摘要:Nos últimos anos, a academia tem-se debruçado sobre o fenómeno do filtro-bolha, uma bolha informacional digital criada pelos algoritmos, onde o utilizador é exposto constantemente a conteúdos personalizados de acordo com o seu perfil, valores e interesses. Neste contexto, o jornalismo – pilar das sociedades democráticas – é usualmente retratado como a antítese do filtro-bolha, cujos efeitos nefastos para a liberdade e a democracia parecem ser consensuais. O que não tem sido suficientemente estudado, no entanto, é a eventual contribuição do jornalismo digital – o ciberjornalismo – para o fenómeno. De cariz exploratório, este artigo tem como objetivo abrir novas avenidas de investigação sobre o tema, utilizando para isso uma metodologia qualitativa, através de uma revisão da literatura aprofundada e de uma análise de dados secundários. Sugere-se que os novos modelos de negócio do ciberjornalismo – muito dependentes das grandes plataformas de tecnologia, dos anunciantes e da audiência – estão a contribuir largamente para o fenómeno do filtro-bolha. Tanto no âmbito da publicidade digital como no da atual aposta geral para um modelo de subscrições, verifica-se que as redações estão cada vez mais a recolher e analisar dados dos consumidores para personalizar a informação. Demonstra-se ainda que esta customização – da produção à distribuição de conteúdos – é vista de forma positiva, e até entusiasta, pelos média, sendo raras as vozes a refletir sobre o seu lado negativo. Conclui-se que o jornalismo pode assumir um papel relevante no combate às bolhas informacionais, tanto através da revisão dos seus modelos de negócio digitais como através da consciencialização dos indivíduos para o problema.