摘要:Adentrei no sertão, não só fisicamente (fotografando), mais também cheia de referências literárias e a procura dessas imagens que vindas da literatura nos provoca. Assim me enxertei de leituras de Guimarães Rosa, Euclides da Cunha, Oswaldo Lamartine entre outros como paragens e alguns silêncios, tão peculiar e necessário para essa travessia. O silêncio do sertão nos penetra e só o percebemos melhor depois que nos afastamos dele. É um lugar que nos angustia mais também nos dá prazer. É um silêncio e um sertão incertos. Como diz Guimarães Rosa: “ Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só umas raríssimas pessoas ”¹. Em nenhum momento ou etapa da construção dessas fotografias me foi muito claro ou racional os processos técnicos. Acertei alguns resultados plásticos pelo erro, pelas tentativas. Não cheguei a linguagem autoral racionalmente. Em princípio juntar a fotografia da obra plástica com a fotografia retrato ou natureza foi apenas um ato experimental, foi talvez a vontade de sair da artificialidade fácil da representação do real. Foi fundamental e necessário, o lírico, o místico, o sonho, como dose na construção da forma. Eu não queria apenas as imagens como representação do real, eu precisava da fantasmagoria dos homens e suas imagens interiores. Impus assim um cenário com texturas florais, lembrando os bordados das bordadeiras do sertão e tentei dialogar com as figuras representativas do gênero masculino, os vaqueiros. Assumi o desejo como elemento norteador dessas fotografias, como também na tentativa de compreensão desse sertão de solo frágil e forte, caracterizado por determinismos e acasos, fixação e vertigem, sertão e mundo, vida e morte. Até porque o sertão é antes de tudo paradoxal e assim antagônico. É terra de ninguém, como disse Glauber Rocha, “...deus e o diabo na terra do sol”. Terra de Lampião, Antônio Conselheiro, Padre Cícero, santos, mártires, beatos, profetas... Sertão de uma beleza singular, implacável. Sertão de uma luz dura, que corta, fere os olhos de quem por ele caminha. É terra demoníaca, da onça Caetana ( figura da morte no sertão antigo), terra de caatinga nua e do humano forte que nela habita. Foi um sertão assim que procurei transportar para a fotografia. Angela Almeida- Professora doutora, pesquisadora na área de Estética, Artes Plástica e Comunicação- UFRN. Pesquisadora do grupo GRECOM –Grupo de Estudos da Complexidade. Nota 1. Rosa, João Guimarães – Grande Sertão: Veredas- 1 ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006, pág 100.
关键词:Comunicação - estética - artes plásticas- fotografia;fotografia