativas de Producao
Agricola (CPAs) passam a ter uma participacao ascendente na propriedade
da terra. Alem disso, elas serao utilizadas largamente na
comercializacao, na alocacao dos recursos estatais e na difusao das
novas tecnologias, das novas tecnicas e metodos de producao.
Pela Tabela 2, as expansoes mais significativas na propriedade da
terra sao das cooperativas, empresas e condominios. Observa-se uma
expansao das CPAs em torno de 60.45%, entre 1970 e 1980. Da mesma forma,
os condominios, utilizados na difusao de tecnologias e na prestacao de
servicos conjuntos, tiveram uma evolucao positiva expressiva. Apesar das
areas dos estabelecimentos individuais terem diminuido, eles
permaneceram concentrados. Com a expansao da fronteira agricola e da
exploracao de novas terras, boa parte destes estabelecimentos continuou
nas maos de empresas extrativas de madeira e minerios.
A seguir serao analisadas as transformacoes mais especificas sobre
a mao-de-obra agricola. Entretanto, o modelo que se seguiu a partir de
1980 contrasta com o uso intensivo dos insumos de capital e mao-de-obra.
O ciclo tecnologico intensivo de producao agricola (1980-2000)
Neste modelo ocorre o uso intensivo dos fatores de producao, via
aproveitamento maximo da area plantada, novos tratos culturais, uso mais
abrangente da quimica, novos metodos e novas maquinas, em suma: de novas
tecnologias. O objetivo e o aumento da produtividade, via substituicao
do perfil energetico e biologico da agricultura para o fossil, mecanico.
Nessa mudanca, a forca mecanica substitui grande parte da forca de
trabalho humana. Essas substituicoes visam o aumento imediato da
produtividade e da rentabilidade das novas lavouras empresariais. No
Brasil, essa tendencia e estimulada pela politica economica dos governos
na promocao das exportacoes e pela demanda dos mercados internacionais.
De uma agricultura mista, voltada para o mercado local e internacional,
o sistema intensivo marca a transicao para uma estrutura agraria cada
vez mais internacionalizada, dependente do movimento dos mercados
mundiais. De um produtor de generos agricolas para o mercado interno, a
economia se especializa cada vez mais na producao de
"comodities" (Zamberlan e Froncheti 1994).
A viabilidade do aumento da producao ficou dependente do aumento
dos rendimentos fisicos e a capacidade de atender a pauta de
exportacoes. Os problemas que se apresentaram para a implantacao deste
modelo foram a falta de subsidios estatais, acarretados pela crise
financeira do Estado brasileiro, as politicas do Acordo Geral de Tarifas
e Comercio (GATT), e a crise da divida externa, a partir de 1982 (Soares
1997). No entanto, conforme Silva (1994), a acao do Estado consolidou as
ligacoes do mundo rural e agrario com o resto da economia. A expansao e
a formacao de novos Complexos de Producao Agroindustrial (CPAs)
estimularam a formacao de cadeias produtivas voltadas ao mercado
internacional, principalmente na area de graos e carnes. A diminuicao
dos subsidios estatais e o fim da politica de precos minimos, a partir
de 1991, levaram a um reordenamento da acao das CPAs. As empresas de
transformacao agroalimentar substituiram em grande parte o Estado
federal no financiamento dos agricultores. Assim, no Brasil, formaram-se
tres grupos de agricultores: a) os altamente modernizados, ligados
diretamente a estrutura de producao agro-industrial--esses agricultores
possuem extensoes de terras que variam de 25 a 100 hectares; b) os
agricultores altamente capitalizados e modernizados, que nao dependem
diretamente das agroindustrias e produzem em grandes extensoes de
terras, geralmente acima de 1000 hectares; e c) agricultores excluidos
desse processo de integracao com as agroindustrias e altamente
dependentes dos programas estatais de estimulo a producao agropecuaria.
Em geral, os agricultores excluidos produzem em extensoes de terras de
ate 50 hectares.
Guanzirolli (1994), Zamberlam e Froncheti (1994) propoem uma outra
divisao para os agricultores brasileiros. Para eles, as consequencias da
utilizacao deste modelo foram a selecao dos mais rentaveis,
principalmente dos proprietarios de grandes areas mecanizaveis, e a
exclusao dos pequenos agricultores. Por isso, as tres categorias de
agricultores sao divididas do seguinte modo: os granjeiros (fazendeiros)
ou latifundiarios, proprietarios de grandes areas de terras; os pequenos
agricultores ou minifundiarios, proprietarios de areas de terra ate 100
ha; e os sem-terra. Na categoria dos pequenos agricultores sem virgula
estao relacionados aqueles que sao parceiros ou socios em minifundios.
Na categoria dos sem-terra, estao incluidos os ex-pequenos agricultores
ou seus filhos, que foram expulsos de suas terras ou faliram com a
introducao das novas tecnicas de producao e a falta de subsidios
estatais. Essa situacao teve um forte impacto na ocupacao da mao-de-obra
na agricultura. Consequentemente, os ciclos produtivos da agricultura
brasileira, mais que mudar o perfil de produtividade das areas
agricolas, mudaram tambem o perfil social dos agricultores.
As classificacoes propostas por Guanzirolli (1994), Zamberlam e
Froncheti (1994), e Silva (1994) convergem num elemento: a presenca dos
excluidos. Na analise que se segue sera possivel visualizar essa
exclusao a partir da reducao da populacao rural, o avanco da populacao
urbana e o aumento dos assalariados nas areas agricolas. O
"excluido," classificado por Silva (1994) como um produtor
familiar com uma area de terras de ate 50 ha, se aproxima do perfil
tracado por Guanzirolli (1994), Zamberlam e Froncheti (1994), ou seja,
de "sem terra."
Os ciclos de producao agricola e a distribuicao e remuneracao da
mao-de-obra ocupada na agricultura brasileira
A partir da Tabela 3, verifica-se o perfil da transicao do modelo
extensivo para o intensivo, em termos de rendimento comparado por
domicilios. Nota-se, pela Tabela 3, uma certa estabilidade quanto a
classe de rendimentos. A diminuicao mais expressiva, de 1978 para 1984,
e da categoria sem rendimentos. No geral, sao pessoas de um mesmo grupo
familiar que auxiliam na producao, mas nao auferem renda, que fica
retida ou contabilizada com o chefe da familia. A unica queda que houve
foi a do montante de pessoas ganhando ate 2 salarios minimos, na faixa
de 1,9%, valor de certa forma inexpressivo.
No periodo de 1984 para 1992 observa-se que a participacao da
categoria "sem rendimentos" continua sendo bem significativa.
No geral, com excecao dos "sem rendimentos," as outras classes
de rendimento tiveram aumentos significativos no periodo de 1978 a 2001.
Esses aumentos ficaram na ordem de 13,55% para a classe de "ate 2
salarios"; de 48.94% para a classe de "2 a 5 salarios";
de 40% para a classe de "5 a 10 salarios"; e de 50% para a
classe de "10 ou mais salarios minimos." Ja os "sem
rendimentos" apresentaram uma reducao na ordem de 15.95% no periodo
de 1978 a 2001.
Segundo Silva (1994, 621), as politicas agricolas dos anos 80 nao
levaram em consideracao a diferenciacao na absorcao dos pacotes
tecnologicos e o perfil produtivo das regioes brasileiras. Para ele, as
categorias mao-de-obra familiar, parceria e assalariados temporarios
cresceram em mais de 3.3 milhoes de pessoas, ou seja, uma taxa de
crescimento de 28% ao ano. Essa taxa de crescimento representou um
aumento acumulado de quase 15% no periodo de 1980-1985. Isso e o
resultado do fomento ao uso da parceria ou emprego temporario e a
integracao da agricultura familiar e das grandes propriedades aos
Complexos Agroindustriais, que estimulam a contratacao de trabalho
temporario e ao surgimento de exploracoes de alta produtividade em
pequenos espacos (escargos, codornas, chinchilas, etc.). No entanto, a
remuneracao no campo ainda e muito baixa. Os dados da Tabela 4 permitem
a visualizacao dessa remuneracao.
Pela Tabela 4 nota-se que houve uma evolucao na remuneracao da
mao-de-obra permanente e temporaria no periodo de 1966 ate 1980. Neste
mesmo periodo, as regioes Sudeste e Sul eram as que melhor remuneravam,
tanto os trabalhadores permanentes como os temporarios. No entanto, em
1990 verificou-se uma diminuicao progressiva da remuneracao, com
posterior aumento no ano de 2000. No periodo de 1990 a 2000 foi a regiao
Centro-Oeste que melhor remunerou os trabalhadores permanentes. A
mao-de-obra temporaria continuou sendo melhor remunerada na regioes Sul
e Centro-Oeste. Mesmo assim, muitos migram para atividades
nao-agricolas, que "aparentemente" pagam melhor. A Tabela 5
apresenta esses dados.
No tocante a Populacao Economicamente Ativa (PEA), nota-se uma
transferencia significativa da PEA para as atividades nao-agricolas. Na
zona rural isto significa uma diminuicao da mao-de-obra empregada em
atividades agricolas de 87.8% em 1970 para 68.4% em 1990. No total, essa
queda representa uma diminuicao de 19.4% em 20 anos. Ja as atividades
nao-agricolas cresceram de 12.2% em 1970 para 31.6% em 1990.
Empiricamente, a absorcao da desocupacao do campo nao foi feita na mesma
proporcao pelas atividades urbanas. Se tracarmos um paralelo entre as
Tabelas 4 e 5, nota-se que os rendimentos das pessoas residentes nas
zonas rurais vem cada vez mais de atividades nao-agricolas. Nesse
aspecto, vale ressaltar a analise feita por Ferrera de Lima (2004).
Nessa analise, o autor demonstrou que partes das regioes
nao-metropolitanas do Sul do Brasil tinham um continuum urbano-rural.
Esse continuum acentuou-se nos ultimos 20 anos. A sua expansao significa
que as regioes do interior do Sul do Brasil tem nas atividades
agropecuarias e terciarias a sua base produtiva. Assim, os dados da
Tabela 4 e 5 convergem nessa perspectiva. Eles tambem sao confirmados
pela Tabela 6, que apresenta a mao-de-obra ocupada por setores de
atividade. Essa tabela vem confirmar as conclusoes de Ferrera de Lima
(2004).
Pelos dados da Tabela 6, nota-se que na regiao Sudeste
concentrou-se a maior parte da mao-de-obra, seguida pelas regioes Sul e
Nordeste. A regiao Norte apresentou decrescimos apenas em 1960 nos
seguintes setores: secundario (76.35%), outros (97.33%) e no total
(33.28%). Nos demais periodos houve evolucao. Os acrescimos mais
significativos entre 1950 e 2000 foram nos setores primario (405.79%),
secundario (258.62%) e terciario (1,427.61%). A evolucao total da
mao-de-obra ocupada na regiao Norte foi de 271.05%.
A regiao Nordeste apresentou reducao no contingente de mao-de-obra
no ano de 1960. Essa reducao ocorreu nos setores secundario (-3.63%),
outros (-97.85%) e no total (-37.54). Tambem no setor primario, nos anos
de 1991 e 2000, a reducao foi de -3.98% e -0.87%. Por outro lado, ao
comparar-se 1950 e 2000, nota-se que a evolucao total da mao-de-obra
ocupada por setores de atividade foi de +109.88%.
Os dados referentes a regiao Sudeste mostram que as reducoes se
deram em varios anos e em varios setores, com destaque para o setor
primario. Este setor apresentou decrescimos nos anos de 1970, 1980, 1991
e 2000, com percentuais iguais a 12.47%, 10.95%, 1.05% e 8.46%,
respectivamente. O valor total do setor primario tambem declinou, com
uma reducao de 16.27%. Em contrapartida, os setores secundario e
terciario apresentaram evolucao significativa no periodo analisado,
entre 1950 e 2000, com 629.46% e 819.27%, respectivamente.
Em se tratando da regiao Sul, observa-se que houve diminuicao no
valor total do ano de 1960, 26.14%. O ano de 1970 foi de reducoes em
todos os setores, sendo que os valores ficaram entre 23.29% e 54.74%.
Nos demais periodos as reducoes se deram no setor primario, sendo que no
ano de 1980 foi de 14.68%, em 1991 de 2% e em 2000 de 10.76%. Com
relacao aos valores totais, estes mostram que somente os setores
secundario e terciario apresentaram evolucao, com 113.26% e 215.23%,
respectivamente.
A regiao Centro-Oeste apresentou reducao no valor total do ano de
1960, com 12.03% de reducao, e no setor primario, nos anos de 1991 e
2000, com 11.05% e 3.70%, respectivamente. Mas, quando se analisa a
evolucao total do periodo, verifica-se que os aumentos se deram em
praticamente todos os setores e os percentuais foram de 84.09%,
1,785.11%, 3,461.33%, -9.21% e 346.74%, nos setor primario, secundario,
terciario, outros e no total, respectivamente.
Os valores totais do Brasil mostram que a evolucao se deu em todos
os setores, sem destaque para o secundario e o terciario, com aumento no
periodo de 381.92% e 685.07%, respectivamente. O setor primario tambem
evoluiu, mas em proporcao menor (84.09%). O valor total apresentou
aumento de 95.44%.
A Figura 1 mostra os valores referentes a populacao total das
regioes brasileiras no periodo de 1950 a 2000.
[FIGURA 1 OMITIR]
Na Figura 1 nota-se que a populacao total do Brasil passou de 50
milhoes de habitantes, em 1950, para 170 milhoes, em 2000. Da mesma
maneira, todas as regioes apresentaram evolucao no numero de habitantes.
O destaque fica para a regiao Centro-Oeste, com aumento populacional de
657.82% entre 1950-2000. Em segundo lugar estao as regioes Norte
(529.35%), Sudeste (220.63%), Sul (220%) e Nordeste (165.35%).
Se a populacao total cresceu, o mesmo nao ocorreu com a populacao
rural. Ao comparar-se as Figuras 1 e 2 nota-se que a populacao
brasileira tornou-se mais urbana, fato mais significativo depois de
1960. Pela Figura 2 nota-se que ate os anos 1960 a populacao rural
evoluiu em todas as regioes. O aumento mais significativo foi na regiao
Centro-Oeste com 48.21%. Entre 1960 e 1970, quando se esgota a fronteira
agricola no Sul do Brasil, o aumento da populacao rural no Centro-Oeste
e Norte foi bem expressivo. No entanto, depois de 1990, a populacao
rural do Norte continua em expansao e a do Centro-Oeste entra em
decrescimo. A decada de 1990 marca o final da ocupacao da fronteira
agricola no Centro-Oeste. Assim, as Figuras 1 e 2 demonstram um pais com
crescimento demografico, mas concentrado nas areas urbanas. A excecao
fica por conta da regiao Norte, onde a Amazonia representa novos espacos
agricolas a serem conquistados.
[FIGURA 2 OMITIR]
A figura 3 confirma as conclusoes das Figuras 1 e 2. Nela sao
apresentadas as evolucoes das regioes com relacao a populacao urbana.
[FIGURA 3 OMITIR]
Ao contrario das reducoes da populacao residente rural, a figura 3
demonstra que houve somente evolucoes da populacao urbana residente no
Brasil. O destaque ficou para as regioes Centro-Oeste e Norte. Elas
apresentaram evolucoes surpreendentes, de 1950 a 2000, com 2,436.56% e
1,382.79% respectivamente. As demais regioes tambem apresentaram
evolucoes significativas, 777.94%, 594.01% e 510.42% para as regioes
Sul, Nordeste e Sudeste, respectivamente. A populacao urbana do Brasil
apresentou evolucao na ordem de 633.41% em todo o periodo.
Populacao ocupada na agricultura e diferenciacao regional da
producao
Pelos dados apresentados, pode-se verificar a mudanca no perfil da
populacao brasileira e sua ocupacao. No entanto, ao verificar-se com
mais detalhes a populacao rural agricola, ou seja, a remuneracao e a
distribuicao das pessoas ocupadas na agricultura, nota-se detalhes
interessantes. O primeiro deles e o perfil das pessoas que ainda estao
no campo. Pela Tabela 7 fica claro que a grande maioria dessas pesoas
sao empregados. Por outro lado, apesar de pequeno, o numero de
empregadores aumentou. De certa forma, isso demonstra que o perfil das
pessoas ocupadas tem mudado sensivelmente nos ultimos anos, em
particular em funcao da propriedade da terra que tornar-se mais
concentrada.
Na Tabela 7, observa-se uma queda de 55.56% no total de pessoas
ocupadas na agricultura em relacao ao total de pessoas ocupadas do
Brasil. Ja com relacao as pessoas ocupadas na agricultura, houve um
aumento nos indices, no periodo de 1960 a 2000, nas seguintes
categorias: "nao remunerados" (4.65%); "empregados"
(69.20%) e "empregador" (44.62%). No entanto, a proporcao de
autonomos apresentou reducao de 43.51% entre 1960 e 2000. Romeiro,
Guanzioli, e Leite (1994), utilizando os dados de 1960 a 1990, constatou
que essa reducao se deve em grande parte ao forte fluxo de pessoas nas
areas urbanas oriundas do campo. Essas informacoes sao comprovadas na
Tabela 8.
Nota-se que o numero de pessoas de 10 anos ou mais de idade, que
residem na zona rural, diminuiu significativamente no periodo analisado.
Como a politica agricola dos ultimos governos (1990-2002) nao foi capaz
de gerar maior absorcao de mao-de-obra nos ultimos anos, a situacao
tende a agravar-se ainda mais. O resultado final, no tocante as areas
rurais, foi a diferenciacao regional (Quadro 1). Essa diferenciacao
demonstra a necessidade de uma politica fundiaria que venha atender as
caracteristicas inerentes a producao rural brasileira e proteger os
produtores mais frageis. Uma sintese desta situacao esta descrita no
Quadro 1.
O Quadro 1 e bastante ilustrativo com relacao a situacao de
disparidade em que o Brasil se encontra no tocante a caraterizacao da
producao rural. Esse quadro faz um paralelo com os tres tipos de
agricultores que resultaram do ciclo extensivo. Pelo quadro, nota-se que
a intervencao no campo exige programas diferenciados, segundo as regioes
e o perfil dos agricultores que compoem essas regioes. Enquanto a regiao
Sul modernizou-se de forma crescente nos ultimos anos, o Nordeste ainda
possui um atraso relativo e o Centro-Oeste esta numa posicao
intermediaria. No caso do Centro-Oeste, a fronteira agricola ainda esta
em ocupacao, o que signfica que o processo "extensivo" ainda
nao foi totalmente concluido nessa area. Por isso seu perfil de
transicao, apesar das propriedades com extensoes acima de 500 hectares
apresentarem um forte grau de absorcao de tecnologia. Ja o Nordeste
apresenta uma forte dualidade na sua estrutura de absorcao de
tecnologia. Apesar do ciclo ser "intensivo," nem todas as
propriedades modernizaram-se e seu grau de modernizacao e baixo.
Conclusao
No Brasil, durante o periodo analisado, observou-se que os ciclos
de producao produziram desigualdades na estrutura do emprego da
mao-de-obra agricola e no perfil dos produtores. A modernizacao da
agricultura, ocorrida no periodo analisado (1960-2000), nao atingiu
todos os agricultores e as propriedades agricolas. Da mesma forma, essa
modernizacao diferiu de regiao para regiao. O Quadro 1, que apresenta a
insercao de cada grupo rural no processo de modernizacao rural,
demonstra claramente que o processo de producao extensiva deixou como
marca grupos diferenciados de agricultores. Assim, a mudanca dos ciclos
de producao no tocante a ocupacao da mao-de-obra agricola pode ser
resumido a partir de tres grandes impactos, que sao:
1) O perfil das pessoas ocupadas e a renda agricola. No perfil das
pessoas ocupadas (Tabela 6 e 7), o grupo de empregadores passou de 1.86%
em 1960 para 2.69% em 2000. Da mesma maneira, os empregados cresceram de
25.94% em 1960 para 43.89% em 2000. Com isso, houve uma expansao do
trabalho assalariado na agricultura e uma diminuicao dos produtores
autonomos. Apesar desse aumento do assalariamento, o perfil da
remuneracao caiu. Particularmente, o ciclo tecnologico extensivo de
producao agricola (1960-1979) melhorou a remuneracao dos trabalhadores.
Porem, durante o ciclo de producao intensiva (1980-2000), nao houve
melhorias na distribuicao da terra, mas houve a diminuicao da
remuneracao da mao-de-obra rural permamente nas regioes Sul, Nordeste,
Centro-Oeste e Nordeste do Brasil.
Por outro lado, com a mudanca nas politicas de credito agricola e o
estimulo cada vez mais patente para a modernizacao das areas rurais,
houve uma inversao no modelo "intensivo." Este passou a ser
mais "intensivo" na exploracao das terras e da mao-de-obra.
Por outro lado, foi "extensivo" nos impactos sobre a
mao-de-obra-ocupada, sem contar nos danos ambientais. O resultado final
foi a dminuicao na remuneracao e a exclusao daqueles que foram incapazes
adaptarse aos novos "modelos" de producao agricola e se
tornaram excedentes com a absorcao de novas tecnologias, poupadoras de
mao-de-obra.
2) Mudancas no perfil do continuum urbano-rural (Tabela 6, 7 e
figuras 1 a 3), que acentuou a transferencia de pessoas de atividades
agricolas para nao-agricolas e estimulou o exodo rural. Enquanto isso, o
padrao de emprego da populacao agricola mudou. A populacao
economicamente ativa (PEA), ocupada em atividades agricolas, diminuiu de
44.3%, em 1970, para 20.1% em 2001. Da mesma forma, a PEA em atividades
nao-agricolas cresceu de 55.7%, em 1970, para 79.9% em 2001. No tocante
ao exodo rural, a populacao urbana passou de 46.03%, em 1960, para
75.76% em 2000.
Assim, os dados referentes a populacao urbana, ao exodo rural e a
populacao residente, dentre outros, demonstram uma expansao dos centros
urbanos decorrente da transferencia da mao-de-obra do campo para a
cidade. O grande problema e a incapacidade dos centros urbanos em
absorverem essa mao-de-obra agricola, ou seja, as metropoles nao geram
empregos na mesma rapidez do crescimento populacional. Para reverter essa situacao, programas ligados a melhoria no acesso a terra, a
programas de estimulo a agricultura familiar e o fomento a
"agricultura urbana" poderao ser uteis para amenizar o
processo de exclusao social nos grandes centros.
3) O acesso diferenciado a modernizacao tecnologica e as politicas
agricolas. Como ficou demonstrado no Quadro 1 e nas fontes citadas ao
longo da analise, o grau de acesso as politicas agricolas nao foi o
mesmo regionalmente. Enquanto as regioes Sul e Sudeste tem um acesso
elevado para as grandes propriedades e restrito para as pequenas, no
Nordeste o acesso ficou exclusivo as grandes propriedades. Da mesma
forma, as regioes de fronteira agricola, o Norte e Centro-Oeste, tem uma
politica voltada a instalacao e fomento as grandes propriedades. O
processo de modernizacao e mais bem absorvido nas grandes propriedades
que nas pequenas. As excecoes sao as pequenas propriedades fortemente
integradas com as agroindustrias.
Num outro angulo, o acesso diferenciado as politicas agricolas
demonstra a necessidade de se estabelecer politicas publicas voltadas
exclusivamente a pequena propriedade. Nos utimos anos houve avancos
quanto a isso, dentre eles o estabelecimento do Programa Nacional de
Agricultura Familiar (Pronaf), para estimular e dar suporte as
propriedades de ate 100 hectares.
Atualmente, o debate sobre o futuro da producao agricola converge em torno de sua competitivade e do futuro dos subsidios, haja vista a
integracao dos mercados regionais (ALCA, ALCAN, Mercosul, Uniao
Europeia). O debate em torno da adocao indiscriminda de novas tecnicas e
"pacotes tecnologicos" na agricultura nao e uma prioridade. Na
realidade, no que diz respeito ao desenvolvimento rural brasileiro, as
prioridades sempre foram estabelecidas em funcao do mercado externo. O
agrobusiness brasileiro gira essencialmente em torno do setor
agroexportador, caracteristica que marca o Brasil desde sua descoberta.
Assim, seus rumos sao definidos em funcao do mercado mundial. Por outro
lado, os avancos na reforma agraria e nas mudancas na estrutura
fundiaria sao conseguidos em funcao das forcas politicas internas, ou
seja, da pressao da sociedade civil organizada e dos grupos humanitarios
internacionais. No entanto, resta muito a ser feito para melhorar os
programas de apoio a agricultura familiar e melhorar o perfil de emprego
e renda nas areas rurais.
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Brasil. Campinas: Icone.
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JANDIR FERRERA DE LIMA
CARLOS ALBERTO PIACENTI
LUCIR REINALDO ALVES
Universidad Estadual do Oeste do Parana
Tabela 1
Tratores na Agricultura Brasileira e Uso de Fertilizantes e
Agrotoxicos (1960-2000)
Anos No Tratores Ha/Trator
1960 72.000 3.470
1970 165.870 1.773
1980 545.205 669
1990 720.000 539
2000 806.000 512
Anos Estabeleci- Fertilizante Agrotoxicos
mento/Trator (1000 ton.) (1000 ton.)
1960 46 270 22
1970 30 1.002 79
1980 9 4.201 75
1990 7 3.208 n/d
2000 6 6.568 125
Fonte: FAOSTAT 2004; IBGE 1991, 2000; Soares 1997.
Nota: n/d--Dado nao disponivel.
Tabela 2
Propriedade das Terras Segundo a Condicao do Produtor--Area
(%)(1970-1980) *
Propriedades Societarias
Cooperativas
Propriedade (CPAs) ** e Condominios
Anos Individual empresas Sociedades
1970 82.05 6.17 7.68
1975 82.43 6.58 6.43
1980 76.99 9.90 8.18
Propriedades Societarias
Entidade
Anos Publica Outros Total
1970 3.80 0.31 17.95
1975 4.32 0.24 17.57
1980 4.59 0.34 23.01
Fonte: IBGE 1985.
* Os dados estao disponiveis somente para esse periodo.
** Nao inclui a area das propriedades individuais associado as
cooperativas, mas tao somente as areas de propriedade de
cooperativas.
Tabela 3
Distribuicao Percentual das Pessoas com 10 ou Mais Anos de Idade,
Segundo Classe de Rendimento Mensal e Situacao do Domicilio (*)--Em
Salarios Minimos, Brasil (1978, 1984, 1992, e 2001)
Classe e 1978
Rendimento Urbano Rural Total
Ate 2 35.7 40.6 37.3
De 2 a 5 13.7 4.7 10.8
De 5 a 10 5.3 1.0 3.9
De 10 ou mais 3.1 0.4 2.3
Sem Rendimento 42.2 53.3 45.7
Total 100.0 100.0 100.0
Classe e 1984
Rendimento Urbano Rural Total
Ate 2 33.9 39.7 35.4
De 2 a 5 15.7 6.7 13.4
De 5 a 10 6.0 1.6 4.8
De 10 ou mais 3.7 0.6 2.9
Sem Rendimento 40.7 51.4 43.5
Total 100.0 100.0 100.0
Classe e 1992
Rendimento Urbano Rural Total
Ate 2 36.5 41.5 37.6
De 2 a 5 15.1 5.8 13.2
De 5 a 10 5.5 1.2 4.6
De 10 ou mais 2.9 0.5 2.4
Sem Rendimento 40.0 51.0 42.3
Total 100.0 100.0 100.0
Classe e 2001
Rendimento Urbano Rural Total
Ate 2 34.1 46.1 36.0
De 2 a 5 17.5 7.0 15.9
De 5 a 10 6.3 1.4 5.6
De 10 ou mais 4.2 0.6 3.6
Sem Rendimento 37.8 44.8 38.9
Total 100.0 100.0 100.0
Fonte: IBGE 2003a, 2003b.
* Nao foram consideradas as pessoas incluidas na categoria sem
declaracao.
Tabela 4
Remuneracao da Mao-de-Obra Rural Permanente e
Temporaria do Brasil (1966-2000)
Anos Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste
Mao-de-obra Permanente (1)
1966 86.51 104.1 132.55 109.53
1970 94.72 130.76 134.56 120.75
1980 133.85 170.54 178.79 164.59
1990 72.85 91.01 83.99 93.97
2000 83.41 106.19 98.445 107.92
Mao-de-obra Temporaria (2)
1966 3.09 3.50 5.44 4.16
1970 3.06 4.26 5.11 4.74
1980 5.57 6.98 8.17 7.90
1990 2.74 4.06 4.81 4.81
2000 3.13 5.17 5.57 5.54
Fonte: FGV 2004.
Nota: Valores deflacionados pelo IGP-DI de agosto de 1994.
(1) Salario real mensal.
(2.) Valor da hora de trabalho.
Tabela 5
Distribuicao de Populacao Economicamente Ativa--PEA de 10
Anos ou Mais por Situacao do Domicilio e Ramos de Atividade
Principal (%)--Brasil (1970-2001)
Urbanos Rural
Anos Agricola Nao-Agricola Agricola Nao-Agricola
1970 10.1 89.9 87.8 12.2
1980 7.6 92.4 79.7 20.3
1990 6.0 94.0 68.4 31.6
2001 -- -- -- --
Total
Anos Agricola Nao-Agricola
1970 44.3 55.7
1980 29.3 70.7
1990 22.9 77.7
2001 20.1 79.9
Fonte: IBGE 2003a.
Nota:--Dado nao disponivel.
Tabela 6
Mao-de-obra ocupada por setores de atividades--1950/2000
(x 1000)
Periodo Setores Norte Nordeste Sudeste
1950 Primario 242 2,819 3,387
Secundario 203 386 964
Terciario 134 657 1,780
Outros 599 3,945 6,111
Total 1,178 7,807 12,242
1960 Primario 518 3,419 4,017
Secundario 48 372 896
Terciario 204 999 2,602
Outros 16 85 298
Total 789 4,876 7,814
1970 Primario 586 5,225 3,516
Secundario 117 888 3,327
Terciario 293 2,003 5,470
Outros 33 238 894
Total 1,029 8,254 13,207
1980 Primario 775 5,400 3,131
Secundario 321 1,742 6,507
Terciario 639 3,501 9,367
Outros 38 190 752
Total 1,773 10,832 19,751
1991 Primario 1,062 5,185 3,098
Secundario 582 2,194 7,272
Terciario 1,452 6,191 14,000
Outros 52 234 883
Total 3,147 13,804 25,253
2000 Primario 1,224 5,140 2,836
Secundario 728 2,509 7,032
Terciario 2,047 7,468 16,363
Outros 372 1,267 2,857
Total 4,371 16,385 29,088
Periodo Setore s Sul Centro-Oeste Brasil
1950 Primario 3,043 396 9,887
Secundario 1,282 47 2,882
Terciario 1,655 75 4,301
Outros 5,301 554 16,511
Total 11,281 1,072 33,580
1960 Primario 3,826 628 12,408
Secundario 1,405 87 2,809
Terciario 2,679 206 6,691
Outros 422 21 842
Total 8,332 943 22,750
1970 Primario 2,935 829 13,090
Secundario 785 178 5,295
Terciario 1,516 475 9,757
Outros 191 57 1,414
Total 5,428 1,539 29,557
1980 Primario 2,504 851 12,661
Secundario 1,763 440 10,772
Terciario 2,830 1,233 17,564
Outros 208 87 1,274
Total 7,305 2,610 42,272
1991 Primario 2,454 757 12,556
Secundario 2,306 695 13,049
Terciario 4,373 2,167 28,183
Outros 241 95 1,506
Total 9,374 3,714 55,293
2000 Primario 2,190 729 12,119
Secundario 2,734 886 13,889
Terciario 5,217 2,671 33,766
Outros 856 503 5,855
Total 10,996 4,789 65,630
Fonte: IBGE 2003a.
Nota: Outros: sao as atividades mal definidas, que os censos nao
descrevem, e por isso nao ha como agrupaj-las nos tres principais
setores.
Tabela 7
Distribuicao das Pessoas Ocupadas na Agricultura, Por Posicao
na Ocupacao (%), Brasil--1960-2000
Nao-
Anos Remunerados ** Empregados ** Autonomo **
1960 26.23 25.94 45.97
1970 19.72 25.44 53.25
1980 16.05 37.99 42.92
1990 27.59 36.92 30.83
2000 27.45 43.89 25.97
Anos Empregador ** Outros ** Total *
1960 1.86 0.01 54.54
1970 1.6 0.00 44.62
1980 2.54 0.50 30.15
1990 4.66 0.00 22.83
2000 2.69 0.00 24.24
Fonte: IBGE 1987 e 2000.
Nota: * Em ralacao ao total nacional de pessoas ocupadas agricolas e
nao-agricolas.
** Em relacao ao total de pessoas ocupadas na agricultura.
Tabela 8
Pessoas de 10 ou mais anos de idade por situacao de domicilio
(%)--1960/2000
Anos Rural Urbana
1960 53.96 46.03
1970 44.27 55.72
1980 29.28 70.71
1990 24.23 75.76
2000 24.23 75.76
Fonte: IBGE 1987 e 2000.
Quadro 1
Caracterizacao e Diferenciacao Regional da Producao Rural no
Brasil
Caracteristicas Sub-setor "Moderno"
Diferenciaveis Sul e Sudeste *
Estrutura Concentrado: grande
fundiaria empresa X pequena
propriedade
Tecnologia Moderna e adaptada
ao padrao induzido
pela industria
Capitalizacao Elevada, tanto por
trabalhador como por
tamanho de area.
Mao-de-obra Predominio de assa-
lariados, com baixa
utilizacao por unida-
de de area e produto.
Grau de integracao Alto e generalizado
tecnica com a in-
dustria a montante
e a jusante
Grau de acesso Elevado para os esta-
as politicas agri- belecimentos maio-
colas res e restritos para a
pequena propriedade
Organizacao da Formas individuais e
empresa em sociedade com
crescente integracao
de capitais
Caracteristicas Sub-setor "Arcaico"
Diferenciaveis Nordeste *
Estrutura Concentrado: grande
fundiaria propriedade X peque-
na exploracao.
Tecnologia Tradicional: uso pri-
mitivo da terra e mao-
de-obra
Capitalizacao Baixa, tanto por traba-
lhador quanto por
unidade de area.
Mao-de-obra Semi-assalariados,
sujeito a diversas for-
mas de dependencia.
Alta utilizacao
unidade de producao.
Grau de integracao Baixo e generalizado.
tecnica com a in-
dustria a montante
e a jusante
Grau de acesso Acesso exclusivo a
as politicas agri- grande propriedade e
colas praticamente vedado a
pequena exploracao
Organizacao da Individual
empresa
Sub-setor
Caracteristicas "Fronteira Agricola"
Diferenciaveis Norte e Centro-Oeste *
Estrutura Concentrada: grande
fundiaria propriedade X pe-
quena posse.
Tecnologia Variavel conforme
tamanho e natureza
da exploracao.
Capitalizacao Baixa por unidade
de area, variavel por
trabalhador.
Mao-de-obra Semi-assalariados e
assalariados com
baixa utilizacao por
por unidade de area e
produto
Grau de integracao Variavel
tecnica com a in-
dustria a montante
e a jusante
Grau de acesso Grande propriedade
as politicas agri-
colas
Organizacao da Individual e em so-
empresa ciedade com cres-
cente integracao de
capitais
Fonte: Delgado 1985.
Notas: Grande empresa: Empresa rural; Grande Propriedade: Latifudio
por exploracao e dimensao.
* Localizacao predominante nas regioes.