摘要:Levando em consideração o fato de que há uma oscilação na escolha de que morfe deve-se utilizar para a sinalização do plural no português brasileiro, bem como ainda existem as estratégias do uso parcial ou da ausência dessa marcação pelos falantes em contextos linguísticos e sociais variados, neste artigo, busca-se compreender como se estabelece o plural no português de Salvador a partir da interface entre os níveis morfológico, fonológico e fonético, através de uma análise com base teórico-metodológica da Sociolinguística (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006 [1968]). Para este trabalho preliminar, faz-se uso apenas da abordagem qualitativa de percentuais de ocorrência de alomorfia de plural. Para isso, foi necessária a audição de entrevistas de oito informantes de Salvador realizadas entre 2003 e 2007, fornecidas peloAtlas linguístico do Brasil(CARDOSO et al., 2014). Como recorte, foram consideradas apenas as treze lexias com possibilidade de ocorrências alomórficas de número encontradas no Questionário Fonético-Fonológico (QFF, questão 76:reais) e no Questionário Morfossintático (QMS, seção “número”:anéis,aventais,pães,mãos,leões,degraus,chapéus,anzóis,olhos,ovos,pincéis,bolsos(COMITÊ NACIONAL, 2001). Os resultados indicam que: i) pessoas pouco escolarizadas, com idade entre 50 e 65 anos e mulheres (por hipercorreção, neste caso) realizam mais o plural irregular; ii) a equivalência de sons finais das palavras (como -L > -U, por exemplo), a partir da vocalização do /l/, provoca a realização de alguns plurais irregulares; iii) entre os tipos de plural, o metafônico, por ser uma estratégia que exigiria uma tripla marcação (sintática, fonética e morfológica), está sujeito naturalmente à redução dessa marcação a apenas um ou dois desses níveis; iv) determinadas lexias, talvez por serem pouco usadas no cotidiano ou pela pouca saliência fônica, favorecem o plural irregular ou a sua não marcação.