摘要:O presente estudo teve por objetivo investigar se o analfabetismo (tomado como privação de uma forma de treinamento sistemático da cognição) leva a desempenhos específicos no Teste de Apercepção Temática (TAT). Esperava-se que o desempenho de analfabetos neste teste fosse caracterizado por uma baixa produtividade imaginativa, por deficiências na capacidade de apresentação do pensamento através de sínteses e por dificuldades na articulação das idéias produzidas. Questionava-se, assim, o uso do TAT em pessoas analfabetas, uma vez que para responder às lâminas exige-se que o indivíduo seja capaz de traduzir em palavras o seu pensar e que o faça dentro das normas estabelecidas pelo próprio teste. A diversidade de desempenho, segundo o nível de instrução, obtido no Teste de Rorschach pelos sujeitos da amostra da padronização para o Recife (Guerra, 1980) foi o que inspirou a hipótese principal desta pesquisa e assim, inicialmente, esta prova foi aqui usada como subsidiária às análises feitas com o TAT. Em face dos resultados encontrados, o seu papel dentro do presente estudo passou a ter maior destaque nas análises feitas, sugerindo, inclusive, uma hipótese secundária. Com base nas afirmações constantes na literatura sobre testes perceptoanalíticos, no sentido de que o Rorschach é uma prova mais fácil de ser respondida que o TAT, manteve-se a expectativa de que, naquela, os sujeitos analfabetos teriam melhor desempenho que nesta. Procurava-se, portanto, verificar qual dos dois instrumentos de avaliação da personalidade (Rorschach ou T AT) era mais indicado para ser empregado em indivíduos analfabetos. Para tanto, foram analisados 75 relatos do TAT e 2.178 respostas dadas ao Psicodiagnóstico de Rorschach, procurando-se investigar o desempenho dos indivíduos, sobretudo no que tange à capacidade imaginativa e de síntese e à articulação das idéias produzidas. Os resultados encontrados demonstraram que os processos cognitivos postos em ação na realização do TAT não se mostraram significativamente prejudicados pela falta de instrução, não comprometendo, portanto, o desempenho dos analfabetos no teste. Já no Rorschach os efeitos do analfabetismo foram mais evidentes e assim a expectativa inicial não foi confirmada. Tais resultados foram discutidos à luz das regras que orientam o trabalho do examinando versus estrutura do estímulo, fatores estes que interagem de modos diferentes nas duas provas, requerendo habilidades cognitivas distintas.